A greve do metrô dos dias 02 e 03 de agosto em São Paulo, deixaram bastante claro que algo deve ser feito para evitar as perdas que todos enfrentaram nesses dias. Essas perdas não foram somente financeiras. Houve também a perda da paciência e da esperança, diante de uma cidade já naturalmente estagnada pelo trânsito caótico e pelo planejamento urbano digno de Escher*.

Não é algo lógico deslocar milhares de uma ponta da cidade à outra todos os dias. Isso exige um gasto imenso com infra-estrutura de transportes, sua manutenção, os gastos de combustível, a poluição gerada, o estresse das pessoas, os riscos à saúde e à vida e principalmente o tempo perdido nesse vai e vem. Esse tempo desperdiçado por milhares poderia criar maravilhas se bem empregado !
Para as empresas, os gastos com vale transporte, alimentação, mobiliário, energia e a compra ou aluguel do espaço físico ocupado por seus funcionários, pesa muito para a maioria delas.

Nessa equação do desperdício, o que poderia ser feito para evitá-lo?
Modificar a cidade, tornando-a mais humana e flexível, está fora de cogitação a curto e médio prazos (se depender dos investimentos públicos, nem a longo prazo...).
Evitar que as pessoas circulem, oferecendo condições adequadas de trabalho, estudo e moradia próximas é praticamente uma utopia.
Implantação de rodízio de placas de automóveis e pedágios urbanos, sem investimentos maciços em transporte sobre trilhos, de preferência subterrâneo, nem refrescarão o problema. Apenas gerarão mais estresse e, tão pouco reduzirão os gastos já existentes.
O que podemos fazer então?

O teletrabalho, realizado através da internet e de meios de telecomunicações já existentes é a melhor saída a curto prazo.
A internet é um meio perfeito para isso. Através de ferramentas de trabalho em grupo (workgroup) com fluxo de atividades controlado (workflow), tecnologias de voz sobre IP (VoIP) e câmeras de vídeo (webcams) além de ferramentas de troca de mensagens on line, são magníficas para que as pessoas possam desenvolver suas atividades em casa, reduzindo custos para todos e, mesmo assim, sendo produtivas e participativas. Reuniões podem ser realizadas remotamente, tão produtivas quanto as presenciais.
Microcomputadores e demais hardwares mais baratos, permitem essa realidade.

É claro que nem todas as atividades de uma empresa podem ser realizadas remotamente. Mas as que podem, já contribuiriam em muito com a redução dos gastos que o deslocamento maciço de pessoas acarreta.

É claro que muitos acreditam que essa "liberdade excessiva" atrapalha o desempenho profissional e a coordenação das atividades. Isso é um mito.
As pessoas envolvidas no teletrabalho deverão ser treinadas e acompanhadas em relação ao seu desempenho da mesma forma que os tradicionais funcionários presenciais. Isso se faz atrelando seu desempenho a metas mensuráveis. Havendo comunicação constante entre as partes, não há por que temer um relaxo nas atividades ou uma desmotivação do funcionário por não estar presente no ambiente de trabalho.

Outro mito é o de que o teletrabalho aumentará o risco de "roubo" de informações da empresa. É muito mais comum o roubo hoje, com a presença humana do que com a telepresença. É claro que investimentos com a segurança dos dados digitais devem ser feitos. Mas eles já ocorrem com teletrabalho ou não (e para aqueles que ainda os negligenciam, nem há o que dizer...).

Algumas empresas, especialmente multinacionais, já utilizam essa modalidade de atuação profissional. Infelizmente em números ainda inexpressivos para fazer diferença na sociedade como um todo.

O futuro do teletrabalho e os benefícios gerados por ele, não dependem mais da tecnologia. Dependem apenas da vontade das empresas em se modernizar e reduzir seus custos com sua utilização.

* M.C.Escher foi um artista gráfico holandês que tendia a representar construções impossíveis através de suas obras.

Henrique Montserrat Fernandez é Administrador de Empresas com pós-graduação em Análise de Sistemas e MBA em Tecnologia da Informação / E-management pela FGV/RJ. Com 29 anos de atuação profissional, trabalhou em empresas de médio e grande portes, tais como Grupo Bonfiglioli, Copersucar e SENAC, entre outras. Foi Gerente de Sistemas e Métodos da Zanthus, tradicional fabricante de Terminais Ponto de Venda, onde atuou por mais de seis anos. Foi também professor universitário na década de 90, além de possuir vasta experiência em treinamento empresarial. É especialista nas normas ISO 9000, sendo Lead Auditor pela Perry Johnson Inc., desenvolvendo, inclusive, softwares para essa área. Atual Diretor da Zamplex Consultoria, é autor do livro "Evitando a Falência - Garanta o Sucesso de Seu Negócio" (www.zamplex.com.br), além de escritor de vários artigos sobre gestão empresarial.