CAMON. U. A. A. Temas Existenciais em Psicologia. São Paulo: Thomson, 2003.

O texto apresenta um forte fascínio sobre o papel da espiritualidade na prática clínica, além de interessante é um tema polêmico. No entanto a prática clínica por fazer parte do cientificismo nega a discurssão sobre as questões que envolvem a espiritualidade.
É vasto o campo da saúde e abrange vários aspectos, porém queremos nos delimitar ao aspecto psicoterápico, na sua pratica clínica e o modo como o paciente busca a sua realização humana, ou seja, a superação dos limites que agrilham e o impedem de ter uma vida mais plena e repleta de prazeres. Além disso o texto focaliza caminhos e questionamentos que nos levam ao encontro de postulados teóricos e filosóficos que nos sirvam de paradigmas para a construção de um novo modelo clínico de atuação libertadora.
Em síntese o texto apresenta uma dialética tridimensional relevante: psicologia (prática clínica), espiritualidade (um caminho de transformação) e teologia (crenças místico-religiosas). Primeiro em relação a psis seu objeto de estudo é a alma, nesse sentido ela busca conhecer a complexidade psíquica do ser humano em todos os seus aspectos e mostrar caminhos que possam melhorar a sua condição enquanto pessoa. Na sua atividade cotidiana a prática clinica na psis busca a realização da pessoa tais como: amor, compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, noção de responsabilidade, noção de harmonia que trazem auto-realização para a própria pessoa. Neste sentido a psicologia já trabalha aspecto que envolve a espiritualidade; porém isto gera um incômodo no meio acadêmico, pelo fato de a espiritualidade está relacionada aos temas místico-religiosos que fazem parte da teologia. Nisto Bainaim Jr. critica a visão cientifica que expulsou do campo as possibilidades aceitáveis as vivencias espirituais e dimensão transnatural da realidade e aponta como um dos responsáveis pela crise na falta de sentido na cultura atual, indicando como um grande desafio para o futuro da psicologia.
Em relação à espiritualidade ela sempre foi considerada neurose ou alienação social pela visão científica, além do mais o meio acadêmico não considera como sério e que, portanto não tem validade. No entanto criaram uma incongruência, pois a espiritualidade ainda assim se fazia presente na vida dos cientistas, no qual se tornaram incongruentes entre aquilo que viviam em suas vidas privadas e o que produziam nas lides acadêmicas. Ao trazer esse pressuposto da espiritualidade para a prática clínica da psicoterapia, estaremos na realidade acabando com essa incompatibilidade e criando possibilidade para uma visão seria sobre a temática espiritualidade.
Quem certamente trouxe a questão da espiritualidade de modo claro e preciso para o campo da psicoterapia foi Victor E. Frankl, coloca a espiritualidade como busca da transcendência separando-a dos valores místico-religiosos. Assim, o equilíbrio espiritual que ele propõe e seus postulados teóricos é na verdade essa capacidade inerentemente humana esta capacidade de buscar o desenvolvimento de sua subjetividade e de sua vivencia interior.
Em relação à teologia esta sempre foi questionada pela ciência por sua mística e crença em Deus; tanto que Geovanetti, ensina que assistimos no século XX o fenômeno conhecido como "a morte de Deus" ensinado pelo filósofo Nietzsche que consistia numa radicalização do questionamento da dimensão religiosa na vida do homem moderno; como Deus se tornou uma hipótese não necessária para o homem (secularização). Já que a busca da espiritualidade não passa necessariamente pela busca de Deus, mas como diz Poelman que sua busca é algo inerente ao organismo humano, o ser humano não precisa ir além de sua própria humanidade para encontrar sua auto-realização, nesse sentido vivemos a espiritualidade ainda que estejamos conceituando-a como ateísmo. A exemplo disso, podemos citar Sartre, que, sendo um dos pioneiros do existencialismo contemporâneo, foi o filósofo que mais trouxe Deus para o campo da filosofia em sua tentativa irascível de negação; e hoje se sabe, por meios de levantamento filosóficos que foi o autor que mais falou de Deus nas lides de filosofia; cabe também citar Freud, quando afirma que buscamos a Deus como impulso infantil de proteção paterna, idealizando uma proteção que de fato inexiste. E se era de fato que Freud se dizia ateu, é verdade que tanto ele quanto Sartre figuraram na lista dos principais autores que contribuíram para a própria humanização do homem na modernidade; no entanto esta humanização está certamente em harmonia com a espiritualidade.
Além disso faz-se necessário enfatizar a pseudo-espiritualidade, em que pesa o surgimento de várias seitas religiosas que propõem libertar seus fiéis, e que na verdade irão aliená-los, a ponto de tirar-lhes até a sua própria dignidade existencial. Assim a fome espiritual ganha uma proporção fantástica, e podemos até denominar esse acontecimento como surgimento de uma onda mística no final do milênio.
Em vista dos fatos mencionados, percebe-se que a espiritualidade é cogente no processo psicoterápico. Estamos dessa forma diante de indicadores que nos mostram a presença da espiritualidade em tudo àquilo que fazemos de todos os nossos sentidos de busca rumo a uma evolução da própria condição humana. Deste modo esta não pode ser negada nem mesmo pelo maior dos ceticismos por sua transparência; pois a auto-realização é mais que um descobrimento de algo que já existe no homem, de um conjunto de possibilidade que o homem encontra dentro de si; é inerente de modo indissolúvel e indivisível.
É importante ressaltar ainda que a psicoterapia necessita que exista uma fé inquebrantável em seus resultados, tanto quanto pelo psicoterapeuta como pelo paciente; mas não é necessário ser cristão ou ser crente para alcançar esta fé, pois aqui a fé aparece como caminho de auto-trasncendência, e além do mais cabe o aprimoramento da dialética da fé entre o psicoterapeuta e o paciente, é a pilastra sobre a qual a psicoterapia se alicerça.
Para finalizar, Lepargneur, citando Leloup, salienta um exemplo semelhante ao processo psicorápico ao falar em acompanhamento espiritual que não é pedir a alguém para ter esta ou aquela atitude religiosa; tampouco ter uma experiência transcendental. É acompanhar a pessoa com respeito e confiança, nisto consiste a humanização que por sua vez está inserida na espiritualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Até a leitura deste texto, não tinha pensado na possibilidade da espiritualidade ter uma estreita relação com a prática clínica. É importante saber que a psicoterapia abre caminhos para uma melhor compreensão do ser humano em relação a sua auto-transcendência. Já li vários livros de espiritualidade. Dentre os quais, dois mais me chamaram atenção: Espiritualidade e Tempo de Transcendência de Leonardo Boff. Os mesmos mostram que a espiritualidade é inerente à vida do homem e este é um projeto infinito, isto é, ele é um ser transcendente. Com estes textos aprendi que a espiritualidade transcende o caráter religioso, mesmo o ateu pode exercê-la. A idéia de que a psicoterapia pode trabalhar com seus pacientes considerando a espiritualidade, é imprescindível, pois estes são condicionados a viverem constantemente uma pseudoespiritualidade que muita das vezes é originada no prazer, no sexo, no poder, no dinheiro (ter), nas drogas, em seitas e às vezes até na própria religião ? tudo para uma satisfação que preencha o seu ego interior. Cabe o psicoterapeuta mostrar caminhos que possam melhorar o individuo enquanto pessoa, levando este a buscar em si a verdadeira prática da espiritualidade. E assim, o ser humano é espiritualidade quando exerce sua humanidade.