Edson Silva

Recentemente, uma longa (para padrões da internet) entrevista no portal IG me chamou a atenção uma frase dita pelo ator global José de Abreu. Acredito que seja necessário explicar primeiro que a entrevista surgiu após o ator aparecer em diversas emissoras de TVs e fotos de jornais e sites. Ele estava no primeiro discurso de Dilma Rousseff, minutos após ter sido constatada a eleição daquela que é a primeira presidenta da história do Brasil. Por um bom tempo, Zé de Abreu ficou no palco, visivelmente emocionado e estava bem próximo, mais precisamente atrás do púlpito em que Dilma discursava e bem ao lado de integrantes da alta cúpula de campanha da presidenta.

Na entrevista ao IG, o ator esclarece que não estava ali por acaso. Como ele mesmo se definiu, durante a campanha presidencial Abreu foi voluntariamente "guerrilheiro virtual" pró Dilma, pesquisando boatos contra a candidata, postando mensagens esclarecedoras, enfim usando toda tecnologia disponível no mundo virtual, mas que forma opiniões reais nem sempre acertadas, contra as baixarias e mentiras de todos os gêneros que surgiam contra a candidata, normalmente postadas por militantes ou simpatizantes dos principais partidos de oposição.

Mas a frase que me chamou atenção, até pelo seu grau de sinceridade e verdade, foi a que Dilma jamais foi "terrorista" como sugeriram inúmeras postagens preconceituosas feitas pelos opositores à sua candidatura. "...Ela não era terrorista, nem eu. A gente era herói. Terrorista era o Estado brasileiro.", disse Zé de Abreu, ator de 64 anos e que portanto conheceu bem o que foram os anos de chumbo da Ditadura Militar e com experiência profissional em dezenas de trabalhos na televisão, teatro e cinema. Estou perto de fazer 49 anos e obviamente era criança entre 68 e 72, que o pouco de informação que se tem, devido censura da época, aponta como piores anos da repressão dos militares aos seus opositores.

Embora criança, convivi com parentes ou amigos mais velhos que eram soldados do Exército. Nas raras conversas, eles falavam de caçadas aos temidos "terroristas", que acabavam quase todos mortos. Não era raro que em chamados "treinamentos" alguns soldados de mau (com u mesmo) comportamento fizessem vezes de "terroristas" em vilarejos para em seguida serem "caçados" pelas patrulhas do Exército, que jamais esclareciam que tudo não passava de treinamento. É Zé de Abreu, você viveu isso e sabe. A gente cresce, começa compreender mais, lembra de tanta gente morta em torturas, das desaparecidas e deduz sim quem na verdade era o verdadeiro Terrorista.

Edson Silva, 48 anos, jornalista, nasceu em Campinas e trabalha como assessor de imprensa em Sumaré.

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