O mundo do impossível existe sim e ele está muito perto de nós, no planeta Sonho. Não é que um dia desses, tive a honra de reunir e compartilhar da mesma mesa com gênios que nos fizeram rir e chorar ou chorar de rir, que são os casos de Charlie Chaplin, os Três Patetas e o Gordo e o Magro?  Não precisei ir para a América do Norte ou para a Europa para encontrar os grandes cômicos.  Na verdade, o encontro era numa simples mesa de bar de uma cidadezinha em qualquer lugar do mundo.

Com seu andar único, Chaplin chega vestido de chamativa roupa listrada de presidiário, com direito a boné, ao invés do chapéu coco e não porta a tradicional bengala do vagabundo.  O engraçado fora da lei provoca mais risos do que temor, ninguém faz a menor menção de chamar a polícia para o evidente fugitivo.  Educadamente, ele me cumprimenta, pede permissão para sentar-se e serve-se do meu chá sem a menor cerimônia.

Com  gestos pede talheres e pães ao garçom e prepara-se para fazer a famosa dança dos pãezinhos, mas é interrompido por uma algazarra, que pensávamos ser uma briga mais séria. Nada, eram só os Três Patetas numa calorosa discussão, regada a tapas na cara, dedos nos olhos, sopapos na barriga e no cocuruto.  Para variar, Moe é o que mais bate, arrancando tufos de cabelos de Larry e uns: “aí, isso dói”, de Curly.

Por encanto parece que a confusão para quando eles vêem Chaplin, sentam-se rapidamente em volta de nossa mesa e  ignoram solenemente a minha tentativa de dizer um olá. Um diálogo com um voz mais chorosa e inconfundível  me faz olhar para  trás só para eu constatar o que já me era certo, o Gordo e o Magro estavam se aproximando da mesa.  Após certa cerimônia, com um senta você, não senta você, os dois quase caem ao tentarem sentar na mesma cadeira e que Chaplin tinha puxado para uma formosa dama sentar-se.

Não precisava falas, só legendas, para aquela mesa, agora composta por seis dos maiores gênios da comédia mundial, por uma linda dama desconhecida, e tendo eu, ironicamente de anfitrião, no meio da constelação de astros de minha infância. Eu observava cada gesto  daqueles gênios e estranhamente  não ria escancaradamente com receio de constranger meus ídolos comediantes.  

Não tenho como descrever a confusão de os Três Patetas tentando dividir igualitariamente uma garrafa de refrigerante.  E o Gordo e o Magro tentando dividir o último pedaço da porção do frango a passarinho?  Chaplin está distraído e oferta para linda dama uma rosa vermelha que acabara de conseguir, sem consentimento do dono, da cesta de um vendedor de flores e de sonhos. 

Pelo sorriso e pelo suspiro, a moça formosa gostou do mimo.  Eu me perco em realidade e sonho, observo como a esperar a legenda subir e aquele  filme sonho receber  seu “the end”.