Por: Laércio Becker, de Curitiba-PR

Machado de Assis já disse categoricamente: “somos todos fluminenses”. Bem, considerando que o Fluminense Football Club foi fundado em 21.07.1902 e o imortal faleceu em 29.09.1908, ano em que o clube conquistaria o terceiro título de seu tetracampeonato, não seria logicamente impossível que Machado fosse tricolor. Todavia, não há indícios de que ele se interessava pelo nobre esporte bretão que dava seus primeiros pontapés por aqui.

A propósito, essa frase não prova nada porque ele publicou na coluna “A Semana” na Gazeta de Notícias de 07.06.1896, ou seja, seis anos antes da fundação do Fluminense. Era uma crônica sobre a previsão da Constituição de 1891, de mudança da capital federal para uma cidade a ser construída no planalto de Goiás (e que foi Brasília). Machado se diz favorável à mudança, pois só assim a cidade do Rio poderia finalmente se integrar ao estado do Rio de Janeiro, inclusive lançando uma ponte, não só política, mas até uma de ferro mesmo, para Niterói, afinal, os cariocas também são fluminenses (“somos todos fluminenses”). Visionário? A fusão dos estados do Rio e Guanabara, bem como a inauguração da Ponte Presidente Costa e Silva, só ocorreram em 1974. Só que a ligação entre Rio e Niterói já era planejada desde 1875, por meio de um túnel ferroviário submarino.

Obs.: segundo Mário Filho, em meados da década de 1910, o Fluminense havia inspirado várias canções. Uma delas, de Luís de Mendonça, dizia o seguinte: “somos todos Fluminense e jogamos com amor; a camisa tricolor só se veste por amor”. Será que o compositor se inspirou em Machado de Assis?

Pois bem, começo por um famoso não-tricolor para introduzir este texto sobre alguns tricolores famosos. Vamos a eles.

(Fontes: FILHO, Mário (Rodrigues). O negro no futebol brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2003. p. 107. MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Obra completa em quatro volumes. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 4, p. 1.287. DUNLOP, Charles. Os meios de transporte do Rio antigo. Rio de Janeiro: Ministério dos Transportes, 1972. p. 71-2.).

 

Artur Moreira Lima

É sabido que o grande pianista Artur Moreira Lima, sempre que pode, toca o hino do Fluminense. Inclusive em recitais. Certa vez, foi apresentado ao embaixador Vasco Leitão da Cunha, que foi Ministro das Relações Exteriores do governo Castello Branco. Eis o diálogo:

- Muito prazer. Vasco Leitão da Cunha.

- O prazer é meu. Fluminense Moreira Lima.

(Fonte: AFFONSO, Argeu. Tricolagens. Revista do Fluminense, Rio de Janeiro, nº 211, p. 29, 1983.)

 

João Figueiredo

Em 15.10.1978, o general João Figueiredo foi eleito Presidente da República. Minutos depois da proclamação do resultado, mas algumas horas antes do Fla-Flu, o jornalista gaúcho Aírton Fagundes, da TV Difusora e do Jornal do Comércio, se dirigiu ao presidente eleito:

- General, e se o Fluminense perder?

- Não se esqueça que o AI-5 está em vigor até 1º de janeiro...

- Vai aplicar o AI-5 no Fluminense??

- Não, vou aplicá-lo é no Flamengo! – respondeu Figueiredo, sorrindo.

Não foi preciso. O tricolor venceu por 2x0.

(Fonte: GARCIA, Alexandre. João Figueiredo. Rio de Janeiro: Artenova, 1978. p. 70.)

 

Pedro Malan

Quando era ministro da Fazenda do governo FHC, Pedro Malan foi à inauguração da sede regional do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) e, em seu discurso, comparou a fundação do Ibef com a do seu clube de coração:

- O início de tudo foi no Rio de Janeiro, há 31 anos. Assim como no Rio, há cem anos, em 1902, lançou-se um clube fadado a ter cem anos de glórias e vitórias e que efetivamente as obteve, culminando com a conquista do campeonato em seu centésimo aniversário neste ano, que é obviamente o Fluminense Football Club.

(Fonte: Folha de S. Paulo, 07.08.2002, p. B4.)

 

Vagner Victer

Quando era Secretário de Energia do Estado do Rio, Vagner Victer reclamava que a construtora norueguesa Norskan tinha inaugurado barcos com os nomes de Botafogo e Flamengo, mas que faltava um Fluminense nessa frota. Informado pela Norskan que não era preconceito clubístico, mas uma tradição da companhia, de batizar seus barcos com nomes de praias, Victer não teve dúvidas: convenceu o prefeito de Mangaratiba a dar o nome de Fluminense a uma de suas praias e, com isso, finalmente conseguiu que a construtora desse o mesmo nome a um barco de US$ 5 milhões.

(Fonte: Revista Época, 24.10.2005, p. 29, coluna “Bastidores”, de Thomas Traumann.)

 

Getúlio Vargas

Já li alhures que Getúlio era vascaíno (ver o capítulo “Primeiras camisas com faixa diagonal”, em nosso livro Do fundo do baú). De fato, ele freqüentava muito o estádio São Januário, como vimos em nosso artigo “A futebolização da política”. Talvez não por simpatia com o clube, mas porque era o maior estádio daquela época, perfeito para grandes concentrações populares.

Outros dizem que ele era flamenguista (ver Luís Pereira e Cláudia Mattos). Se foi, deve ter-se decepcionado muito com a moção que o Flamengo fez pedindo sua renúncia, na grave crise que culminou com seu suposto suicídio – ver nosso artigo “Presidentes brasileiros assassinados”.

Por isso, como Paulo Coelho Netto garante que Getúlio nutria “notória” simpatia pelo Fluminense, desconfiei do “notória”. Fui checar. E encontrei, no Diário de Vargas, as seguintes referências a visitas que fez ao clube:

“À tarde, fui ao Fluminense Club assistir à apresentação dos atletas que seguiam para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, e visitei as diversas dependências do estabelecimento, presenciando diferentes provas desportivas.” (19.06.1932)

“... compareci ao stadium do Fluminense, onde o maestro Villa-Lobos regeu o coro orfeônico de 15 mil alunas das escolas da Prefeitura. Fui recebido festivamente pelo povo.” (24.10.1932)

“Regressando, à trade, fui à festa hípica no Fluminense. Não era esperado. As corridas de obstáculo correram regularmente, apesar da chuva. Ao entrar no stadium, o representante da Sociedade Hípica Paulista recebeu grande ovação da tribuna.” (11.12.1932)

“Pela manhã, assisto aos coros orfeônicos no stadium do Fluminense e, à noite, a um match internacional de boxeurs amadores, na Feira de Amostras.” (27.11.1933)

“De lá fomos para o stadium do Fluminense e assistimos a várias demonstrações sportivas. Terminadas estas, pronunciei um discurso, realizou-se a distribuição dos prêmios, cantos, hinos e encerraram-se as festas.” (13.12.1938)

“Pela manhã, compareço com o ministro da Educação ao stadium do Fluminense, onde se instala a Escola de Educação Física – entusiasmo, discursos. Tudo correu bem.” (01.08.1939)

“À tarde, no stadium do Fluminense, exercícios dos alunos da Escola de Educação Física da Prefeitura.” (19.11.1939)

Vê-se que Getúlio também era um freqüentador assíduo das instalações do tricolor. Talvez não por simpatia, mas porque o clube é vizinho do Palácio Guanabara, onde o Presidente se hospedava naquela época. O fato é que Getúlio acabou ganhando do Fluminense, em 1935, o título de Presidente de Honra (cf. Leonardo Pereira). É, acho que é possível dizer que, vascaíno ou flamenguista, ele devia nutrir, sim, alguma simpatia pelo tricolor.

Esclarecida a inclusão de Getúlio nestas histórias de tricolores famosos, o que íamos contar é que, em 11.05.1938, eclodiu o levante integralista, que tentou derrubá-lo. Foi de madrugada, o assalto ao Palácio Guanabara, vizinho à sede do Fluminense. O próprio Getúlio, de arma em punho, comandou a resistência nas primeiras horas. Só depois é que o então Coronel Osvaldo Cordeiro de Farias (que, na época, era o interventor federal no Rio Grande do Sul, mas estava ocasionalmente no Rio; depois viria a ser Marechal e Ministro do Interior de Castello Branco; consta que era torcedor do São Cristóvão) conseguiu entrar no Palácio. Não pela frente, onde ocorria o tiroteio, mas pelo muro do Fluminense, que dava para um porão nos fundos do Palácio.

Debelada a tentativa de golpe, nos dias seguintes, alguns boatos davam conta de que, por questão de segurança, o Fluminense deveria se mudar para a Praia Vermelha (no local onde depois se instalou a Reitoria da Universidade do Brasil), e sua sede deveria se transformar em praça de esportes das Forças Armadas. Um dia, um interlocutor do Presidente apontou a muralha do tricolor como um local perfeito para franco-atiradores dominarem uma ala inteira do Palácio.

A bem da verdade, a preocupação tinha um precedente: quando os reis Alberto I e Elizabeth da Bélgica estiveram hospedados no Palácio Guanabara, um tiro vindo do Fluminense acertou um espelho e assustou a rainha. Pensando tratar-se de um atentado anarquista, a polícia cercou o clube e localizou o autor do disparo. Foi um menino de quatorze anos caçando rolinhas: Preguinho (João Coelho Netto), que viria a ser o autor do primeiro gol brasileiro em Copas do Mundo.

Questionado se desalojaria o Fluminense por questões de segurança, com um ar sério e grave, Getúlio encerrou a polêmica com as seguintes palavras:

- Não, dali nunca me virá qualquer ameaça. O Fluminense é o meu bom vizinho e as nossas relações foram sempre muito cordiais. Somos amigos e o grande clube continuará onde está, enquanto eu for o Chefe do Governo.

(Fontes: COELHO NETTO, Paulo. O Fluminense na intimidade. Rio de Janeiro: Borsoi, 1969. v. 2, p. 93-4. COELHO NETTO, Paulo. O Fluminense na intimidade. Rio de Janeiro: Borsoi, 1955. v. 1, p. 83-5. COELHO NETTO, Paulo. História do Fluminense: 1902-2002. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pluri, 2002. p. 185. CAMARGO, Aspásia; GÓES, Walder de. Meio século de combate: diálogo com Cordeiro de Farias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p. 263-4. MATTOS, Cláudia. Cem anos de paixão: uma mitologia carioca no futebol. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. p. 77. PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p.  336, 356. PEREIRA, Luís Miguel. Bíblia do Flamengo. São Paulo: Almedina, 2010. p. 58, 137. VARGAS, Getúlio. Diário. São Paulo: Siciliano, 1995. v. 1, p. 111, 144, 161, 249; v. 2, p. 181, 244, 271.)

Os Ministros

É uma seqüência de fofocas na elite da República, contada pelo tricolor Paulo Coelho Netto: ele disse que o tricolor Hermes Lima (Ministro do STF de 1963 a janeiro de 1969) contou que o tricolor Barbosa Lima Sobrinho (jornalista, inesquecível presidente da ABI, imortal da ABL desde 1937) contou que, certa vez, o tricolor Aurélio de Lyra Tavares (General, Ministro do Exército de Costa e Silva de de 1967 a 1969, membro da Junta Militar que o sucedeu, imortal da ABL a partir de 1970 e, segundo ele mesmo, ex-jogador de futebol amador do Fluminense) estava tão preocupado com o baixo rendimento do Fluminense que foi reclamar a ninguém menos que o tricolor Luiz Gallotti (Ministro do STF, Presidente da Corte de dezembro de 1966 a fevereiro de 1969):

- Dr. Gallotti, o senhor, que tem tanto prestígio no Fluminense, não pode dar um jeito para a Diretoria melhorar o nosso time? Eu já nem ouço mais o rádio, quando o Fluminense joga. É só derrota, ou então empate de 0x0...

Coelho Netto não diz quando foi essa conversa. Contudo, considerando as datas acima e que seu livro foi publicado em 1969, a conversa deve ter ocorrido em 1968, quando o Fluminense terminou o campeonato carioca em 6º lugar. Mas a “conspiração” surtiu efeito, já que o tricolor sagrou-se campeão em 1969.

(Fonte: COELHO NETTO, Paulo. O Fluminense na intimidade. Rio de Janeiro: Borsoi, 1969. v. 2, p. 120. LYRA TAVARES, Aurélio de. Temas do nosso tempo. Rio de Janeiro: ed. do autor, 1978. p. 224.)

Coelho Netto

Henrique Maximiniano Coelho Netto (1864-1934) foi escritor famoso da belle époque. Como já vimos no nosso artigo “Contra o foot-ball”, ele foi um grande defensor do futebol, durante um período em que esse esporte estava sendo implantado no Brasil – e questionado.

Tricolor fanático, chegou a participar de uma das primeiras invasões de campo na história do futebol brasileiro, como vimos no capítulo “Primeira invasão de campo”, de nosso livro Do fundo do baú.

Apesar disso, sabia reconhecer um talento, mesmo que jogasse noutro time. E o fazia com todas as formalidades. P.ex., o meia Guilherme Witte, o “homem de borracha” do America chamou sua atenção a ponto de lhe remeter a seguinte carta, em 15.07.1917:

“Venho cumprimentá-lo pelo denodo com que ontem defendeu o glorioso pavilhão do America, portando-se com a galhardia que sempre o distingue como um verdadeiro player, tão nobre no heroísmo como na gentileza. O seu jogo impõe-se à admiração dos próprios adversários, porque não se desvia um passo das normas de cavalheirismo, que é a distinção dos bravos. Apertando-lhe a mão com entusiasmo, sou muito seu admirador.

a) Coelho Netto.”

(Fonte: CUNHA, Orlando; VALLE, Fernando. Campos Sales, 118: a história do America. 2ª ed. Rio de Janeiro: Didática e Científica, s/d. p. 95.)

ET

Paulo Coelho Netto, além de filho do escritor Coelho Netto (que de falamos acima) e historiador do Fluminense, era um aficcionado por ufologia. Sobre o polêmico assunto, publicou vários livros: A realidade dos discos voadores (3ª ed., 1968), Discos voadores e mistérios da aviação (2ª ed., 1969), Outros mundos vigiam a terra (2ª ed., 1970), A USAF e os discos voadores (1970), A ameaça dos discos voadores (1971), Bibliografia brasileira sobre os discos voadores (3ª ed., 1973), Astrônomos e discos voadores (2ª ed., 1974), A era moderna dos discos voadores (3ª ed., 1975) e Discos voadores e seus tripulantes (2ª ed., 1975).

Em resumo, como se vê, era um especialista na matéria. Nessa condição, o autor cita uma matéria publicada em O Globo de 23.10.1973, que dá uma curiosa notícia. Segundo o jornal, nos dois dias anteriores, moradores de Itapecerica, Cláudio, Divinópolis e Carmo da Mata (interior de Minas Gerais) avistaram um disco voador que ostentava as cores vermelho, branco e verde. Foi o suficiente para Coelho Netto concluir que o prestígio do Fluminense não é só internacional, mas sim interplanetário: “uma coisa é certa: existe uma comunidade tricolor extraterrestre”.

(Fonte: COELHO NETTO, Paulo. O Fluminense na intimidade. Rio de Janeiro: Borsoi, 1975. v. 3, p. 6, 47-8.)

Eduardo VIII

Com sua luxuosa sede vizinha ao Palácio Guanabara, onde residiam os Presidentes, não é de admirar que o Fluminense recebesse a ilustre visita de reis e príncipes – afinal, não é à toa que é conhecido como “o aristocrático tricolor das Laranjeiras”; ou, como diz a marcha de Lamartine Babo: “vence o Fluminense, usando a fidalguia”.

Como diz Nelson Rodrigues, o que não falta no Fluminense é príncipe. P.ex., o então príncipe Akihito e sua esposa, princesa Mitchiko, atuais imperadores do Japão. Outra visita ilustre foi do casal real Alberto I e Elizabeth, da Bélgica, recebidos com um pomposo desfile dos esportistas dos clubes da capital, no estádio das Laranjeiras, em 26.09.1920 (para maiores detalhes sobre esse episódio, ver nosso artigo “Futebol e política na República Velha”).

Em 06.04.1931, o Fluminense recebeu a visita do Príncipe de Gales, que depois seria coroado como Eduardo VIII, e de seu primo, Príncipe George. Pode-se dizer que o clube estava predestinado a isso. Porque, ao fim de seu primeiro jogo (8x0 sobre o Rio FC, em 19.10.1902, com direito a convite e memorando redigidos em inglês), ofereceu um banquete em que foram feitos brindes em honra ao seu avô, o rei Eduardo VII, bem como a toda a família real, à comunidade britânica e ao Presidente da República, Campos Sales. Talvez Oscar Cox tenha se inspirado em episódio anterior, que ajudou a organizar: após os primeiros jogos entre Rio e São Paulo, em 19 e 20.10.1901, o líder paulista Casimiro da Costa ergueu um brinde ao rei Eduardo VII e ao Presidente Campos Sales.

Pois bem, para receber os príncipes reais em grande estilo, foi organizada uma partida entre as seleções carioca e paulista, com vitória do Rio por 6x1. Ao fim do jogo, os príncipes foram levados à sede, onde foram devidamente homenageados: Edward recebeu o diploma de Presidente de Honra do Fluminense e George o de Vice-Presidente de Honra. No Livro de Visitantes, Edward desenhou uma perna e uma bola de futebol e escreveu em português mesmo:

“Muito obrigado pelo jogo interessante de football. 6 abril 1931. Edward P.”

Como se sabe, em 1936, depois de coroado como Eduardo VIII, ele renunciou ao trono para se casar com uma plebéia divorciada. Mas nunca renunciou ao maior título de seu currículo, o de Presidente de Honra do tricolor.

(Fontes: COELHO NETTO, Paulo. História do Fluminense: 1902-2002. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pluri, 2002. p. 74. COELHO NETTO, Paulo. O Fluminense na intimidade. Rio de Janeiro: Borsoi, 1955. v. 1, p. 90. COELHO NETTO, Paulo. O Fluminense na intimidade. Rio de Janeiro: Borsoi, 1969. v. 2, p. 39, 62. CUNHA, Loris Baena. A verdadeira história do futebol brasileiro. Rio de Janeiro: ed. do autor, s/d. p. 14. HAMILTON, Aidan. Um jogo inteiramente diferente! Rio de Janeiro: Gryphus, 2001. p. 49, 55. IORIO, Patrícia; IORIO, Vitor. Rio Cricket e Associação Atlética. Rio de Janeiro: Arte e Ensaio, 2008. p. 81. MAZZONI, Tomás. História do futebol no Brasil. São Paulo: Leia, 1950. p. 28. RODRIGUES, Nelson. O profeta tricolor. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 73.)

 

Nelson Rodrigues

É impossível falar sobre tricolores famosos e deixar de lado o “anjo pornográfico”.

30.11.1980, final do campeonato carioca, Fluminense x Vasco. Aos 68 anos, Nelson Rodrigues estava muito doente. Sedado por incontáveis remédios, não conseguia se manter acordado por muito tempo. Mas, mesmo assim, estava proibido de assistir a jogos de futebol. Em especial do Fluminense. O coração não suportaria, nem uma vitória, nem uma derrota, nada.

Seu filho, porém, não estava proibido... Então, driblando a recomendação médica, Nelson Rodrigues Filho combinou com o pai: ouviria o jogo no radinho de pilha e contaria ao pai o andamento. O que fazer no caso de uma derrota? Esse era o risco.

Aos 22 do 2º tempo, Edinho marca para o tricolor. O filho nem teve coragem de contar – dá-lhe que sofre uma virada. E conteve essa notícia até o apito final. Como o pai dormia de vez em quando, apesar do jogo já ter acabado, o filho administrou as informações, primeiro dizendo que saiu o gol e, depois de um tempo, que a partida terminou.

Nelson ficou eufórico – muito além do que o médico admitiria – e quis escrever uma crônica. Não conseguia, as teclas da máquina de escrever fugiam aos dedos. O filho datilografou para ele. “Fluminense campeão demais”, sua última crônica, que saiu em O Globo de 02.12.1980. Na madrugada de 21.12.1980, após sete paradas cardíacas, entrou em coma e morreu de trombose, insuficiência cardíaca, respiratória e circulatória.

(Fontes: CASTRO, Ruy. O anjo pornográfico. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 419-20. RODRIGUES, Nelson. O profeta tricolor. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 229-33.)

 

OBS.: No arquivo PDF em anexo, fotografias do clube, tiradas por mim em 2011.