O presente artigo tem como objetivo identificar as concepções da inclusão social de pessoas com necessidades educacionais especiais em relação à inclusão escolar e social dessas crianças em uma entrevista em dois artigos “Inclusão Escolar de Crianças com Deficiência Múltipla: Concepções de Pais e Professores” das autoras Flávia Furtado Silveira e Marisa Maria Brito da Justa Neve, e o artigo “a inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência” da autora Cristina Broglia Feitosa de Lacerda que focaliza uma experiência de inclusão de aluno surdo em escola regular, com a presença de intérprete de língua de sinais no ambiente escolar.

Deste modo os resultados indicaram que as escolas têm buscado mudanças no sentido de aplicar as leis vigentes e nas mudanças no processo ensino aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e Projeto de Ensino em Educação.

A inclusão é uma realidade, não é algo que podemos estar adotando um pensando se sou ou não a favor ou contra.  Portanto é um momento de reorganização, de fazer alguma coisa no distinto, pois que as crianças já estão em sala de aula, são seres humanos que são confiadas diante de nós e precisamos ter atitudes.

Portanto, percebe-se que a inclusão não é somente inserir educandos com determinantes deficiências numa sala de aula regular, a proposta de Educação Inclusiva é aceitar o aluno com sua deficiência, e adaptar-se a sua necessidade junto com os outros falados normais.  

Diante da Lei nº 10.436/02 e o Decreto nº 5.626/05, foram imprescindíveis para indicar um atendimento escolar do aluno surdo atento a aspectos da abordagem bilíngue. A Lei 10.436/02 (Brasil, 2002) refere-se ao reconhecimento e a legitimidade Libras em todos os espaços públicos, enquanto o Decreto nº 5.626/05 (Brasil, 2005), trata sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular nos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se para as demais licenciaturas.

Ao analisarmos a entrevista feita pela autora Lacerda (2000), com a família das crianças especiais, foi feita algumas considerações que possibilitou levantar tópicos para reflexão: O Impacto do diagnóstico de um filho com necessidades especiais na vida da família: Os pais relataram terem vivenciado momentos iniciais de bastante angústia, já que existe um despreparo dos profissionais da saúde em diagnosticar e tratar emocionalmente esse momento tão doloroso para as famílias.

No tópico seguinte é a relação às mudanças na estrutura familiar das mães entrevistadas, quatro deixaram o trabalho para cuidar exclusivamente dos filhos, pois se sentem culpadas pelo filho terem nascido assim, e duas acham que os maridos as culpam, por isso atribuiu para si mesma exclusivamente o cuidado com suas crianças especiais.

Com intensidade falam sobre esse tema “inclusão social de pessoas com necessidades educacionais especiais”, mas a literatura mostra que as transformações, inevitáveis diante do nascimento de um filho, principalmente se forem com necessidades especiais, podem ser compreendidas durante a entrevista como foi descoberto nas respostas dos pais, de forma positiva ou negativa, (MILLER, 2002).

 Na aprendizagem e a inclusão muitos pais entrevistados acreditam que os filhos deveriam estar em escolas especializadas, mas por problemas de transporte muitas das vezes acabam por matricular seus filhos nessa escola mais próxima da casa. A maioria das famílias acredita que é muito difícil a possibilidade de seus filhos estarem inseridos em classes regulares. Dizem que os problemas de suas crianças impedem a inclusão.

Na entrevista a maioria dos pais disse que a dificuldade de locomover seus, filhos, e o medo da discriminação das pessoas fazem com que o lazer em família seja comprometido.

Segunda entrevista com os pais na segunda entrevista foi solicitado aos pais que levassem uma fotografia de seus filhos, poderia ser da criança sozinha, no contexto familiar ou no contexto social.

Foi possível observar alguns argumentos comuns por parte dos professores: Primeiro Critério para a inclusão, a maioria das professoras acreditam que a inclusão só é efetivamente possível em alunos com necessidades educacionais especiais com menos comprometimento, e não acreditam ser possível incluir todos efetivamente.

O segundo Impacto da deficiência nas atividades, a maioria não acredita no desenvolvimento e aprendizagem, logo, na capacidade das pessoas com necessidades educacionais especiais em executarem atividades que denotam autonomia e exigem reflexão, abstração e memória.

Vygotsky (1987) assume uma posição que privilegia a importância dada à aprendizagem escolar como promotora do desenvolvimento e que reconhece o papel desempenhado pelo professor como mediador no processo de aquisição de conhecimento, na formação de conceitos científicos e no desenvolvimento cognitivo de seus alunos.

A maioria dos professores relatou estarem em constante conflito e dom sentimentos de frustração em relação ao atendimento à criança, mas, a fim de resolverem os conflitos emergentes desses sentimentos, superprotegendo-as e acreditam que a afetividade é capaz de suprir todas as necessidades das crianças.

Eles acreditam que a dependência dessas crianças, tais como dar banho, trocar fraldas, auxiliar a subir e descer escadas, a tomar a merenda, sendo um fator de impedimento ao trabalho pedagógico do professor, evidenciando assim essa comprovação, Kruppa (2001, p.28) assegura que “a escola não acredita na capacidade de aprender de todo ser humano e se julga competente para apontar de forma arbitrária, preconceituosa e equivocada aqueles que podem’ aprender”.

Pais e professores reconhecem que a criança após a entrada na escola apresentou algum progresso, principalmente aqueles relacionados à autonomia em atividades práticas cotidianas e a socialização, porém, embasados em concepções enraizadas em suas mentalidades, continuam a levar ao enfoque primordial de que as crianças são limitadas.

Lacerda, (2000) explica que o importante é que o intérprete saiba utilizar a Libras e a Língua Portuguesa nos diversos contextos e com diferentes interlocutores para poder fazer uma ligação entre elas, sendo indispensável, o domínio de metodologias de interpretação, visto que, “a passagem de uma língua viso-gestual para uma língua auditiva-oral e vice-versa implica estratégias linguísticas próprias que precisam ser debatidas, refletidas e construídas”.

Assim, urge que se torne efetivamente disponível a garantia de um espaço de informação, formação, redefinição de práticas pedagógicas, onde haja espaços de promoção de debates sobre os fatores referentes às baixas expectativas dos pais e professores em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem dos portadores de necessidades educacionais especiais, articulando-os para cobrarem de todo o sistema educacional e principalmente do poder público, posturas e práticas qualitativas de atendimento.

Tratando-se das políticas públicas, a partir dos discursos de pais e professores, a respeito das situações em que o desrespeito aos seus direitos, percebeu que se faz necessário a aplicação das leis destinadas à população em geral buscando garantir o respeito à necessidade de todos e estimulando ações de tolerância à diversidade humana.

Faz-se necessário ainda em relação às políticas públicas, um maior investimento em materiais pedagógicos, recursos de adaptação arquitetônica para as escolas inclusivas, garantindo meios que facilitem a acomodação, comunicação e aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais. As mudanças são fundamentais para inclusão, mas exige que todos se esforcem possibilitando que a escola possa ser vista como um ambiente de construção de conhecimento, deixando de existir a discriminação de idade, capacidade, peso, altura, deficiência física ou mental.

Na análise dessa pesquisa foi possível perceber que a maioria dos pais tem concepções com base nas visões biológicas, e medicalizadas que dificulta o desenvolvimento de práticas que favorecem efetivamente a promoção da aprendizagem e desenvolvimento das crianças.  

As concepções dos pais e as dos professores remetem a dificuldade da inclusão escolar das pessoas com necessidades educacionais especiais, principalmente no que se refere a dificuldades de acompanharem os conteúdos elaborados para os alunos do ensino regular, já que não existe ainda o trabalho diversificado formalmente, todas as crianças com necessidades educacionais especiais estão tendo garantia e direito a estar na escola, mas suas necessidades individuais ainda não estão sendo atendidas.

 O olhar de pais e profissionais da educação ainda é revestido de um disfarce de crença que tudo está dando certo, sem ainda ser um olhar de mudanças. As inquietações são constantes, apontando que transformações no sistema educacional são urgentes, transformações arquitetônicas, de mentalidade e de formas de ação para assim perceber as pessoas, suas histórias, concepções, percepções, crenças, experiências e trajetórias pessoais.

Se quisermos que a inclusão seja uma realidade, temos que rever série de limitações, tanto no âmbito da política e práticas pedagógicas como nos processos de avaliação. Para uma formação efetiva dos professores é necessário conhecer o processo de ensino aprendizagem, levando em conta como se dá este processo para cada aluno.

Os órgãos públicos devem utilizar novas tecnologias e investir em capacitação, atualização, sensibilização, envolvendo toda comunidade escolar, especialmente as pessoas que atuam diretamente com as crianças com necessidades educacionais especiais.

Pereira (2009), explica que, utilizar currículos e metodologias flexíveis, levando em conta a singularidade de cada aluno, respeitando seus interesses, suas ideias e desafios para novas situações.

De acordo com o pensamento de Pereira, (2009) avaliar de forma continuada e permanente, dando ênfase na qualidade do conhecimento e não na quantidade, oportunizando a criatividade, a cooperação e a participação.

 A Inclusão deve ser repensada com urgência, especialmente no que diz respeito à transformação de uma realidade que aparta as crianças com necessidades educacionais especiais.

REFERÊNCIAS

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MILLER, N. B. Ninguém é perfeito. 3. ed. Campinas: Papirus, 2002.

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