A alguns meses, conversava com uma amiga a respeito de um relacionamento que estava tendo, e que não ia muito bem. Após relatar o que estava passando, ela me disse que aquilo poderia ser uma espécie de “estupro”. Meu namoro durou mais alguns meses desde então, porém nunca deixei de pensar se haveria alguma verdade naquilo. E agora, escrevo admitindo que há, sim.

Um estupro é, a meu ponto de vista, uma ação na qual se intimida e pratica ou mantém relações sexuais com alguém que não o quer. Algumas polêmicas se sobressaem, como os últimos casos de garotas menores de idade, abusadas por grandes números de canalhas. Mas o ato de estuprar não se resume a isso, nem ao que é divulgado através das redes. Mulheres são estupradas aos montes, todos os dias. Provavelmente, milhões de mulheres por ano. Permito-me até a arriscar que grande parte das mulheres já foi, de alguma forma, abusada pelo menos uma vez, ao longo da vida. Então, como tomamos conhecimento pela mídia de tão poucos casos? Simples. Assim como eu no passado, as mulheres não notam o ato do abuso, ou não o veem como tal.

Mulheres sofrem estupros em suas casas, muitas vezes em seus trabalhos, e não somente nas ruas ou embebedadas em festas. Podem sofrer abusos de seus superiores, chefes, namorados e maridos. E, ao contrário do noticiado ultimamente, estupros podem durar meses, e anos, não apenas uma única vez. E quanto mais se repetem, mais difícil se torna para a vítima não ter medo.

Em meu caso, meu namoro durou um ano e meio. Era alguém que já conhecia a anos, e nunca imaginaria como alguém que poderia fazer algum mal a qualquer um. Os primeiros seis meses foram cheios de respeito, felicidade, intimidade e amor. Pelo menos, é o que gosto de pensar, porque sei que fiz minha parte. Mas alguns relacionamentos não suportam a primeira briga. Nem mesmo me lembro o que nos levou a discutir, mas naquele momento, havíamos chegado a um caminho sem volta, e eu só descobriria isso um ano mais tarde.

Por um ano muito longo, me senti abusada. Abusada por alguém que deveria me amar e me cuidar, e assustada demais para recorrer a mais alguém. A questão é que o estupro pode também ser um jogo psicológico. A pessoa consegue entrar em sua cabeça e, involuntariamente, te fazer agir do modo que ela queira, impondo consequências dolorosas, caso tudo não ocorra da forma que ela deseja.

Permiti que ele brincasse com a minha mente por tempo demais. Eu o amava, e tinha medo de perde-lo, mas era tratada como lixo e usada como um brinquedo, de duas a três vezes por semana. Meu corpo começou a rejeitar o ato, afinal, aquilo não me dava prazer algum. E, sem a ajuda do meu corpo, começou a doer, toda vez. Em alguns momentos, a dor e o sangramento eram tantos que eu pedia para parar. Todas as noites, enquanto ele dormia ao meu lado, em minha casa, eu chorava em meu travesseiro, rezando para que tudo melhorasse.

Certa noite, quando pedi para parar, ele me disse “nem para isso você presta mais”. Com a dor daquelas palavras, e medo de ser abandonada, fui à minha mãe, minha melhor amiga. Mas não quis contar o quanto estava sofrendo. Ela me indicou cremes, para atenuar a dor e fazer o trabalho que meu corpo se recusava. E assim o fiz. Mas a dor não diminuiu por um segundo, pois já estava toda rasgada por dentro. Próximo ao natal, naquele ano, tivemos mais uma briga, devido à formatura de uma amiga. Ele ameaçou meus pais e a mim, por inúmeras mensagens. Após mais dois meses, já com as conversas gravadas, mostrei-as para minha família. Colocamos um fim nisso tudo, advertindo-o de que seria levado à polícia. E só então pude perceber que havia vida além daquele homem ameaçador.

O estupro invisível do qual estou falando, muitas vezes, não é grave o suficiente e nem apresenta evidências para denunciar os agressores. Como falei, muitas vezes nem é visto como um abuso. Mas para todas as mulheres que leem esse texto, não se enganem: se você está passando por isso, abra os olhos. É um jogo psicológico extremamente forte, e você será arrastada para ele. Saia enquanto pode. A culpa não é sua, nem do seu corpo, nem do seu trabalho ou do que quer fazer com seu tempo livre. A culpa está apenas na cabeça de quem não a ama de verdade. Procure um homem, sendo ele um novo chefe, novo namorado, ficante ou marido, com o qual consiga conviver respeitosamente. Alguém que saiba respeitar o seu “não” e apreciar o seu “sim”.

Nem todo homem nesse mundo te tratará como uma vadia, ou te usará só para obter prazer. Nem todos vão te insultar ou se decepcionar com a sua dor. Por incrível que possa parecer, alguém irá te escutar e auxiliar por cada uma das suas fases complicadas. E esse homem, acredite, está por aí.

Seja mulher com orgulho. Não se permita ser abusada.