SUSTENTABILIDADE: O REUSO DA ÁGUA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Por: Ana Paula Alves Ferreira, Fernanda Bozzi Fraga e Maria Gabriela Ferreira Horta Zuqui

(Estudantes de Arquitetura e Urbanismo10º período)

 

Resumo: O planeta Terra passa por sérias dificuldades relacionadas ao desperdício de água potável. O presente tema aborda o reuso de água na construção civil, mostrando sua importância relacionada à sustentabilidade do planeta.

Abstract: The Earth goes through serious difficulties related to waste drinking water. This theme addresses the reuse of water in constructions, showing it´s importance on the sustainability of the planet.

Resumen: La Tierra pasa por dificultades graves relacionados con los residuos de agua potable. Este tema se refiere a la reutilización del agua en la construcción, mostrando su importancia en la sostenibilidad del planeta.

O Brasil, que possui a maior bacia hidrográfica do mundo, a bacia Amazônica, está passando por sérios problemas relacionados ao desperdício de água. Existe uma má distribuição dos recursos hídricos, onde o abastecimento não ocorre de forma igualitária. Para diminuir essa falha no sistema de abastecimento, o reuso da água é uma alternativa real e possível, pois, além de beneficiar a natureza, também beneficia  quem a reutiliza, pois diminui os custos mensais com água.

Mais especificamente, na construção civil, a água reutilizada é dividida em dois grupos: águas cinza e águas pluviais. Posteriormente, o grupo das águas cinza se divide em águas cinza claras (provenientes de chuveiros, banheiras, lavatórios e máquinas de lavar roupas) e águas cinza escuras (provenientes de pias de cozinha, máquinas de lavar pratos e vasos sanitários). Essas águas cinza são captadas e transportadas através da tubulação de reuso, até o reservatório.  As águas pluviais são as águas provenientes das chuvas, as quais, são captadas por ralos ou calhas na cobertura das edificações e também transportadas pela tubulação de reuso, até o reservatório. No reservatório, localizado no subsolo da edificação, a água é tratada; não ao ponto de se tornar potável, mas podendo ser reutilizada para vasos sanitários, irrigação de jardins, manutenção, etc.

Porém, o reuso das águas residuais só é permitido se forem seguidas as normas que medem o grau de impureza da água não potável, para que esta não prejudique a saúde dos usuários. Segundo a norma 13969/1997 da ABNT, as águas são classificadas de acordo com o uso:

  1. Classe 1: uso previsto para lavagem de carros e outros usos que requerem contato direto do usuário com a água. Deve possuir turbidez inferior a 5, coliformes fecais inferior a 200NMP/100ml, sólidos dissolvidos totais inferiores a 200mg/L, pH entre 6 e 8, cloro residual entre 0,5mg/L e 1,5mgL;
  2. Classe 2: uso previsto para lavagem de pisos, calçadas e irrigação dos jardins, manutenção dos lagos e canais para fins paisagísticos, exceto chafarizes. Deve possuir turbidez inferior a 5, coliformes fecais inferior a 500NMP/100ml e cloro residual superior a 0,5mg/L;
  3. Classe 3: uso previsto para reuso em descargas dos vasos sanitários. Deve possuir turbidez inferior a 10 e coliformes fecais inferior a 500NMP/100ml;
  4. Classe 4: uso previsto para reuso nos pomares, cereais, forragens, pastagens para gados e outros cultivos. Deve possuir coliformes fecais inferior a 5000NMP/100ml.

Além desta, existem outras normas, tais como a NBR 7229/1993, a qual regulamenta o dimensionamento do sistema de águas servidas; o manual de conservação e reuso da água em edificações, do SindusCon¹, que apresenta diversas formas de reutilizar a água, até mesmo na lavagem de agregados para preparação de concreto.

As águas cinzas e pluviais são transportadas pelo tubo de queda de reuso (totalmente independente da tubulação de água potável e de esgoto da edificação) até o reservatório, no subsolo da edificação, onde lá, recebem o tratamento adequado, para que depois sejam devidamente reutilizadas, sem a presença de impurezas, odor, partículas de materiais e ausência de cor.

Antes disso, as águas cinzas são separadas. As águas cinza claras são encaminhadas diretamente para o reservatório, enquanto as águas cinza escuras seguem para o tubo de esgoto convencional, pois contém alto grau de impurezas, prejudiciais à saúde humana.

O sistema de tratamento de água residual é semelhante ao sistema de tratamento de esgoto, onde o processo ocorre por sedimentação das partículas sólidas, filtração através da passagem da água por areia ou algum outro tipo de material poroso, tratamentos aeróbicos – biológicos (remoção da matéria orgânica), desinfecção (controle e eliminação de patologias). Também existem outros tipos de tratamento, como a coagulação, floculação e controle de pH.

Em alguns estados no Brasil, existem leis que determinam a coleta de águas pluviais nas edificações, para que se diminua o número de alagamentos em determinadas cidades, como em São Paulo (Lei nº 13.276), Curitiba (Lei nº 10.785) e Maringá (Lei nº 6.345).

De acordo com Mayok (2009), o consumo de água em uma edificação, onde existe reuso de águas cinzas, é de um terço menor do que em edificações comuns; edifícios que possuem coleta de água pluvial conseguem economizar cerda de 30 a 40%, assim como residências unifamiliares, que possuem reservatório de quatro a seis metros quadrados de capacidade. O valor para a instalação do sistema de reuso depende do grau de limpeza que se deseja da água; quanto mais livre de impurezas, mais cara fica.

A configuração do sistema é bem simples: o projeto deve ser um sistema de coleta feito por tubos de queda das águas servidas, separando as águas cinza claras das águas cinza escuras. No final da tubulação, deve haver um reservatório para o tratamento dessa água, através de decantação, gradeamento, filtros e desinfecção. Após ser tratada, a água passa para o reservatório de armazenagem, que, por um sistema de recalque, sobe até o reservatório superior, onde lá, distribui as águas tratadas para o reuso em atividades previstas, como descargas de vasos sanitários, lavagem de automóveis, pisos, calçadas, entre outras.

Com o sistema de reuso de água na construção civil, foram sendo fabricados equipamentos que ajudam ainda mais na economia e redução de água, como os vasos sanitários com válvulas de acionamento duplo (reduzem o consumo de 50 a 75% em relação às válvulas convencionais); o eco urinal, onde a água usada para a lavagem das mãos serve para dar descarga no mictório, entre outros.

O reuso de água é de suma importância para a sociedade. Deve ser incentivado, implantado em projetos e divulgado. Dessa forma, além de contribuir para a sustentabilidade do planeta, reduz os custos para os usuários e evita agressões à natureza.

1

MANUAL SINDUSCON. Conservação e Reuso da água em Edificações. São Paulo, junho, 2005.

http://amacedofilho.blogspot.com/2010 . Setembro, 2011.

2

MAYOK, SIMONE. Caracterização, tratamento e reuso de águas cinzas e aproveitamento de águas      pluviais em edificações. São Paulo, junho, 2009.