Benedicto Ismael Camargo Dutra*

Em seu livro recente - Danos Colaterais -, o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, diz ter a certeza de que a mistura explosiva da crescente desigualdade social e do volume cada vez maior do sofrimento humano, relegado à condição de “colateralidade” (marginalidade, exterioridade, removibilidade, de não ser parte legítima da agenda política), têm todos os sinais para se tornarem, potencialmente, os mais desastrosos dos problemas que a humanidade será forçada a confrontar, administrar e resolver no século atual.
Danos colaterais são as perdas consideradas acidentais nos ataques de guerra. Bauman transporta o conceito das perdas na qualidade humana e de vida, para o plano da sociedade como resultante da globalização econômica.
Quando olhamos para as periferias do mundo, ficamos pasmos diante dos caóticos cenários de miséria humana nas habitações, no saneamento básico, na saúde, na educação e no aumento da violência. No entanto, pouco espaço tem sido dado à pesquisa de como chegamos a tais extremos de perda da qualidade de vida.
O ser humano é responsável por todas as suas resoluções, e arcará com as consequências. No entanto, tem sido hábito “tirar o corpo”, isto é, tentar fugir das responsabilidades buscando justificativas para isso, tanto na esfera pessoal como na pública. Dessa forma, as elites governantes têm se deixado dominar pelo imediatismo, pelos resultados de curto prazo, sem assumir sua responsabilidade perante o futuro. Não estava presente o empenho em buscar continuadamente a melhora das condições gerais de vida no planeta. Vai daí que muitas coisas chegaram ao extremo dos limites críticos, às portas do grande colapso, pois faltou responsabilidade e previdência, e as consequências surgem de forma rude.
Como vamos descobrir os caminhos alternativos em meio ao embrutecimento geral? Tudo caminha para a desumanização, o que aumenta a selvageria. A verdadeira essência humana está sufocada sob as falsas ilusões sobre a vida. Temos de recuperar essa essência com ardor, sem o que caminharemos para o abismo. Quais pais ainda dialogam com seus filhos sobre a vida e sua finalidade; da importância de os jovens se prepararem para uma vida de progresso e contribuições para uma melhora geral?
Para alcançar o desenvolvimento humano pleno, não podemos descuidar do estudo da finalidade da vida. Para que vivemos nós na Terra? Há uma pasmaceira no ar. Os cidadãos conscientes precisam se manifestar de forma adequada contra a tendência de estagnação geral, sem atos violentos que só fazem as coisas piorar.
Bauman constatou a incrível decadência humana, percebendo o caráter egoístico e imediatista dos humanos como o grande obstáculo para eliminar a miséria. Acrescentaríamos que, para encontrar as causas da decadência, temos de ir mais fundo na análise da origem do ser humano e da razão do seu existir. O grande problema está na educação que não está fortalecendo o eu interior, favorecendo o entorpecimento, a indolência, a falta de bom senso e o aniquilamento da intuição. Precisamos humanizar a educação com a espiritualização, característica essencial do ser humano. Se quisermos a paz e a harmonia, a educação deverá preparar as novas gerações para uma vida enobrecedora e para o trabalho condigno, com o reconhecimento das leis da Criação.

* Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, e associado ao Rotary Club São Paulo. Realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros “ Conversando com o homem sábio”, “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”, “O segredo de Darwin”, e “2012...e depois?”. E-mail: [email protected]