Aniversário de 12 anos da minha afilhada, demorei vários minutos até fazer as contas e falar com exatidão a idade dela, fomos eu minha filha no Hipermercado para comprar o presente. Tudo ia muito bem até chegarmos ao caixa. Tirei o cartão do bolso, entreguei a sorridente menina que me atendia, até que ela me disse: “Digite sua senha senhor...” Olhei pra ela com aquela cara de ingênuo e fiz a pergunta mais idiota que poderia fazer: “Minha senha?” E ela balançou afirmativamente a cabeça. Olhei o teclado, a fisionomia ansiosa da minha interlocutora, o rosto gordinho da minha filha que já queria abrir o pacote de balas que acabei permitindo que passasse junto com o presente... e nada. Os números não vieram à mente. Definitivamente não acertei a senha. Depois de duas desastrosas tentativas, não quis arriscar a terceira, sob pena de ter o cartão bloqueado.

Reparou como somos pressionados o tempo todo pelos números? Na rua o que mais temos ouvido: Quanto é o prêmio para que ganhar “A Fazenda 2”? São quantos participantes do Big Brother? Quanto levará o vencedor? Ou então, quanto a mega sena ta pagando? Quanto foi desviado no mensalão do Democratas? Quantos morreram em mais uma tragédia? Esse ano o carnaval vai dar quando? SÓ NÚMEROS. Confesso que não sei de cor o número da minha identidade ou do CPF. Nem da carteira de motorista. Muito menos do título de eleitor. Que ano mesmo fiz o exército? Não sei. Quando entrei na primeira série, ou concluí a oitava, o segundo grau? Sei não. Quando comecei a faculdade? E a formatura foi em que ano? Éramos quantos? “Isso realmente importa?” Essa semana pediram o número do RENAVAN do meu carro. “Ah, vou precisar também da numeração do chassi.” O quê? Não sei nem a placa! Já tenho que saber o número da minha residência, chegando lá preciso do número do apartamento e de vez enquando alguém ainda me pede o CEP da rua que tem oito dígitos. Desse jeito como é que vou guardar os números dos meus dois celulares e do telefone fixo da minha casa e do escritório? Falando em empresa, tem o endereço de lá, o CNPJ... mais números? E as datas... ah... as datas! Aniversário de namoro, de casamento, de nascimentos... ufa! Aniversário de esposa, filhos, amigos, irmãos... fala a verdade, você consegue? Os números das contas nos bancos... as senhas de cada cartão... e nas agências fique de olho na senha do atendimento senão você “baila”. Há senha pra entrar nos computadores, depois para acessar e-mails... brincadeira.

Sou um dos que tem o péssimo hábito de dizer que isso é memória seletiva. Só me lembro daquilo que é realmente necessário, o restante, se for conveniente, anoto. Brincadeiras à parte, uma amiga me indicou um livro, na verdade um curso de memorização. Se valer depois eu indico. Querem saber como paguei a conta no supermercado? Depois de algum constrangimento o tradicional chequinho me salvou de vexame maior. Isso depois do documento ter passado na mão de três pessoas superiores à moça do caixa, que já não estava mais tão simpática. Pelo menos preenchi corretamente os números no cheque. Ganhei até uns dias no pagamento! Apliquei o famoso “Bom Para”. Quanto ao cartão, fui ao banco e mudei a senha. Vamos aguardar a próxima compra, mas na dúvida, vou anotar no papelzinho.