Pr. Roberto dos Reis, M. Th

Talvez você já tenha lido ou ouvido alguém se referir à frase que, propositalmente, titula o presente manifesto. Resultado da reflexão, e mais que isso, do desabafo de um dos maiores gênios que já nasceram em solo pátrio, Sinto Vergonha de Mim retrata a profunda indignação que Ruy Barbosa, o águia de Haia, sentia, lá pelo final do século XIX, em relação àqueles que, pela vontade imposta pelo estilo de governo na época, dirigiam a nação brasileira. Sinto Vergonha de Mim, mais que um desabafo, é um grito pela ética, um chamado claro à transparência, à honestidade, à sensatez, às virtudes, ao amor e respeito pelo próximo.

O que me une a Ruy Barbosa é a indignação e a aparente incapacidade de poder reverter o quadro e mudar a história; é o desespero em ver os princípios éticos e morais, tão caros à humanidade e gritantes nas Sagradas Escrituras, resvalando pelo ralo da consciência, tornando-se nada mais que meros ideais, elucubrações de mentes arcaicas, habitantes de um mundo fictício e companheiros de uma odisseia utópica.

À semelhança de Ruy Barbosa, estou indignado, cansado, sentindo-me impotente... Envergonhado de mim mesmo. Sinto vergonha de mim, porque pertenço a um grupo que se diz arauto das verdades do Evangelho, representantes de Cristo na Terra, ministros dos assuntos celestes, porta-vozes das inefáveis dádivas da Graça. Envergonho-me, não por ter sido escolhido por Cristo; não por sofrer as agruras e os infortúnios que tal escolha proporciona, pois estou ciente de que nada há de se comparar ao peso de glória em Cristo; não me envergonho da chamada a mim feita pelo próprio Senhor e da vocação que um dia colocou em meu coração; não me envergonho dos espinhos espalhados pelo caminho daqueles que levam as Boas Novas chorando e gemendo; não me envergonho do vitupério e do escândalo da cruz, dos açoites, das calúnias infundadas, das traições sutilmente orquestradas por aqueles que desejam meu fracasso e o fim do meu Ministério... Tudo suporto pela causa de Cristo... Tudo aceito para satisfazer Àquele que me chamou para a guerra.
Entretanto, à semelhança de Ruy Barbosa, tenho vergonha de mim pela passividade em ver e ouvir, sem despejar meu verbo, a tantos discursos em prol de uma unidade eclesiástica que parece não existir; a tantos abusos de autoridade e insultos à inteligência; a tantos jargões para justificar ou florear atos criminosos; a tanta relutância em deixar para trás a buscar pelo poder, a hegemonia denominacional, a representatividade político-religiosa fasta para os poucos e nefasta para os muitos.
À semelhança de Ruy Barbosa, tenho vergonha de mim, pois faço parte de um grupo que desaprendeu a linguagem do amor; que esqueceu o sentido de ser Igreja; que perdeu o bom perfume de Cristo pelos caminhos e descaminhos do poder a qualquer custo; do gasto milionário em corridas eleitoreiras, demonstração clara da perda de trajeto e da inversão dos valores... Sinto vergonha de mim, pois faço parte de um grupo que não reconheço, enveredando por caminhos que me recuso a percorrer... Tenho vergonha da minha impotência... Tenho vergonha da minha falta de garra... Tenho vergonha das minhas desilusões... Tenho vergonha do meu cansaço.

À semelhança de Ruy Barbosa, não tenho para onde ir, pois amo este meu "chão"; vibro com a história sofrida e exemplar de seus missionários; com o suor e o sangue derramados; com as intempéries e vicissitudes da vida sofrida aqui neste quase um século de labor; vibro ao ouvir seus hinos, já agora esquecidos por aqueles que desejam a fugacidade dos holofotes e a instabilidade do poder; vibro com o legado de seus baluartes e patriarcas, homens e mulheres marcados pela simplicidade cristã, obreiros dos quais o mundo não era digno.
À semelhança de Ruy Barbosa e ao lado de tanta vergonha, tenho pena de ti, igreja pentecostal brasileira! De tanto ver triunfar as nulidades e o egoísmo; de tanto ver prosperar a desonra e a falta de espiritualidade; de tanto ver crescer as injustiças e apoucar a fraternidade e a humanidade; de tanto ver agigantarem-se os poderes e os privilégios nas mãos de poucos e a desesperança e a solidão no coração de muitos, os ministros e obreiros dessa geração chegam a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de pertencer a ti.