SOBRE A VIDA, A CRISE E A DOR
OU: POR QUE NOS QUEIXAMOS TANTO? A APRENDIZAGEM AMARGA

Para os meus colegas do 7º semestre de Direito da Universidade do Estado da Bahia ? UNEB- Campus IV ? Jacobina e para o meu pai, Pedro Ferreira da Silva Neto, que é forte como um touro

"Eu vivo mudando de opinião (...) Eu não presto (...) Eu já tentei de tudo pra me modificar/ Os vícios eu larguei/ Até Deus fui procurar/ Mas num mundo tão sincero/ Não há lugar pra mim/ Todos dizem a verdade/ Só eu sou falso assim."
(Branco Mello e Ciro Pessoa, na música "Eu Não Presto")

"Não tome comprimido/ Não tome anestesia/ Não há nenhum remédio/ Não vá pra drogaria (...) Não fuja da dor/ Não tome novalgina, não tome analgésico, nenhuma medicina, não ligue para o médico (...) Não fuja da dor!"
(Marcelo Fromer, Charles Gavin, Branco Mello e Tony Bellotto, na música "Não Fuja da Dor")

Escrevo esse texto dois dias depois que o meu pai - meu querido, meu velho, meu amigo - sofreu um derrame. Por sorte, está vivo para contar suas piadas! A vida vale muito a pena ser vivida. Grandes escritores e pensadores da História da Humanidade nos ensinaram isso. O que precisamos mesmo é buscar algo mais nessa vida... Mas essa impotência nossa, de achar que não podemos mudar o nosso destino por nós mesmos, e a raiva diante da impotência, acaba nos desviando do que realmente interessa. O que acontece é que estamos em meio a uma dramática crise, e crise é nada mais do que uma conjuntura de incertezas e dificuldades, um momento de decisão e transformação, portanto. Nesses momentos, precisamos despertar.
O meu amigo João Paulino, via e-mail do México, nos lembra que "a crise não é só por fora, ela está por dentro de nós". E cita Samael Aun Weor: "Se a sociedade é a soma dos indivíduos, e se os indivíduos são a soma de cada um, como somos em pessoa, seremos em grupo". E João Paulino conclui a ideia dizendo: "Daí precisamos urgentemente melhorar o nosso ser, o nível de ser para sermos melhores como seres humanos."
A jornalista Glória Maria nos deu uma lição interessante hoje, 08 de maio, numa entrevista em um programa da Rede Globo. É que ela adotou duas crianças num orfanato de Salvador no ano passado, então ela disse na entrevista que dedicou durante muitos anos 95% de sua vida ao trabalho, e que de agora em diante dedicaria 80% dela à sua vida, à criação das filhas. Vivemos, mas precisamos pensar, refletir na qualidade de nossas vidas. O meu colega de sala Sivanilton, durante a semana, me alertou sobre isso.
Vivemos num mundo em que as pessoas são especialistas em julgar, excluir e tachar os outros sem se questionarem antes sobre a vida que estão vivendo. Sobre isso, seguem as palavras do meu aluno do Curso de História da Faculdade Cenecista de Senhor do Bonfim, Carlos Roque: "O bom da vida é saber viver, aproveitando cada segundo da mesma. A felicidade quem faz somos nós, e as nossas escolhas refletem no que somos e no que nos tornaremos." Lindo isso. A vida é bela, nós que a tornamos feia, quando vivemos inconformados com o que temos, reclamando o tempo todo, sempre espiando no que o vizinho tem... Esquecemos que a vida em si já é uma dádiva! Com riqueza ou sem riqueza, num apartamento de luxo, de frente pro mar, ou numa favela/periferia, dá pra ser feliz! Como diz o Toquinho, naquela música de abertura da novela: "Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão".
Vivemos nos queixando. Eu, por exemplo, sou ótimo em me queixar! Queixo-me, vez em quando, por suar para fazer os meus textos, usando as palavras mais sábias e belas que conheço e, muitas vezes, achar que elas sequer são lidas por algumas poucas pessoas... Mas, por ser brasileiro, não desisto nunca! É que gosto mesmo das causas perdidas, por isso, escrevo. E há muito tempo mesmo que muitos estão dormindo, deitados eternamente em berço esplêndido. Essa nossa época, essa pós-modernidade em que vivemos, com suas ruínas e seu sangue nos enche sempre de muitas evidências. Tudo é cheio de som e de fúria! Como diz o meu amigo do Jornal Vírus, o Marcelino Pintho: "Esquecemos de jogar o lixo no lixo e ainda reclamamos que esse ano tem mais um surto de muriçoca na cidade. Esquecemos que o volume de nosso som está nas alturas, e que temos vizinhos. Esquecemos que Elvis é o Rei do Rock e que Gonzagão é o Rei do Baião. Esquecemos que ler é melhor do que assistir TV. Que Big Brother é pra idiotizar. Esquecemos que álcool e velocidade não combinam. Quando bebemos esquecemos quem somos pra nos tonar quem gostaríamos de ser e esquecemos no dia seguinte as besteiras que fizemos e falamos." Ah, vida! Por que nos queixamos tanto? A verdade é que vivemos em busca de respostas, sem saber que o mais importante são as perguntas! Nós temos uma infinidade de opções. O complicado é achar que qualquer tipo de sopro de vida dentro de um cerebelo seja uma verdadeira perda de tempo, uma grandessíssima chatice, não é mesmo? Poucos são sinceros e muitos se escondem por trás de pequenas e frágeis auto-afirmações. Isso me faz bocejar mais do que qualquer aula chata que eu já tenha frequentado!
Olha, não tenho a pretensão, com os meus textos, de ensinar o certo ou o errado para ninguem. Apenas escrevo, envio para alguns contatos e para alguns sites e blogs e, quem ler, então, deve tirar a moral da história e aquilo que seja positivo para a sua vida, para a sua própria caminhada. Se eu estiver contribuindo para o bem, para uma reflexão positiva, ótimo. Não fuja da dor! É o que nos diz o pessoal dos Titãs na música citada lá no início desse texto. É o que nos diz também o psiquiatra Augusto Cury: "Quem nega a dor ou dela foge a aumenta. Quem enfrenta suas perdas com medo coloca combustível em sua angústia." (CURY, 2009, p. 46)
Esse texto, como todos os outros que escrevi, é um instrumento de diálogo. Leia-o tentando entender as ideias contidas nele, comente-o, envie-o para os seus amigos e familiares. E para encerrar, como sempre faço, deixo-o com esse lindo poema do Thiago de Mello:

A aprendizagem amarga

Chega um dia em que o dia se termina
antes que a noite caia inteiramente.
Chega um dia em que a mão, já no caminho,
de repente se esquece do seu gesto.
Chega um dia em que a lenha já não chega
para acender o fogão da lareira.
Chega um dia em que o amor, que era infinito,
de repente se acaba, de repente.
Força é saber amar doce e constante
com o encanto de rosa alta na haste,
para que o amor ferido não se acabe
na eternidade amarga de um instante.

É isso aí, querido/a leitor/a. A vida vale mesmo a pena ser vivida. Viva-a intensamente!

REFERÊNCIAS

CD Titãs: A melhor banda de todos os tempos da última semana. AbrilMusic, 2001.

CURY, Augusto. O vendedor de sonhos e a revolução dos anônimos. ? São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2009.

(Márcio Melo, um cara que, apesar de tudo, adora a vida que leva, junto à sua família, aos seus dois cachorrinhos, ao seu periquito. Um cara que trabalha feito um Sísifo ? vide o Mito de Sísifo, no Google - , mas que é feliz carregando a sua pedra cotidiana)