Ser sensível é sofrer

(Marx. K. Manuscritos econômicos filosóficos II. XVII).

A velha contenta entre materialistas e espiritualistas, entre alienação¹ da consciência pelo corpo ou alienação do corpo pela consciência pode ser posta sobre forma mais clara diante de um fenômeno que solta aos olhos em nossa contemporaneidade; o homem outdoor.

A intensa e enloucarada produção de artificialidades exige sempre um rebanho que possa consumir as coisas mais absurdas na maior quantidade possível.Foi-se o momento em que ganhar dinheiro se resumia a vender os bens de consumo indispensáveis à vida, como o pão diário, o abrigo e a água, agora, nesse prelúdio da desgraça humana as necessidades de consumo são embutidas na cabeça do medíocre assalariado como pares de brincos em camelos.A venda é antecedida por uma promessa de gozo, de prazer, e de satisfação que a propaganda pinta o produto!É dado ao consumidor algo que dizem que ele não tem, um infindável paraíso que tem sua localização geográfica na mercadoria.

Somos!E nos apaixonamos como que se um sofrer, só pudesse ser calçado por uma coisidade exterior a nossos corpos o desejo é a essência do homem enquanto concebida como determinada a fazer alguma coisa por qualquer afecção dada (Spinoza, eth, III, Def I), talvez por isso haja na propaganda o imperativo que soa como uma ordem: compre!Use!Abuse...Que inventa a paixão  do homem pela artificialidade.

Sendo a propaganda a educada ideologia, a que lança mão o mercado para vender produtos, essa por ser feita de forma que a imagem, símbolo ou signo modele a consciência e a ação² ,precisam de espaços onde esses símbolos signos e imagens sejam a isca para a venda de um produto, isto é, o produto está á vista de possíveis compradores, a estes espaços chamo de meios de venda ³ sejam eles revistas, jornais rádios sites e TVs; esses meios não estariam completos se, aqui, deixássemos de citar o corpo do homem como meio de propaganda para a venda, venda de produtos á serem consumidos pelo próprio homem outdoor.

Lá onde a falaciosa estrutura lingüística da propaganda sustenta a tragédia humana em busca de lucro o corpo humano é alienado? A consciência do homem é alienada? O que se aliena então? O homem que é usado como outdoor de marcas mundialmente famosas.O próprio homem num todo, seus atos e seu suposto discurso de liberdade aprendido em uma escola axiológica qualquer são postos á serviço de uma engrenagem que é tão nefanda que não cabe o adjetivo, para ela, de racional no sentido grego e lúdico da palavra.

A ilustração de tal consocio humano pode ser vista pela valorização da grife, da marca, no vestuário dos moradores da cidade do Rio de Janeiro, nunca a propaganda teve tantos espaços...Ou melhor, corpos para fazer sua proposta de compra.

¹ Alienar é ser outro que não o si mesmo.

² Sobre a modelagem do homem pela imagem ver o artigo de Vilem Flusser O instrumento do fotografo ou O fotografo do instrumento.

³ Os meios de comunicação comunicam os meios de venda vendem.