Rique põe os pés em casa, deixa a bolsa com livros próximo à porta e vai adentrando, acalorado, chamando por Luz.

            - Beim, chegueiiiiiii. Morrendo de fome. Preciso sair logo.

Chega ao escritório e lá está ela frente ao computador. Ele beija-lhe a nuca e sente o perfume. Estranha que não se volte sorridente para recebê-lo.

            - Que foi¿ Algum problema?

            - Problemas? Seu... Seu “cachorro”! Quero a cabeça dela, ouviu¿ A cabeça dessa torta não sei o quê numa bandeja, sim senhor!

            - Pelo amor de Deus! Que foi que eu fiz dessa vez?

            - Ainda pergunta? Olha aqui, olha... Eu o arrumei todo, perfumado, elegante... Só não me contou que era a formatura “dela”!

            - Dela quem, Luz? Vamos, me esclareça!

            - Quem precisa esclarecer é você!

            - Filha, estou sem tempo, com fome, cansado...

            - Por mim, pode morrer agora!

            - Vamos, Luzinha, vamos, coopera, olha o Lipe já assustado.

            - E vai ficar mais, porque vai perder o pai pra essa, essa... Essa tal de torta!

            - Que mal eu fiz, cuspi na Cruz, só pode!

            Já, agora, o temporal está instalado. É mais uma chuva de verão, violenta, rápida, mas passa!

            - Você ouviu: Quero a cabeça dessa talzinha!

            - Você teria coragem?

            - Imbecil! Logo você! Isso é uma metáfora, entendeu? M, E, T,Á,F,O,R,A!

            - Hãããn, entendi. Agora, serve o almoço?

            Luz já chora alto. Rique a olha e pensa: Quando começarei a entendê-la?

            O melhor a fazer é deixar passar a tempestade. Depois, seu carinho, seus beijos... Quem sabe aquele Dolce&Gabanna que ela gosta? Afinal, já saiu a parcela do Décimo Terceiro e Malbec nunca combinou com Floratta in Rose.

            É para uma boa causa!