“A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...”

Certo dia perguntei a um colega, quando o vi contemplar um pássaro que estava dentro de uma pequena gaiola, que prazer sentia ao ver/ter presa uma vida. Disse-me que gostava de ouvir o canto e sentir de perto a natureza. Além do mais, a ave tinha alimento do bom e do melhor, argumentou. Ainda o indaguei: “Será que tudo isto vale pelo preço da liberdade?” Ressaltei que se nos colocássemos no lugar do preso como nos seriamos sabendo que temos asa sem poder voar?

Este relato verídico serve como metáfora para explicar as condições de liberdade proposta pela sociedade capitalista, em especial, na contemporaneidade.  

1ª Condição: O prazer no canto do pássaro preso. Um tipo de sadismo perverso através da opressão para com a vida. É o que fazem os mantenedores do sistema sobre as massas. Usam o poder para conseguir o que querem, sentem-se superiores porque tem privilégios. Os pobres existem para servir os grandes. É uma condição que ideologicamente fazem-nos muitas vezes acreditar que deve ser assim. A vida que temos seria pior se não nos déssemos o mínimo. Ora ,podemos até acreditar que o padrão tem o direito de nos humilhar, porque somos submissos; deve explorar nossa força física, porque nos paga um salário. Esta visão, portanto, alienada, prende o povo sofrido sob o jugo da perversidade imposta pelos ditames do sistema.

2ª Condição: Sentir de perto a natureza. Alude a exploração arbitrária em função do consumo e concentração de bens, cada vez mais. Assim, o ser humano busca interesses em detrimento da natureza como se não fosse parte dela.

3ª Condição: Comprar a liberdade, dando o mínimo. O pior que mesmo com as migalhas fazem o povo agradecer...Claro, que aos poucos ele vai tomando consciência das manipulações . Mas, enquanto isto, massacram, exploram de todas as formas. Até mesmo na condição do mercado, há uma contínua imposição à adesão ao consumo exacerbado. É ofertado novos produtos como respostas a felicidade plena. Formatam-se, neste sentido, os sonhos de riqueza como se a responsabilidade fosse do indivíduo. Se, de fato, a pobreza é por culpa de cada um, implica dizer que o mínimo que o estado e a burguesia oferecer, deve-se agradecer.

Como pode haver liberdade, no sentido concreto da palavra, se é dado ao povo migalhas?  Portanto, não há liberdade sem que haja a plena efetivação dos direitos. Dizer que dão o suficiente, é mentira! Chega de enganação! Não podem comprar nossa liberdade com o mínimo. Pois ela é muito mais. Um dia sairemos da gaiola e não mais nos prenderão.