TALVEZ VOCÊ QUEIRA SER DIONÍSIO...

Edgar Silva Santos

Manaus/Am

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                      “Dionísio, por suas façanhas militares, alçara-se do ínfimo grau de combatente a general das tropas, depois a rei de Siracusa, cujo governo reteve por 39 anos, à custa de muita crueldade.

                      Nunca deixou de oprimir o povo e de manifestar a todo instante cobiça insaciável.

                      Temido e ao mesmo tempo odiado pelo povo, desconfiava da própria sombra. O medo da morte sufocava-o.

                      Seu filhinho Dionísio cresceu no serralho, entre mulheres, preso ao aborrecimento das longas horas da juventude. Seu pai o deixara, de caso pensado, sem instrução, para que mais tarde não tivesse a tola idéia de destroná-lo.

                      Via em cada pessoa um assassino. Para se ter uma idéia mandou que se construíssem cárceres de tal modo que todos os sons, ainda os mais leves, pudessem ser ouvidos pelo tirano do lugar onde estivesse à escuta. Um deles se tornou famoso e ficou conhecido como “a orelha de Dionísio”.

                      Vivia no fausto, na riqueza. Mas sentia-se infeliz, como certa vez demonstrou a Dâmocles.

                      Este, parasita e bajulador, não se cansava de exaltar as virtudes, a riqueza e a felicidade do monarca. Numa certa ocasião, Dionísio perguntou-lhe se gostaria de experimentar-lhe a enaltecida ventura. A tal convite Dâmocles não se fez de rogado.

                      Tudo o que havia de mais escolhido foi colocado a seus pés. Sentado em confortável poltrona de couro, pousando os pés em ricos tapetes da Pérsia, tinha o adulador às suas ordens lacaios, música suave, caros perfumes orientais, mesa aparatosa, vinhos raros, iguarias e manjares apetitosos. Dâmocles não cabia em si de satisfação profunda e arrebatadora.

                      Julgava-se o homem mais feliz do mundo, mas, ao levantar os olhos, se lhe depara agudíssima espada sobre sua cabeça. “Oh, que horror!” – exclama ele. A espada pendia do teto, suspensa por um fino cabelo de crina de animal. Se ele arrebentasse! Era uma vez...

                     Dâmocles perdeu o apetite. Já não queria os manjares, nem os vinhos. A música já não o impolgava. Sua atenção se concentrava num só ponto: no fio. Gélido, quis evadir-se, mas a voz imperiosa de Dionísio não no permite.

                     Naquela posição angustiosa teve de permanecer durante o banquete todo. Desse dia em diante, nunca mais quis ser Dionísio.”

                     Muitas famílias estão sendo dominadas por um senso insaciável de ter, de amealhar riquezas cada vez mais; contagiadas pelo fascínio do mundo, vislumbram somente os tesouros que ele oferece. Do ponto de vista espiritual, a situação destas famílias assemelha-se à do povo de Israel, proclamada pelo profeta Ezequiel nestas palavras: “... os nossos ossos se secaram e pereceu nossa esperança...” (Ez. 37:11b). Quando se perde a sintonia com Deus, quando já não é possível reconhecê-lo “em todos os caminhos” (Prov.3:6), dá-se o primeiro passo na espiral descendente que leva ao fundo do poço. Neste ponto a alma se seca e a esperança se esvai, completamente.

                   Aos lares hoje impõe-se o desafio de viverem não à semelhança de Dionísio ou de Dâmocles, mas à semelhança de Cristo, buscando nele os valores que são capazes de fazê-los subsistir e triunfar, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Vivendo na perspectiva de Cristo, vamos viver para o outro, fazendo autodoação amorosa, cultivando o perdão restaurador e reacendendo a esperança no coração daqueles que seguem a trilha de uma vida que não lhes anima a dar sequer mais um passo.

                  Podemos salvar as nossas casas dos males hodiernos, como Abigail, na silenciosa submissão ao Senhor, salvou a sua. Podemos também deixá-las ao desamparo, ao desabrigo de todos aqueles bens, com quais Deus deseja premiar-nos pela Sua misericórdia e para a Sua própria glória. Que escolha faremos?

                 De maneira resoluta e guiados pela Mão Onipotente, desviaremos sim dos nossos lares a espada afiada do inimigo, que é astuto e “anda em derredor, rugindo como leão, buscando a quem possa tragar”.