| Por: Raquel Crusoé Loures de Macedo Meira

Começar de novo é sempre muito bom e, nada melhor que uma virada de ano para nos encher de boas
intenções, de planos envoltos em fantasias, novos sonhos e de uma certeza absoluta de que tudo vai mudar.Assim somos nós, mensageiros da esperança eterna e eternos aprendizes da vida.

Nesta busca de emoção, por muito tempo alimentei uma fantasia de passar um Reveillon em Paris, afinal já havia vivenciado a chegada do ano novo não apenas em nossa querida Montes Claros, como também em várias capitais do meu país, tais como Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Brasília e São Paulo.

E assim, fui acalentando este sonho de tal forma que, na minha mente, imagens dos Champs-Elysées com os fogos de artifícios, do Arco do Triunfo e da Catedral de Notre Dame foram se materializando e, acreditem ou não, com trilha sonora de Debussy e efeitos especiais tal e qual nos filmes atuais de grande avanço tecnológico.

Convidei a minha família, ninguém aceitou, todos queriam partir para Buenos Aires, e foi então que decidi: sim, eu vou a Paris, vou transformar este sonho em realidade, com família ou sem família, eu vou!

Memórias, doces memórias...

Assim embarquei nesta aventura. Afortunadamente encontrei um grupo de amigos, umas dez pessoas que compartilhavam este desejo. Agência de Turismo, roteiro, roupas para inverno e, finalmente chegou o grande dia. Alguns nos esperariam em Belo Horizonte, outros, inclusive eu, iríamos em uma Van da Agência de Turismo até o aeroporto em Belo Horizonte. Foi aí que começou a verdadeira aventura.

Trinta minutos de viagem com uma chuva torrencial, não comum por estas bandas e, a tal corrente do motor da Van se quebra. Tentamos chamar a agência, mas nada funcionava. Estávamos em plena rodovia, parados no acostamento e o mundo desabando em água. Dentro da Van, os elegantes passageiros com destino a Paris desidratavam de fome, calor e sede. Tínhamos horário para chegarmos. Não podíamos perder o vôo. As sofisticadas roupas de griffe, aos poucos eram desfeitas para amenizar o “efeito estufa” no interior da “famosa” Van. Tragicômico, no mínimo!

Enquanto isto, o meu ex-marido, resolveu levar as crianças para um almoço em um conceituado restaurante no campo e, ao nos encontrar na rodovia, não pode acreditar. Afinal, havíamos nos despedidos há poucos minutos, com a alegria de quem vai para Paris e agora, o que ele via ? Um grupo cansado, esfomeado, mas bem humorado e cheio de esperanças de ainda chegar a tempo no aeroporto.Depois dos “primeiros socorros” ao estômago, ele providenciou o necessário para seguirmos viagem.

Agora, era a luta contra o tempo, mas haviam algumas paradas invitáveis onde situações interessantes ocorreram, como por exemplo, quando um integrante do grupo foi reconhecido e, no bate papo veio a pergunta natural de quem se encontra pela estrada: para onde você está viajando? E, ao ouvir a mais pura verdade como resposta: “estamos viajando para Paris”, o interlocutor mal pôde conter o riso ao responder: Paris ? Creio que vocês estão mais preparados para “Patis” (pequena cidade aqui do Norte de Minas Gerais).

A gargalhada foi geral. Pé na estrada, bom humor, esperança no coração e muita correria. Sentíamos o motorista como o próprio Airton Senna. Chegamos no último momento para o alívio dos companheiros que nos esperavam.

Vôo Belo Horizonte – São Paulo. Tempo suficiente para a metamorfose, afinal, éramos passageiros com destino a Paris, e assim nos apresentamos para o check-in internacional em São Paulo.

ENFIM PARIS

Depois de uma escala no Aeroporto de Schiphol em Amsterdam - Holanda, desembarcamos no Charles de Gaulle em Paris.

Ah Paris ! Sempre Paris, capital das capitais, Cidade-Luz. Descrever ? Impossível. Paris precisa ser vivida e esta vivência precisa de um conhecimento histórico-cultural muito intenso. Passeia-se pela história. Igrejas, praças, prédios, museus, torres, castelos, jardins e monumentos. Tudo por lá é impregnado de história, cultura e arte.

O Rio Sena divide a cidade em duas partes, a margem direita e a margem esquerda, sempre ligadas por inúmeras pontes. Paris, cidade das portas e pontes. Costumamos dizer que, para encontrarmos o ponto do nascimento de Paris, a antiga Lutécia, basta estar na Ilha da Cidade, de costas para a Catedral de Notre Dame.

Visitar e se emocionar com o Louvre, com a grande Ópera, Arco do Triunfo, Catedral de Notre Dame, Torre Eiffel, Montmartre, Lido, Moulin Rouge, Santa Capela, Túmulo de Napoleão, Quartier Latin, Sourbonne e com os mais de 8 000 restaurantes e bistrôs, preferencialmente acompanhados por um rouge ordinaire ou um blanc ordinaire (deliciosos vinhos triviais da casa) e participar, não mais em sonhos, mas de uma realidade ao vivo e a cores, da emocionante passagem de Ano em Paris na Avenida Champs-Elysées, próximos ao Arco do Triunfo, com uma garrafa de champagne na mão e assistir a queima de fogos, é sempre muito além de toda e qualquer expectativa.

É abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os desejos não precisam de razão, nem os sentimentos, de motivos.

Bonne année !