Sou professora sim e com muito orgulho!

Assisti ao depoimento da professora Amanda Gurgel na internet, após ter assistido sua entrevista no programa "Domingão do Faustão" do dia vinte e dois de maio de dois mil e onze. Concordei com tudo o que a professora afirmou. O governo diz que a educação é prioridade, mas sabemos que isso não é verdade. Como a educação pode ser prioridade quando o professor não é? Muitos colegas meus de profissão perdem grande parte do salário com o transporte. Alguns andam de ônibus ou fazem uso da carona solidária dividindo a despesa do combustível. Quanto à alimentação, já sabemos que não há verba destinada para a alimentação do professor. Ou seja, o professor não pode alimentar-se da merenda escolar. O que é um erro absurdo cometido pelos governos. Um carro poderá mover-se sem combustível? Não. Um professor com fome poderá dar uma aula de qualidade? Não. Se a criança, o jovem, o adulto, enfim, o aluno, apresenta baixo aproveitamento quando mal alimentado, o mesmo ocorre com o professor. Por várias vezes ouvi pessoas dizendo na escola onde trabalho que não há verba para a alimentação dos professores. Por isso, deixei de tomar o lanche oferecido pela escola. Não foi nem uma ou nem duas vezes que já dei aula com fome. Notei que meu rendimento caiu nesses dias. Ficava aflita para que a aula terminasse para que pudesse ir para casa para me alimentar. Mesmo me alimentando bem em casa, ficava com fome porque permanecia por um longo tempo no trabalho. Isto é lamentável, mas conto isso sem o menor constrangimento porque sei que essa situação acontece com outros professores também. Alguns colegas preferem se alimentar na escola mesmo sabendo que isso é proibido. Uma propaganda antiga do governo dizia "Se tem aula, tem que ter merenda". Só que esta propaganda deveria especificar para quem é a merenda. Quanto ao salário, sou a prova viva disso. Dou trinta e uma aulas semanais. Dos quinze turnos que a escola funciona, trabalho em treze deles. Fico sempre cansada. Sei que se tivesse mais tempo para preparar as aulas, a qualidade do ensino ministrado por mim seria melhor, mas isso infelizmente é impossível. Como recebo um salário baixo, preciso pegar a maior quantidade de aula possível. Caso contrário, o salário não dá para suprir as minhas necessidades e de minha família. Entre a qualidade do ensino oferecido por mim e o meu sustento e o do de minha família, sempre faço opção pelo segundo. Quem perde? São os alunos. Além das dificuldades com o transporte, com a alimentação e com o salário, enfrentamos diariamente muita falta de respeito por parte dos alunos também, como se já não bastasse o governo nos desrespeitar. Sempre digo aos meus alunos que estudamos muitos anos para nos tornar professores para depois entrarmos em uma sala de aula e ouvirmos todo tipo de palavrões e ofensas ditas por alguns deles. Vivemos em um país onde crianças e jovens têm somente direitos e não têm obrigações ou deveres. Não precisam obedecer, não precisam respeitar. Convivemos com a violência em ambiente escolar e muitas vezes somos vítimas dela. Em alguns casos, as agressões deixam de ser apenas verbais e passam para as ameaças e as agressões físicas. Em 2009, fui professora no Projeto Acelerar para Vencer (PAV). Em 2010, também trabalhei nesse projeto. Sofri ameaças de morte várias vezes, até que fiquei com depressão. Ainda estou em tratamento até hoje, por conta disso. Através de meu relato, podemos perceber que o que a professora Amanda Gurgel disse não é mentira. Assino embaixo de tudo o que ela afirmou. Eu sou a prova viva de tudo o que ela citou. Você deve estar se perguntando "Se a situação é tão ruim, por que essa professora ainda continua lecionando?" ou "Por que ela não muda de profissão?" Não abandono o magistério porque não somos nós que escolhemos as profissões, são elas que nos escolhem. Não escolhi ser professora, o magistério me escolheu. Ser professora é parte de mim, de minha vida. Tenho uma verdadeira paixão pela educação e pela arte de ensinar. Quando abro um livro ou pego um giz para escrever no quadro, agradeço a Deus por ele ter me dado a oportunidade de ser professora. Um pedreiro constrói casas, um professor constrói vidas. Um médico salva vidas, um professor salva futuros. O futuro de um país passa pela sala de aula e pelas mãos do professor. Por isso, tenho tanto orgulho de ser professora porque sei da importância do meu papel na sociedade. O que nos falta? Respeito. Queremos ser respeitados. Será que isso é pedir muito? Será que é necessário realmente pedir respeito pela nossa profissão? Reflita sobre isto.