Sobre meninos e folhas
Analise de uma fábula de Léo Buscola


"A história de uma folha" é uma fábula que narra a trajetória de Fred, uma folha que passa por todas as estações e se vê diante da certeza de sua morte. Daniel é uma folha mais velha que explica ao "menino" Fred sobre a vida na grande árvore e sobre o sentido de existir. É interessante uma passagem em que, com a chegada do outono, cada folha vizinha de Fred assume uma coloração e Daniel mais uma vez explica que somos diferentes porque recebemos o sol de maneira diferente. Assim como cada um de nós tem seu momento de partir. Fred assiste a partida de Daniel e, tempos depois, apesar de relutar um pouco, acaba partindo também. Ele cai sob a neve fofa, que vira água, fazendo com que água e folha se tornem adubo para a grande árvore. Assim a folha continua, de alguma maneira, viva. A vida continua...
Cà entre nós "meninos", por que a morte, um fenômeno natural, não é vivenciada por nós como tal? Talvez por nossa própria humanidade, por nossa capacidade de amar. Então, o sentimento de luto por alguém que partiu é inerente ao ser humano.
Creio que tal condição faz parte da evolução humana e por conseqüência da linguagem. Algumas pessoas que sofrem uma perda até recebem um título. Quem perde um conjugue passa a ser o viúvo ou viúva. Um filho ao perder um genitor se torna órfão. Mas quando um pai ou uma mãe perdem um filho não há nomeação. Será algo que nem a linguagem admitiu, e portanto inominável? Ou seria tudo obra da cultura, onde os pais é que deveriam enterrar os filhos? Mas, quase que tragicamente, a vida continua, e, toda a dor que ela gera terá de ser vivida honestamente. Assim como um dia encontramos um sentido para a morte,começamos a realizar cortejos fúnebres, teremos que, continuamente, encontrar sentido para a dor da morte.
E temos capacidade para isso. Léo Buscola por exemplo, criou a Fábula aqui descrita. Possuímos capacidade de fabulação, de sublimação, de significação. Possuímos capacidade de criar e de nos recriarmos.
A folha Daniel explicou à folha Fred que o propósito da árvore é proporcionar sombra. E cada um de nós, dentro de cada singularidade, tem um propósito. E é diante da certeza de nossa finitude que precisamos de uma razão para existir. Não podemos nos omitir diante do sol, do vento, das chuvas ou geadas. Temos que nos procurar, temos que verbalizar. E quem sabe assim, através de nossa linguagem, atingiremos a eternidade.