SITUAÇÃO ATUAL DA AMAZONIA BRASILEIRA: NECESSIDADES E OPORTUNIDADES NOS CAMPOS SOCIOAMBIENTAL, ECONOMICO E POLÍTICO

Jesse Rodrigues[1]

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1 INTRODUÇÃO

Procuro trabalhar minhas análises com os métodos da economia política e sob o prisma da relação entre sociedade e meio ambiente. Navegando nas redes e observando os fluxos de informação, tento sempre formar mapas cognitivos sobre como os conflitos e decisões políticas coadunadas com as estratégias econômicas dos governos, das corporações empresariais, das instituições multilaterais e dos grupos populares produzem, indefinidamente, impactos sobre o meio ambiente e provocam reações no meio social. É com essas lentes que vejo uma realidade complexa repleta de limites e desafios para os programas de desenvolvimento econômico, emancipação ético-política, redistribuição da riqueza e bem-estar socioambiental.

Discuto esses temas tendo como referência determinados aspectos da relação sociedade e meio ambiente nos âmbitos rural e urbano da Amazônia. No primeiro caso, trabalho com o problema das ocupações desordenadas – invasões/ocupações - que têm se multiplicado nas periferias urbanas. No segundo, baseio-me nos problemas de ordem econômica e políticos enfrentados pelas populações tradicionais, indígenas e ribeirinhos frentes as situações criadas pelos projetos de desenvolvimento econômico que avançam sobre a região. Assim, procuro estabelecer linhas de investigação que conduzam às hipóteses sobre as causas dos principais problemas socioambientais e indiquem medidas interventivas coerentes com a natureza desses problemas.

Os problemas socioambientais em curso nos meios rural e urbano devem ser abordados sob uma ótica complexa e sistêmica. Complexa porque suas causas e efeitos interagem modificando, continuamente, as possibilidades de intervenção e, simultaneamente, preservando as condições essenciais para a perpetuação dos modos de exploração do trabalho, de apropriação das riquezas naturais, de acumulação e concentração da riqueza econômica, e, portanto, sustentando a estratificação social vigente. Sistêmica porque não se pode pensar o problema dos estratos mais baixos das populações rurais sem considerar a forma como se organizam política e economicamente as populações dos centros urbanos. Somente com uma visão dessa totalidade podem ser investigadas, de modo responsável, as formas de trabalho excludentes e a precariedade da organização política e social no meio rural e seus reflexos nos problemas urbanos.

No caso amazônico, esses princípios metodológicos nos levam a ver que muitos problemas urbanos relativos à população, às ocupações desordenadas dos territórios e seus impactos decorrem, em grande parte, dos desequilíbrios econômicos e heranças sociais inerentes ao meio rural. Por outro lado, esses problemas têm causas no modo como são organizadas as economias urbanas, concentrando as atividades produtivas e a riqueza nas cidades em detrimento de programas integrados de desenvolvimento socioeconômico das populações rurais que assegurem a sua permanência no campo. Logo, a carência de investimentos em busca de soluções para os problemas mais críticos, combinados com a omissão do Poder Público, ocasionam a disseminação da pobreza no meio rural e a migração para os centros urbanos que não estão estruturados para acomodar a população migrante e, então, tem-se o agravamento dos problemas típicos das cidades – violência, favelização, narcotráfico, prostituição e outros.

É assim que os problemas encadeiam-se, constituindo uma teia sobre a qual as intervenções pontuais são ineficazes quanto aos objetivos e ineficientes no uso dos recursos escassos. Uma evidência é o inchaço das áreas urbanas provocadas pela intensa migração do meio rural para o urbano combinada pela inoperância do poder público quanto ao controle fundiário e à efetivação dos Planos Diretores previstos na legislação federal. Que hipóteses se podem deduzir dessas evidências? É possível, entre outras conjecturas, que a sustentação dessa cadeia caótica seja essencial para as estratégias políticas das oligarquias políticas incrustadas no Poder Público estadual e municipal.

Ainda, pode ser que tal situação seja indispensável para impedir o amadurecimento de organizações políticas populares locais autônomas, o que deixaria o caminho livre de resistências para o avanço dos consórcios econômicos, das forças armadas policiais, da cooperação internacional e das organizações não-governamentais, todos sedentos de demarcar suas áreas de influência e obter o controle sobre as populações tradicionais e excluídas.

Discutamos mais afundo alguns desses aspectos...