"Só mais um furo"

"Só mais um furo!", era o que dizia o jovem estudante, visinho meu do andar de cima. Era sua súplica por um furo à mais na parede de sua casa, fora do horário pré- estabelecido em assembléia pelos condôminos que, por sua vez, esclarecem: "Dás 18:00 às 06:00 não será permitido ruídos ou barulhos de qualquer natureza, que possam incomodar os outros moradores e, consequentemente, tumultuar a harmonia do conviver"

"Só mais um furo!" foi a frase que me pôs a pensar que, inclusive, sem se dar conta mais uma vez, em trocadilhos, o jovem me pedia para furar, segundo ele, pela última vez( naquele dia), a norma do condomínio.

Hoje, acho graça, cômico. Naquela ocasião, me indignou.

A síndica já alertou que existe uma nova lei que resguarda aos senhores estudantes o direito de escolherem onde querem morar, afinal, estudante é gente! Concordo!

Mas, então, o que faz com que adultos jovens, homens e mulheres, graduandos e pós-graduandos que, muitas vezes, se indignam contra atitudes discriminatórias, que batalham pelo direito á igualdade e o respeito, ajam de maneira tão desrespeitosa, como se, de antemão, esperassem da sociedade, da justiça, dos visinhos, um tratamento especial, maternal?

Estava diante de um homem pouco mais jovem que eu que, por minha vez, mãe de família que sou, havia trabalhado o dia inteiro e, de volta à minha casa, só esperava poder descansar.

Mas, ele é estudante tadinho. Jovenzinho que ainda precisa aprender sobre o respeito às normas, aos outros, sobre ser adulto. Mas, ele tem quase a minha idade (tenho 38) e, minha filha tem onze anos. Sou eu quem devo ensiná-lo?

"Só mais um furo!" Ah, mas é só mais um furinho... Na USP, só mais um baseadinho...

O que faz com que esse e outros muitos jovens estejam agindo assim perante a vida? O que eles estão aprendendo? Estão realmente aprendendo?

São os questionamentos que faço... E, pergunto: De quem é a responsabilidade?