Matos, Núbia Andrade de. Artigo sobre Sociologia do Envelhecimento

Introdução


A Gerontologia é de caráter multidisciplinar, pois o estudo da velhice e dos processos do envelhecimento não se resume apenas aos aspectos demográficos, sua complexidade exige que seja estudado por diversas disciplinas, sob múltiplos ângulos.
A Gerontologia e a Geriatria desde sua origem mantêm um relacionamento muito próximo. Entretanto, vale salientar que enquanto a geriatria é uma especialidade médica que trata das doenças ou dos doentes idosos, preocupando-se em prolongar a vida com mais saúde; a Gerontologia é a ciência que estuda o processo de envelhecimento, cuidando da personalidade e da conduta do idoso, para isso, leva em conta todos os aspectos ambientais e culturais do envelhecimento. Para resumir, podemos dizer que a Geriatria estuda as doenças da velhice e seu tratamento, enquanto a Gerontologia é uma ciência médica e social que estuda não apenas as características da velhice enquanto face do desenvolvimento humano, mas também o processo e os determinantes do envelhecimento, concluiu REBOUL/92.
Podemos incluir também em seu bojo, as diversas áreas científicas como: a biologia, psicologia, antropologia, sociologia, economia, administração, política, história, neurologia, direito e demografia da velhice e do envelhecimento, além dessas áreas podemos citar a psicologia, pedagogia, enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, odontologia e o serviço social.








Gerontologia Social


A velhice e o envelhecimento percorre toda a humanidade e têm estado em pauta desde a antiguidade, através de obras literárias e tratados eruditos, como por exemplo a obra De Senectude, de Cícero, escrita acerca de 2000 anos (GOLDSTEIN p.9.2001) Na bíblia percebemos também a valorização no livro de Provérbios, destinada aos velhos, quando assinala que "os cabelos brancos são uma coroa de honra" . Mas, o envelhecimento só emerge e vem se consolidar enquanto fenômeno social de alta relevância nesse século, através da Gerontologia.
A Gerontologia pode ser assim classificada:
a- Gerontologia básica ? Ciência que estuda o processo de envelhecimento, enfocando a biofisiologia, a genética, a imunologia e o envelhecimento a níveis celular e subcelular.
b- Gerontologia social ? Com a evolução dos tempos, e o aumento da longevidade, houve a necessidade de um maior atendimento aos idosos, daí o surgimento de um ramo da Gerontologia - a Gerontologia social.
O temo da Gerontologia foi criado através da junção das palavras gregas: gero = velho e lógia/digno = estudo/ciência, em 1903 por Elie Metchnikoff, médico húngaro sucessor de Pasteur, como a ciência que estuda a velhice; em 1909 surge o nome Geriatria denominada a ciência que estuda a velhice em termos médico-sanitários, criado pelo médico austríaco Ignataz L. Nascher. Porém, foi em 1922 que houve a sistematização do saber nessa área, quando o psicólogo Stanlet Hall publicou o livro Senescence, the last half of life, contradizendo a crença de que a velhice é simplesmente o reverso da adolescência. Como é de praxe em todas as áreas do saber científico, vários obstáculos tiveram que ser superados, para que se chegasse ao processo observado hoje. Podemos afirmar que o atraso na construção do conhecimento em gerontologia pode ser atribuído a:
1- A supervalorização da geriatria sobre outros campos da Gerontologia.
2- A dificuldade da Gerontologia reafirmar como ciência e definir como campo de atuação e construção de conhecimentos.
3- A resistência à realização de investigação com caráter interdisciplinar. (cf. Papaléo 2002 p.7).
Em 1942 foi criada a American Geriatric Society e em 1946 a Gerontological Society of América e a Division of Maturity and Old Age da American Psychological Association, que comprova o interesse sistemático pela velhice, onde já se percebia uma intensificação desse processo de envelhecimento populacional nos Estados Unidos, e a partir dos anos 50 a França, a Inglaterra e a Alemanha também passa a vivenciar esse processo com um aumento significativo na proporção de pessoas idosas em suas populações. Tais alterações decorrem da conjugação de vários fatores, dentre os quais, os mais relevantes foram: a diminuição nas taxas de natalidade, em virtude de mudanças econômicas e culturais; o vazio populacional nas faixas correspondentes aos adultos, principalmente masculinos, em idade reprodutiva, por causa da II Grande Guerra, e os avanços da Medicina e na qualidade de vida da população, que provocaram um aumento na longevidade das pessoas (Lehr, 1988).
Em se tratando de Brasil, foi a partir dos anos 60 que o segmento de idosos sofreu um rápido aumento, onde a base da pirâmide populacional vem se estreitando nas últimas décadas. Tal fato se explica pelas novas conquistas no campo da medicina preventiva e curativa; pelo avanço da tecnologia; pelo simultâneo decréscimo das taxas de natalidade e pela diminuição acentuada da mortalidade infantil. Segundo previsão da ONU ? Organização das Nações Unidas, em 2020 ocuparemos o 6º lugar no ranking mundial em população velha, e esse cenário impõe a necessidade de enfrentar o problema das condições de envelhecimento que ocorre de forma desigual em nosso país.
Essa temática provocou uma preocupação generalizada em diversos segmentos profissionais e fez com que, nos últimos anos proliferassem no Brasil vários programas e associações para velhos, como o Movimento dos Aposentados, os Programas promovidos pelo SESC ? Serviço Social do Comércio, as Universidades da Terceira Idade ou com Núcleos da Terceira Idade, a ANG ? Associação Nacional de Gerontologia e a SBGG ? Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. As contribuições advindas dos núcleos de estudos e pesquisas, dos programas e dos profissionais dedicados a essa área, resultaram num crescente progresso o qual merece comemoração.
Diante do exposto, podemos concluir que a Gerontologia Social é uma área de rápido crescimento e que tem grande necessidade de avaliar e direcionar sua produção constantemente, isso devido ao seu caráter multidisciplinar, o que também congrega maior riqueza de conhecimentos.




Conclusão


Quem pensa que lugar de idoso é em casa, descansando, pode começar a mudar de idéia. Pessoas acima dos 60 anos estão cada vez mais ativas e saudáveis. A Atenção pública antes voltada apenas aos jovens e adultos já percebeu a necessidade de se criar, o mais rápido possível, políticas sócias que prepare a sociedade para esse novo fenômeno, denominado de revolução demográfica ou revolução da longevidade. Inclusive como resposta do Estado Brasileiro, a constituição de 1988 deixou claro a preocupação que deve ser dispensada ao assunto, quando colocou em seu texto a questão do idoso, o que definiu a Política Nacional do Idoso. Depois da criação dessa Política através da Lei de nº 8.842 de 04 de janeiro de 1994 e de seu Regulamento de 03 de julho de 1996 foi instituído o Estatuto do Idoso que passa a vigorar a partir desse ano.
Mesmo assim, ainda existem muitos resquícios de preconceitos e discriminação relacionados aos velhos. Para tanto, é necessário que toda a sociedade e principalmente o próprio idoso se mobilizem afim de mudar esse panorama negativo que temo hoje reservado ao velho.







Referência Bibliográfica

GOLDSTEIN. Lucila L, A pesquisa gerontológica no Brasil. Especiaria ? Revista da UESC, 2001. Ano IV, nº 7, pág. 8 ? 16.

GOMES,FA. A et.al Manual de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro EBM. 1985.

MORANGAS. Ricardo M, Gerontologia Social: Envelhecimento e Qualidade de Vida. Paulinas, pág. 17 ? 37.

SALGADO. M, Uma Nova questão Social. São Paulo: Sesc / Ceti.

VERAS. Renato Peixoto, Terceira Idade: Alternativas para uma sociedade em transição. UNATI, pág. 35 ? 46. Rio de Janeiro: 1999.