Universidade Potiguar – UnP

Curso de Pós-Graduação em Docência do Ensino Superior

Discentes: Helisama Andreza dos Santos e Haspazya Beatriz Varela Ribeiro de Arujo

Sistema de Mercado: A Contradição e Alienação do Trabalho na Visão de Karl Marx e as Apropriações da Tradição Marxista no Serviço Social

Natal, julho de 2009.

A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas. Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de qualquer tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a idéia, sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Neste contexto, a proposta de ação dialética do Serviço Social esta fundamentada na práxis, na autonomia e na consciência de classe. A práxis é entendida como totalidade da pratica social desenvolvida pelos homens na construção da totalidade e de si mesmos. Essa participação se dá dentro de uma formação social estabelecendo o que se chama de formação classista que só se consolida a medida que se desenvolve a consciência de classe. A consciência humana tem origem na realização da atividade humana, entretanto, o homem pode desenvolver uma atividade consciente, mas determinada pelas condições alienadas. O processo de trabalho como atividade lucrativa deixou de ser um fator de manifestação do “ser do homem” para ser um fator de alienação, na medida em que o homem não mais reconhece no objeto que ele produziu a manifestação de sua essência. Daí a necessidade de romper com a alienação da classe hegemônica e construir uma ideologia autônoma, ou seja, estar sempre buscando autonomia. Desenvolvendo a consciência de classe modo Assistente Social estará contribuindo para vencer a alienação, para tanto há que está comprometido com os setores populares.

Introdução

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883)foi um pensador e revolucionário alemão fundador da doutrina comunista moderna, considerado um dos iniciantes da Sociologia no mundo, atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. O pensamento de Marx influencia várias áreas, tais como Filosofia, História, Sociologia, Ciência Política, Antropologia, Psicologia, Economia, Comunicação, Arquitetura e outras. Destacava-se por idéias radicais como unir a classe trabalhadora para "derrubar" os capitalistas. (...) Tudo o que é sólido se desmancha no ar. (Karl Marx, O Capital, 1894.)

A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas. Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas dimensões são abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma totalidade complexa.

O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de qualquer tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a idéia, sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Portanto, não é possível entender os conceitos marxianos como forças produtivas, capital, entre outros, sem levar em conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real, tendo como pressuposto que o real é movimento.

Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundante da humanidade. E o trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o homem um ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é, suas relações de produção e suas relações sociais fundam todo processo de formação da humanidade. Esta compreensão e concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois é a partir dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como a alienação fundante das demais. E com esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo sua compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.

A grande obra de Marx é O Capital, aonde trata de fazer uma extensa análise da sociedade capitalista. É predominantemente um livro de Economia Política, mas não só. Nesta obra monumental, Marx discorre desde a economia, até a sociedade, cultura, política, filosofia. É uma obra analítica, sintética, crítica, descritiva, científica, filosófica, etc. Uma obra de difícil leitura, ainda que suas categorias não tenha a ambiguidade especulativa própria da obra de Hegel, no entanto, uma linguagem pouco atraente e nem um pouco fácil. O Capital nao é apenas uma grande obra por ser a obra que Marx se dedicou com mais profundidade e extensão. Dentro da estrutura do pensamento de Marx, só uma obra como O Capital é o principal conhecimento, tanto para a humanidade em geral, quanto para o proletariado em particular, já que através de uma análise radical da realidade que está submetido, só assim poderá se desviar da ideologia dominante ("a ideologia dominante" é sempre da "classe dominante"), como poderá obter uma base concreta para sua luta política. Sobre o caráter da abordagem econômica das formações societárias humanas, afirmou A. de Walhens: "O marxismo é um esforço para ler, por trás da pseudo-imediaticidade do mundo econômico reificado as relações inter-humanas que o edificaram e se dissumularam por trás de sua obra." Cabe lembrar que O Capital é uma obra incompleta, tendo sido publicado apenas o primeiro volume com Marx vivo. Os demais volumes foram organizados por Engels e publicados posteriormente.

As Relações entre o Capital e Trabalho

A economia política ensina-nos até agora que o trabalho é a fonte de toda a riqueza e a medida de todos os valores, de tal jeito que os objetos cuja produção custou o mesmo tempo de trabalho têm também o mesmo valor e devem também ser necessariamente trocados uns pelos outros em vista que somente valores equivalentes podem ser trocados entre si.

Mas ensina, ao mesmo tempo, que existe uma espécie de trabalho acumulado a que se chama capital; que este capital, graças às possibilidades que contém, multiplica por cem e por mil a produtividade do trabalho vivo e reivindica por isso, certa compensação a que se chama lucro ou benefício.

Os lucros do trabalho morto, acumulado, formam uma massa cada vez maior, os capitais dos capitalistas tomam proporções cada vez mais colossais, enquanto o salário do trabalho vivo torna-se cada vez menor, e a massa dos operários que vive unicamente do salário, é cada vez maior e mais pobre. Como resolver esta contradição?

Como pode ter um lucro o capitalista se o obreiro recebe o valor total do trabalho que amplia ao produto? E, no entanto, visto que apenas valores iguais são trocáveis, tem de ser assim.

Quanto mais o operário produz, menos ele custa para a economia e conseqüentemente mais ele se desvaloriza, chegando ao ponto de se tornar uma mercadoria do capitalismo; este visaria somente o lucro e geraria a "sede de riquezas e a guerra entre cobiças, a concorrência". Quanto mais o operário produzir, mais ele esta valorizando o mundo das coisas e desvalorizando o mundo dos homens, tornando-se tanto mais pobre quanto mais riquezas ele produzir. O operário recebe primeiro o trabalho, e depois o meio de subsistência, sendo em primeiro lugar operário e depois pessoa física, tornando-o assim escravo de seu próprio trabalho.

"uma parte da sociedade possuir o monopólio dos meios de produção , o trabalhador, livre ou não, é forçado a acrescentar ao tempo de trabalho necessário para a sua própria subsistência um mais-valor destinado a sustentar o possuidor dos meios de produção". (Marx, O Capital, Livro I).

O capitalista tem interesse em fazer a jornada de trabalho tão prolongada quanto possível. Quanto mais ampla for, mais "mais-valor" terá criado. O operário tem a verdadeira sensação de que cada hora de trabalho feita para além da restituição do seu salário lhe é roubada; é no seu próprio corpo que sente o que significa trabalhar muito tempo seguido. O capitalista briga pelo seu lucro, o obreiro pela sua saúde, por algumas horas de repouso quotidiano, para poder fornecer ainda uma outra atividade humana, fora das horas de trabalho, do sono e da comida.

O trabalho transforma o operário numa máquina que não desempenha uma atividade física e intelectual livre, mas mortifica seu corpo e arruína seu espírito. O caráter hostil do trabalho manifesta-se nitidamente no fato de que senão houver coação física ou qualquer outra, o operário foge do trabalho como uma peste. O homem não se sente mais livremente ativo senão em suas funções animais, transformando-se bestial. Sua vida perde o sentido, pois o homem passa a fazer de sua própria vida simplesmente um meio de subsistência, invertendo com isso a relação que teria com o trabalho, desta forma o trabalho alienado termina por alienar do homem seu próprio gênero. Marx chega à seguinte conclusão: se o produto do trabalho é alienado do trabalhador, por ser algo exterior a ele, a ponto de não lhe pertencer, deve ser então propriedade de outro, que não é evidentemente quem o produziu, nem os deuses e muito menos a natureza, como pensavam os antigos, então logicamente deve ser outro homem que tomou dele aquilo que deveria lhe pertencer. Com isto estão fundadas as bases para a exploração de um homem por outro.

Apropriações da Tradição Marxista no Serviço Social

Na crise do Serviço Social Latino-Americano, iniciou o processo de erosão da profissão, nos anos 1960. A crise encorpava os movimentos libertários da época, pondo em xeque a burguesia, o Estado e as instituições públicas. Nesse caso se os movimentos questionavam o capitalismo, o Estado e as instituições públicas criticavam também o serviço social, por ter sido criado pela burguesia e ser parte compositora destas instituições. O movimento de reconceituação não se limitava apenas a questionar a prática, mas afirmava que ela precisava analisar os vínculos da profissão com a ordem imperialista.

O processo de renovação do Serviço Social brasileiro foi uma resposta local a crise do Serviço Social Internacional. Ele foi divido em três perspectivas, as quais são discutidas por José Paulo Netto. A primeira chamada de Perspectiva da Modernização Conservadora buscava romper com formas tradicionais da profissão, mas foi um ajuste ao modelo de governo militar, o Serviço Social se modernizou, para atender ao grande capital. As idéias emergiram no I seminário Regional Latino Americano em Porto Alegre (1965), mas a idéia foi proposta no seminário de Araxá (1967), tinha como principal representante teórico José Lucena Dantas, com a fundamentação funcionalista.

A segunda perspectiva reatualização do conservadorismo deu um novo formato ao conservadorismo da profissão, almejava apenas um novo jeito do fazer profissional, seu marco foi seminário de Sumaré - RJ (1978) e do Alto da Boa Vista-RJ (1984), foi expressa pela tese de livre docência Anna Augusta de Almeida, apresentava suporte metodológico na fenomenologia. E a terceira perspectiva de intenção de ruptura foi o momento onde se buscou romper com a prática tradicional, discutiu se a relação da profissão com a sociedade. Os profissionais que haviam optado por trabalhar ao lado dos explorados conceberam essas ideais, que se iniciaram na escola de MG de 1972 a 1975, através de Leila Pinheiro e Ana Quiroga que elaboraram o método "BH", que era uma critica ao Serviço Social tradicional, fundamentadas na Dialética de Marx.

Contudo, a proposta de ação dialética do serviço social esta fundamentada na práxis, na autonomia e na consciência de classe. A práxis é entendida como totalidade da pratica social desenvolvida pelos homens na construção da totalidade e de si mesmos. Essa participação se dá dentro de uma formação social estabelecendo o que se chama de formação classista que só se consolida a medida que se desenvolve a consciência de classe. A consciência humana tem origem na realização da atividade humana, entretanto, o homem pode desenvolver uma atividade consciente, mas determinada pelas condições alienadas.

O processo de trabalho como atividade lucrativa deixou de ser um fator de manifestação do "ser do homem" para ser um fator de alienação, na medida em que o homem não mais reconhece no objeto que ele produziu a manifestação de sua essência. Daí a necessidade de romper com a alienação da classe hegemônica e construir uma ideologia autônoma, ou seja, estar sempre buscando autonomia.

Desenvolvendo a consciência de classe o Assistente Social estará contribuindo para vencer a alienação, para tanto há que está comprometido com os setores populares, desenvolvendo ações, através das quais esses setores possam desenvolver a percepção critica da realidade e refletir conjuntamente enquanto atuam sobre a própria percepção que estão tendo dessa realidade.

Na medida em que o assistente social apreende o caráter político da prática e assuem um compromisso efetivo com os interesses dos grupos sociais com os quais trabalha, a relação que matem com a clientela tende a assumir padrões democráticos, participativos que possibilitam o fortalecimento do poder de pressão e reivindicação da clientela, bem como sua organização.

Referências:

Contradição entre o Fundamento da Produção Burguesa (medida-valor) e Seu Próprio Desenvolvimento.Disponível em:<http://antivalor.vilabol.uol.com.br/textos/marx/tx_marx_01.htm >;

O Trabalho Alienado. Disponível em: < http://pt.shvoong.com/books/489088-trabalho-alienado/ >

Sistema Mercado Pela Contradição – Karl Marx. Disponível em: <http://aletheiagorah.blogspot.com/2008/10/sistema-marcado-pela-contradio-karl.html >;Sociologia.Disponível em: < http://www.ebah.com.br/sociologia-doc-a15921.html >

Trabalho imaterial, forças produtivas e transição nos Grundrisse de Karl Marx. Disponível em: < http://www.nodo50.org/cubasigloXXI/congreso08/conf4_amorim.pdf

MARX, Karl. O Capital: crítica a economia política. Vol. I, 11ª ed. São Paulo: Bertrand Brasil – Difel, 1987.

POCHMANN, Marcio. Rumos da política do trabalho, In políticas publicas de trabalho e renda no Brasil contemporâneo. São Paulo: Cortez, 2006.

PONTES R.N. Medição e Serviço Social. São Paulo: Cortez.1995e sociedade, Nº 87, 2006.

SOUZA, A. T. A crise contemporânea e a nova ordem mundial – as forças produtivas e atuais classes sociais na atual ordem Hegemônica. In universidade e sociedade N.6, 1994.