TAI CHI CHUAN... Era Preciso, Mas Acabou Prazeroso
Publicado em 03 de maio de 2016 por Maria Eunice Gennari Silva
TAI CHI CHUAN...
ERA PRECISO, MAS ACABOU PRAZEROSO
No início de 2014, às vésperas de completar 65 anos, alguns hábitos que se tornaram comuns, ao longo dos anos, passaram a me incomodar. Dentre estes hábitos, o mais preocupante era a procura excessiva às diversas especialidades de médicos e a dependência por remédios desnecessários. Então, busquei muita leitura, pesquisa e reflexão, visando alternativas que me oferecessem caminhos para uma melhor qualidade de vida.
Decidi, inicialmente, fazer o que sempre deixava pra segunda-feira. Decidi deixar de fazer o que sempre me deixava mal comigo mesma.
Quanto à contínua procura de médicos e remédios, observei que, tanto um quanto outro, iam ficando incoerentes com a minha aprendizagem. A sensação era de que aprendizagem continuava distante da minha prática. Ou seja, enquanto demonstrava às pessoas com as quais convivia, a postura de uma pessoa bem informada, bem resolvida e de bem com a vida, mas continuava utilizando das chamadas drogas lícitas, para os mais variados males do corpo e da mente.
Sem dúvida, principalmente, na farmácia, era uma cliente contínua e conveniente para o proprietário e para os diversos laboratórios. Afinal, a caixinha de pronto-socorro colocada, estrategicamente, em lugar de destaque e fácil acesso, não podia ficar sem os remédios para as “mil dores”. O pior é que nem sempre a maioria dessas dores se manifestavam de fato. Bastava uma olhada na caixinha e, por via das dúvidas, o melhor era me prevenir com este ou aquele remédio, antes que a dor aparecesse.
As dores, na maioria das vezes, vinham do meu imaginário, mas a neurose, esta sim, já estava além do imaginário. E ninguém merece viver com tanta neura. Ela pode e deve ser, menos... muito menos.
Consciente destes altos e baixos, finalmente, chegou a hora de tomar decisões e fazer melhores escolhas. Assim, conversa vem, conversa vai, com o meu marido, ele contou-me o que sabia sobre a prática do Tai Chi Chuan (uma arte marcial baseada em princípios), por meio de vídeos e reportagens. Lembro-me do seu primeiro comentário:
- Maria, acho que descobri uma maneira pra você realizar o que está procurando. Tem tudo a ver com você e com o que você quer.
Foi o suficiente, para que, juntos, buscássemos mais informações e melhor compreensão. Mas não parei por aí. Tomei coragem e resolvi agir.
Descobri, em seguida, um espaço onde já se praticava o Tai Chi Chuan na minha cidade, há alguns anos. Para minha surpresa, havia lá um grupo extremamente simpático e contagiante de alegria e disposição. E, melhor, chamados de “Terceira Idade”, na realidade, o que se via era um grupo de jovens idosos e jovens maduros, aprendendo a viver o presente, com sabedoria.
Conduzindo este grupo, chama atenção a presença marcante de uma professora bem humorada e responsável. Com profundo conhecimento sobre arte do Tai Chi Chuan, ela ensinava, acima de tudo, de forma sensível às necessidades de cada um, para que a beleza, do todo, permanecesse presente, na memória e no coração do grupo.
A percepção sobre a prática do Tai Chi Chuan, neste grupo, lembrou-me uma frase em uma das muitas pesquisas que fiz sobre o tema: “Um antigo Mestre de Tai Chi uma vez escreveu que o propósito último de se aprender Tai Chi era viver para sempre na estação da primavera de sua vida. Tai Chi não é apenas para se adquirir longevidade, mas também para se manter a vitalidade, mesmo numa idade avançada”. http://www.taichichuan.com.br/news19.htm.
Hoje, com 67 anos, continuo praticando Tai Chi Chuan duas vezes por semana, com a mesma professora, na companhia de excelentes instrutores e com o grupo iniciante, que cresce significativamente. Inseri, também, como parte das minhas atividades profissionais, a mesma prática com alguns alunos, na escola onde trabalho. Uma experiência incrível que merece uma história a parte.
Os compromissos diários foram, tranquilamente, invertidos. A prioridade, agora, é aprender o que o Tai Chi Chuan me oferece, para que a realização destes compromissos aconteça com serenidade, equilíbrio e harmonia.
Continuo aprendendo que olhar, atentamente, o mais simples, me fez compreender, o mais profundo. Continuo aprendendo que, quando conhecemos profundamente o nosso corpo, por meio da respiração, dos movimentos circulares e lentos, mais e mais, os princípios que queremos alcançar passam a interagir conosco, naturalmente.
Nesta perspectiva e nesta visão, a prática do Tai Chi Chuan me deixou feliz, desde o começo. Foi uma identificação rápida e certeira. A série de movimentos vagarosos e contínuos, iniciada aos 65 anos, gradativamente, ofereceu-me a possibilidade de relaxar e desfrutar a vida presente, de forma prazerosa e significativa.
Mesmo sendo, em situações diversas, uma pessoa disciplinada e de natureza mais tranquila, o Tai Chi Chuan foi além das minhas expectativas em relação ao que meu corpo ainda poderia desenvolver. Tanto que iniciei as aulas focada, principalmente, no desejo de amenizar dores reumáticas e as dificuldades ocasionadas por elas. No entanto, aos poucos, fui praticando o que aprendia, para cada dor que sentia. Surpreendentemente, a aprendizagem substituía a dependência pelos remédios. A partir de então, concentrei-me em alguns princípios como a respiração, o equilíbrio, a postura corporal, a memória, e percebi que, gradativamente, estes princípios provocavam, de forma natural, uma coordenação (já bem falha por conta da idade) harmonizada com a mente.
Mais feliz, ainda, fiquei quando compreendi que os movimentos do Tai Chi tinham propósitos específicos para mim e pra cada um de nós, no grupo. Eles fortaleciam o nosso organismo, a nossa serenidade, além da paz de espírito, para aquietar os nossos pensamentos. Só isto tudo, tem valido a pena.
Bom, se este tema te interessou, ou pelo menos despertou sua curiosidade, faça como eu: muita leitura, muita pesquisa e reflexão. Procure se informar sobre o que é Tai Chi Chuan. Procure conhecer seus princípios e se eles têm alguma coisa a ver com você. Assista muita prática do Tai Chi, onde puder, mas com quem entende do assunto (cuidado com os modismos mascarados). E se optar por sua prática, lembre-se que não é necessário esperar 65 anos, para iniciar. Em todo tempo é sempre possível. Mas, quanto mais cedo... menos dores, menos médicos, menos remédios e mais qualidade, para um novo estilo de vida.
Maria Eunice Gennari Silva