Li e reli recentemente a poesia de Améli Dalomba. Não sou um crítico literário, nunca fui e não acredito que um dia o serei, mas decidi tecer algumas linhas à poesia desta valente mulher. O que sou é fruto de muitas leituras, e num exercício artístico, fui criando uma visão sobre a literatura e a "beleza da poesia", em particular, levando-me a crer que ela é ainda a linha nata das artes. Já li vários autores, dentre Jofre Rocha, Agostinho Neto, Arlindo Barbeitos, Rui Duarte, João Melo, Maria Dáskalo, Fernando Pessoa, Viriato da Cruz, Alda Lara, Fernando Lobo, João Tala, Adriano B. de Vasconcelos, Luís Mendonça, João Maiomona, Fragata de Morais e até mesmo Nguimba Ngola, só para citar alguns! Devo confessar que gostei de todos, mas o que mais marcou-me neles foi a centralização, a hesitação entre o realismo e uma poesia puramente triste, mas não pessimista, que gira em torno do amor e em busca da identidade e dimensão do Ser Humano, simbolizado pela imagem vergastado e pelo peso da escravatura e sofrimento, transcrito por esses autores.
A poesia de Améli Dalomba, apresenta-nos uma grande dimensão estética, onde vemos predominar o belo e o seu efeito avassalador:
Incógnitas
Um manto de pedra
Uns olhos vigiando
São uns ritos
São máscaras de cinza aterrando
Um fatasma entalado
No traço do tempo
Um sol sem raios
Um começo sem chuva
de planta sem semente
é a luta
é a luta
Temos aqui, portanto, um verdadeiro hino à coragem, retratando um tempo de sonhos desfeitos, de hetero-utópias constantes e da manifestação do desejo de liberdade. Amélia Dalomba, em minha opinião, é daquelas que não deve ser analisada numa perspectiva nua, crua e insípida, já que no mundo das ideias, a crítica entre o que é mau e o que é belo deve ser feita com base nos critérios científicos e artísticos, de forma honesta, com prova refutáveis ou irrefutáveis de livre juízo de valores. Nesta senda, concordon com aqueles que dizem que há fraca divulgação de muito dos nossos escritores. Acredito que seja necessário aprofundarmos a investigação sobre nós mesmos, para que os nossos poetas, escritores, pensadores sociais e outros, sejam mais lidos e conhecidos, e este, talvez seja o problema que temos: a universalização da nossa literatura. Pelo que, penso que a poesia de Améli Dalomba, é uma grande fonte inspiração e conhecimento para as futuras gerações.
Amélia Dalomba, nasceu em Cabinda e, tem artigos e poemas publicados em revistas, joranis e CD. Um dos temas que mais trata nos seus textos, é o papel e o lugar da mulher na literatura angolana. Dalomba é galardoada pela República de Cabo-Verde, com a Ordem do Vulcão (Medalha de Mérito do 1º Graú). Além disso, é membro da União dos Escritores Angolanos.