-Faça um pouco de silêncio! Consegue ouvir?

-Sim, são incontáveis empresas em busca desse personagem, o cliente.

-Durante décadas parecia  fácil encontrá-los. “Secos e molhados”, ali estava um cliente. A loja da dona Nena, a farmácia do  Zé, a padaria do Pepe, a livraria do Inácio, o açougue do Zuca, o barracão de cebolas Paco, o depósito de laranjas do Aristides...

-Sabe que o impressiona?  Poucos tinham placas ou qualquer letreiro.Todos eram conhecidos.

-Os estabelecimentos?

-Sim e os  “donos” também!

-Propaganda, comercial?

-Que nada! Não havia dinheiro nem costume de fazer reclames.-Ah, assim era chamado na época esse recurso  de divulgação.

Bairros eram poucos, na verdade a gente dividia a cidade em além linha e além ponte. Você morava depois da linha do trem ou depois da ponte. Era mais difícil lembrar o nome dos locais do que dos estabelecimentos.

As ruas e bairros tinham nomes, mas a gente os conhecia mais pelos apelidos ou nomes antigos, assim como as pessoas.

Não, não era uma enorme falta de respeito, não! Era uma enorme intimidade.

Eu não dizia moro na vila Hortência, a grafia está correta, já explico, e sim na rua dos morros.

A palavra assim se manteve por ser a única colônia espanhola no Brasil-- pelo menos nunca encontrei outra.

As ruas têm nomes como Granada, Catalunha, Madri, Sevilha, e por ai vai.

Tinha o teatro Alhambra, a língua do local era portunhol, as abuelas se  quedavam , ops, ficavam  com seus vestidos negros nas portas tomando uma fresca e falando da vida de todo mundo, nos fins de tarde.

Isso acontecia no além  ponte, agora do outro lado da cidade no além linha, esse grupo já fora considerado cigano pelos costumes, pelas festas e, penso,  pela barulheira que faziam!

Fosse você  neto de espanhóis ou  tivesse assistido a uma conversa de meus avós com os vizinhos saberia do que estou falando. Eu era um niño – menino --  agitado, então as vezes virava assunto, Diós!

-Tá, mas cadê os clientes, na lista ai em cima só tem meia dúzia? Você pode me perguntar.

-Espalhados, concentrados, ora!

Quando decidíamos fazer o churrasco comprávamos a carne no açougue, o refrigerante na “venda”, o carvão na carvoaria, hoje está tudo diferente. Você compra tudo no açougue se quiser, pois ele tem uma mercearia dentro. Pode ser na mercearia, que tem um açougue dentro.

Como diria meu irmão caçula:

-Perto de minha casa tinha um “secos e molhados”, depois colocaram um açougue dentro, mais tarde uma loja de louças, outra de brinquedos e assim foram colocando e colocando e colocando coisas dentro. Um homem com bastante dinheiro comprou aquilo tudo e hoje chamam de hipermercado.

-É inevitável que você me pergunte onde foram  parar  as outras  lojas que vendiam aquilo tudo, certo?

-Algumas fecharam, outras abriram e várias colocaram coisas dentro! O fato é que já não sei como chamá-las hoje, a livraria não é  mais apenas a livraria, a farmácia vende até brinquedos.

-Quem bom,  você  se tornou um vendedor e está em busca de clientes! Eu vendo idéias, soluções, posso sim ajudá-lo na prospecção.

-Claro , posso sim ir com você ao mercado, mas antes quero que você entenda uma coisa: Os potenciais compradores  estão onde você quiser. Sendo o seu produto interessante, proporcionando o retorno esperado, você poderá colocá-lo a venda em qualquer lugar. Seu futuro cliente  só tem que fazer alguns ajustes no  layout e colocar mais um produto junto com os que já têm!

-Sim, claro, está bem mais fácil encontrar clientes agora! Como diria o filho caçula do seo Salvador – não  por coincidência meu irmão- é só convence-los a colocar coisas dentro da loja!

 

 

Ivan Postigo

Economista,  Bacharel em contabilidade, pós-graduado em controladoria pela USP

Autor do livro: Por que não? Técnicas para  estruturação de carreira na área de vendas

Postigo Consultoria de Gestão Empresarial

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