TDAH NA SALA DE AULA: COMO IDENTIFICAR E O QUE FAZER?
Publicado em 13 de setembro de 2015 por Kênia RIbeta Falqueto
TDAH NA SALA DE AULA: COMO IDENTIFICAR E O QUE FAZER?
Kênia Ribeta Falqueto Simis
Pós-graduada em Pedagogia Empresarial
RESUMO
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH é uma disfunção em área do córtex cerebral, ocasionando dificuldades relacionadas à concentração, memória, hiperatividade e impulsividade. Na escola a criança com TDAH ainda sofre inúmeros paradigmas que a definem como mal educadas, indisciplinadas e em muitos casos pouco inteligentes. O presente artigo tem como objetivo conceituar e identificar o TDAH, além de sugerir caminhos possíveis para realizar um bom trabalho e apoio para os alunos com o transtorno. Para isso foram analisadas diversas pesquisas bibliográficas, objetivando um atendimento educacional especializado, com ações, recursos e parcerias de fundamental importância para colaborar com a superação dos desafios próprios da criança com TDAH.
Palavras chave: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade; Inclusão; Propostas Pedagógicas.
INTRODUÇÃO
A escola é muito importante para qualquer criança, é no ambiente escolar que ela tem, depois da família, a primeira oportunidade de conviver em ambientes integrados, interagindo e aprendendo com o outro, desenvolvendo autonomia e confiança em si mesmo e aprender a lidar com regras e limites.
A introdução à essa socialização se torna um passo grande e difícil para algumas famílias, que encontram desafios que permanecem durante toda a vida escolar.
As crianças com TDAH muitas vezes são rolutadas de desleixadas e preguiçosas devido ao comportamento que apresentam diante de algumas situações: tem dificuldades para aprender regras e ao mesmo tempo tentam impor as suas; podem apresentar gestos bruscos; podem não querer parar de brincar quando os colegas já estão exaustos; apresentam desinteresse em algumas atividades. De acordo com SILVA (2009, p. 63) estas crianças, muitas vezes são “inconvenientes” não sabem a hora de parar de falar, não sabem guardar segredos e normalmente falam coisas erradas nas horas erradas.
É essencial que todos os membros da escola estejam preparados para lidar com situações deste tipo, só assim se terão bons resultados nos desempenhos desses alunos. Faz necessário acompanhar não só o conhecimento do corpo docente, mas uma boa estrutura física da escola, material didático adequado e profissionais que venham a contribuir de forma positiva, como psicólogos e fonoaudiólogos. “Quanto mais informações e educação acerca do transtorno, melhor para criança e a família” (SILVA, 2009, p. 61).
O papel do professor é de grande importância, já que é a pessoa que, depois da família, está mais próxima do aluno, podendo compartilhar as ansiedades e expectativas do mesmo. Seu papel será contribuir para o crescimento deste aluno, com a certeza de que, quando assume isso, é um grande estimulador dentro e fora da escola.
Se todos esses critérios forem alcançados, será montada uma rede de apoio, na qual o professor poderá contar com a família e com outros profissionais da escola, facilitando o encontro dos interesses do aluno, interferindo de forma positiva em seu desenvolvimento. Segundo Castro e Nascimento (2009, p.3), essa intervenção é extremamente importante, pois quando o TDAH não recebe um olhar acolhedor, persiste até a vida adulta, acarretando prejuízos maiores.
Diante da prolemática fica evidente sua relevância, uma vez que atinge um grande número de crianças e adolescentes, que se deparam com o seu desempenho acadêmico prejudicado e muitas vezes sequer sabem que há meios de se obter uma qualidade de vida melhor.
- 1. O que é o TDAH
O Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade – TDAH, é “caracterizado por impulsividade, falta de atenção e hiperatividade” e “está sendo considerado um dos principais problemas crônicos da infância” (CASTRO e NASCIMENTO, 2009, p.4).
De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção – ABDA, o TDAH “é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida”. Também é chamado de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção).
As crianças com TDAH são comumente descritas como desligadas, aborrecidas e desmotivadas frente às tarefas, sem força de vontade, bagunceiras e desorganizadas. São crianças agitadas, como se estivessem a “mil por hora” ou “com bicho carpinteiro”, são barulhentas e tendem a fazer coisas fora de hora (BARBOSA, 2001, p. 24).
Nem sempre a hiperatividade está presente nas crianças. Quando aparece no diagnóstico, o distúrbio passa a ser denominado Transtorno do Déficit de Atenção – TDA. O TDAH tem grande impacto na vida do indivíduo afetado por esse transtorno e das pessoas com as quais convive. Para Silva (2009), longe de ser uma doença, o TDA consiste em uma mente acelerada, inquieta, que produz sem cessar ideias que, a depender do direcionamento, apresentam-se de forma brilhante ou se amontoam de maneira atrapalhada.
O DSM-IV subdivide o TDAH em três tipos: a) TDAH com predomínio de sintomas de desatenção; b) TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade; c) TDAH combinado.
Os sintomas da desatenção podem ser identificados pelas seguintes manifestações: dificuldade de atentar a detalhes, tendência a cometer erros por pequenos descuidos em atividades escolares e de trabalho, dificuldade de manter a atenção em atividades em geral, não seguir instruções dadas e não terminar tarefas escolares, ser facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa, apresentar dificuldade em organizar tarefas e atividades em geral, apresentar esquecimento em atividades diárias e evitar, ou mostrar relutância quanto à realização de tarefas que exijam esforço mental (Rohde et al., 1998).
Já na hiperatividade/ impulsividade são: frequentemente dar respostas precipitadas antes das perguntas terem sido concluídas, dificuldade de esperar sua vez, interromper e se intrometer nos assuntos dos outros (Rohde et al., 2004).
Por último, o tipo combinado, que engloba sintomas da desatenção e da hiperatividade/ impulsividade.
Segundo Benczik (2000, p.31-32) existem fatores etiológicos que explicam as possíveis causas do TDAH: 1) Hereditariedade; 2) Substâncias ingeridas na gravidez; 3) Sofrimento fetal; 4) Exposição ao chumbo e 5) Problemas familiares podem desencadear desordens mentais nas crianças.
Para Petriúbú (1999), o tratamento não é curativo, mas sintomático, além de farmacológico. Porém, deve ser associado ao tratamento de psicoterapia, para que os indivíduos com TDAH possam ter uma melhor qualidade de vida.
- 2. Professor: Como identificar o TDAH?
Em muitos casos, o distúrbio é percebido quando a criança ingressa na escola, momento em que as dificuldades de atenção e inquietude se evidenciam, tendo em vista que, normalmente, é quando o sujeito com TDAH passa a ser alvo de comparação com outras crianças da mesma idade e ambiente (Poeta & Neto, 2004). Muitas vezes, os sintomas só são percebidos quando a criança se encontra em um ponto mais avançado do ensino fundamental, como terceira ou quarta série, quando o uso das funções executivas como planejamento, organização e persistência de foco atencional são mais necessárias (Rohde et al., 2004).
O diagnóstico de TDAH é estritamente clínico, baseando-se em critérios bem definidos de classificações como a DSM-IV1e a Classificação Internacional de Doenças – 10ª Edição (DSM-IV, 1995).
É preciso que pelo menos seis de nove sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade estejam presentes de forma frequente nos últimos seis meses para se fazer o diagnóstico, satisfazendo assim o critério A.
Estão sendo apresentados, na tabela 1, os critérios do DSM-IV (2010) para o diagnóstico de TDAH.
A. Ou (1) ou (2) |
(1) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: |
Desatenção: (a) frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras; (b) com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; (c) com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra; (d) com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções); (e) com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades; (f) com frequência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa); (g) com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais); (h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa; (i) com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias; |
(2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: |
Hiperatividade: (a) frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira; (b) frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; (c) frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação); (d) com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; (e) está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor”; (f) frequentemente fala em demasia; (g) frequentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas; (h) com frequência tem dificuldade para aguardar sua vez; (i) frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por ex., intromete-se em conversas ou brincadeiras); |
B. Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção que causaram prejuízo estavam presentes antes dos 7 anos de idade. |
C. Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (por ex., na escola [ou trabalho] e em casa). |
D. Deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. |
E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou um Transtorno da Personalidade). |
[...] Os casos supeitos de TDAH devem ser encaminhados a profissionais com experiência no seu diagnóstico e tratamento. O psiquiatra, o neuropediatra ou as equipes interdisciplinares auxiliam nessa tarefa. É importante salientar que a figura do psiquiatra assume um papel imporante quando o TDAH está associado a outros problemas emocionais [depressão, ansiedade, transtorno bipolar, transtorno opositivo-desafiador, transtornos de conduta, transtorno obsessivo-compulsivo] (ARAÚJO, 2002, p. 107)
Os pais das crianças são fonte fundamental de informação, ainda que muitas vezes as características e dificuldades dos pais dificultem a investigação do TDAH, isso não minimiza a importânciadessas informações, mesmo em caso de criança cujo pai ou cuja mãe sofre desse transtorno (Faraone, Biederman, Monteux, & Cohan, 2003). Nas entrevistas com os pais é imprescindível a investigação de sintomas como onde, quando, e com que freqüência eles ocorrem. Os pais costumam trazer um relato mais confiável de sintomas como agressividade, impulsividade, desatenção, oposição e hiperatividade do que crianças e adolescentes em avaliação (Martins, Tramontina, & Rohde, 2002).
A percepção do professor sobre a capacidade da criança/adolescente em seguir as regras e respeitar a autoridade na sala de aula auxilia o entendimento do clínico sobre como a criança está lidando com suas dificuldades (Benczik, 2000). A escola é uma fonte muito valiosa de informação, tanto no processo diagnóstico como na avaliação do tratamento.
Para que ocorra um aprimoramento do atendimento ao aluno que se está sendo inventigado, é necessário que ocorram parcerias entre escola e psicólogo, para orientações de ações que contribuam para lidar com os medos do aluno. Além, da família, para esclarecimento sobre as habilidades, interesses e possíveis pistas que possam ser importantes para melhorar o atendimento. É necessário ressaltar que:
[...] O reconhecimento precore de situações que precisem de suporte favorece ao joem, pois evita que complicações emocionais secundárias se instalem. A correção de tais prolemas permite ao indivíduo o percurso da vida escolar em iguais condições que os demais. (ARAÚJO, 2002).
Segundo (Rohde et al., 2004). A apresentação clínica pode variar de acordo com o estágio do desenvolvimento. Sintomas relacionados à hiperatividade/impulsividade são mais frequentes em pré-escolares com TDAH do que sintomas de desatenção. Como uma atividade mais intensa é característica de pré-escolares, o diagnóstico de TDAH deve ser feito com muita cautela antes dos seis anos de vida. Por isso, entre outras razões, que o conhecimento de desenvolvimento normal de crianças é fundamental para a avaliação nesta faixa etária. A literatura indica que os sintomas de hiperatividade diminuem na adolescência, restando, de forma mais acentuada, os sintomas de desatenção e de impulsividade.
- 3. Sugestões didáticas
Pensar, sentir, ouvir e agir são fatores que, integrados, processam as aprendizagens formais que são transmitidas nas escolas (Weiss, 2004). Quando se trata de um aluno com TDAH, as dificuldades de concentração e atenção são evidenciadas.
Segundo Belisário (2010, p.23-27) as dificuldades iniciais enfrentadas por essas crianças na escola são decorrentes de sua inflexibilidade mental. A interação com os colegas, a família e a rotina existente no cotidiano escolar é bastante importante.
A importância da aproximação e o acompanhamento junto a essas crianças, é a base para nortear atividades que venham possibilitar maior concentração, participação e aprendizagem, proporcionando habilidades de cooperação e consequentemente o seu desenvolvimento. Para que isso de fato ocorra, é necessário conhecer as particularidades do aluno.
Planejar ações para atender às necessidades, contribuindo para o estabelecimento de relações com os colegas, despertando o interesse e a participação nas atividades escolares, a fim de que a criança tenha acesso aos saberes e alcance possa desenvolver suas habilidades. Antes de qualquer teoria e sugestões pedagógicas, o professor precisa entender que deve oferecer uma educação de qualidade para todos e que independente de qualquer barreira, o primeiro passo é tentar fazer o melhor. Encorpar essa postura é uma questão de ética e de valorização das riquezas encontradas nos alunos.
Santos (2009) indicam uma lista de atividades que pode ser realizada com alunos com TDAH, de forma atender suas particularidades, porém, vale destacar que serão produzidas de acordo com a necessidade do aluno. São elas:
• Placas de comunicação contendo figuras de acordo com a atividade a ser desenvolvida;
• Maquete, painel, calendário, agenda, cartaz, mural, fichas e placas com nomes e fotos, jogos da memória, dominó, fantoches, sequências lógicas, jogo de percurso, quebra-cabeça e álbum de figuras;
• Portfólios com registros das atividades desenvolvidas, com fotos de diversas situações no ambiente escolar ou em outros espaços de aprendizagens e de situações rotineiras da vida diária;
• Outros recursos serão produzidos de acordo com a necessidade do aluno.
Para as autoras, é importante tem recursos que envolvam o aluno e despertem sua curiosidade e atenção, como computadores, jogos educativos, jogos de encaixe, CDs e DVDs de filmes e músicas, palco para teatro de fantoches, fantasias, dedoches, máscaras, fantoches, revistas, livros, jogos que abranjam a coletividade, materiais de papelaria (papéis de diversos tamanhos, cores, texturas e espessuras; tintas, colas, tesoura, lápis, pincel, aquarela, massinha, argila, canetas de ponta grossa de diversas cores, avental plástico, EVA de várias cores, etc.) Os materiais irão variar de acordo com a faixa etária e de qual atividade será proposta.
Para decidir qual tipo de atividade realizar com o aluno o professor deve criar oportunidade que prevaleçam aprendizagens exploratórias e investigativas, sugere-se, com base em Farrel (2008):
- Encorajar o estudante TDAH a explorar os mais variados materiais sobre um determinado conteúdo/assunto que será trabalho/ensinado em sala de aula, antes que o ensino ocorra. É necessário que o professor faça a mediação da escolha desse material, assim é mais provável que o aluno seja capaz de responder as atividades propostas com mais autonomia e atinja o objetivo de finalizá-las por completo, assegurando desse forma, o ritmo de aprendizagem, garantindo que o aluno consiga acompanhar a turma e muitas das vezes, colabore com o ambiente de aprendizagem;
- Buscar equilíbrio entre um ritmo que garanta a aprendizagem e um que mantenha interesse e entusiasmo pelo assunto;
- Ajustar as lições propostas por estratégias de questionamentos, como uma mistura de perguntas abertas e fechadas, ou pela mescla de dados novos e outros mais conhecidos;
- Usar recursos e forma não comuns de apresentação dos conteúdos – crianças com TDAH gostam muito de novidades, de explorar o seu cotidiano.
- Utilizar metodologia preferencialmente visual – as crianças com TDAH aprendem melhor visualmente. Uma dica é escrever palavras chaves enquanto explica o conteúdo, facilitando a aprendizagem do mesmo.
- Estimular a criatividade por meio de tarefas que exijam a exploração, criação e construção do aluno.
- Ser claro e objetivo ao definir as regras de comportamento dentro da sala de aula;
Outras estratégias de ensino, com base em RIEF (1993):
- Estabelecer combinados, utilizar tom de voz adequado;
- construir um contrato com o grupo, estabelecendo limites para a convivência no coletivo;
- reforçar comportamentos positivos, deixando claro que sua atitude está sendo cooperativa e desejável. Ex: gosto quando você pede com licença para passar;
- trabalhar com prevenção da conduta dentro de sala de aula, trabalhando com uma situação organizada, num ambiente tranqüilo;
- a cada meta vencida, a cada sucesso alcançado que seja comentado com elogios;
- ensino individualizado sempre que necessário;
- aproximar-se mais do aluno, antecipando sua movimentação, quando prestes a sair de sua carteira, apresentar alterações físicas ou emocionais, buscar mudar o foco, sugerindo uma atividade diferente;
- oportunizar atividades e momentos em que o aluno se movimente na classe e em outros locais na escola;
- fornecer exemplos de comportamentos não agressivos, que podem ser utilizados em situações que poderiam levar à agressão, com respostas adequadas a ataques físicos e/ou verbais;
- realizar atividades em que o aluno possa relacionar o que está aprendendo na escola com situações de sua própria vida;
- registrar o tempo máximo em que o aluno consegue ficar envolvido com diferentes atividades, sendo solicitado um aumento gradativo de tempo de permanência na atividade;
- evitar mudanças bruscas de rotina e, quando forem acontecer comunique ao aluno;
- estruturar o uso do tempo, do espaço, dos materiais e a realização das atividades, de forma a diminuir ao máximo o caos que um ambiente complexo pode representar para esse aluno;
- estabelecer contato direto com a família e com a equipe de apoio, realizando na sala de aula as ações recomendadas;
- reconhecer e fortalecer com elogios as mudanças de comportamentos agressivos para comportamentos mais desejáveis conquistados;
- procurar desenvolver uma relação positiva, recebendo-os sempre com simpatia, conversando com os alunos em momentos apropriados, reconhecendo explicitamente seus ganhos e avanços, procurando identificar seus interesses e motivações;
- envolver os alunos em todas as atividades cívicas, artísticas, esportivas e sociais da escola, juntamente com os demais alunos;
- agrupar os alunos em forma de U ou semicírculo, para favorecer que todos possam manter contato visual com o professor e os demais colegas da sala de aula;
- usar a proximidade física para encorajar a atenção dos alunos;
- organizar atividades individuais nas quais haja poucas oportunidades de distração visuais ou auditivas;
- ajudar os alunos a organizar seu horário, suas atividades na sala de aula, seu material de trabalho, sua carteira, aumentando suas responsabilidades e independência gradativamente;
- apresentar modelos sobre como se organizar no trabalho;
- encorajar os alunos a pensarem antes de falar, exercitando com eles um “tempo para pensar” de 5 a 10 segundos, antes de apresentar uma resposta;
Diante das sugestões didáticas de intervenção para TDAH sugeridas, deve-se entender que o resultado só será alcançado se o docente valorizar cada conquista do aluno e considerar as colocações do memso. A respeito disso, Meirieu reitera:
Não se tem, portanto, nenhuma chance de fazer com que um sujeito progrida se não se partir de suas representações, se elas não emergirem se não forem “trabalhadas”, como um oleiro que trabalha o barro, ou seja, não para substituí-lo por outra coisa, mas para transformá-lo. [...] Um sujeito não passa assim da ignorância ao saber, ele vai de uma representação a outra mais elaborada, que dispõe de um poder explicativo maior e que lhe permite elaborar um projeto mais ambicioso que, por sua vez, contribui para estruturá-la (MEIRIEU, 2008, p.58/59)
O professor, ao utilizar de práticas pedagógicas voltadas para o entendimento acima, deverá levar em conta que cada sucesso obtido pelo aluno com TDAH deverá ser ultrapassado, que não há limites para a aprendizafem deste indivíduo, pois este sempre poderá oferecer mais. É fato que nem todos os conteúdos possam chamar a atenção discente do qual discorremos e quando isso ocorrer, não se deve considerar o trabalho inútil. É isso que G. Bachelard, citado por Meirieu (2008), explica quando diz: “É no próprio ato de conhecer, intimamente, que surgem, por uma espécie de necessidade funcional, lentidões e distúrbios (...)”.
Para que o professor realize este trabalho pedagógico com sucesso, três atributos, de acordo com Fazenda (2010), devem estar presentes na prática docente: preparo na formação profissional e continuada, espera na provoação das mudanças e coragem em projetar-se/ pensar além/ ser ousado. Não se trata de experimentar o que acha ser o mais correto, mas de oferecer um trabalho baseado no acolhimento, continuidade, coerência e consistência. Se o aluno não se sentir acolhido, não está preparado para situar-se no ambiente escolar. Trabalhar assim é ter indentificação pessoal e profissional. Será sua marca registrada, afirma Fazenda (2010).
Importante tratar sempre o conceito de competência da prática docente. Ampliando-se o conceito, amplia-se o “olhar pedagógico” para o ato educativo, o qual sugere ações mais arrojadas, livres, comprometidas. É imprecindível que os professores estejam conscientes que o problema dos estudantes com TDAH é fisiológico e biológico por natureza. Portanto, seu comportamento “agitado”, “desatento”, “hiperativo”, não é planejado. Tendo essa consciência será mais fácil manter a paciência, senso de humor e colocar em prática a habilidade em lidar com comportamentos indesejáveis de uma maneira positiva e firme, ajudando no desenvolvimento do aluno.
O professor deve sempre buscar apoio administrativo e pedagógico para desenvolver um planejamento participativo com responsabilidades equilibradas entre todos que trabalham com o estudante TDAH. Quando todos se envolvem, o apoio ao professor no seu trabalho se efetiva e os resultados aparecem mais rápido. Alguns alunos são extremamente difíceis de manter em sala de aula e exigem intervenções altamente criativas. O professor, nesse caso, precisará de apoio da equipe pedagógico-administrativa da escola.
3.1 Como avaliar o aluno com TDAH
Respeitar a privacidade do estudante e os aspectos confidenciais é dever da escola e direito do estudante. Portanto, as notas individuais, os resultados de testes e provas, as modificações especiais para tarefas e projetos, assim como os assuntos relacionados com os medicamentos utilizados, não sejam divulgados.
O desafio costuma motivar o portador do TDAH. Quando o professor estabelece, previamente, com o aluno a atividade escolar a ser realizada e como e quando será concluída por ele, confere ao final da produção, uma realidade de envolvimento e participação efetivas. É de suma importância que o docente respeite o tempo do aluno com TDAH, mas nunca deixar de motivá-lo para que supere seus limites.
Todos os profissionais que amparam as crianças com TDAH e também a família, precisam ter em mente que é necessário um planejamento, uma rotina que facilite o dia a dia e que permitam ao aluno atingir os objetivos previstos num determinado grau de exigência.
Nesta perspectiva, compartilha-se da colocação de Schmid, Coelho e Ribeiro (2008), quando afirmam que a verdadeira inclusão social vai além de um ato isolado ou de um conceito formulado. Incluir significa o respeito à diferença, um reconhecimento acerca das “impossibilidades” do sujeito diferente, estabelecendo-se, paralelamente, uma mudança do foco para as suas potencialidades. Sendo assim, cabe ao professor aceitar a realidade de homogeneidade, ou seja, a riqueza que a diversidade possui.
A aprendizagem é algo individual que ocorre no coletivo, sendo assim, a realização de um trabalho ético, com práticas pedagógicas de intervenção que contemplem tanto o atendimento individualizado como no grupo, é o ponto de partida e de chegada para o sucesso dos estudantes e para os avanços na educação inclusiva.
- 4. Considerações finais
A inclusão é muito mais do que aceitar as diferenças. O professor tem papel peça única nesse processo. Ele precisa compreender a inclusão na sua complexidade, que envolve além do aluno a ser incluso, a família, a instituição escolar e as políticas públicas da educação.
Para Mittler (2003) “a rua de acesso à inclusão não tem um fim porque ela é, em sua essência, mais um processo do que um destino". Diante disso e do que foi exposto no artigo, entende-se que esta empreitada só será realizada para quem realmente quer seguir este caminho e só terá bons resultados se encarar a jornada preparado. Aqui ocorre o verdadeiro “trabalho de formiga”, com um passo de cada vez, com uma nova etapa conquistada a cada dia e com limites superados. Etapas e limites estes não só dos alunos, mas dos próprios professores, que ganham e crescem incalculavelmente ao realizar o trabalho de inclusão.
O sucesso acadêmico da criança com TDAH depende de ações que venham servir de suporte para a mesma. Inclusão é resultado de redes de apoio, enquanto família, professores e outros profissionais especialistas, caso contrário, estas crianças vão continuar nas escolas fortalecendo as estatísticas negativas.
Cada aluno, independente se tem TDAH ou não, tem suas caracterísitcas, um jeito de ser, um jeito de fazer e um tempo certo para todas as coisas. Ser capaz de respeitar as particularidades é ser capaz de respeitar a si mesmo, porque todos temos algo diferente e que possa acrescentar em um grupo.
Em um tempo em que tudo se compartilha, em que todos estão conectados virtualmente, não deveria ser diferente entre as relações humanas. Compartilhar o que cada um sabe sem preconceitos, sem julgar a capacidade de cada um e contar com um grupo quando se fala de superação.
Cabe ao professor buscar em si primeiro a mudança, com o desejo de realizar o melhor que há em si, ser humano.
Cada criança que tenha sucesso no seu processo educativo, é mais uma certeza, de que estamos conscientes do compromisso profissional, contribuindo para que todos tenham acesso a uma educação de qualidade, que não os separe, em nenhum aspecto e/ou sob nenhuma razão, proporcionando assim, uma vida saudável a todos.
- 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
- ARAÚJO, Alexandra P. De Queiroz Campos. Avaliação e manejo de criança com dificuldade escolar e distúrbio de atenção. , São Paulo, vol. 78, Supl. 1, p. 104-110, 2002.Jornal de Pediatria
- Associação Brasileira do Déficit de Atenção. Disponível em: <http://www.tdah.org.br/> Acesso em 14 de julho de 2015.
- BARBOSA, E. S. Subdiagnóstico do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em adultos. 2001. 170f. Dissertação (Mestrado em Educação), Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
- BELISÁRIO Júnior, José Ferreira. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: transtornos globais do desenvolvimento. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; Brasília, 2010.
- Benczik, E. B. P. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: atualização diagnóstica e terapêutica. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2000.
- CASTRO, Chary A. Alba; NASCIMENTO, Luciana. TDAH: Inclusão nas Escolas. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2009.
- DSM-IV – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Tradução de Dayse Batista. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
- Faraone, S. V., Biederman, J., Monteux, M. C., & Cohan, S. L. Does parental ADHD bias maternal reports of ADHD symptons in children? Journal of Consulting And Clinical Psychology, vol. 71, 168-175, 2003.
- FAZENDA, I. Metodologia da Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez, 2010.
- Martins, S., Tramontina, S., & Rohde, L. A. Princípios e práticas em TDAH. Porto Alegre: Artmed., p. 151-160, 2002.
- MEIRIEU, P. Aprender... Sim, Mas Como?. Trad. Vanise Dresch. 7. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008.
- MITTLER, P. Educação inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003.
13. Petribú K. Valença, A.M., Oliveira, I.R. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em adultos:considerações sobre diagnóstico e o Tratamento. Neurobiologia, São Paulo, vol. 62, p. 53-60, 1999.
- Poeta, l. S., & Neto,f. R. Estudo epidemiológico dos sintomas do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade e transtornos de comportamento em escolares da rede pública de Florianópolis usando a EDAH. , Curitiba, vol. 26, 150-155, 2004.Revista Brasileira de Psiquiatria
- ROHDE, L. A., Busnello, E. D., Chachamovich, E., Vieira, G. M., Pinzon, V., & Ketzer, C. R. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: revisando conhecimentos. Revista da ABP. APAL, Rio de Janeiro, vol 20, 166-178, 1998.
- Rohde,l. A., Miguel filho, E. C., Bentti, l.,gallois, C., & Kieling, C. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade na infância e adolescência: considerações clínicas e terapêuticas. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, vol. 3, 124-131, 2004.
- SANTOS, M. P.; PAULINO, M. M. (Orgs). As três dimensões da inclusão. Educação. vol. 47. Belo Horizonte, 2009.
- SCHMID, P. C.; COELHO, M. A. S. M.; RIBEIRO, L. P. Sou Especial e estou na escola. E agora? Porto Alegre: Vieira e Lent, 2008.
- SILVA, Ana Beatriz B. Mentes inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.