É... parada na dela, ali está Arvorela.

Árvore frondosa, com copa ampla, que de tempos em tempos, na estação mais cinzenta recebe a poda e mesmo assim, sente-se toda prosa.

É que nossa amiga verde sofre de um mal muito sério, enraizite delirantis, e que ainda para a ciência, é um grande mistério. 

Desde semente, encrustrada na barriga da mãe Terra, nossa afetada Arvorela já soltava suas intermináveis pérolas:

- Vocês sabem o que a semente falou para terra? Ninguém? Ninguém? Ela disse: sai de cima de mim! Engraçadíssimo não é?! Há! Há! Há! - E  minha gente, esse começo não teve fim! 

Arvorela sentia que em sua seiva corria o mais puro DNA de comediante e seus vizinhos, lá do campo com prados verdejantes, não achavam isso lá muito estimulante.

Ela dizia que adorava fazer "humor verde", que a fotossíntese a ajudava a realizar trocas gasosas, pois sofria de prisão de tronco e aí em gargalhadas gostosas, jurava que com seus vizinhos marcava ponto.

Ledo engano; mal humoradas jacarandá, cabreúva, peroba, jatobá e o impetuoso pinho, só restavam, naqueles momentos piadistas de Arvorela, metralhar pelo ar, chuvas de espinho em meio a uma sinistra esparrela.

E querem saber? Arvorela, nossa comediárvore, usava o que tinha de melhor para crescer e seus galhos, frutos e folhas estavam sempre a florescer.

Provocava a inveja e o desconforto, naquele "povo" que já tava mesmo meio morto. Nossa amiga via tudo a sua volta com olhos de mudinha, que ainda tinha muito o que aprender e seu humor, por vezes incoveniente, nunca a deixava disso esquecer e assim seguia em frente.

Porque o que importa nessa vida, mesmo sendo uma árvore, é ter raízes firmes, para se ter sempre onde voltar, até quando não se sai do lugar e uma copa bem preparada, recheada de amor, para que não se precise de asas para voar. E hoje, infelizmente minha gente, ser diferente, é nisso dar valor!

Assim, Arvorela, nossa tão enraizada comediárvore, voou!...