Quando tinha 5 anos de idade adorava ver ao final da tarde todos os pássaros felizes recolherem aos seus ninhos. E eu já me sentia um pássaro sem lar.

 

Embora, houvesse uma casa, meu corpo e coração eram acolhidos pelo calor do amor imenso de meus pais, pela paisagem indescritível da chácara onde morávamos, mas nada disso me fazia sentir que meu espírito realmente pertencia a lugar algum.

 

Acho que não sabia muito bem qual era o real sentimento que me apertava o coração, mas a única coisa que sabia que não pertencia aquele lugar e nem a outro qualquer.

 

Mudamos de casa, bairro e vida e realmente achei que este sentimento passaria com os anos vindouros e com as novas situações que vivenciaria em minha inicial adolescência.

 

Enfim, olhava para as pessoas, para os lugares, a escola, o planeta e buscava em mim algo que pudesse me dizer... este é meu verdadeiro lugar!!!

 

Falei algumas vezes para minha amada mãe (o grande amor de minha vida) que sentia que não fazia parte deste mundo, que estava no lugar errado e ela sempre carinhosamente me respondia que se eu realmente não pertencesse a este lugar, com certeza não estaria aqui e se Deus me colocou aqui é porque aqui era meu lugar. Principalmente o que seria dela se eu não existisse.

 

O ser humano tem por natureza jogar os sentimentos mais profundos para embaixo do tapete, do esquecimento e foi exatamente isso que fiz durante muitos anos.

 

Mas, a vida é implacável, um dia mais cedo ou mais tarde ela nos cobra tudo aquilo que fingimos não perceber ou  aquilo que não vivermos.

 

Nenhuma etapa de nossas vidas deve ser “pulada” ou jogada para o esquecimento, por isso que muitas vezes nos deparamos com velhos senhores e senhoras vestidos e agindo como adolescentes e com certeza esta etapa não foi vivenciada por eles e mais cedo ou mais tarde a vida estará cobrando, e não há inadimplência em nenhum dos casos.

 

Um dia em meu mais absoluto êxtase espiritual, com a alma totalmente aberta ao universo, perguntei do fundo de minha alma: - “Porque eu nunca consegui pertencer a este lugar?” e ouvi claramente uma doce voz que me disse:

 

“PORQUE SOMOS PÁSSAROS SEM LAR, NOSSO LAR É ONDE PRECISAM DE NÓS”.

 

E acho que a partir deste dia eu entendi no fundo de meu ser o que aquela voz tão serena, doce e verdadeira tentou me dizer.

 

Nunca mais perguntei porque nunca pertenci a este lugar.