O presente estudo de caso faz referencia ao uso abusivo de álcool, seus transtornos e conseqüências sobre um usuário, que procura tratamento em uma unidade do centro de atenção psicossocial (CAPS ad.) de Cuiabá. A literatura sobre a dependência de álcool no Brasil, embora seja escassa e com as limitações decorrentes do uso das mais variadas metodologias pelos pesquisadores, tem mostrado uma prevalência variando de 3 a 10% na população geral adulta.No Brasil, o alcoolismo é a terceira causa de aposentadorias por invalidez e ocupa o segundo lugar entre os demais transtornos mentais (Oliveira et al., 2000).Conforme Vieira,R.M.T. ET AL ,(2007), Existem registros de consumo de álcool desde a Antigüidade. Embora o uso excessivo tenha efeitos prejudiciais aos seres humanos, o álcool é também usado como facilitador de relações, e seu uso em eventos sociais é amplamente aceito pela sociedade. Entretanto, a alta prevalência de indivíduos dependentes de álcool em todos os estratos sociais e em diferentes culturas, as alterações comportamentais resultantes de seu uso abusivo e os prejuízos sociais, econômicos e de saúde pública estimulam a realização de inúmeros estudos que buscam o entendimento dos seus efeitos sobre o organismo Vieira,R.M.T.. et AL,(2007).

1)Introdução:

O presente estudo de caso faz referencia ao uso abusivo de álcool, seus transtornos e conseqüências sobre um usuário, que procura tratamento em uma unidadedo centro de atenção psicossocial (CAPS ad.) de Cuiabá.

A literatura sobre a dependência de álcool no Brasil, embora seja escassa e com as limitações decorrentes do uso das mais variadas metodologias pelos pesquisadores, tem mostrado uma prevalência variando de 3 a 10% na população geral adulta.No Brasil, o alcoolismo é a terceira causa de aposentadorias por invalidez e ocupa o segundo lugar entre os demais transtornos mentais (Oliveira et al., 2000).Conforme Vieira,R.M.T. ET AL ,(2007), Existem registros de consumo de álcool desde a Antigüidade. Embora o uso excessivo tenha efeitos prejudiciais aos seres humanos, o álcool é também usado como facilitador de relações, e seu uso em eventos sociais é amplamente aceito pela sociedade. Entretanto, a alta prevalência de indivíduos dependentes de álcool em todos os estratos sociais e em diferentes culturas, as alterações comportamentais resultantes de seu uso abusivo e os prejuízos sociais, econômicos e de saúde pública estimulam a realização de inúmeros estudos que buscam o entendimento dos seus efeitos sobre o organismo Vieira,R.M.T.. et AL,(2007).A política humanizada de tratamento para transtorno mental, aplicada pelo Estado de Mato Grosso, contempla o tratamento e atendimento de pessoas comprometidas com substâncias psicoativas, como álcool e drogas.Esse serviço de Saúde é oferecido por unidades descentradas do Centro Integrado de Assistência Psicossocial Adauto Botelho (Ciaps Adauto Botelho), da Secretaria de Estado de Saúde (SES), que são o Centro de Atenção Psicossocial- Álcool e Drogas (Caps-AD) e a Unidade III do Adauto Botelho.O acesso a esse tipo de tratamento é facilitado pelo atendimento dado pelas Unidades Básicas de Saúde da rede SUS, as policlínicas, os postos de Saúde e o Programa Saúde da Família (PSF) que podem encaminhar os pacientes que necessitam dos cuidados do CAPS ad.O CAPS ad também é porta aberta de atendimento, da família que precisar do atendimentoA equipe do CAPS ad acolhe, avalia encaminha para desintoxicação quando necessário e trata. As internações são sempre em último caso, quando houver algum risco à vida do usuário conforme informações (S.E.S MT,2009) .

2)O Caso Propriamente Dito:

João C.S, 41 anos, sexo masculino, solteiro, pintor, desempregado, natural de Cuiabá, foi encaminhado para avaliação e tratamento no CAPS ad ,unidade Coxipó,município de Cuiabá , em decorrência da dependência alcoólica. Estudou até a 5a série do primeiro grau. É o quinto filho de uma prole de 10. Relata que seu pai foi alcoolista, bem como seus irmãos ainda o são. Iniciou uso de bebidas alcoólicas aos 13 anos com os colegas, quando foi para a escola noturna. Além do trabalho de pintor,dizjá tertrabalhado como cobrador de ônibus e também servente de pedreiro. Na entrevista paciente comunicativo, manteve-se atento às perguntas, tendo relatado espontaneamente que se encontrava abstêmio desde o início da semana , em virtude de ter passado mal da ultima vez que bebeu e de estar com medo de morrer. Durante a entrevistade avaliação, apresentou-se sóbrio, embora tenha relatado que bebeu por ocasião do fim de semana anterior ,manifestou compreensão e expressão verbal espontânea adequada, condizente com seu nível sociocultural.

3)Consulta de enfermagem:

A Consulta de Enfermagem supõe a entrevista para coleta dos dados, o exame físico, o estabelecimento do diagnóstico de enfermagem, a prescrição, a implementação dos cuidados e a orientação das ações relativas aos problemas encontrados. A partir dos diagnósticos efetivados, serão adotados condutas de resolutividade própria, ou de encaminhamento ao profissional ou serviço competente, no caso de a intervenção fugir ao seu âmbito de atuação.

Ao exame físico,Consciente, calmo, orientado no tempo e espaço, comunicando- verbalmente,abertura ocular espontânea, pupilas isocóricas, e esclerótica em ton ictérica, couro cabeludo sem descamação ou sujidade,cabelos limpos e aparados, conjuntivas coradas(róseas), acuidade auditiva normal D e E sem sujidade ou anormalidade, nariz sem coriza e sem desvio de septo, fala normal, boca com dentição própria e completa 16 dentes inferiores e 14 na parte superior com boa higiene.Pescoço normal sem gânglios palpáveis ou infartados. Tórax simétrico com boa expansibilidade, frêmito torácico vocal presente, ausculta pulmonarsempresença de ruídos, com sons claros e limpos . Ausculta cardíaca sons normocardio. Abdômen plano, intumescido, e presença de obesidade visceral, som timpânico e presença de ruídos hidroaéreos, reflete dor a palpação em quadrante superior, constatado pequeno aumento renal, Pele íntegra, boa perfusão periférica, MMII sem edema ou lesão, Sinais Vitais: PA:110x60; FC:60 bpm; FR:26 rpm; Tº: 35,8ºC; Pulso 82 bpm.

4)A Situação problema:

Os fatores que influenciam diretamente o núcleo familiar e levam o sujeito a tornar-se alcoolistas, a compreensão das influencias dos fatores biológicos, psicológicos, sociocultural sobre este sujeito num Centro de Atenção Psicossocial álcool e droga.

5)O Problema :

Alcoolismoe a dificuldade da adesão ao tratamento em um CAPS ad.

6)Estrutura funcional e acolhimento no Caps ad :

No CAPS ad,o paciente é acolhido por uma equipe multiprofissional composta por psicólogos,Assistente Social, Clínico Geral,Psiquiatra e outros profissionais que, após o acolhimento inicialdo paciente, discute-seo estabelecimento de um projeto terapêutico individualizado, de tratamento individualizado e incentiva a participação do doente a um dos grupos criados para auxiliar na recuperação dessa dependência. Os grupos são: Psicoterapia, Educação Física, Artes, dentre outros.

Uma das maiores causas do sucesso do tratamento é a aceitação, por parte do paciente dependente desubstâncias psicoativas, de que ele precisa de ajuda. Porque o que se busca no CAPS ad é a ressocialização e a autonomia que significa que o paciente alcance uma situação em que possa ser reintegrado ao convívio familiar e na sociedade.

O acolhimento oferecido a esses pacientes não inclui a internação, vez que a principal característica desse atendimento é que sujeito, aceite o tratamento, que pode ser realizado sem que seja internado. Existe um espaço de reconstrução, de escolhas e de se responsabilizar por elas, ondeo paciente define o querpara sua vida, e a resposta a esta questão éque vai definir o esforço que ele está disposto a realizar para melhorar sua situação.Já a Unidade III, do CIAPS Adauto Botelho, só acolhe pacientes com encaminhamento feito pelo Pronto Atendimento do CIAPS Adauto Botelho ou via Poder Judiciário.

O Ministério da Saúde,(2008) decidiu atuar emergencialmente para controlar um cenário epidemiológico em expansão do consumo de drogas, como álcool, crack, solventes e cocaína (pasta base, crack e merla), inalantes drogas sintéticas, entre outras. Apesar disso, a droga mais difundida no mundo ainda continua sendo o álcool. No Brasil, o consumo abusivo demonstra tendência de crescimento.

É o que apontou a pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2008), realizada por amostragem com 54 mil pessoas residentes nas capitais dos estados e no Distrito Federal.Em 2008, 19% dos entrevistados declararam ter consumido álcool de forma abusiva em algum tipo de situação nos últimos 30 dias. Em 2007, haviam sido 17,5%, e em 2006, o primeiro ano do Vigitel, foram 16,1%. O consumo é mais frequente nas faixas etárias mais jovens, conforme demonstrou a pesquisa.(Brasil.M.S.(2008)

7)Referencial teórico:

O alcoolismo, segundo a OMS, é uma doença de natureza complexa, na qual o álcool atua como fator determinante sobre causas psicossomáticas preexistentes

no indivíduo e para cujo tratamento é preciso recorrer a processos profiláticos e terapêuticos de grande amplitude. Já os alcoólatras são bebedores excessivos, cuja dependência do álcool chega a ponto de acarretar-lhes pertubações mentais evidentes, manifestações que afetam a saúde física e mental, suas reações individuais, seu comportamento socieconômico ou pródromos de perturbações desse gênero e que, por isso, necessitam de tratamento (CORDEIRO et al., 1954).

Na atualidade houve substituição desse termo, passando-se a denominar os usuários bebedoresproblemas e os dependentes de álcool em alcoolistas (BRASIL. M.S.,1990).

Para (Laranjeira,R.2000,et al),a avaliação inicial de um paciente que refere uso crônico de álcool deve ser muito cuidadosa e detalhada.A partir dessa investigação criteriosa é possível que se determine o nível de comprometimento no momento da intervenção, os problemas relacionados a esse uso e à presença ou não de complicações e comorbidades associadas.

A redução ou a interrupção do uso do álcool em pacientes dependentes produz um conjunto bem definido de sintomas chamado de síndrome de abstinência. Embora alguns pacientes possam experimentar sintomas leves, existem aqueles que podem desenvolver sintomas e complicações mais graves, levando-os até a morte.O quadro se inicia após 6 horas da diminuição ou da interrupção do uso do álcool, quando aparecem os primeiros sintomas e sinais. São eles: tremores, ansiedade, insônia, náuseas e inquietação.Sintomas mais severos ocorrem em aproximadamente 10%dos pacientes e incluem febre baixa, taquipnéia, tremores e sudorese profusa,em cerca de 5% dos pacientes não tratados,conforme (Laranjeira,R.2000,et al).

Segundo,(Laranjeira,R.2000,et al), Um conjunto de sintomas, de agrupamento e gravidade variáveis,ocorrendo em abstinência absoluta ou relativa do álcool, após uso repetido e usualmente prolongado e/ou uso de altas doses. O início e o curso do estado de abstinência são limitados no tempo e relacionados à dose de álcool consumida imediatamente antes da parada e da redução do consumo.

Conforme ,(Laranjeira,R.2000,et al) a síndrome de abstinência pode ser complicada com o aparecimento de convulsões. Os sintomas mais freqüentes são: hiperatividade autonômica; tremores; insônia; alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas transitórias; agitação psicomotora; ansiedade;e convulsões tipo grande mal. O diagnóstico médico pode ainda ser mais especificado, utilizando-se os seguintes códigos:

F 10.30: Síndrome de abstinência não complicada;

F 10.31: Síndrome de abstinência com convulsões.

A SAA evolui com maior ou menor gravidade e pode ser complicada por delirium tremens, descrito a seguir de acordo com os critérios da CID - 10. Alguns fatores estão associados a uma evolução mais grave, e funcionam como preditores de gravidade da SAA, tais como: história anterior de síndrome de abstinência grave (repetidas desintoxicações); alcoolemia alta sem sinais clínicos de intoxicação; sintomas de abstinência com alcoolemia alta; uso de tranqüilizantes e hipnóticos;e associação de problemas clínicos e psiquiátricos ,(Laranjeira,R.2000,et al).

A ingestão de álcool provoca diversos efeitos, que aparecem em duas fases distintas: uma estimulante e outra depressora.Nos primeiros momentos após a ingestão de álcool, podem aparecer os efeitos estimulantes como euforia, desinibição e loquacidade (maior facilidade para falar). Com o passar do tempo, começam a aparecer os efeitos depressores como falta de coordenação motora, descontrole e sono. Quando o consumo é muito exagerado, o efeito depressor fica exacerbado, podendo até mesmo provocar o estado de coma(Cebrid-Unifesp,2009).

Segundo dados da (O.M.S,2001) cerca de 10% das populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente substâncias psicoativas, independente da idade, sexo, nível de instrução e poder aquisitivo. Há uma tendência mundial que aponta para o uso cada vez mais precoce de substâncias psicoativas, incluindo o álcool. O álcool é responsável por cerca de 1,5% de todas as mortes no mundo.

Para o (Ministério da Saúde,1997)O uso de álcool e outras drogas têm conseqüências diretas e indiretas nos seguintes agravos à saúde:

Aumento da violência doméstica, sendo que 2/3 dos casos de espancamento de crianças e de agressões entre marido e mulher, ocorrem com pais e/ou maridos embriagados e Provoca o fenômeno de crianças e adolescentes em situação de rua pela desagregação familiar. As meninas usam mais álcool, solventes e anorexígenos do que os meninos e iniciam mais precocemente o uso do álcool e do tabaco.

Para a (Abedetran, 1997). No trânsito, 75% dos acidentes fatais estão ligados ao abuso de álcool; 61% das pessoas envolvidas em acidentes de trânsito e 56,2% dos que sofreram atropelamentos apresentavam alcoolemia positiva.

Ainda conforme dados do(Ministério da Saúde, 1997),o aumento da violência e da criminalidade, 68% dos homicídios culposos, 62% dos assaltos, 54% dos assassinatos e 44% dos roubos, estão ligados ao uso de drogas.

As ações em saúde, sejam elas em saúde mental ou não, são desenvolvidas pelos municípios. Ao Estado cabe desenvolver ações de acompanhamento, assessoramento, monitoramento e avaliação destas ações e proporcionar meios para que elas ocorram.

Os efeitos do álcool variam de intensidade de acordo com as características pessoais. Por exemplo, uma pessoa acostumada a consumir bebidas álcoólicas sentirá os efeitos do álcool com menor intensidade, quando comparada com uma outra pessoa que não está acostumada a beber. Um outro exemplo está relacionado a estrutura física; uma pessoa com uma estrutura física de grande porte terá uma maior resistência aos efeitos do álcool(Cebrid/Unifesp,2006).

Os estudos neuropsicológicos, mencionados a seguir, apontam alterações cognitivas, comportamentais e emocionais, além da qualidade do funcionamento mental,em indivíduos alcoolistas (dependência atual ou abstinência), que oferecem importantes informações para um melhor entendimento do funcionamento cerebral. Déficits cognitivos têm sido relacionados com anormalidades cerebrais tanto na substância branca quanto na cinzenta. Tem-se constatado atrofia cerebral por meio de diferentes estudos todos em investigação Vieira,R.M.T.. et AL,(2007).Apud Mechtcheriakov et al.,( 2006).

As investigações também têm procurado entender as relações entre os déficits decorrentes do consumo de álcool e a idade, bem como as quantidades de ingestão ,Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Parsons(1998). Muitos estudos apontam para prejuízos nas funções executivas, em habilidades visuo-espaciais e velocidade psicomotora Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Parsons(1998 .

Já Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Parsons(1998), em programas de pesquisas ao longo de décadas, observou que alcoolistas apresentam déficits em testes de aprendizagem, memória, abstração, solução de problemas, análise e síntese perceptuais, velocidade e eficiência no processamento de informação. Seus estudos apontam para um continuum de déficits neurocognitivos indo desde pacientes mais graves (Korsakoff) até aqueles com déficits moderados ou leves em indivíduos que apresentam ingestão mais moderada de álcool. Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Sullivan et al. (2000) .

Os resultados indicaram que os alcoolistas, comparativamente ao grupo controle, apresentam prejuízos nas funções executivas, habilidades visuoespaciais e também no caminhar e equilíbrio. O padrão de déficits funcionais implica pelo menos dois sistemas neurais principais: o cerebelar-frontal e o corticocortical entre o pré-frontal e o parietal. Além disso, a idade e a quantidade de consumo de álcool eram melhores preditores de prejuízos motores do que cognitivos.

Em estudo realizado pelos mesmos autores com mulheres (2002), observaram-se prejuízos mais marcantes nas funções visuoespaciais e que envolvem processos de memórias de trabalho verbal e não-verbal, além do caminhar e do equilíbrio. O tempo de consumo de álcool relacionou-se a prejuízos severos em Cubos (block design) do Wechsler Adult Intelligence Scale – Revised (WAIS-R) e memórias verbal e não-verbal.Os dados foram sugestivos de rupturas nos sistemas cerebelar, pré-frontal e parietal superior Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Sullivan et al. (2000) .

Cunha e Novaes (2004) apresentaram descrição dos prejuízos neuropsicológicos nos casos de dependência aguda (atenção, memória, funções executivas e habilidades visuoespaciais) e de abuso crônico (memória, aprendizagem, funções visuoespaciais, velocidade de processamento psicomotor, funções executivas e tomada de decisões).

,Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud(.Tedstone e Coyle (2004) investigaram o desempenho de indivíduos com ingestão etílica moderada em tarefas neuropsicológicas e diferentes aspectos de atenção. Na comparação destes com não-alcoolistas, indivíduos com ingestão moderada apresentaram prejuízos significativos em todas as tarefas neuropsicológicas, em atenção dividida e em prova de inibição de estímulos (Stroop). Entretanto, apresentaram um desempenho normal em teste que mede atenção seletiva ,(Vieira,R.M.T.. et AL).

8)Complicações e/ou comorbidades clínicas associadas ao alcoolismo :

Sistema nervoso central: Apagamentos (amnésia lacunar),Convulsão ,Diminuição da habilidade motora e transtornos motores , Diminuição da capacidade cognitiva,Neuropatia sensório-motora periférica,Síndrome de "Wernicke-Korsakoff": oftalmoplegia + ataxia + confusão, mental + alterações de memória, Degeneração cerebelar, Encefalopatia hepática, Demência relacionada ao álcool, Transtornos neuropsicológicos relacionados ao álcool e Traumatismo crânio encefálico.

Sistema gastrointestinal: Pancreatite crônica, Esteatose hepática, Hepatite alcoólica, Hemorragia digestiva

Cirrose hepática com ou sem hepatite alcoólica, Gastrite, Esofagite de refluxo e

Tumores

Sistema ósteo-muscular: Fraqueza muscular proximal, Miopatia generalizada, Osteopenia, Quedas freqüentes e fraturas

Anormalidades hematológicas: Distúrbios de coagulação, Anemias por deficiência nutricional

Sistema cardiovascular: "Holiday Heart Syndrome": episódios de arritmia supraventricular após grande ingestão alcoólica, Arritmias: fibrilação atrial, flutter atrial, extrassistolia, Insuficiência cardíaca, , Miocardiopatia alcoólica, Hipertensão arterial

Sistema endócrino: Hipoparatireoidismo transitório Alteração do ritmo menstrual, Impotência sexual (por diminuição de testosterona), Ginecomastia , Diabetes ,Infertilidade, Diminuição da libido, Diminuição dos caracteres sexuais masculinos.

Alterações metabólicas: Hipomagnesemia, Hipoglicemia, Hipopotassemia, , Cetoacidose.

Renal: Rabdomiólise / Insuficiência renal aguda

Dermatológico: Pelagra ,Afecções secundárias de pele, Eczemas, Queda de cabelo, Aranhas vasculares, , Eritema palmar, Dermatite seborréica, rinofima, Prurido, Rubor facial

Ecmoses, Xerodermia, Alterações Nutricionais, Deficiências vitamínico-minerais

Deficiências protéica.

Complicações psiquiátricas: Alterações do sono, Transtorno de personalidade anti-social, Suicídio e ideação suicida, Transtornos depressivos e Transtornos ansiosos.

Segundo FORTES (1975), os setores do organismo atingidos mais severamente são: fígado, pâncreas, sistema cardiovascular, aparelho digestivo, rins, aparelho respiratório, sangue e tecido hematopoiético, aparelho reprodutor, musculatura esquelética, glândulas endócrinas e sistema nervoso central.

Outros autores tais como JORGE & FERRAZ (1981) também revelam a associação de alterações emocionais e orgânicas nos indivíduos que ingerem

abusivamente álcool, num estudo sobre o que leva um alcoólatra à internação, tendo encontrado na sua amostra, que 67,8% das primeiras internações se deve ao comprometimento a nível psicológico ou orgânico (vômitos, tremores, caimbras, desmaios, anorexia, insônia, nervosismo, agressividade, alucinações, tentativa de suicídio).

9)Resolutividade :

Os princípios básicos para a assistência aos usuários de álcool e outras drogas, não se diferenciam das demais áreas da enfermagem, há necessidade de se promover a aliança terapêutica através de um ambiente acolhedor, da empatia (fundamental para a motivação), conduzindo ao relacionamento interpessoal. Garantindo ao indivíduo assistência integral e contínua e contribuindo para a competência coletiva do trabalho da equipe. É particularmente importante boa comunicação e o trabalho cooperativo. O paciente deve ser entendido e abordado sob a ótica da totalidade numa perspectiva holística (a chave da intervenção terapêutica) que tem como foco principal o ser humano na compreensão e tratamento do problema ou desconforto. Nessa visão, o uso da substância química é visto como o agente gerador de malefícios, que precisa ser tratado de alguma maneira, mas, inegavelmente, o indivíduo deve receber os aportes necessários para alcançar o seu equilíbrio. Nesse sentido, o enfermeiro pode auxiliar nessa instrumentalização, incentivando e apoiando os usuários a assumirem a responsabilidade pela melhora na qualidade de sua vida em todos os níveis.

Já, no atendimento inicial, o enfermeiro identifica os problemas associados ao uso das substâncias, ouve as queixas do paciente, percebe os mecanismos de defesa envolvidos (negação, por exemplo), identifica o padrão de consumo da substância no dia, no mês e ao longo da história do paciente, na busca da caracterização do uso nocivo ou dependência. Com base nisso, ele pode classificar esse usuário como dependente (ou não) e de que substância. Nessa primeira entrevista, é importante o enfermeiro ouvir as queixas do paciente, valorizar seus problemas e não fazer julgamentos de valor. Nessa ocasião, podem ser utilizados instrumentos padronizados para a coleta de informações. Ao finalizar a entrevista inicial, é importante dar um retorno sobre as queixas do paciente e apresentar os objetivos do programa de atendimento, o contrato terapêutico, a necessidade de participação de um familiar no tratamento, possíveis interconsultas com outros profissionais da equipe e o planejamento do próximo atendimento.

No processo de acompanhamento, que pode ter como objetivo a desintoxicação (programa de atendimento aproximadamente de 7 a 10 dias), o enfermeiro realiza o monitoramento dos sintomas da síndrome de abstinência, prevenindo assim maiores complicações futuras. Além disso, conhecendo a história atual do uso do álcool e de outras substâncias, padrão de consumo da substância e, ciente dos problemas relacionados ao uso, pode realizar o acolhimento e breve sensibilização confrontando os problemas relatados pelo paciente e sua associação como o uso da substância, tendo com isso indicadores para avaliar o grau de motivação para o tratamento, bem como identificando a necessidade ou não de encaminhamento para avaliação médica (comorbidade e necessidade de medicalização).

Uma das estratégias que pode ser utilizada pelo enfermeiro no processo de tratamento é o aconselhamento (cuja base é a terapia - cognitiva), buscando fornecer ao paciente conselhos diretos que promovam reflexões e mudanças de comportamento de maneiras enfáticas. Algumas vezes resumem-se a orientações específicas e, em outras, são necessárias indicações como a redução do consumo e a substituição de uma substância por outra de "menor nocividade", e até sugestões mais drásticas, como a indicação de abstinência total.

Nesse contexto, o enfermeiro pode utilizar outras estratégias que são desenvolvidas concomitantemente no processo de tratamento e reabilitação do usuário de álcool e outras drogas; a prevenção da recaída, a intervenção motivacional e a intervenção breve.

A prevenção de recaída consiste num repertório de meios e estratégias que o indivíduo usuário pode utilizar para evitar recaída em certos comportamentos que fazem parte do quadro da dependência Marlatt A, Gordon J.(1993)

. Seu fundamento remonta aos princípios da teoria do aprendizado social, constituindo um programa estruturado, visando ao autocontrole, que inclui procedimentos de treinamento de habilidades, intervenções e mudanças no estilo de vida,Pillon,S.C.2004 apud Beck AT, Wright F, Newmann(1993).

O foco central é a manutenção do processo de mudança do comportamento, objetivando inclusive prevenir a ocorrência de lapso (uso da substância, sem continuidade), mais freqüente no início do tratamento e que esse não se transforme em recaída (retorno ao padrão de uso anterior ao tratamento) Marlatt A, Gordon J.(1993).

Daí a importância da intervenção motivacional, Pillon,S.C.2004,apud Miller WR, Rollnick S(1991). enquanto estratégia baseada em pressupostos da psicologia motivacional. O enfermeiro pode exercê-la incentivando a motivação do usuário para mudar seu comportamento de beber, planejando suas ações de maneira a se proteger das situações de risco e a fazer planos para o futuro.

A intervenção breve Marlatt A, Gordon J.(1993), envolve procedimentos de ensino de meios de autocontrole para atingir os objetivos da abstinência ou diminuição da quantidade e/ou freqüência de uso da substância. Pode ser feita em sessões breves por meio da técnica de aconselhamento, onde o problema é avaliado recebendo retorno personalizado do enfermeiro, que procura trabalhar, nessa intervenção, os mecanismos de resistência e negação do indivíduo. É necessário o desenvolvimento de acordo mútuo por meio do qual sejam explicitados os objetivos do usuário e aqueles do tratamento, podendo ser utilizados vários meios para favorecer a adesão: manual de atividades diárias a ser preenchido pelo cliente, cartão de controle pessoal do uso da substância, contatos telefônicos, visitas domiciliares, encaminhamento a outros profissionais e parcerias com grupos de auto-ajuda.

No processo de tratamento e reabilitação do usuário de álcool ou drogas familiares e cuidadores devem ser incluídos, o enfermeiro pode incentivar a participação em entrevistas individuais e em grupos de apoio para orientação e acolhimento do cliente, pois podem ser de importância fundamental no auxílio às mudanças de comportamento do usuário, necessárias para o desenvolvimento de um estilo de vida mais saudável.

Os diagnósticos de enfermagem encontrados são apresentados segundo a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA, 2008) e demonstram um déficit de autocuidado com destaque para higiene oral inadequada, deficiência de atividade física e comprometimento das interações familiares, provavelmente devido à relevância da bebida, um dos sinais e sintomas da síndrome da dependência do álcool que coloca a bebida como o centro das atividades do alcoolista e a coordenadora de suas funções.

Deve-se esclarecer a família e, sempre que possível, o próprio paciente sobre os sintomas apresentados, sobre os procedimentos a serem adotados e sobre as possíveis evoluções do quadro. Deve ser propiciado ao paciente e à família o acesso facilitado a níveis mais intensivos de cuidados (serviço de emergência, internação) em casos de evolução desfavorável do quadro. É importante ainda reforçar a necessidade de comparecimento nas consultas remarcadas, que serão tão freqüentes quanto possível, nos primeiros 15 dias do tratamento.

Orientação da família e do paciente quanto à natureza do problema, tratamento e possível evolução do quadro; · Propiciar ambiente calmo, confortável e com pouca estimulação audiovisual; · A dieta é livre, com atenção especial à hidratação; · O paciente e a família devem ser orientados sobre a proibição do ato de dirigir veículos; · As consultas devem ser marcadas o mais brevemente possível para reavaliação.

10)Considerações Finais:

Coadunamos da concepção de JORGE (1983) de que o alcoolismo é simultaneamente uma doença (enquanto conduta individual) e uma denúncia (enquanto resultado da interação com determinado meio) e que a sociedade que reprime o álcool é a mesma que fomenta o alcoolismo.

Educação em saúde é fundamental para assegurar não só o entendimento do cliente, como também de sua família, sobre os problemas relacionados ao uso crônico de álcool. Assim como é imprescindível a orientação do paciente sobre o seu problema, a família, parte integrante dessa disfunção, precisa ser informada e

encaminhada para um tratamento mais intensivo, se necessário.Em qualquer dos níveis de comprometimento que o indivíduo se apresente, é essencial trabalhar os conceitos de síndrome de dependência e abstinência alcoólica, com objetivo claro de desenvolver, nesse sistema familiar, a crítica sobre seu papel nesse transtorno, como também promover sua mudança de pensamento e comportamento.

Nas orientações das ações da Enfermagem , o pessoal de enfermagem representa a grande maioria da força de trabalho nos serviços de saúde ,seja no papel de gestor, de membro da equipe em contato direto com o portador de saúde mental e seus familiares, seja na supervisão dos auxiliares e técnicos de enfermagem, ou na determinação do projeto terapêutico para cada pessoa sob seus cuidados, o enfermeiro é elemento chave neste processo de mudança de paradigma.

Trabalhar a auto- estima do sujeito e a importância da desintoxicação, assim como a prevenção da recaída, são estratégias a serem adotadas nessa fase inicial do tratamento, não só com o paciente, como também com seu sistema familiar e social,valorizando acima de tudo o individuo como um ser único e plural,respeitando sua individualidade ,suas crenças e símbolos,orientando a ele e sua família dentro dos aspectos culturais e diversidade intelectual ,fazendo se entender em busca ,sempre junto com o individuo de sua qualidade de vida.

Segundo, DINIZ, S.A.; RUFFINO, M. C.(1996) apud,PARETTE et al. (1990), dado o importante papel que os enfermeiros têm desempenhado historicamente na educação em saúde, podemos antecipar que o papel dos profissionais de enfermagem, na educação sobre alcoolismo e com relação a estratégias de intervenção, tomar-se-á sempre mais marcante em resposta à necessidade da sociedade para tais serviços.

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