Hoje, a educação brasileira vive um clima de intensa efervescência, com um mundo varrido por mudanças profundas. A revolução científica e tecnológica mudou os paradigmas de produção e transformou o cotidiano das pessoas. A rápida evolução nos padrões de comunicação e a aplicação universal da informática geraram um impacto sobre a produção e circulação de bens. Mudaram os conceitos de espaço, tempo e, também, aprendizagem. Lançava-se um grande desafio ao aparelho escolar.

            Na perspectiva da construção do saber, a idéia estagnada de conteúdo aprendido evoluiu-se para a noção de capacidade para a inovação. Em decorrência, a educação passou a buscar novos paradigmas capazes de preparar trabalhadores com alta qualificação, íntimos de tecnologias nascentes. Aprender a lição passou a ser pensar, criar, imaginar e, não, memorizar apenas. 

            A ação da escola começa pelo seu compromisso com o meio físico e social onde está inserida, dado que ela é o refúgio da experiência social. Desta forma, a estratégia escolar deve cobrir um conjunto de estratégias básicas, entre elas:

- Deixar de supervalorizar o atual sistema de coação da aprendizagem, representado por notas e exames, e dar lugar ao desenvolvimento de atitudes ativas em relação à formação do estudante. Em outros termos, cabe à escola desenvolver a autonomia do aluno e exercer a sua avaliação em cima deste aspecto tão primordial.

- Aumentar a educabilidade do aluno. Ao invés de insistir sobre o ensino de conhecimentos específicos em diferentes domínios, deve, antes, desenvolver mecanismos de aprendizagem. Na escola, o aluno deve aprender o hábito de utilizar diversas estratégias de atividades. Aprender a observar, escutar, exprimir-se e a questionar. A escola deve apoiar o aluno no sentido de ele tornar-se capaz de identificar suas necessidades em matéria de educação e de planejar, conduzir e avaliar seus estudos. A escola deve equipar-se não apenas para transmitir o saber, mas, principalmente, para exercitar o saber-fazer. Neste caso, o aluno substitui a aprendizagem de conhecimentos específicos pela aprendizagem de tarefas a cumprir.

- Praticar a aprendizagem aberta. Trata-se de levar o aluno a adquirir uma base tão vasta quanto capaz de lhe oferecer possibilidades de opções para a atualização ou prosseguimento de estudos. Para tanto, é mister que a escola o familiarize com a natureza e a estrutura das diferentes disciplinas e não com um excesso de conteúdos aprofundados, porém descontextualizados.   Desta forma, o aluno se apropriará dos instrumentos de aprendizagem indispensáveis para poder avançar nos diferentes domínios e, assim, identificar seus próprios interesses. Evitar o enciclopedismo. Isto significa, na prática, substituir a pedagogia dos conteúdos pela pedagogia dos objetivos. É precisamente nesta substituição que se cria espaço para que as experiências extra-escolares se transformem em experiências escolares.

            A finalidade da Educação é de tríplice natureza: O pleno desenvolvimento do educando, o preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.

            No pleno desenvolvimento do educando, a educação deve contribuir para que o organismo psicológico do aprendiz se desenvolva numa trajetória harmoniosa e progressiva; o preparo para a cidadania consiste na condição básica de ser cidadão, isto é, titular de direitos e de deveres a partir de uma condição universal e particular; e a qualificação para o trabalho trata-se da relação educação-trabalho, que deve ser entendida como a necessidade de fazer do trabalho socialmente produtivo um elemento gerador de dinâmica escolar. O estudante é estimulado pelo conjunto dos agentes da sala de aula (professor, disciplina, materiais instrucionais e processos de acompanhamento e avaliação) a inserir o aprendizado nas formas de produtividade.

            A escola tem a essencial função de ensinar conteúdos e habilidades necessárias à participação do indivíduo na sociedade, levando-o, através de seu trabalho específico, a compreender a sua própria realidade, situando-se nela, interpretando-a e contribuindo para sua transformação.

            Ao analisar o livro em estudo, já no primeiro capítulo nos é apresentada uma pesquisa para avaliação de como vem sendo trabalhada a prática de ensino de leitura e de literatura no ensino médio, através de questionários dirigidos a alunos e professores. Mesmo com as sempre existentes falhas nos resultados de pesquisas, percebe-se muitos fatores que vêm prejudicando o favorável ensino de literatura no Brasil.

            Nosso aluno da atualidade, mesmo passando boa parte de sua vida na escola, se dedicando à leitura, escrita e nos três últimos anos à literatura, é perceptível que tenha uma leitura que muito deixe a desejar, tendo apenas 5% dos alunos do ensino médio, de acordo com dados do Saeb, um bom nível nas habilidades leitoras.

            Encontram-se sem muitas mudanças o ensino de literatura no nosso país há muitas décadas, e os motivos levam heranças ideológica, política, contextual, etc., mas, para que esse quadro possa começar a mudar, é preciso que o professor do ensino médio tome consciência sobre o real valor do ensino de literatura.

            A literatura vem sendo estudada de forma tradicional, com cronologia e contextualização históricas, características de autores e obras; o que deveria mudar, pois, como já dito anteriormente, a escola deve ter como foco a formação de leitores competentes. O ensino de literatura deveria ser comprometido com o desenvolvimento de habilidades da leitura de textos literários.

            É notória também a insatisfação dos próprios alunos diante de aulas expositivas, nas quais ele não tem voz altiva, preferindo, assim, aulas dialógicas, trazendo a leitura para a sua realidade e correlacionado-a com outras artes em estudo.

            Como resultado disso, a metodologia e as ações didáticas ficam totalmente comprometidas, pois o ensino de literatura no ensino médio deveria estar ligado às habilidades de leitura, com o objetivo de que o aluno seja um leitor competente de textos literários.

Hoje, a maior preocupação das escolas é a aprovação de seus alunos no vestibular, deixando de lado sua função social (descrita no início deste trabalho) e o alcance de um melhor perfil para os estudantes que ingressam nas universidades brasileiras.

            Talvez por falta de clareza ou pela pequena divulgação dos PCN’s, os professores não tenham se apropriado desse espírito renovador na arte do ensino dessa nova proposta de ensino de literatura.

            Já que a proposta dessa mudança é a de que o texto literário seja o principal objeto de estudo nas aulas de literatura, e não somente esse cansativo e velho esquema sobre a história da literatura, é preciso que outros conhecimentos, obtidos em áreas afins (História, Sociologia, Psicologia, etc) sejam somados e transformando-se em importantes e úteis ferramentas para lidar com o texto literário.

            Qualquer metodologia que seja escolhida, esta deve estar comprometida com a formação desses leitores competentes para lidarem com as necessidades do mundo contemporâneo, através da já comentada perspectiva dialógica, que traga não somente as relações da literatura com o seu tempo, mas também a própria essência da literatura. Aí estaria o verdadeiro sentido do texto literário, algo trazido para a realidade, diferente desse “engessamento” do qual o ensino da literatura há tempos se encontra.

            Seguindo essa perspectiva, o texto literário deixa de ser elemento antigo, arcaico para transformar-se em conquista, em desafio, em conhecimento que faz o aluno interagir com o mundo em que vive, como propõem os PCN’s.