TDAH NA SALA DE AULA: COMO IDENTIFICAR E O QUE FAZER?

 

Kênia Ribeta Falqueto Simis

Pós-graduada em Pedagogia Empresarial

 

RESUMO

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH é uma disfunção em área do  córtex  cerebral,  ocasionando  dificuldades  relacionadas  à  concentração,  memória, hiperatividade e  impulsividade. Na escola   a criança com TDAH ainda sofre  inúmeros paradigmas  que  a  definem  como  mal educadas,  indisciplinadas  e  em  muitos  casos pouco  inteligentes.  O  presente  artigo  tem  como  objetivo  conceituar e identificar o TDAH, além de sugerir caminhos possíveis para realizar um bom trabalho e apoio para os alunos com o transtorno. Para  isso foram analisadas diversas pesquisas bibliográficas, objetivando um atendimento educacional especializado, com ações, recursos e parcerias de  fundamental  importância para  colaborar  com  a  superação dos desafios próprios da criança com TDAH.

Palavras  chave:  Transtorno  de  Déficit  de  Atenção  e  Hiperatividade;  Inclusão; Propostas Pedagógicas.

                                             

INTRODUÇÃO

A  escola  é muito  importante para qualquer  criança,  é no  ambiente  escolar que  ela  tem,  depois  da  família,  a  primeira  oportunidade  de  conviver  em  ambientes integrados,  interagindo  e  aprendendo  com  o  outro,  desenvolvendo  autonomia  e confiança  em si mesmo e aprender a lidar com regras e limites.

A introdução à essa socialização se torna um passo grande e difícil para algumas famílias, que encontram desafios que permanecem durante toda a vida escolar.

As  crianças  com  TDAH  muitas  vezes  são rolutadas de  desleixadas e preguiçosas devido  ao comportamento que apresentam diante de algumas situações: tem dificuldades para aprender  regras e ao mesmo tempo tentam impor as suas;  podem apresentar gestos bruscos; podem não querer parar de brincar quando os colegas já  estão  exaustos; apresentam desinteresse em algumas atividades.  De  acordo  com  SILVA  (2009,  p. 63)  estas crianças, muitas  vezes  são  “inconvenientes”  não  sabem  a  hora  de  parar  de  falar,  não sabem guardar segredos  e normalmente falam coisas erradas nas horas erradas.

É  essencial  que  todos  os membros da  escola  estejam  preparados  para lidar  com  situações  deste  tipo, só assim se terão bons resultados nos desempenhos desses alunos. Faz necessário acompanhar não só o conhecimento do corpo docente, mas uma boa estrutura física da escola, material didático adequado e profissionais que  venham  a  contribuir  de  forma  positiva, como psicólogos e fonoaudiólogos. “Quanto  mais  informações  e educação acerca do transtorno, melhor para criança e a família” (SILVA, 2009, p. 61).

O  papel  do  professor  é  de  grande importância, já que é a pessoa que, depois da família, está mais próxima do aluno, podendo compartilhar as ansiedades e expectativas do mesmo.  Seu papel será contribuir para o crescimento deste aluno, com a certeza de que, quando assume isso, é um grande estimulador dentro e fora da escola.

Se todos esses critérios forem alcançados, será montada uma rede de apoio, na qual o professor poderá contar com a família e com outros profissionais da escola, facilitando o encontro dos interesses do aluno, interferindo de forma positiva em seu desenvolvimento. Segundo Castro e Nascimento (2009, p.3), essa intervenção é extremamente importante, pois quando o TDAH não recebe um olhar acolhedor, persiste até a vida adulta, acarretando prejuízos maiores.

Diante  da prolemática  fica  evidente  sua  relevância, uma vez que  atinge  um  grande  número  de  crianças  e  adolescentes,  que  se deparam com  o  seu desempenho acadêmico prejudicado e muitas vezes sequer sabem que há meios de se obter uma qualidade de vida melhor.

  1. 1.    O que é o TDAH

O  Transtorno  do Déficit  de Atenção/ Hiperatividade  –  TDAH,  é “caracterizado por impulsividade, falta de atenção e hiperatividade” e “está sendo considerado um dos principais problemas crônicos da infância” (CASTRO e NASCIMENTO, 2009, p.4).

De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção – ABDA, o TDAH “é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida”. Também é chamado de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção).

As crianças com TDAH são comumente descritas como desligadas, aborrecidas  e  desmotivadas  frente  às  tarefas,  sem  força  de  vontade,  bagunceiras e desorganizadas. São crianças agitadas, como se estivessem a “mil por hora” ou “com bicho carpinteiro”, são barulhentas e tendem a fazer coisas fora de hora (BARBOSA, 2001, p. 24).

Nem  sempre  a  hiperatividade  está presente nas crianças.  Quando  aparece  no  diagnóstico,  o  distúrbio  passa  a  ser  denominado Transtorno  do Déficit  de Atenção  – TDA. O TDAH  tem grande impacto na vida do indivíduo afetado por esse transtorno e das  pessoas  com  as  quais  convive.  Para  Silva (2009),  longe de  ser uma doença, o TDA  consiste em uma mente  acelerada,  inquieta, que  produz  sem  cessar  ideias  que,  a  depender  do  direcionamento,  apresentam-se  de forma brilhante ou se amontoam de maneira atrapalhada.

O DSM-IV subdivide o TDAH em três tipos: a) TDAH com predomínio de sintomas de desatenção; b) TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade; c) TDAH combinado.

Os sintomas da desatenção podem ser identificados pelas seguintes manifestações: dificuldade de atentar a detalhes, tendência a cometer erros por pequenos descuidos em atividades escolares e de trabalho, dificuldade de manter a atenção em atividades em geral, não seguir instruções dadas e não terminar tarefas escolares, ser facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa, apresentar dificuldade em organizar tarefas e atividades em geral, apresentar esquecimento em atividades diárias e evitar, ou mostrar relutância quanto à realização de tarefas que exijam esforço mental (Rohde et al., 1998).

Já na hiperatividade/ impulsividade são: frequentemente dar respostas precipitadas antes das perguntas terem sido concluídas, dificuldade de esperar sua vez, interromper e se intrometer nos assuntos dos outros (Rohde et al., 2004).

Por último, o tipo combinado, que engloba sintomas da desatenção e da hiperatividade/ impulsividade.

Segundo Benczik (2000, p.31-32) existem fatores etiológicos que explicam  as possíveis causas do TDAH: 1) Hereditariedade; 2) Substâncias ingeridas na gravidez; 3) Sofrimento fetal; 4) Exposição ao chumbo e 5) Problemas familiares podem desencadear desordens mentais nas crianças.

Para Petriúbú (1999), o tratamento não é curativo, mas sintomático, além de farmacológico. Porém, deve ser associado ao tratamento de psicoterapia, para que os indivíduos com TDAH possam ter uma melhor qualidade de vida.

  1. 2.    Professor: Como identificar o TDAH?

Em muitos casos, o distúrbio é percebido quando a criança ingressa na escola, momento em que as dificuldades de atenção e inquietude se evidenciam, tendo em vista que, normalmente, é quando o sujeito com TDAH passa a ser alvo de comparação com outras crianças da mesma idade e ambiente (Poeta & Neto, 2004). Muitas vezes, os sintomas só são percebidos quando a criança se encontra em um ponto mais avançado do ensino fundamental, como terceira ou quarta série, quando o uso das funções executivas como planejamento, organização e persistência de foco atencional são mais necessárias (Rohde et al., 2004).

O diagnóstico de TDAH é estritamente clínico, baseando-se em critérios bem definidos de classificações como a DSM-IV1e a Classificação Internacional de Doenças – 10ª Edição (DSM-IV, 1995).

É preciso que pelo menos seis de nove sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade estejam presentes de forma frequente nos últimos seis meses para se fazer o diagnóstico, satisfazendo assim o critério A.

Estão  sendo  apresentados,  na  tabela  1,  os  critérios  do  DSM-IV (2010) para o diagnóstico de TDAH.

A. Ou (1) ou (2)

(1) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de  desenvolvimento:

Desatenção:

(a) frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras;

(b) com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;

(c) com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra;

(d) com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções);

(e) com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;

(f) com frequência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa);

(g) com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais);

(h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa;

(i) com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias;

(2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento:

Hiperatividade:

(a) frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira;

(b) frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado;

(c) frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação);

(d) com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer;

(e) está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor”;

(f) frequentemente fala em demasia;

(g) frequentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas;

(h) com frequência tem dificuldade para aguardar sua vez;

(i) frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por ex., intromete-se em conversas ou brincadeiras);

B. Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção que causaram prejuízo estavam presentes antes dos 7 anos de idade.

C. Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (por ex., na escola [ou trabalho] e em casa).

D. Deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.

E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou um Transtorno da Personalidade).

[...] Os casos supeitos de TDAH devem ser encaminhados a profissionais com experiência no seu diagnóstico e tratamento. O psiquiatra, o neuropediatra ou as equipes interdisciplinares auxiliam nessa tarefa. É importante salientar que a figura do psiquiatra assume um papel imporante quando o TDAH está associado a outros problemas emocionais [depressão, ansiedade, transtorno bipolar, transtorno opositivo-desafiador, transtornos de conduta, transtorno obsessivo-compulsivo] (ARAÚJO, 2002, p. 107)

Os pais das crianças são fonte fundamental de informação, ainda que muitas vezes as características e dificuldades dos pais dificultem a investigação do TDAH, isso não minimiza a importânciadessas informações, mesmo em caso de criança cujo pai ou cuja mãe sofre desse transtorno (Faraone, Biederman, Monteux, & Cohan, 2003). Nas entrevistas com os pais é imprescindível a investigação de sintomas como onde, quando, e com que freqüência eles ocorrem. Os pais costumam trazer um relato mais confiável de sintomas como agressividade, impulsividade, desatenção, oposição e hiperatividade do que crianças e adolescentes em avaliação (Martins, Tramontina, & Rohde, 2002).

A percepção do professor sobre a capacidade da criança/adolescente em seguir as regras e respeitar a autoridade na sala de aula auxilia o entendimento do clínico sobre como a criança está lidando com suas dificuldades (Benczik, 2000). A escola é uma fonte muito valiosa de informação, tanto no processo diagnóstico como na avaliação do tratamento.

Para que ocorra um  aprimoramento  do  atendimento ao aluno que se está sendo inventigado, é necessário que ocorram parcerias entre escola e psicólogo, para orientações de ações que contribuam para lidar com os medos do aluno. Além, da família, para  esclarecimento  sobre  as  habilidades,  interesses  e  possíveis  pistas  que possam ser importantes para melhorar o atendimento.  É necessário ressaltar que:

[...] O reconhecimento precore de situações que precisem de suporte favorece ao joem, pois evita que complicações emocionais secundárias se instalem. A correção de tais prolemas permite ao indivíduo o percurso da vida escolar em iguais condições que os demais. (ARAÚJO, 2002).

Segundo (Rohde et al., 2004). A apresentação clínica pode variar de acordo com o estágio do desenvolvimento. Sintomas relacionados à hiperatividade/impulsividade são mais frequentes em pré-escolares com TDAH do que sintomas de desatenção. Como uma atividade mais intensa é característica de pré-escolares, o diagnóstico de TDAH deve ser feito com muita cautela antes dos seis anos de vida. Por isso, entre outras razões, que o conhecimento de desenvolvimento normal de crianças é fundamental para a avaliação nesta faixa etária. A literatura indica que os sintomas de hiperatividade diminuem na adolescência, restando, de forma mais acentuada, os sintomas de desatenção e de impulsividade.

  1. 3.     Sugestões didáticas

Pensar,  sentir,  ouvir  e  agir  são  fatores  que,  integrados,  processam  as aprendizagens formais que são transmitidas nas escolas (Weiss, 2004). Quando se trata de um aluno com TDAH, as dificuldades de concentração e atenção são evidenciadas. 

Segundo Belisário  (2010, p.23-27)  as dificuldades  iniciais  enfrentadas por essas crianças na escola são decorrentes de sua inflexibilidade mental. A interação com os colegas, a família e a rotina existente no cotidiano escolar é bastante importante.

A importância da    aproximação  e  o  acompanhamento  junto  a essas  crianças,  é  a  base  para  nortear  atividades  que  venham  possibilitar  maior concentração, participação e aprendizagem, proporcionando habilidades de cooperação e  consequentemente  o  seu  desenvolvimento.  Para que isso de fato ocorra, é necessário conhecer as particularidades do aluno.

Planejar  ações  para  atender  às  necessidades,  contribuindo  para  o estabelecimento de relações com os colegas, despertando o interesse e a participação nas  atividades  escolares,  a  fim  de  que  a  criança  tenha  acesso  aos  saberes  e alcance possa desenvolver suas habilidades. Antes de qualquer teoria e sugestões pedagógicas, o professor precisa entender que deve oferecer uma educação de qualidade para todos e que independente de qualquer barreira, o primeiro passo é tentar fazer o melhor. Encorpar essa postura é uma questão de ética e de valorização das riquezas encontradas nos alunos.

Santos (2009) indicam uma lista de atividades que pode ser realizada com alunos com TDAH, de forma atender suas particularidades, porém, vale destacar que serão produzidas de acordo com a necessidade do aluno. São elas:

•  Placas  de  comunicação  contendo  figuras  de  acordo  com  a  atividade  a  ser desenvolvida; 

•  Maquete,  painel,  calendário,  agenda,  cartaz, mural,  fichas  e  placas com nomes e fotos,  jogos da memória, dominó, fantoches,  sequências lógicas, jogo de percurso, quebra-cabeça e álbum de figuras; 

•  Portfólios  com  registros  das  atividades  desenvolvidas,  com  fotos  de  diversas situações  no  ambiente  escolar  ou  em  outros  espaços  de  aprendizagens  e  de situações rotineiras da vida diária; 

•  Outros recursos serão produzidos de acordo com a necessidade do aluno. 

Para as autoras, é importante tem recursos que envolvam o aluno e despertem sua curiosidade e atenção, como computadores, jogos educativos, jogos de encaixe, CDs e DVDs de filmes e músicas, palco para teatro de fantoches, fantasias, dedoches, máscaras, fantoches, revistas, livros, jogos que abranjam a coletividade, materiais  de  papelaria (papéis    de  diversos  tamanhos,  cores,  texturas  e espessuras;  tintas,  colas,  tesoura,  lápis,  pincel,  aquarela, massinha,  argila,  canetas  de ponta grossa de diversas cores,  avental plástico, EVA de várias cores, etc.) Os materiais irão variar de acordo com a faixa etária e de qual atividade será proposta. 

Para decidir qual tipo de atividade realizar com o aluno o professor deve criar oportunidade que  prevaleçam  aprendizagens  exploratórias  e investigativas, sugere-se, com base em Farrel (2008):

  • Encorajar o estudante TDAH a explorar os mais  variados materiais  sobre um determinado  conteúdo/assunto  que  será  trabalho/ensinado  em  sala  de  aula, antes que o ensino ocorra. É necessário que o professor faça a mediação da escolha desse material, assim  é  mais  provável  que  o  aluno  seja  capaz  de responder as atividades propostas com mais autonomia e atinja o objetivo de finalizá-las por completo, assegurando desse forma, o ritmo de aprendizagem, garantindo que o aluno consiga acompanhar a turma e muitas das vezes, colabore com o ambiente de aprendizagem;
  • Buscar  equilíbrio  entre  um  ritmo  que  garanta  a  aprendizagem  e  um  que mantenha  interesse  e  entusiasmo  pelo  assunto;
  • Ajustar  as  lições  propostas  por  estratégias  de  questionamentos,  como  uma mistura  de  perguntas  abertas  e  fechadas,  ou  pela  mescla  de  dados  novos e outros mais conhecidos;
  • Usar  recursos e  forma  não comuns de  apresentação dos conteúdos  – crianças com  TDAH  gostam  muito  de  novidades,  de  explorar  o  seu  cotidiano.  
  • Utilizar  metodologia  preferencialmente  visual  –  as  crianças  com  TDAH aprendem  melhor  visualmente. Uma dica é escrever palavras chaves enquanto explica o conteúdo, facilitando a aprendizagem do mesmo.
  • Estimular a criatividade por meio de tarefas que exijam a exploração, criação e construção do aluno.
  • Ser claro e objetivo ao definir  as  regras de comportamento dentro da  sala de aula;

Outras estratégias de ensino, com  base  em  RIEF  (1993):

  • Estabelecer combinados, utilizar tom de voz adequado;
  • construir  um  contrato  com  o  grupo,  estabelecendo  limites  para  a  convivência  no coletivo;
  • reforçar  comportamentos  positivos,  deixando  claro  que  sua  atitude  está  sendo cooperativa e desejável. Ex: gosto quando você pede com licença para passar;
  • trabalhar  com  prevenção  da  conduta  dentro  de  sala  de  aula,  trabalhando  com  uma situação organizada, num ambiente tranqüilo;
  • a cada meta vencida, a cada sucesso alcançado que seja comentado com elogios;
  • ensino individualizado sempre que necessário;
  • aproximar-se mais do aluno, antecipando sua movimentação, quando prestes a sair de sua  carteira,  apresentar  alterações  físicas  ou  emocionais,  buscar  mudar  o  foco, sugerindo uma atividade diferente;
  • oportunizar  atividades  e  momentos  em  que  o  aluno  se  movimente  na  classe  e  em outros locais na escola;
  • fornecer  exemplos  de  comportamentos  não  agressivos,  que  podem  ser  utilizados  em situações que poderiam levar à agressão, com respostas adequadas a ataques físicos e/ou  verbais;
  • realizar atividades em que o aluno possa  relacionar o que está aprendendo na escola com situações de sua própria vida;
  • registrar  o  tempo máximo  em  que  o  aluno  consegue  ficar  envolvido  com  diferentes atividades,  sendo  solicitado  um  aumento  gradativo  de  tempo  de  permanência  na atividade;
  • evitar  mudanças bruscas de rotina e, quando forem acontecer comunique ao aluno;
  • estruturar o uso do  tempo, do espaço, dos materiais e a  realização das atividades, de forma a diminuir ao máximo o caos que um ambiente complexo pode representar para esse aluno;
  • estabelecer contato direto com a família e com a equipe de apoio, realizando na sala de aula as ações recomendadas;
  • reconhecer e  fortalecer com elogios as mudanças de comportamentos agressivos para comportamentos mais desejáveis conquistados;
  • procurar  desenvolver  uma  relação  positiva,  recebendo-os  sempre  com  simpatia, conversando com os alunos em momentos apropriados,  reconhecendo explicitamente seus ganhos e avanços, procurando identificar seus interesses e motivações;
  • envolver  os  alunos  em  todas  as  atividades  cívicas,  artísticas,  esportivas  e  sociais  da escola, juntamente com os demais alunos;
  • agrupar  os  alunos  em  forma  de U  ou  semicírculo,  para  favorecer  que  todos  possam manter contato visual com o professor e os demais colegas da sala de aula;
  • usar a proximidade física para encorajar a atenção dos alunos;
  • organizar  atividades  individuais  nas  quais  haja  poucas  oportunidades  de  distração visuais ou auditivas;
  • ajudar os alunos a organizar seu horário, suas atividades na sala de aula, seu material de  trabalho,  sua  carteira,  aumentando  suas  responsabilidades  e  independência gradativamente;
  • apresentar modelos sobre como se organizar no trabalho;
  • encorajar os alunos a pensarem antes de  falar, exercitando com eles um “tempo para pensar” de 5 a 10 segundos, antes de apresentar uma resposta;

Diante  das  sugestões didáticas de  intervenção  para TDAH  sugeridas,  deve-se  entender que o resultado só será alcançado se o docente valorizar cada conquista do aluno e considerar as colocações do memso. A respeito disso, Meirieu reitera:

Não se tem, portanto, nenhuma chance de fazer com que um sujeito progrida se não se partir de suas representações, se elas não emergirem se não forem “trabalhadas”, como um oleiro que trabalha o barro, ou seja, não para substituí-lo por outra coisa, mas para transformá-lo. [...] Um  sujeito  não passa  assim  da  ignorância  ao  saber,  ele  vai  de  uma  representação  a  outra  mais elaborada, que dispõe de um poder explicativo maior e que  lhe permite elaborar um projeto mais ambicioso que, por sua vez, contribui para estruturá-la (MEIRIEU, 2008, p.58/59)

O professor, ao utilizar de práticas pedagógicas voltadas para o entendimento acima, deverá  levar  em  conta  que  cada  sucesso  obtido  pelo  aluno com TDAH  deverá  ser  ultrapassado, que não há limites para a aprendizafem deste indivíduo, pois este sempre poderá oferecer mais. É fato que nem todos os conteúdos possam chamar a atenção discente do qual discorremos e quando isso ocorrer, não se deve considerar o trabalho inútil. É isso que G. Bachelard, citado por Meirieu (2008), explica  quando  diz:  “É  no  próprio  ato  de  conhecer,  intimamente,  que  surgem,  por  uma espécie  de  necessidade  funcional,  lentidões  e  distúrbios  (...)”.  

Para que o professor  realize este  trabalho pedagógico com sucesso,  três atributos, de acordo  com  Fazenda  (2010),  devem  estar  presentes  na  prática  docente:  preparo na formação profissional e continuada,  espera na provoação das mudanças e coragem em projetar-se/ pensar além/ ser ousado. Não se trata de experimentar o que acha ser o mais correto, mas de oferecer um trabalho baseado  no  acolhimento,  continuidade,  coerência  e  consistência.  Se  o  aluno  não  se  sentir acolhido, não está preparado para situar-se no ambiente escolar. Trabalhar assim é ter indentificação pessoal e profissional. Será sua marca registrada, afirma Fazenda (2010).

Importante tratar sempre o conceito de competência da prática docente. Ampliando-se o conceito, amplia-se o “olhar pedagógico” para o ato educativo, o qual sugere ações mais arrojadas,  livres,  comprometidas. É  imprecindível  que  os  professores  estejam  conscientes  que  o problema dos  estudantes  com TDAH  é  fisiológico  e  biológico  por  natureza. Portanto, seu comportamento “agitado”, “desatento”, “hiperativo”, não é  planejado.  Tendo essa consciência será mais fácil manter  a  paciência,  senso  de  humor  e colocar em prática a habilidade em  lidar com comportamentos  indesejáveis de uma maneira positiva e  firme, ajudando no desenvolvimento do aluno. 

O professor deve sempre buscar apoio administrativo e pedagógico  para  desenvolver  um  planejamento  participativo  com  responsabilidades equilibradas  entre  todos  que  trabalham  com  o  estudante  TDAH.  Quando  todos se envolvem, o apoio ao professor no seu  trabalho  se  efetiva e os resultados aparecem mais rápido.  Alguns  alunos  são extremamente difíceis de manter em sala de aula e exigem intervenções altamente criativas. O professor, nesse caso, precisará de apoio da equipe pedagógico-administrativa da escola.

3.1 Como avaliar o aluno com TDAH

 Respeitar  a  privacidade  do  estudante  e  os  aspectos  confidenciais  é  dever  da  escola  e direito  do  estudante.  Portanto,  as  notas  individuais,  os  resultados  de  testes  e  provas,  as modificações especiais para  tarefas e projetos, assim como os assuntos  relacionados com os medicamentos utilizados, não sejam divulgados.

O  desafio  costuma  motivar  o  portador  do  TDAH.    Quando  o  professor  estabelece, previamente,  com o aluno a atividade escolar a ser realizada e como e quando será  concluída por ele,  confere ao final da produção, uma realidade de envolvimento e participação efetivas.  É de suma importância que o docente respeite o tempo do aluno com TDAH, mas nunca deixar de motivá-lo para que supere seus limites.

Todos os profissionais que amparam as crianças com TDAH e também a família, precisam ter em mente que é necessário um planejamento, uma rotina que facilite o dia a dia e que permitam  ao  aluno  atingir  os  objetivos  previstos num determinado grau de exigência.

 Nesta perspectiva, compartilha-se da colocação de Schmid, Coelho e Ribeiro (2008), quando afirmam que a verdadeira inclusão social vai além de um ato isolado ou de um conceito formulado.  Incluir  significa  o  respeito  à  diferença,  um  reconhecimento  acerca  das “impossibilidades” do sujeito diferente, estabelecendo-se, paralelamente, uma mudança do foco para as suas potencialidades.  Sendo assim, cabe ao professor aceitar a realidade de homogeneidade, ou seja, a riqueza  que a diversidade possui.

A  aprendizagem  é  algo  individual  que ocorre  no  coletivo,  sendo assim,  a  realização  de  um  trabalho  ético,  com  práticas pedagógicas  de  intervenção  que  contemplem  tanto  o  atendimento  individualizado  como  no grupo, é o ponto de partida e de chegada para o sucesso dos estudantes e para os avanços na educação inclusiva.

  1. 4.     Considerações finais

A  inclusão  é  muito  mais  do  que  aceitar  as  diferenças.  O  professor  tem  papel peça única  nesse processo. Ele precisa  compreender a inclusão na sua complexidade, que  envolve  além  do  aluno  a  ser    incluso,  a  família,  a  instituição escolar e as políticas públicas da educação. 

Para Mittler (2003) “a rua de acesso à inclusão não tem um fim porque ela é, em sua essência, mais  um  processo  do  que  um  destino".  Diante disso e do que foi exposto no artigo, entende-se que esta empreitada só será realizada para quem realmente quer seguir este caminho e só terá bons resultados se encarar a jornada preparado. Aqui ocorre o verdadeiro “trabalho de formiga”, com um passo de cada vez, com uma nova etapa conquistada a cada dia e com limites superados. Etapas e limites estes não só dos alunos, mas dos próprios professores, que ganham e crescem incalculavelmente ao realizar o trabalho de inclusão.

O sucesso acadêmico da criança com TDAH depende de ações que venham servir de suporte para a mesma.  Inclusão é resultado de redes de apoio, enquanto família, professores e outros profissionais especialistas, caso contrário,  estas  crianças  vão  continuar  nas  escolas  fortalecendo  as  estatísticas negativas. 

Cada aluno, independente se tem TDAH ou não, tem suas caracterísitcas, um jeito de ser, um jeito de fazer e um tempo certo para todas as coisas. Ser capaz de respeitar as particularidades é ser capaz de respeitar a si mesmo, porque todos temos algo diferente e que possa acrescentar em um grupo.

Em um tempo em que tudo se compartilha, em que todos estão conectados virtualmente, não deveria ser diferente entre as relações humanas. Compartilhar o que cada um sabe sem preconceitos, sem julgar a capacidade de cada um e contar com um grupo quando se fala de superação.

Cabe ao professor buscar em si primeiro a mudança, com o desejo de realizar o melhor que há em si, ser humano.

Cada criança que tenha sucesso no seu processo educativo, é mais  uma  certeza,  de  que  estamos  conscientes do compromisso  profissional, contribuindo para que  todos  tenham acesso a uma educação de qualidade, que não os separe, em nenhum aspecto e/ou sob nenhuma razão, proporcionando assim, uma vida saudável a todos.

  1. 5.    REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

 

  1. ARAÚJO, Alexandra P. De Queiroz Campos. Avaliação e manejo de criança com dificuldade escolar e distúrbio de atenção. , São Paulo, vol. 78, Supl. 1, p. 104-110, 2002.Jornal  de Pediatria
  2. Associação Brasileira do Déficit de Atenção. Disponível em: <http://www.tdah.org.br/> Acesso em 14 de julho de 2015.
  3. BARBOSA, E. S. Subdiagnóstico do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em adultos. 2001. 170f. Dissertação (Mestrado em Educação), Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
  4. BELISÁRIO Júnior, José Ferreira. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: transtornos globais do desenvolvimento. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; Brasília, 2010.
  5. Benczik, E. B. P. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: atualização diagnóstica e terapêutica. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2000.
  6. CASTRO, Chary A. Alba; NASCIMENTO, Luciana. TDAH: Inclusão nas Escolas. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2009.
  7. DSM-IV – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Tradução de Dayse Batista. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
  8. Faraone, S. V., Biederman, J., Monteux, M. C., & Cohan, S. L. Does parental ADHD bias maternal reports of ADHD symptons in children? Journal of Consulting And Clinical Psychology, vol. 71, 168-175, 2003.
  9.  FAZENDA, I. Metodologia da Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez, 2010.
  10. Martins, S., Tramontina, S., & Rohde, L. A. Princípios e práticas em TDAH. Porto Alegre: Artmed., p. 151-160, 2002.
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