Introdução

 Entre as várias transformações que o mundo atual tem vivenciado a globalização talvez seja a que mais impacto tem causado em todos os setores da sociedade moderna, especialmente no setor de economia. O mundo tem sofrido modificações de cunho tecnológico, científico, cultural, político, econômico e social. Tal contexto obrigou as empresas a se reestruturarem e se modernizarem com o intuito de se manterem e poder competir no mercado.

Todas essas transformações incididas no mundo têm colaborado para o aumento da violência, desemprego e, especialmente da exclusão social. Todos esses fatores têm contribuído de forma muito intensa para que a qualidade de vida se torne cada vez mais inferior, e o nível de stress nos indivíduos cada vez mais elevado, comprometendo assim, a saúde e o bem estar, além de promover conseqüências negativas no ambiente de trabalho.

Na sociedade atual, esse tema (stress) vem ocupando espaço para discussões nas diversas áreas do conhecimento. Tal fenômeno, por excelência, tornou-se uma das principais causa de preocupação das sociedades mais industrializadas, promovendo uma baixa significativa na qualidade de vida das pessoas, e já é considerado um autêntico problema social e de saúde pública para o século XXI.

 Quem  não experimentou essa sensação uma vez ou outra na vida?! Fazer uma prova, ser chamado (a) a atenção por alguém, estar atrasado para chegar a um determinado lugar, enfim , são diversas as situações que podem desencadear o stress no indivíduo.

Muitas vezes as condições de trabalho e as exigências impostas ao indivíduo pelas inquietáveis mudanças da vida moderna são causadoras de stress. As pessoas estão cada vez mais vulneráveis a situações que podem ser consideradas fontes de desgastes físicos e mentais pelo fato de serem parte integrante de uma sociedade onde as mudanças ocorrem de forma rápida e diversa.

 

 

Stress

Na área da saúde, o termo stress foi utilizado pela primeira vez em 1936, por Selye para nomear um conjunto de reações especificas que ele havia observado em pacientes portadores de diversas patologias. Uma década mais tarde, o autor define o fenômeno do stress como uma síndrome geral de adaptação. Em 1974, ele redefine o termo tratado como uma resposta não especifica do corpo a qualquer situação que exija esforço para se adaptar a uma determinada situação. (SELYE, 1956).

Investigações recentes desempenhadas por Lipp (1997) classificam o stress como um conjunto de reações que o organismo emite quando é exposto a qualquer estímulo que o irrite, excite, amedronte e/ou faça feliz, ou seja, ser estressado é vivenciar situações que ultrapassem sua capacidade de enfrentamento.

Souza (1997) define tal acontecimento como pressão, tensão ou insistência. Para ele estar estressado representa estar sob tensão ou sob a ação de um determinado estimulo insistente, o que irá provocar no indivíduo um estado de desconforto e mal estar.

O fato é que o stress é uma reação normal do organismo e indispensável para a sobrevivência humana. Ele se faz necessário para o enfrentamento de uma emoção muito forte ou uma situação de grande desafio. É um mecanismo de defesa do organismo para as agressões do meio externo e/ou interno.

As alterações comportamentais e fisiológicas em que as pessoas são submetidas em circunstâncias cruciais como socorrer alguém ou fugir de alguém ou de alguma coisa para salvar a própria vida, por exemplo, são essenciais para a conservação da espécie humana.

Dentre as alterações fisiológicas decorrentes do stress, pode-se destacar o aumento da pressão arterial, da freqüência cardíaca, respiração acelerada, suor intenso e outras. Estudos mostram que o stress pode se tornar um problema quando  se torna uma constante com manifestações desproporcionais em intensidade e durabilidade na vida humana.

Nesse estágio pode-se observar a influências negativas no desenvolvimento individual. O individuo passa a produzir menos, com uma margem de erros maior, ou até mesmo deixar de produzir.

Segundo Greenber (2002), os efeitos negativos do stress podem surgir não apenas quando ocorrem situações trágicas (a morte de um ente querido, por exemplo), mas também em mudança de emprego, trabalho em excesso, tarefas que necessitam ser realizadas em curto espaço de tempo, etc.

Para o autor, a natureza do stresso pode ser tanto negativa (problemas familiares, perda de parentes, entre outros) como positiva (promoção no emprego, aumento salarial, etc.). O que irá determinar se os sintomas de stress irão ocorrer ou não é a capacidade que o organismo possui de atender as necessidades do momento.

Diante dessa circunstância, as pessoas se encontram, tanto em nível pessoal como profissional, atingidas pelo stress, passando assim, a ter freqüentes dificuldades de relacionamento que pode interferir no seu desempenho,     conduzin-

do-a a diversos sintomas orgânicos e psicológicos, produzindo tensão, insatisfação e ansiedade.

O fato é que cada vez mais pessoas têm sofrido com o estresse profissional, especialmente aquelas que se inter-relacionam com outras pessoas para o desempenho de sua função. Em detrimento disso, estudiosos do mundo inteiro têm desenvolvido incansáveis pesquisas focando tanto o stress produzido pelas atividades profissionais como o stress ocupacional.

 

O stress do professor

 

Dentre diversos profissionais gostaríamos de voltar a atenção para o professor (a), que sempre foi e será muito importante na vida de muitas pessoas, pois sem ele (a) a ciência de uma forma geral não conseguiria se desenvolver e não teríamos tantas descobertas no mundo atual. Este profissional tem sido alvo de diversas investigações, pois na pratica das atividades docentes encontram-se vários fatores provocadores do stress.

 A prática de ensinar exige do profissional uma conduta muito precisa. Ele é o exemplo a ser seguido, portanto, é vital que seu modo de agir se apresente de forma correta e coerente. Muito lhe é exigido e cobrado por parte da escola, dos pais e da sociedade de forma geral, contudo, muito pouco lhe é oferecido.

Para Chalita (2001) a alma de qualquer instituição de ensino é o professor, por mais que se invista nos equipamentos e estrutura física da escola – não que tudo isso não seja importante- o papel do professor sempre se configurará como sendo de vital importância no processo de ensino-aprendizagem. O que foi citado anteriormente representa apenas aspectos materiais se comparado a importância do papel do professor.

Atualmente a responsabilidade tradicionalmente designada às instituições escolares, no que se refere à transmissão de conhecimentos, encontra-se seriamente modificada pelo surgimento dos novos meios de socialização (meios de comunicação e consumo cultural de massas, etc.), que se transformaram em fontes paralelas de informação e cultura.

Tais modificações, “supõem um profundo e exigente  desafio pessoal para os professores que se propõem a responder às novas expectativas projetadas. (STEVE, 1999, p.31)

Um profissional da educação nem sempre goza de uma vida satisfatória. Soratto e Olivier-Heckler (1999) designam a escola como uma das piores instituições para se trabalhar. A remuneração é reconhecidamente uma das mais baixas. A probabilidade de progressão de carreira está relacionada ao tempo de serviço, o esforço dos professores não é valorizado e não há reconhecimento social desse profissional.

Lambrou (2004) ressalta que estudos realizados sobre a profissão docente mostram que a mesma está em terceiro lugar no ranking das ocupações mais estressantes. Com esse pensamento, pode-se concluir que, muitas são as dificuldades vividas por esse profissional em sua prática diária.

Tais dificuldades, não raro, passam despercebidamente pelas instituições educacionais, que por sua vez deveriam servir de base para amenizar  situações-problemas. Muitas vezes a falta de recursos apresentada pela escola em que trabalha exige ainda mais do professor e de sua capacidade para criar, inovar, diversificar e assim aplicar uma aula de qualidade. Tais fatores, se persistentes, podem levar o individuo á Síndrome de Burnout.

O termo burnout foi utilizado por Freuderbergr em 1974 com o objetivo de descrever os sentimentos, afetos a saúde dos trabalhadores. Durante suas observações Freuderbergr, citado por Guimarães e Cardoso (2004) percebeu que com o decorrer do tempo alguns dos trabalhadores observados passavam a apresentar desgastes de humor e desmotivação, seguidos de sintomas físicos e uma total desmotivação para o trabalho, alem de uma intensa exaustão.

Para Codo (2000), a síndrome é considerada como stress de caráter constante relacionado a situações de trabalho vivenciadas sob constante e repetitiva pressão emocional, associada ao intenso envolvimento com pessoas por longo período de tempo.

Segundo Reinhold (2006, p. 64), a síndrome de burnout é:

 

Um tipo especial de estresse  ocupacional  que  se  caracteriza  por  profundo  sentimento  de  frustração  e exaustão  em  relação  ao  trabalho  desempenhado,  sentimento  que  aos  poucos  pode estender-se a todas as áreas da vida de uma pessoa.

 

Apesar de não haver total concordância acerca da definição do que seria o Burnout, estudos apontam para certas semelhanças relacionadas às fases desta síndrome que foram propostas por Christina Malasch, citada por Carlotto (2002) são elas:

 

ü     Esgotamento emocional – os professores são acometidos, depois de uma extensa jornada de forte empenho, por um esgotamento  emocional, e em conseqüência disso, passam a desenvolver sua pratica com menos dedicação.

ü     Despersonalização - o educador passa a ter atitudes  negativas  e  criticas diante das pessoas com as quais ele se relaciona. Apresenta   comportamento  frio  e  distante,com o objetivo de passar aos demais colegas que ele “não se importa”. Trata os alunos com indiferença e desprezo.

ü     Baixa realização pessoal no trabalho – o professor passa a ter sentimentos de insatisfação e ineficácia diante do próprio trabalho

 

Uma característica marcante do individuo afetado por tal sidrome é a dedicaçao exagerada a atividade profissional, porém essa nao é a unica. O portador do Burnot manifesta o desejo constante de ser o melhor e procura sempre demonstrar alto grau de desempenho.

Segundo Farber (1991) o Burnout em professores apresenta manifestações que podem ser identificadas através de sintomas individuais e profissionais. Em geral, segundo o autor, os professores sentem-se emocional e fisicamente esgotados. Apresentam-se freqüentemente irritados, ansiosos, com raiva ou tristes. As frustrações emocionais típicas deste fenômeno podem promover desconfortos tais como insônia, úlceras, dores de cabeça e hipertensão. Alguns profissionais chegam a abusar do uso de bebidas alcoólicas e medicamentos que os tornam dependentes.

No que se refere aos aspectos profissionais, o professor pode apresentar danos em seu planejamento de aula, tornando este menos freqüente, criativo e cuidadoso. A falta de entusiasmo também se faz presente, passando a sentir menos simpatia por seus alunos e a ter pensamentos negativos quanto ao futuro. Também podem ocorrer frustrações pelos problemas advindos da sala de aula, ou pela falta de avanço de seus educandos, gerando assim, um distanciamento entre ambos os lados.

Sentimentos de antipatia em relação aos familiares e colegas de trabalho fazem parte desse quadro, bem como o aumento de visão depreciativa com relação à profissão. O docente mostra-se pessimista e arrependido de ingressar na profissão, chegando até mesmo a pensar em abalonar a ofício.

 

Metodologia

 

A pesquisa foi realizada de forma qualitativa, partindo de pesquisas bibliográficas que foram cuidadosamente selecionadas e deram o embasamento teórico para essa temática.

 

Considerações finais

 

Como pôde ser verificado, o stress torno-se parte integrante do cotidiano do ser humano. É impossível evitá-lo, porém é possível conhecê-lo e controlá-lo, tendo a consciência de que ele será sempre uma constante em nosso meio.

 Lipp (1996) afirma que se o stress for compreendido e controlado pode ser útil ao ser humano e contribui para o seu sucesso e bem estar. Contudo, quando se apresenta de forma excessiva ou descontrolada torna a vida demasiadamente difícil.

Seguindo por esse viés, torna-se imprescindível que cada indivíduo consiga visualizar as coisas com maior  naturalidade e  tornar  isso um  aprendizado para  a  sua  vida,  acumulando novas experiências e maneiras de encarar os problemas.

De acordo com Grandjean (1998), o stress pertence à vida assim como o nascimento, a nutrição, o crescimento, o amor e a morte. Segundo o autor, uma vida sem estress seria não só artificial, mas também monótona e enfadonha.

Assim sendo, quando o professor é capaz de utilizar estratégias adequadas, o stress (controlado) pode tornar-se um fator positivo que irá auxiliar o profissional da educação no enfrentamento de situações desgastantes, e ajudá-lo a desenvolver sua pratica de maneira mais saudável.

Por um lado, é importante refletir sobre como podem os professores serem considerados agentes de mudanças em uma sociedade que cada vez lhes cobram mais e  em paralelo lhes valorizam menos. Nesse contexto não se pode esquecer que a educação vem abrangendo  cada  vez mais novas  responsabilidades que  sobrecarregam o educador  em  seu papel docente, e que esses profissionais vêm sendo, na maioria das vezes, esquecidos pelas políticas públicas  e privadas de assistência  ao  trabalhador.

Mediante isto, é importante ressaltar a importância dos programas interventivos e preventivos frente ao mal-estar docente, incluírem estudos  interdisciplinares,  além  de  uma  ampla reflexão política sobre o papel da educação no contexto brasileiro atual. 

 

Referencias bibliográficas

 

CARLOTTO, M.S. A síndrome de Burnout e o trabalho docente. Psicologia em Estudo, Maringá, v.7, n. 1, p. 21-29 jan/jun, 2002. 

 

CODO, Wanderley. Educação: Carinho e Trabalho- Burnout a síndrome da desistência do educador que pode levar à falência da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000LiPP,M.E.N. Pesquisa sobre stress no Brasil. Campinas, SP: Papirus, 1997.

 

 

CHALITA, Gabriel.  O papel do professor. Disponível em: http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.Phtml?Id=2424&print=1. Acessado em: 18/08/2011

 

ESTEVE, J..M. (1999). O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores.São Paulo: EDUSC.

 

FARBER. B. A. Crisis in education. Stress and burnout in the american teacher. São Francico: Jossey-Bass Inc, 1991.

 

GRANDJEAN, Etienne. Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4ed. Porto Alegre: Bookman, 1998.

 

GUIMARÃES, L. A. M.; CARDOSO, W. L. C. D. Atualizações sobre a síndrome

de Burnout. in: GUIMARAES,  L.  A.  M.;  GRUBITS,  S. (Orgs.). Saúde Mental e Trabalho. São Paulo: Casa do Psicológo, 2004.

 

GREENBERG, J.S. Administração do stress. SP: Manole, 2002.

 

REINHOLD, H. H. O Burnout.  In: LIPP, M. E. N  (Org.) O stress do professor.

Campinas: Papirus, 2006, p 63-80.

 

SELYE, Hans.  Stress, a tensão da vida. Edição original publicada por McGraw – Hill Book Company, Inc. 1956.

 

SOUZA, Fernando Pimentel de. O estresse e as Doenças Psicossomáticas. Disponível em: http://www.icb.ufmg.br/lpf/revista/revista1/volume1_estresse/cap2_conceito.htm. 1997. Acesso em 20/08/2011.

 

SORATTO, L. & OLIVIER-HECKLER, C. (1999). Os trabalhadores e seu trabalho. Em CODO, W.; et al. Educação: Carinho e Trabalho. 2ª ed. Petrópolis: Vozes