TAI CHI CHUAN...

ERA PRECISO, MAS ACABOU PRAZEROSO

No início de 2014, às vésperas de completar 65 anos, alguns hábitos que se tornaram comuns, ao longo dos anos, passaram a me incomodar. Dentre estes hábitos, o mais preocupante era a procura excessiva às diversas especialidades de médicos e a dependência por remédios desnecessários. Então, busquei muita leitura, pesquisa e reflexão, visando alternativas que me oferecessem caminhos para uma melhor qualidade de vida.

Relato de experiências com a prática do Thai Chi Chuan.

Decidi, inicialmente, fazer o que sempre deixava pra segunda-feira. Decidi deixar de fazer o que sempre me deixava mal comigo mesma.

Quanto à contínua procura de médicos e remédios, observei que, tanto um quanto outro, iam ficando incoerentes com a minha aprendizagem. A sensação era de que aprendizagem continuava distante da minha prática. Ou seja, enquanto demonstrava às pessoas com as quais convivia, a postura de uma pessoa bem informada, bem resolvida e de bem com a vida, mas continuava utilizando das chamadas drogas lícitas, para os mais variados males do corpo e da mente.

Sem dúvida, principalmente, na farmácia, era uma cliente contínua e conveniente para o proprietário e para os diversos laboratórios. Afinal, a caixinha de pronto-socorro colocada, estrategicamente, em lugar de destaque e fácil acesso, não podia ficar sem os remédios para as “mil dores”. O pior é que nem sempre a maioria dessas dores se manifestavam de fato. Bastava uma olhada na caixinha e, por via das dúvidas, o melhor era me prevenir com este ou aquele remédio, antes que a dor aparecesse.

As dores, na maioria das vezes, vinham do meu imaginário, mas a neurose, esta sim, já estava além do imaginário. E ninguém merece viver com tanta neura. Ela pode e deve ser, menos... muito menos.

Consciente destes altos e baixos, finalmente, chegou a hora de tomar decisões e fazer melhores escolhas. Assim, conversa vem, conversa vai, com o meu marido, ele contou-me o que sabia sobre a prática do Tai Chi Chuan (uma arte marcial baseada em princípios), por meio de vídeos e reportagens. Lembro-me do seu primeiro comentário:

- Maria, acho que descobri uma maneira pra você realizar o que está procurando. Tem tudo a ver com você e com o que você quer.

Foi o suficiente, para que, juntos, buscássemos mais informações e melhor compreensão. Mas não parei por aí. Tomei coragem e resolvi agir.

Descobri, em seguida, um espaço onde já se praticava o Tai Chi Chuan na minha cidade, há alguns anos. Para minha surpresa, havia lá um grupo extremamente simpático e contagiante de alegria e disposição. E, melhor, chamados de “Terceira Idade”, na realidade, o que se via era um grupo de jovens idosos e jovens maduros, aprendendo a viver o presente, com sabedoria.

Conduzindo este grupo, chama atenção a presença marcante de uma professora bem humorada e responsável. Com profundo conhecimento sobre arte do Tai Chi Chuan, ela ensinava, acima de tudo, de forma sensível às necessidades de cada um, para que a beleza, do todo, permanecesse presente, na memória e no coração do grupo.

A percepção sobre a prática do Tai Chi Chuan, neste grupo, lembrou-me uma frase em uma das muitas pesquisas que fiz sobre o tema: “Um antigo Mestre de Tai Chi uma vez escreveu que o propósito último de se aprender Tai Chi era viver para sempre na estação da primavera de sua vida. Tai Chi não é apenas para se adquirir longevidade, mas também para se manter a vitalidade, mesmo numa idade avançada”. http://www.taichichuan.com.br/news19.htm.

Hoje, com 67 anos, continuo praticando Tai Chi Chuan duas vezes por semana, com a mesma professora, na companhia de excelentes instrutores e com o grupo iniciante, que cresce significativamente. Inseri, também, como parte das minhas atividades profissionais, a mesma prática com alguns alunos, na escola onde trabalho. Uma experiência incrível que merece uma história a parte.

Os compromissos diários foram, tranquilamente, invertidos. A prioridade, agora, é aprender o que o Tai Chi Chuan me oferece, para que a realização destes compromissos aconteça com serenidade, equilíbrio e harmonia.

Continuo aprendendo que olhar, atentamente, o mais simples, me fez compreender, o mais profundo. Continuo aprendendo que, quando conhecemos profundamente o nosso corpo, por meio da respiração, dos movimentos circulares e lentos, mais e mais, os princípios que queremos alcançar passam a interagir conosco, naturalmente.

Nesta perspectiva e nesta visão, a prática do Tai Chi Chuan me deixou feliz, desde o começo. Foi uma identificação rápida e certeira. A série de movimentos vagarosos e contínuos, iniciada aos 65 anos, gradativamente, ofereceu-me a possibilidade de relaxar e desfrutar a vida presente, de forma prazerosa e significativa.

Mesmo sendo, em situações diversas, uma pessoa disciplinada e de natureza mais tranquila, o Tai Chi Chuan foi além das minhas expectativas em relação ao que meu corpo ainda poderia desenvolver. Tanto que iniciei as aulas focada, principalmente, no desejo de amenizar dores reumáticas e as dificuldades ocasionadas por elas. No entanto, aos poucos, fui praticando o que aprendia, para cada dor que sentia. Surpreendentemente, a aprendizagem substituía a dependência pelos remédios. A partir de então, concentrei-me em alguns princípios como a respiração, o equilíbrio, a postura corporal, a memória, e percebi que, gradativamente, estes princípios provocavam, de forma natural, uma coordenação (já bem falha por conta da idade) harmonizada com a mente.

Mais feliz, ainda, fiquei quando compreendi que os movimentos do Tai Chi tinham propósitos específicos para mim e pra cada um de nós, no grupo. Eles fortaleciam o nosso organismo, a nossa serenidade, além da paz de espírito, para aquietar os nossos pensamentos. Só isto tudo, tem valido a pena.

Bom, se este tema te interessou, ou pelo menos despertou sua curiosidade, faça como eu: muita leitura, muita pesquisa e reflexão. Procure se informar sobre o que é Tai Chi Chuan. Procure conhecer seus princípios e se eles têm alguma coisa a ver com você. Assista muita prática do Tai Chi, onde puder, mas com quem entende do assunto (cuidado com os modismos mascarados). E se optar por sua prática, lembre-se que não é necessário esperar 65 anos, para iniciar. Em todo tempo é sempre possível. Mas, quanto mais cedo... menos dores, menos médicos, menos remédios e mais qualidade, para um novo estilo de vida.

Maria Eunice Gennari Silva