"Vós que credes, não tenhais os judeus e os cristãos como vossos amigos, pois eles são amigos uns dos outros. Se algum de vós os tiver como amigos, vireis a ser um deles" (Corão, 5: 52).

Prezado K.,

O Sr. tem razão. Sharon não invadiu nenhum templo, apenas fez uma visita à Esplanada das Mesquitas onde ficam as mesquitas de Al-Aqsa e de Omar (que tem a cúpula coberta de ouro; há alguns anos o Rei da Jordânia - a quem cabe a Wafd ou "Custódia" desses locais sagrados - vendeu uma mansão na Inglaterra para refazer a "pintura" de ouro).

Essa "Intifada de Al-Aqsa" foi apenas um pretexto para o reinício da revolta dos palestinos. Afinal, foi um ato desproporcional, em face do direito que qualquer dirigente israelense tem de visitar o local, ainda que não seja bem-vindo.

Eu já escrevi muitos textos sobre o conflito árabe-israelense, inclusive um livro (*), onde relato essa questão que perdura há décadas. Senti alguma alegria quando começou o tal "processo de paz" iniciado em Oslo, depois continuado em Madri e na Casa Branca, onde vários líderes israelenses e palestinos apertaram as mãos, receberam prêmios Nobel da Paz, dando a entender que finalmente seria possível pacificar a região. Porém, num momento Arafat se mostrava irredutível, depois era Netaniahu ou outro líder judeu que não aceitava as condições propostas (como a divisão de Jerusalém) e, até hoje, nada se resolveu e o conflito agora está cada vez mais violento depois que o Hamas tomou a Faixa de Gaza. Hoje já estou saturado com esse assunto e prometo não dar mais meu pitaco nessa corrente de e-mails.

O maior problema de Israel é ser um país diminuto. Tel-Aviv poderá ser atingida por simples canhões a partir da Cisjordânia (Administração Palestina ou Governo Palestino). Administração Palestina ou Governo Palestino, repito, não "Autoridade Palestina", que é como todo mundo fala e escreve, por achar que o significado de Authority é apenas "Autoridade". Tenho impressão que aquela região sempre será o apêndice de alguma potência regional. Foi assim desde os tempos bíblicos, com invasões de babilônios, assírios, persas. Depois, a antiga região dos judeus e filisteus foi saqueada por povos diversos: gregos (Alexandre Magno), romanos, bizantinos, árabes, cruzados, franceses (Napoleão), ingleses. Com a Partilha da Palestina, feita pela ONU, e a criação do Estado de Israel, há pela primeira vez um Estado forte em armas naquela pequena região, de modo que conseguiu derrotar seus inimigos em várias guerras nos últimos 60 anos. O custo disso é altíssimo e não se sabe até quando Israel poderá manter seu poder sobre o país, onde, além dos inimigos externos, como a Síria e, especialmente, o Irã - que promete riscar Israel do mapa -, há uma espada de dâmocles sobre a cabeça de cada judeu: os bebês palestinos que nascem em seu próprio território.

Para haver paz na região, alguém deverá "desaparecer": ou os terroristas fanáticos do Hamas e congêneres, ou o próprio Estado de Israel. Não vejo outra solução. E mesmo desaparecendo os terroristas, Israel sempre será considerado pelos árabes como um "quisto" em seu território. John Laffin no livro The Arab Mind diz:

"A lei islâmica não reconhece a possibilidade de paz com descrentes e infiéis. A parte do mundo não-muçulmano é conhecida na teologia islâmica como 'território de guerra'. A maior parte dos militantes muçulmanos acredita que a tarefa de Maomé não será bem-sucedida enquanto não-muçulmanos tiverem controle de qualquer parte do planeta" (minha tradução). (**)

Se um território estranho deve ser conquistado pelos muçulmanos, através da Jihad, por ser um "território de guerra", imagine um território que é sagrado para eles e que perderam recentemente, como a Palestina (Israel) e, há algum tempo, como a Andaluzia (Espanha). Essa humilhação islâmica é conhecida como Azma, e o sofrimento de todo muçulmano só irá acabar quando a Palestina for retomada. O próprio Corão é claro quanto a isso: "um dia toda a Palestina será dos muçulmanos" (21: 106-113) (também conforme minha tradução) (***). O Corão também afirma que o Terceiro Milênio será dos muçulmanos, quando todo o planeta for conquistado.

Se isso está escrito no Corão, será efêmero qualquer plano de paz atual entre Israel e seus inimigos - além do Hamás e do Hezbollah. Para os grupos terroristas, o lema é lutar até que Israel seja varrido do mapa. Afinal, há apenas dois tipos de muçulmanos: os que promovem a Jihad; e os que a aplaudem.

Abraços e um bom fim de semana,

Félix Maier

Notas:

(*) MAIER, Félix. Egito – uma viagem ao berço de nossa civilização. Thesaurus, Brasília, 1995.
(**) LAFFIN, John. The Arab Mind – A need for Understanding. Cassel & Company Limited, London, 1978
(***) THE QURAN. Arabic text with a new translation by Muhammad Zafrulla Khan. Curzon Press, London, 1978.

Leia Sharon and the Intifada em

http://www.peacewithrealism.org/pdc/sharon.htm