Sofrendo a gramática

A gramática tem sido cada vez mais rejeitada pelos alunos que a estudam. Isto, talvez, porque a estudam obrigatoriamente. Mas as outras disciplinas também são obrigatórias, contudo, não são tão odiadas quanto a gramática. Esse índice de rejeição tem sofrido grande inflação. As razões disso ainda não são muito concretas.
Foram isolados três sintomas da grave doença que aflige a disciplina. O primeiro é a contradição de pais, alunos e professore em defenderem a supressão da gramática, e outros em defenderem que sem gramática não se aprende português. Isso acarreta desgosto ao aluno. O segundo sintoma é a raridade de ver alunos de ensino médio desejando serem gramático, e para isso, não há explicação. O terceiro sintoma é o estudo diferenciado da gramática no que diz respeito a conteúdo. Alunos de terceiro ano primário já estudam classe de palavras; alunos de terceiro ano colegial também estudam classe de palavras, mas apesar disto, em nenhuma das duas fases os alunos sabem quais são as classes de palavras.
No diagnóstico dessa doença, foram encontrados três razões ou defeitos:
1. Seus objetivos estão mal colocados: muitos se restringem dizendo que só conhecendo a gramática que um indivíduo saberá ler e escreve bem, o que se torna paradoxal se citarmos como exemplo Luís Fernando Veríssimo.
2. A metodologia é inadequada: as regras são impostas, sem explicação nenhuma dos porquês de cada regra. Se um aluno pergunta, o professor apenas responde: Porque sim!
3. A matéria carece de organização lógica: Muitas gramáticas, de diferentes autores, dão para cada item da gramática uma explicação diferente, o que tem causado confusões. Outros autores de gramáticas acabam se contradizendo, por exemplo, dando um conceito a certo item gramatical, e logo no exemplo abaixo, o conceito dado acima não se encaixa com o exemplo dado. Portanto, as gramáticas não possuem organização lógica.
Para que isso seja mudado, precisamos reconhecer que não é sabendo gramática que vamos aprender a ler e a escrever, mas apenas lendo e escrevendo, como aconteceu com Veríssimo. Entretanto, a gramática não pode ser podada dos estudos escolares, mesmo que muitos pensem que ela não servirá para nada, mas tudo que aprendemos nos será útil um dia, ainda mais a gramática, que revela a complexidade da língua com a qual nos comunicamos.