1 ANÁLISE DA NARRAÇÃO:
Segue-se a análise da narração do romance O outro caminho, por elementos que constituem uma narração:
1.1Narrador:
Em primeira pessoa, dois narradores-personagens. (p.39; p.163).
1.2Personagens:
-Protagonista:
Eyder Carvalho (p.36).
-Antagonistas:
Maria Sargenta(p.21).
Dom Xisto (p.41).
Coronel Marculino(p.82).
Coronel Torreão (p.122).
-Secundários:
Neco (Manoel)- (p.16; p.36).
Mamãe (Santinha)-(p.18; p.53).
Papai (Seu Vicente)-(p.19).
Conceição (p.19).
Pe.Reitor(Pe.Lopes)-(p.38).
Pe.Afonsinho(p.40).
Dom. Francisco (p.58).
Viúva (p.95; p.106-107).
José (p.102).
Celina (p.131).
Dom. Otaviano (p.147).

-prosopopéias:
A pororoca (p.32)
O Sol (p.123)
Lua (p.133)
Pororoca (p.133)
A Brisa (p.161)
1.3Espaço:
O Barro Vermelho (p.15)
O Barão ? barco a vapor (p.30)
São Luís (p.36-37)
Viana (p.79; p.151)
Coroatá (p.118)
1.4 Tempo:
Psicológico (p.14-15; p.79; p.129)
1.5 Enredo:
O enredo está dividido em dezesseis partes: uma explicação inicial, seguida de quinze capítulos.
Explicação:
O autor "Neco" registra que nesta obra está publicando a vida de seu irmão Eyder, porém seu trabalho foi facilitado por ter encontrado duzentas folhas de papel, escritas a lápis, nas quais o próprio Eyder redigiu sua biografia. Assim, Neco apenas se dá o trabalho de dividir o documento autobiográfico em capítulos e inserir algumas explicações para melhor compreensão dos leitores.
I
Eyder inicia exitante o registro de sua vida, apresentando-a a Deus como uma oração.
Inicia falando de sua infância, especificamente as lembranças de sua vida junto aos seus familiares, na vila Barro Vermelho, as margens do rio Pindaré.
Relata que sua mãe ? Santinha ? o induziu desde cedo a abraçar a vocação de padre, após não ter conseguido a aprovação de seu pai, depois das primeiras investidas para infundir tal vontade em Neco, seu irmão mais velho. Lembra das orações diárias a Santa Teresa, quando sua mãe o forçava a pedir a vocação sacerdotal e que, quando disse que iria ser padre, passou a ter todas suas vontades satisfeitas em sua casa.
Também recorda da louca do Barro, que o enchia de medo; Maria Sargenta, que gritava nas noites enluaradas chamando por sua filha que outrora morreu afogada no rio Pindaré, dia que enlouqueceu.
II
Fala da sagacidade de sua mãe, que apesar de pouca instrução, preparou o ambiente ao seu redor, afim que acabasse por optar pela vocação sacerdotal. Afirma que Santinha, nas suas orações, "martelava o Coração Divino", a fim de que Deus, realmente o escolhesse para esta vida.
Relata que em 1900 entrou no seminário; despediu-se dos familiares e da vizinhança, levando sua enorme bagagem, viajando com seupai no vapor "o barão", pelo rio Pindaré; conta com deslumbramento, a primeira vez que presenciou o fenômeno da pororoca. Narra sua admiração pelo momento que chegou à São Luís; Neco os esperava na rampa. Hospedaram-se aquela noite na casa de dona Bijú ? na Praça Gonçalves Dias. Pela manhã, os três pegaram o bonde rumo à Igreja Santo Antônio; o reitor Pe. Lopes recebeu-os satisfeito e Eyder, confirmara ao reitor que tinha vocação.
III
Eyder afirma que cada dia no seminário vinha com suas lágrimas e sorrisos. Lembra com simpatia do Pe. Afonsinho, querido pelos seminaristas por sua memória sobre a história da igreja no Maranhão. Também lembra, mas com certo desgosto de Dom. Xisto, que em uma visita ao seminário o repreendeu, mandando que cortasse seus cabelos longos. Assim, Eyder manifesta que se apegava a "pequenas pedras" da vida no seminário para ficar dividido e buscar sair de seu caminho vocacional.
IV
Nas férias Eyder ia com Neco para o Barro, mas se sentia "um peixe fora d?água", pois sempre desejava falar ao seu pai de sua vontade de sair do seminário, mas, perdia a coragem. Revelou a Neco que sempre lhe alertava para ter cuidado pela saúde de sua mãe. Assim Eyder sofria com os gestos atenciosos de seus familiares, bem como com a delicadeza do Pe. Reitor, por motivo de sua vocação, o que lhe impedia de manifestar sua vontade.
Relata que enquanto estudante foi sempre um aluno modelo. Finalmente quando tomou coragem e conversou sobre sua falta de vocação, de forma reservada ? quando faltavam dois anos para não matar sua mãe Santinha, que fizesse este sacrifício.

V
Narra quando, em 1907, chegou Dom. Francisco, na diocese, e Eyder, então diácono, procurou revelar ao bispo sua falta de vocação, mas desistindo, acabou por se tornar um grande amigo do novo bispo, por sua iniciativa em aproximar-se do bispo e conversar sobre sua futura vida sacerdotal. Encontrou em Dom. Francisco um amigo de coração aberto, e pediu que depois de ordenado fosse enviado para próximo de sua vila, o Barro.
VI
Narra sua solene ordenação sacerdotal, por Dom. Francisco e, também a de Pe. Moura, na Catedral de São Luís. Conta que seus pais não puderam comparecer porque sua mãe estava doente no Barro. De parente só estava seu irmão Neco.
VII
Fala de sua primeira missa na Igreja de Santo Antônio (São Luís) e de sua missa nova, no Barro. Recorda de sua primeira missa, que experimentou sensação de humilhante incapacidade, quando consagrou a Eucaristia e quando, abençoou o povo ao final, sentiu que sua benção podia alcançar até sua mãe que estava adoentada, de cama, no Barro. Na primeira semana após a ordenação, os padres Eyder e Moura, foram convidados para almoçarem com Dom Francisco, assim ficaram cientes de suas destinações: Pe. Moura foi destinado à cúria de São Luís e Pe. Eyder, para a Paróquia de Viana, que engloba o Barro na sua esfera paroquial.
Na missa nova - no Barro, apesar das precárias condições de saúde de Santinha ela, tanto insistiu que acabou sendo levada pelos familiares para também participar. Ao final da missa lembra que abraçou sua mãe e demais conhecidos e familiares. Também, comunicou que fora destinado para a paróquia de Viana.
No inicio do seu ministério em Viana, tudo ocorreu naturalmente como é comum na vida de um vigário do interior: Missa, breviário, interação com os paroquianos, apreciação do cotidiano da cidade. Assim, Pe. Eyder desempenhava seu ministério entre Viana e as desobrigas no interior.
Relata o rompimento da amizade com o Coronel Marculino, por recusar lhe apoiar politicamente. Assim, o Coronel com seu grupo, abriram guerra cerrada contra o novo vigário. Também relata, quando recebeu a notícia da morte de sua mãe e não pode ir por causa do forte inverno que obstruía as estradas do interior, apenas após uma semana de enterrada, pode ir ao Barro.
Neco insere a explicação de como Santinha morreu ao ir banhar-se e do grande trabalho que despendeu com seu pai e sua irmã para serrar a porta do banheiro e remover o corpo que a emperrava, na ocasião.

VIII
Pe. Eyder considera que sua mãe morreu em um momento justo, para não experimentar desgosto pelos maus comentários levantados pelo Coronel Marculino. Assim Eyder afirma este tranquilo, quanto à morte de sua mãe frente à sua grande queda.
Pe. Eyder narra suas tentações carnais por ser "homem metido n?uma batina", que buscava controlar com orações intensas, penitências e mortificações, mas, os desejos carnais mais aumentavam. Neste ponto, fala de Viúva, que levava tal nome, tanto por apelido de infância, bem como pela sua condição de viúva. Fala da beleza de viúva, de seus finos trajes, de seu perfume. Depois da morte do marido Viúva passou a frequentar mais a igreja, aproximando-se do vigário, suscitando neste uma paixão, que lhe fez temer e intensificar suas orações e penitências, mas, a lembrança de Viúva não lhe saia da mente.
Alguns habitantes de Viana, começam a desconfiar da aproximação entre Viúva e Pe. Eyder e falam mal do vigário, insinuando que eles tivessem um romance secreto. Viúva começa a declarar abertamente a Pe. Eyder que esta apaixonada por ele, inclusive quando lhe envia uma foto com um bilhete.
Pe. Eyder se afasta de Viúva e faz a discipina-penitencial, inclusive com o auxílio subordinado de José, caseiro da paróquia.
O povo falava mais intensamente do suposto caso. E viúva continuava mandando seus bilhetes ao Padre, que por sua vez os rasgava, com a esperança que tal situação se desvanecesse.
IX
No Domingo seguinte, Eyder, notou a mudança de comportamento de alguns paroquianos para com ele. Tornou - naquela noite- à casa paroquial, leu um pouco, rezou e, como de costume, vestiu de pijama e deitou-se, assim dormiu de repente acorda com Viúva nua em sua cama, abraçando-o e o beijando. Voltando à vigília, o padre esquivou-se, mandou a mulher sair, mas esta com sua astúcia, apagou a chama do seu oratório, e os dois se entregaram, movidos pela paixão.
X
Pe. Eyder escreve que no dia seguinte estava fraco e carregado de preocupações, com a consciência atormentada por seu pecado. O que ainda lhe dava forças era o fato de continuar celebrando a missa, mas, com o coração humilhado por seu pecado.
Sua fama já estava num estado que até crianças pelas ruas o chamavam: "padre safado e namorador".
Outras vezes, viu buracos no fundo da cerca de sua casa, porém trancava bem seu quarto quando ia dormir; durante a noite ouvia pancadas de leve em sua janela ou porta: era Viúva o chamando. Pe. Eyder apertava seu silício e quando Viúva saia, o padre começava a pensar em viajar logo para São Luís.
No dia de seu aniversário, não se fez nada na paróquia. Coronel Marculino desfez uma pequena tentativa de algumas beatas.
XI
Pe. Eyder passou seis meses em São Luís, confessando tudo a Dom Francisco e ouvindo suas palavras de misericórdia. Ainda estava em São Luís, quando lhe informaram que viúva viajou para o sul.
Em 1914, ao estourar a I Guerra Mundial, Pe. Eyder embarcou para Coroatá, ano em que resoulveu também travar sua guerra pública.
Chegando a Coroatá, Pe. Eyder não encontrou a recepção paroquial que idealizara; pois a mairia dos moradores já sabiam sua fama de safado e namorador. Perante tamanhos insultos, Eyder se retira- após sua primeira missa na nova paróquia, para rezar e dá vazão às suas lágrimas.
Pe. Eyder convidava padres para pregarem missões populares, com esperança que a situação melhorasse, mas, quando o pregador retornava, continuava a indiferença de seus paroquianos.
Tentou combater um costume local, a Procissão das Almas, na qual os homens peregrinavam entre gritos e sons de matracas- na madrugada de dois de novembro- rumo ao cemitério, onde acabavam por se embebedarem; Eyder não conseguiu acatamento e gerou inimizade com o Coronel Torreão junto aos homens do local. Enquanto levantava tal campanha, recebeu um pacote com um pequeno boneco enforcado, chantageando- para acabar com a campanha senão ele seria o Judas do sábado santo. Na missa leu tal bilhete, mostrou o boneco e asseverou que lutaria contra aquele costume, como causa divina. Escreveu, em seguida, para Dom. Francisco, desabafando; recebeu a resposta incentivando-o a perseverar no lema que havia escolhido párea si recentemente: "Per crucem ad lucem", que significa: "pela cruz à luz".
XII
Pe. Eyder se dá conta de uma coincidência, significativa em sua vida: desde que nasceu sempre viveu peto da água (rio, mar, lago). Atribui o significado de sua vida ser um "oceano de lágrimas."
Aproveitou o mês de maio no Barro, para "ruminar" sua história.
Diante da expressão do desejo de Celina- esposa de Manuel (Neco)- de que seu filho, que estava a embalar na rede seguisse a vocação de padre, semelhante ao seu tio, Eyder a repreende para que jamais fosse seu filho a tomar tal decisão.
Evidencia que as noites do Barro agora eram alegres e calmas, pois Maria Sargenta havia morrido. Neco insere a explicação de como se deu a morte de Maria Sargenta, esta morreu afogada e esquartejada pela impetuosidade da pororoca ao procurar sua filha dentro do rio, no momento do fenômeno natural.
Eyder visita o tumulo de sua mãe e de outros conhecidos, no cemitério do Barro. Ali também reflete sobre a brevidade da vida e, também sobre sua própria morte.
XIII
No dia do batizado do filho de Neco, chegou ao Barro à notícia da morte de Dom. Francisco.
Pe. Eyder viajou para São Luís a fim de participar do funeral de seu amigo; em São Luís observa a massa humana que foi despedir-se do popular bispo. Eyder chora e reflete sobre sua vida. Quando retorna à Coroatá, leva consigo alguns escritos, de São João da Cruz e de Santa Teresa d?Àvila. Em São Luís chegou Dom. Helvécio, mas este saiu de São Luís sem a visita de Pe. Eyder.
Depois chegou Dom. Otaviano, este conseguiu fazer com que Pe. Eyder participasse do retiro do clero, mas o padre se sentiu constrangido pelos olhares curiosos dirigidos por muitos colegas a ele e outro padre, também com a fama de namorador. Dom. Otaviano o transferiu novamente para Viana. Eyder voltou em Coroatá, apanhou suas bagagens, despediu-se de poucos paroquianos e tomou o trem de Rosário à Viana.
XIV
Chegando a Viana, avistou a Igreja, o largo, a casa paroquial, percebendo as marcas do tempo que passara, além disso, a casa estava menos zelada. Dois dias depois recebeu uma sincera acolhida por parte de José. Percebeu que sua história ali se popularizara, mas o povo, dispensada para ele certa caridade por sua velhice.
Pe. Eyder se tornou amigo do novo prefeito, que sempre insistia com ele para que escrevesse suas memórias.
Na festa de Reis de 1929, Pe. Eyder bradava do púlpito que o povo nunca rezara por seu vigário, em tom de desabafo, questionando como o povo poderia exigir um padre perfeito se não rezava por ele.
No mês de maio, sofreu muito ao receber a notícia da morte do Coronel Marculino sem que nenhum de seus parentes o chamasse para lhe administrar a extrema-unção, pois não querias que o padre se intrometesse na divisão da herança; isto ficou bem explícito quando o padre visitou os parentes do coronel Marculino e, foi expulsso por um deles. Na beira do lago, Eyder reflete, contemplando a lua e as estrelas e chora num transbordamento de seus sofrimentos; lembrou-se de Viúva e, também ofereceu seus sofrimentos por ela, movido pela fé da igreja na comunhão dos santos.
Em agosto interrompe uma desobriga em Aquiri, adoentado; volta à Viana e manda chamar Neco.
XV
Neste capítulo Neco, prossegue o esquema da explicação, de como foram os últimos dias de Eyder.
Eyder estava magro, e bastante febril, com bastante muco nos pulmões e conseqüente dispnéia, passou três dias neste sofrimento até a morte.
Neste sofrimento Eyder conservava sua fidelidade nas orações.
Seu Casemiro, o farmacêutico, administrava alguns remédios para Eyder, mas sem sucesso.
Eyder manda Neco retirar suas notas autobiográficas da gaveta da cômoda para queimar, após muita insistência Neco conseguiu autorização para as lê, prometendo que depois as queimaria. Neco não cumpriu a promessa, porém, enganou Eyder dizendo que as havia queimado.
Não conseguindo um padre para lhe confessar e lhe administrar a extrema-unção, mas não havia esta possibilidade e quando Pe. Eyder sentiu que se aproximava sua morte, fez grande esforço, saiu da casa paroquial, atravessou o Largo, no silêncio da madrugada e abriu a igreja. Dirigiu-se ao altar e abrindo o tabernáculo, comungou as hóstias consagradas que restara da ultima missa; assim caiu morto no altar.

2 DISCUSSÃO DO TEMA

Mais que os condicionamentos sociais ou psicológicos, a pessoa humana, para ser o mais feliz possível em seu projeto de vida, quando o escolhe com o máximo de liberdade, sabendo que tal opção também traz conseguem renúncias. Assim a opção pela vida como a de padre, na Igreja Católica- não menos dos que escolheram casar-se - tem suas peculiaridades, consequências e renúncias.
Para que o ser humano desempenhe uma função social, podem concorrer vários fatores, deste a influência genética de seus ascendentes, passando pelo influência do meio, sobretudo da sociedade que educa as pessoas para determinadas finalidades bem-quistas pelo sistema social vigente.
Afim de que o ser humano alcance felicidade por suas escolhas, ajudará bastante traçar seu projeto de vida, baseado numa visão crítica sobre si mesmo e sobre os condicionamentos que está sujeito tanto psicologicamente, como socialmente, traçando metas respaldadas na liberdade do seu ser.
Consideramos que na Igreja Católica ? que tomamos, por exemplo-tanto a opção pela vida celibatária, como pela vida conjugal, podem levar o vocacionado à realização humana, se fizer sua escolha de vida no supracitado discernimento crítico que, acarreta uma escolha com suas respectivas renuncias. Para tanto a escolha deve ser madura e caritativa.


REFERÊNCIA

MOHANA, João. O OUTRO CAMINHO. 8. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1974.