AS VARIÁVEIS INTERVENIENTES DA SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE ENSINO

Rosilda Shockness
Ivan Augusto Daguani Guarache



RESUMO. Este trabalho tratar-se de um tema que vem sendo discutido nos meios de comunicação devido às necessidades de tratamentos psicológicos do professor tendo vista que essa classe trabalhadora lida diariamente com fatores geradores de estresse. A pesquisa procura descrever as características do estresse que ocasionam a Síndrome de Burnout em profissionais de ensino da rede pública estadual das escolas da área central da cidade de Porto Velho. A metodologia utilizada para realização do trabalho foi observação direta participativa aplicação de questionário entrevista com perguntas fechadas e abertas. Os resultados finais da pesquisa nos mostraram as variáveis intervenientes que ocasionam a Síndrome tanto as que se referem aos aspectos sociais quanto aos psicofísicos.

Palavra - chave: Trabalho docente. Síndrome de Burnout. Sintomas.

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa buscou descrever as características de estresse que ocasiona a Síndrome de Burnout em professores da rede pública na área central de Porto Velho - Ro. Procurou responder o problema levantado em relação à saúde psicofísico, apresentado por professores do ensino fundamental fazendo relação com a Síndrome de Burnout.
A escolha do objeto de estudo e do público-alvo levou em consideração a grande importância que se tem dado à validade social na elaboração de projetos científicos e o número excessivo de professores desviados de função devido à impossibilidade de exercer suas funções, em sala de aula, os chamados "readaptados".
A Síndrome de Burnout é definida como uma das consequências mais marcantes do estresse profissional, e vem se caracterizando pela exaustão emocional, uma análise negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a tudo a sua volta. Na maioria das vezes seus principais sintomas são confundidos com a depressão.
A Sindrome em professores é conhecida como um esgotamento físico e emocional que começa com sentimento de desconforto e gradativamente vai aumentando até a diminuição gradual da vontade de lecionar. Perde motivação, alegria, satisfação, interesse, vontade de sonhar, falta de concentração.
Inicialmente foi feita pesquisa bibliográfica a fim de esclarecer cientificamente o conjunto das variáveis que influenciam na manifestação da Síndrome Burnout, dando ênfase as principais teorias. Na segunda parte falaremos dos procedimentos metodológicos e faremos as análises dos dados coletados e na terceira parte faremos considerações finais do trabalho de pesquisa.

2 SÍNDROME DE BURNOUT :UMA VISÃO PANORÂMICA
Benevides (2006) em seu artigo Burnout na clínica psiquiátrica diz que o Ministério da Saúde, (Portaria nº 1339/1999) vem integrando a Lista de Doenças, um problema que tem levado aos serviços de saúde, a síndrome do esgotamento Profissionais e Relacionadas ao Trabalho (Está classificada sob o código Z73.0 (Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão - CID-10).
O nome Síndrome de Burnout de acordo com Guimarães (2004) deu-se na década de setenta nos Estados Unidos por Freudenberger em 1974, quando percebeu que vários voluntários que exerciam funções naquele local de trabalho, apresentavam um processo gradual de desgaste do humor. Esse processo muitas vezes durava em torno de um ano e era acompanhado de sintomas físicos e psiquiátricos. Em seguida a psicóloga Social Christina Maslach estudou a forma de como as pessoas enfrentavam a estimulação emocional em seu trabalho, a mesma idéia de Freudenberger.
Para Guimarães (2004) a Sindrome de Burnout se desenvolveu em seu conceito através de duas fases na evolução histórica, a primeira foi a pioneira que tinha como foco a descrição clínica da doença e a segunda foi a fase empirica onde eram sistematizada as investigações a fim de assentar a descrição conceitual do fenômeno.
De acordo com Guimarães (2004) apud Cherniss na decada de 70 o conceito da Síndrome tomou outro rumo partindo da suposição da existência de uma tendência individual na sociedade moderna a incrementar a pressão e o estresse ocupacional, principalmente nos serviços sociais.
Na visão de Guimarães (2004) apud Maslach e Shaufeli as investigações sobre a Síndrome de Burnout se deram nos Estados Unidos, a partir daí o conceito passou a ser investigado no Canadá, Inglaterra, França, Itália, Espanha, Suécia e Polônia. E em cada país foi adotado e aplicado o instrumento criado nos Estados Unidos especialmente o Maslach Burnout Inventory de Maslach e Jackson.
Conforme Lipp apud Witter (2008), nas escolas os grandes personagens são os professores e os alunos, e esses atores são expostos a variáveis geradoras de estresse. Pensando neste contexto o estresse do professor deve ser pesquisado, embora muito falado na mídia ainda assim é pouco pesquisado e este estresse pode ser originado tanto fora como dentro da escola.
Jbeili (2008) diz que a Síndrome de Burnout é um fenômeno caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas de várias causas que pode ser de ordem psicológica ou de ordem física e, variavelmente, psicofísicos. Essa Síndrome se caracteriza pelo estresse crônico vivenciado por pessoas que lidam de forma intensa e constante com as dificuldades e problemas alheios, em várias situações de atendimento.
De acordo com Jbeili (2008) a Síndrome surge com o desânimo e a desmotivação com o trabalho e pode culminar em doenças psicossomáticas, levando o profissional a faltar freqüentemente ao serviço, bem como buscar o afastamento temporário das funções e até a aposentadoria, por invalidez.
Dórea (2007) em sua dissertação, diz que no âmbito do Brasil existem algumas autoras com grandes pesquisas sobre Síndrome de Burnout e cita a autora Benevides-Pereira, pertencente ao Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá/Paraná, que em um de seus artigos, faz um histórico do Burnout no Brasil. Relata que França (1997) foi o responsável pela primeira publicação sobre a síndrome. Ainda relata que os primeiros trabalhos são desde o início dos anos 1990, justificando, inclusive, a regulamentação da Síndrome de Burnout pela Previdência Social, sendo incluída entre os agentes patogênicos causadores de doenças profissionais.
De acordo com Carlotto (2005) a Síndrome de Burnout na educação é um fenômeno muito complexo e com dimensões variáveis que resulta do intercâmbio entre aspectos individuais e o ambiente de trabalho. Não apenas à sala de aula ou ao contexto institucional, mas todos os fatores envolvidos nesta relação, incluindo os fatores macrossociais como políticas educacionais e fatores sócio-históricos.
Para Lipp (2005) é no cérebro que acontece os alertas ocasionados pela comunicação do hipotálamo com a hipófise onde é enviada mensagem para as glândulas adrenais a produzirem adrenalina e cortisol por que estas substâncias são úteis para protegerem o organismo, em que a adrenalina fornece força para enfrentar o estressor que é a causa do estresse.
Muitas vezes de acordo com Lipp (2005) o corpo passa enviar mensagem de alerta, funcionando como alarme, porém muito freqüentemente a pessoa faz o contrário como se quisesse que o corpo calasse e continua sua jornada do mesmo jeito levando a possíveis estresses que tem suas fases.
De acordo com Lipp (2005) a reação do estresse é desenvolvida em quatro etapas ou fases, o individuo entra no processo de estresse pela fase de um alerta, sendo a fase boa do estresse, onde é produzida adrenalina dando energia e vigor, mas se o estressor permanecer ou surja mais alguma coisa a fim de desafiar, o individuo entra na segunda fase chamada de resistência, em que o sujeito resiste ao stress, nesta fase aparecem dois importantes sintomas a dificuldade com a memória e muito cansaço. Quando há muito esforço por parte do individuo para lidar com a situação, dá-se a saída do processo eliminando o estresse. E em não se conseguir resistir ou se adaptar, o organismo inicia um colapso gradual e entra na fase de quase-exaustão onde aparecem vários sintomas.
Sintomas da fase de quase-exaustão do estresse, segundo Lipp (2005)
Cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia, indiferença emocional, impotência sexual ou perda da vontade de fazer sexo, herpes simplex, corrimentos, infecções ginecológicas, aumento de prolactia, tumores, problemas de pele, queda de cabelo, gastrite ou úlcera, perda ou ganho de peso, desanimo, questionamento diante da vida, dúvidas, ansiedade, crises de pânico, pressão alta, alteração dos níveis de colesterol e triglicéridios, distúrbios de menstruação e queda na qualidade de vida. (p. 73)

Para Lipp (2005), a fase da exaustão é a mais perigosa, também chamada de patológica, que é manifestada quando não há medidas que atenue o estresse ou que possibilite a pessoa lidar melhor com os estressores levando assim o sujeito adoecer por completo, o stress prolongado afeta diretamente o sistema imunológico, reduzindo a resistência. Nesta fase o sujeito pode entrar em depressão, perder o gosto pela vida, não se concentrar, rir. Desta forma surge a necessidade urgente de ajuda do psicólogo, a fim de lidar com as causas e do médico para tratar a parte já adoentada. Um nível de stress elevado pode levar a Síndrome de Burnout.

2.1 AS MÚLTIPLAS FASES DA SÍNDROME DE BURNOUT
Reinhold (2008) no livro o Stress do Professor faz uma metáfora ao referir a Burnout em uma expressão, "consumir-se em chamas". Se referindo a uma pessoa que está esgotada, frustrada e que já alcançou seu topo do limite e não consegue prosseguir em sua caminhada, pois o seu desempenho físico e mental está comprometido, podendo inclusive espalhar a todas as áreas da vida do profissional.
"O Burnout é como uma "erosão" gradual, e freqüentemente imperceptível no início, de energia e disposição, como conseqüência de um stress: o burnout não ocorre de repente; é um processo cumulativo, começando com pequenos sinais de alerta, que, quando não percebidos, podem levar a uma sensação de quase terror" (REINHOLD, 2003, p. 65).

De acordo Reinhold (2008) podem ser observadas várias fases da Síndrome de Burnout. A primeira fase é o idealismo em que o entusiasmo e a energia são ilimitados, o profissional vê o seu trabalho preenchendo todas suas necessidades e a escola é tudo em sua vida. A segunda fase é o realismo em que "cai a ficha", passa perceber que suas expectativas iniciais foram irreais, o ensino não mais satisfaz suas expectativas, as recompensas, salário e o reconhecimento são poucos e conseqüentemente à desilusão surge.
Reinhold (2008) a estagnação e a frustração, "quase burnout", é a terceira fase, onde o entusiasmo e a energia inicial são literalmente transformados pela fadiga crônica e a irritabilidade com os colegas e com os alunos contribuem para sua mudança de comportamento, daí surgem os atrasos e faltas, utilizando a fuga que é um mecanismo de defesa. Com isto sua produtividade e qualidade do trabalho reduzem, e a frustração é estabelecida, e o professor inconscientemente desloca a culpa pelo insucesso a alunos, colegas e direção. A quarta fase é a apatia e burnout total, em que o professor começar ter sensação de desespero, fracasso, perde a auto-estima e autoconfiança, muitas vezes a depressão, solidão, pessimismo o fazem perder o sentido de vida. A vontade de abandonar sua profissão são características desta fase. A quinta e ultima fase, o "fenômeno de fênix", muito raro acontecer, por meio do qual o professor "ressurge das cinzas", ou seja, recupera-se e livra-se do burnout.
Para Jbeili (2008) os sinais e sintomas são divididos em quatro estágios e facilita o entendimento da evolução da doença:
1º estágio: ● A vontade em ir ao trabalho fica comprometida,
● Ausência crescente e gradual de ânimo ou prazer em relação às atividades laborais,
● Surgem dores genéricas e imprecisas nas costas e na região do pescoço e coluna,
● Em geral, o profissional não se sente bem, mas não sabe dizer exatamente o que possa ser.
2º estágio:
● As relações com parceiros e colegas de trabalho começa a ficar tensa, perdendo qualidade,
● Surgem pensamentos neuróticos de perseguição e boicote por parte do chefe ou colegas de trabalho, fazendo com que a pessoa pense em mudar de setor e até de emprego,
● As faltas começam a ficar freqüentes e as licenças médicas são recorrentes,
● Observa-se o absenteísmo, ou seja, a pessoa recusa ou resiste participar das decisões em equipe.

3º estágio
● As habilidades e capacidades ficam comprometidas,
● Os erros operacionais são mais freqüentes,
● Os lapsos de memória ficam mais freqüentes e a atenção fica dispersa ou difusa,
● Doenças psicossomáticas como alergia e picos de pressão arterial começam a surgir e a automedicação é observada,
● Inicia-se ou eleva-se a ingestão de bebidas alcoólicas como paliativo para amenizar a angústia e o desprazer vivencial,
● Despersonalização, ou seja, a pessoa fica indiferente em suas relações de trabalho culminando em cinismo e sarcasmo.
4º estágio:
● Observa-se alcoolismo,
● Uso recorrente de drogas lícitas e ilícitas,
● Enfatizam-se os pensamentos de auto-destruição e suicídio*,
● A prática laboral fica comprometida e o afastamento do trabalho é inevitável. (p. 6)
Jbeili (2008) ainda relata alguns sintomas que pode ser observados em pessoas que sofrem com esta síndrome:
Sintomas somáticos (físicos):
● Exaustão (esgotamento físico temporário);
● fadiga (capacidade física ou mental decrescente);
● dores de cabeça;
● dores generalizadas;
● transtornos no aparelho digestivo;
● alteração do sono;
● disfunções sexuais.
Sintomas psicológicos:
● Quadro depressivo;
● irritabilidade;
● ansiedade;
● inflexibilidade;
● perda de interesse;
●Sintomas comportamentais:
● Evita os alunos;
● evita fazer contato visual;
● faz uso de adjetivos depreciativos;
● dá explicações breves e superficiais aos alunos;
● transfere responsabilidades;
● faz contratransferência, ou seja, reage às provocações em papéis distintos do papel de educador;
● resiste a mudanças. Descrédito (sistema e pessoas). (p. 6, 7).
Carlotto em seu artigo Preditores da Síndrome de Burnout em professores (2005) cita Maslach, Schaufeli, e Leiter se referindo que a Síndrome de Burnout é um fenômeno psicossocial que aparece como uma resposta crônica aos estressores interpessoais ocorridos em seu ambiente de trabalho. A Síndrome de Burnout é constituída de três dimensões: Exaustão Emocional, Despersonalização e sentimento de Baixa Realização Profissional.
Ainda em artigo, Carlotto (2005) a Exaustão Emocional é caracterizada pela carência de energia, falta de entusiasmo e por um sentimento de esgotamento de suas forças. Já a Despersonalização faz com que o sujeito passe a tratar os alunos, colegas e o ambiente de trabalho como objetos. A Baixa Realização Profissional é caracterizada pela auto-analise negativa do individuo, sentindo-se infeliz e insatisfeito com seu desempenho profissional.
A Síndrome de Burnout tem atingido várias profissões, segundo Carlotto (2005) apud Maslach & Jackson, porém tem seu principal foco de estudo está especialmente vinculado a serviços de saúde e área de ensino por serem profissões que envolvem muito contato com pessoas.
Carlotto (2005) apud Guglielmi& Tatrow, quando ocorre em professores, este fenômeno afeta o ambiente educacional e com isso interfere no alcance dos objetivos pedagógicos, conduzindo os professores a um processo de alienação, cinismo, apatia, problemas de saúde e intenção de abandonar a profissão.
A síndrome de Burnout, de acordo com França (1997) é definida como uma das conseqüências muito marcantes do estresse profissional e caracteriza-se por uma exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação aos outros. Sinalizando que toda energia do sujeito foi consumida. O estresse ocorre quando o organismo vem responder com a mente, com o corpo, e com o coração às condições inadequadas de vida muito intensa.
De acordo com França (1997) os desafios sempre exigem certa adaptação, que reflete um grau maior ou menor de tensão. Porém, quando a tensão cresce mais que o suportável pode ficar negativo e prejudicar a pessoa. As conseqüências do estresse, porém, não se limitam ao indivíduo. O estressado exige dos demais que corram junto com ele. O excesso de tensão também pode atrapalhar a comunicação, quando as mensagens não são transmitidas integralmente

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa é classificada como estudo teórico-empírico sua finalidade é levantar as variáveis que intervém na Síndrome de Burnout. O objetivo central desta pesquisa foi avaliar a Síndrome de Burnout em uma amostra de professores das escolas da área central da cidade de Porto Velho - Ro. Esta amostra foi extraída de um universo de 8 escolas e 01 creche. Participaram da pesquisa 4 escolas, um número significativo para a pesquisa.
Em Porto Velho, as escolas públicas estaduais são subdivididas por pólos num total de 12 pólos. Os pólos abrangem escolas do mesmo bairro. A pesquisa foi feita em um pólo localizado na área central de Porto Velho que compreende 9 escolas do ensino fundamental e médio.
A pesquisa de campo foi realizada em 4 escolas do referido pólo, com um total de 47 professores nesta área escolar, que atendem o requisito para pesquisa, que limita a participação de professores emergenciais. O estudo visou conhecer através do questionário próprio para Burnout as principais características dos professores envolvidos na pesquisa, bem como verificar seus níveis de estresse e como se manifesta a Síndrome Burnout. Foram envolvidos 25 professores distribuídos com no mínimo cinco a mais de dez de exercício ao magistério.
Para levantamento das variáveis demográficas, profissionais e comportamentais foi utilizado um questionário elaborado especificamente para o estudo visando atender seus objetivos, tendo como base o referencial teórico sobre a Síndrome de Burnout em professores.
A fim de avaliar a Síndrome de Burnout foi utilizado o MBI ? Maslach Burnout Inventory ? forma ED - professores, que apresenta tradução para a língua portuguesa validada por Benevides-Pereira (2001). O inventário é auto-aplicado e totaliza 22 itens. Em sua versão americana, a freqüência das respostas é avaliada através de uma escala de pontuação que varia de 1 a 7, porém para este estudo foi utilizada uma escala de 0 a 6. O inventário avalia como o trabalhador vivencia seu trabalho, de acordo com três dimensões: Exaustão Emocional (9 itens), Desenvolvimento Pessoal (8 itens) e Despersonalização (5 itens).

4 AMOSTRA E ANÁLISE DO CORPUS
Gráfico I: Aspecto Social: Gênero. Estado Civil. Número de Filhos. Faixa Etária



Fonte: Escolas Estaduais do pólo 1 de Porto Velho.

Observamos que o número maior da população pesquisada é feminino, pois durante o trabalho de campo foi observado que nas escolas as mulheres ocupam uma parcela maior em sala de aula. O universo masculino aparece em quantidade inferior em sala de aula nas escolas onde o trabalho foi realizado.
Verificamos também que os professores quanto ao estado civil são em sua maioria casados o que justifica a preocupação deles em relação a questões familiares, muito embora sabemos que os demais não estão isentos de tais preocupações. O número de divorciados e solteiros constitui a menor parcela.
A maioria dos professores tem em média dois filhos e 40% dos entrevistados estão entre a faixa etária de 46-56 anos, porém a média de idade dos professores pesquisados é de 41 anos de idade.

Gráfico II: Aspecto Profissional: T. de Serviço. Remuneração. L. Médica. Readaptação


Fonte: Escolas Estaduais do pólo 1 do município de Porto Velho.
A distribuição do tempo de serviço dos professores está num intervalo de 05 a mais de 10 anos, sendo que a maioria dos que estão atuando em sala de aula tem mais de10 anos de magistério.
A maioria dos pesquisados informou que não precisaram de licença médica durante suas atividades pedagógicas no período trabalhado, mas uma pequena parcela da população pesquisada afastou-se por motivos de saúde. Segundo: Aguiar, 2008; "Muitos professores que adoecem por não suportar as contingências do cotidiano escolar relatam são vítimas de preconceito por parte de seus colegas de trabalho, ao serem acusados de preguiçosos ou criadores de caso, para não trabalhar."
Quanto ao salário a maioria dos professores considera seus vencimentos insuficientes para seu sustento, precisando de outras atividades laborais para complementar sua renda. Em média um professor com nível superior recebe de dois a quatro salários mínimos
Os readaptados já tiveram depressão e são os que precisaram de licença médica por problemas de saúde, esses estão na faixa de 6 a mais 10 anos de tempo serviço. Eles não conseguem o "fenômeno de fênix", de acordo com Reinhold (2008) muito raro acontecer, por meio do qual o professor "ressurge das cinzas", ou seja, recupera-se e livra-se do burnout.

Gráfico III: Aspecto Psicofísico: Depressão. Estresse. Cefaléia. Irritabilidade Fácil


Fonte: Escolas Estaduais do pólo 1 do município de Porto Velho.

A maioria dos professores pesquisados informou que não tiveram depressão durante o exercício do magistério, estes são os que não se afastaram do trabalho por problemas de saúde. Por outro Lado uma parte já passou ou estão no processo da depressão. Na visão de Vieira (2006) apud Freudenberger, o "estado depressivo" manifestado no burnout é temporário e direcionado para uma situação precisa na vida da pessoa, o trabalho, além disso, não se apresenta o sentimento de culpa, que é característica da depressão. Na opinião de Vieira (2006) citando Maslach, o burnout afetaria somente o campo profissional, enquanto que a depressão atingiria todas as áreas da vida do indivíduo. Quando entram em depressão eles entram na fase de Exaustão que é patológica, pois na visão de Lipp (2005) é a mais perigosa por que é o momento em que ocorre o desequilíbrio interior e as doenças graves pode surgir.
Porém, uma parte dos professores afirmou não ter tido estresse durante o tempo de serviço, por outro lado, os que têm mais de dez anos relataram que tiveram os sintomas de estresse e são eles que formam o menor percentual no gráfico.
Na visão de Lipp (2005) a reação do estresse é desenvolvida em quatro etapas ou fases, o individuo entra no processo de estresse pela fase do alerta, sendo a fase boa do estresse, onde é produzida adrenalina dando energia e vigor, mas se o estressor permanecer ou surja mais alguma coisa a fim de desafiar, o individuo entra na segunda fase chamada de resistência, em que o sujeito resiste o estresse, nesta fase aparecem dois importantes sintomas é a dificuldade com a memória e muito cansaço. Nacarato (2000) afirma que a organização do trabalho do docente, atualmente, possui muitas características que o expõem a fatores estressantes que, se perpetuar, pode levar à Síndrome de Burnout.
Quanto à cefaléia a maioria dos professores se queixou de tê-la pelo menos algumas vezes ao mês, e tem interferido no exercício da profissão. A cefaléia, segundo Jbeili (2008) é um sintoma somático do inicio do Burnout acompanhado de outros sintomas somático. Portanto é uma alerta sinalizada pelo organismo em que o estresse se aproxima segundo Lipp (2005)
Os professores afirmaram que manifestam irritabilidade fácil pelo menos uma vez por semana. Reinhold (2008), a estagnação e a frustração, "quase Burnout", é a terceira fase, onde o entusiasmo e a energia inicial são literalmente transformados pela fadiga crônica e a irritabilidade com os colegas e com os alunos contribuem para sua mudança de comportamento, daí surgem os atrasos e faltas, utilizando a fuga que é um mecanismo de defesa.
São nos pequenos detalhes que se estabelece uma doença quando não percebida.
Gráfico IV: Aspecto Psicofísico: Perda ou Excesso de Apetite. Dores nos Ombros ou Nuca. Perda de Senso de Humor

Fonte: Escolas Estaduais do pólo 1 do município de Porto Velho.
A maioria dos professores relatou que pelo menos uma vez por semana têm excesso ou perda do apetite. Também Jbeili (2008) diz que a perda ou excesso de apetite é um sintoma somático do inicio do Burnout, muito embora nem todos que passa por este processo são acometidos pela a doença. Somente um diagnóstico preciso de um Profissional poderá afirmar a doença
Os sintomas de dores nos ombros ou nuca manifestam-se nos professores pelo menos uma vez por semana. Um pequeno percentual não apresentam esses sintomas. Para Jbeili (2008) as dores generalizadas também são um sintoma somático do inicio do Burnout. Certamente ainda um começo da Síndrome que pode ser cuidada.
A perda de senso de humor é manifestada pelo menos uma vez por semana na maioria dos professores pesquisados, eles apresentaram um processo gradual de desgaste do humor, que segundo Guimarães é um dos sintomas que evidencia a síndrome de Burnout. De acordo com Esteve (1999) nas escolas, o professor atende as classes, faz trabalhos administrativos, planeja,procura reciclar-se, investigar e orientar cada aluno. Também tem função de organizar atividades extraescolares, participa de reuniões pedagógicas e de coordenação, de seminários, conselhos de classe, efetuar processos de recuperação, preenchimento de relatórios bimestrais e individuais relativos às dificuldades de aprendizagem de alunos e, muitas vezes, cuidar do patrimônio, material, recreios e locais de refeições são tantas funções que não sobram tempo a fim de cuidar de si.
Gráfico XVI: Aspecto Psicofísico: Desânimo. Insônia

Fonte: Escolas Estaduais do pólo 1 do município de Porto Velho.
Os professores apresentaram perda da vontade de realizar suas atividades diárias e laborais. Este sintoma deixa claro a manifestação da Síndrome de Burnout, mesmo sendo de forma moderada, porém, carece de preocupação.
A insônia é um sintoma que a maioria dos professores se queixaram durante as entrevistas.
OBS: Para Jbeili (2008) os sinais e sintomas são divididos em quatro estágios e facilita o entendimento da evolução da doença, e todos esses sintomas somados fazem parte das fases da Síndrome de Burnout.
Tabela 1: Escores para cada Sub-escala do Burnout

RANGE DOS ESCORES INDICANDO O NÍVEL DE BURNOUT POR SUBESCALA


BAIXO
MODERADO
ALTO
Exaustão Emocional 0-16 17-26
27+
Despersonalização 0-6 07-12
13+
Realização Pessoal 39+ 32-38 0-31
Fonte: Illinois Periodicals Online, 2002
Tabela 2. Matriz estrutural das dimensões de Burnout.

Itens Dimensões EE RP DE
1. Sinto-me emocionalmente esgotado com o meu trabalho; 3,04
2.Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho; 4.04
3. Sinto-me cansado quando me levanto pela manhã e preciso encarar outro dia de trabalho; 3,96
4.Sinto que estou trabalhando demais; 3.36
5. Sinto-me frustrado com meu trabalho; 2.40
6. Sinto-me como se estivesse no limite de minhas possibilidades 2.68
7. Sinto-me emocionalmente decepcionado com meu trabalho; 2,28
8. Sinto que trabalhar todo o dia com pessoas me cansa 2,56
9.Sinto que trabalhar em contato direto com as pessoas me estressa 2.24
10. Sinto que estou exercendo influência positiva na vida das pessoas, através de meu trabalho. 4,12
11. Creio que consigo muitas coisas valiosas nesse trabalho. 3.52
12. Sinto que posso criar, com facilidade, um clima agradável em meu trabalho. 3,48
13. No meu trabalho eu manejo com os problemas emocionais com muita calma 2,84
14. Sinto-me estimulado depois de haver trabalhado diretamente com quem tenho que atender 3,04
15. Sinto-me muito vigoroso no meu trabalho; 3,76
16. Sinto que trato com muita eficiência os problemas das pessoas as quais tenho que atender. 3,92
17. Sinto que posso entender facilmente as pessoas que tenho que atender. 3,72
18. Sinto que me tornei mais duro com as pessoas, desde que comecei este trabalho 2,08
19. Fico preocupado que este trabalho esteja me enrijecendo emocionalmente 2,08
20. Sinto que realmente não me importa o que ocorra com as pessoas as quais tenho que atender profissionalmente. 1,08
21. Sinto que estou tratando algumas pessoas com as quais me relaciono no meu trabalho como se fossem objetos impessoais. 0,28
22. Parece-me que os receptores do meu trabalho culpam-me por alguns de seus problemas 1,60
Autovalor 26,56 28,28 7,12






Média das respostas apresentadas no MBI dos professores


BAIXO
MODERADO
ALTO
Exaustão Emocional - 26,56
Despersonalização - 7,12

Realização Pessoal - 28,28
Fonte: Professores da área central de Porto Velho- Pólo
Gráfico XIV: Média das respostas apresentadas no MBI

Fonte: Escolas Estaduais do Pólo 1 do município de Porto Velho.
Analisando de acordo com a tabela: Escores para cada Sub-escala do Burnout os professores apresentam um nível de exaustão emocional moderada, Carlotto (2005) a Exaustão Emocional é caracterizada pela carência de energia, falta de entusiasmo e por um sentimento de esgotamento de suas forças. Outra dimensão apresentada é a Despersonalização que faz com que o sujeito passe a tratar os alunos, colegas e o ambiente de trabalho como objetos. A terceira dimensão: a Baixa Realização Profissional é caracterizada pela auto-análise negativa do indivíduo, sentindo-se infeliz e insatisfeito com seu desempenho profissional. Observamos que mesmo os professores estando no limite da Exaustão Emocional e entrando na Despersonalização, eles têm um alto grau de realização pessoal,conforme os dados coletados nos instrumentais da pesquisa,isso pode ser resultado de tempo de serviço em sala de aula que não ultrapassa os cinco anos de magistério,muita embora eles apresentem: a irritabilidade fácil elevada,insônia,perda do senso de humor e desinteresse pela vida laboral e pessoal que são característica da síndrome de Burnout.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A síndrome de Burnout em professores é pouco conhecida, os próprios professores não sabem o significado dessa doença, que pode ser tratada e amenizada mediante divulgações sobre a Síndrome e nas prevenções que se possa fazer.
O professor dentro da escola sofre várias pressões como: da própria profissão, alunos, supervisão, orientação, direção, pais de alunos, salários, carga horária e suas próprias emoções relacionadas com sua vida pessoal. O professor que necessita se ausentar da escola por atestado médico, ao retornar deve repor suas aulas a fim de cumprir sua carga horária, enquanto que para qualquer outro profissional, essa reposição não é necessária. O professor se sente incompreendido, discriminado, aumentando seu sofrimento psíquico.
Todas essas variáveis contribuem para uma sobrecarga na vida desse profissional que é sinalizada como fator estressante que contribui para instalação da Síndrome de Burnout. Esse profissional necessita de horas de lazer, bem como um espaço num setting terapêutico, onde possa externar suas angústias por meio da fala.
A pesquisa nos mostra que esses profissionais estudados, embora se enquadrem no estágio moderado da Síndrome de Burnout, apresentam um índice alto nas variáveis da Síndrome, como Irritabilidade fácil, cefaléia, Insônia, falta de iniciativa que são sinais e sintomas da Síndrome de Burnout.
Muitas vezes em função do Burnout, alguns professores não conseguem chegar à fase do "fenômeno fênix" deixam suas profissões por que não conseguem lidar com os fatores estressantes, alguns permanecem, mas contando os dias para as férias, final de semana, feriados ou então sua aposentadoria e outros não conseguem, mas dar aulas e são desviados de suas funções laborais.
Os problemas enfrentados em sala de aula pelo professor poderiam ser evitados, se políticas públicas fossem implantadas, para que prevenissem ou amenizassem o Burnout, pois o professor desempenha uma jornada exaustiva de trabalho com salas superlotadas; falta de recursos materiais, apoio técnico inadequado, além de pressões das relações com pais, alunos e equipe de trabalho, que compromete tanto o trabalho quanto sua saúde, por outro lado, é necessário que nos cursos de formação docente seja trabalhado no currículo os desafios que o professor enfrentará na escola. Ao término da pesquisa podemos concluir que a Síndrome de Burnout encontra-se de forma moderado no profissional com mais tempo de serviço em sala de aula, pois fatores sócio-econômico têm interferido na saúde do professor levando a manifestação de sintomas característico do Burnout.



THE MAIN ACTORS OF BURNOUT SYNDROME IN PROFESSIONAL EDUCATION


ABSTRACT. This work to treat of a theme that has been discussed in the communication means due to the the teacher's treatments psychologists' needs having seen that that working class worked daily with generating factors of stress. The research search to describe the characteristics of the stress that cause the Syndrome of Burnout in professionals of teaching of the state public net of the schools of the central area of the city of Porto Velho, the methodology used for accomplishment of the work was observation direct participative questionnaire application glimpsed with closed and open questions.

Words - words: work educational. Syndrome of Burnout. Symptoms.
























REFERÊNCIAS

AGUIAR, Rosana Márcia Rolando. Mal estar na educação: o sofrimento Psíquico de professores. Curitiba: Juruá, 2008.

BENEVIDES-Pereira, A. M. T. (2001). MBI - Maslach Burnout Inventory e suas adaptações para o Brasil. [Resumo]. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Resumos de comunicações científicas. XXXII Reunião Anual de Psicologia (p. 84-85). Rio de Janeiro.

CARLOTTO, Maria Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Artigo Síndrome de Burnout em professores. 2007 Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) ? Volume 11 Número 1 Janeiro/Junho 2007

CARLOTTO, M. S. (2005). Síndrome de Burnout em professores de instituições particulares de ensino. (Tese de doutorado, Universidade de Santiago de Compostela, 2005). D.L.C, 2002.

DÓREA, Marcos Pereira Tavares - Avaliação da Síndrome de Burnout no Corpo Discente de uma Faculdade Privada de Medicina da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Dissertação apresentada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação ? 2007.

FRANÇA, H.H. A síndrome de "Burnout". Revista Brasileira de Medicina,44, 197-199 (1987).

FRANÇA, Ana Cristina Limongi e Rodrigues, Avelino Luiz. Stress e Trabalho Guia básico com abordagem psicossomática Editora Atlas, São Paulo, 1997, 133 páginas

GUIMARÃES, Liliana A.M; Grubits, Sônia ? Saúde Mental e Trabalho, Vol. III, São Paulo , Casa do Psicólogo, 2004.

JBEILI, Chafic. Síndrome de Burnout: Identificação, tratamento e prevenção. Cartilha informativa de prevenção à Síndrome de burnout em professores. 2008.

LIPP, Marilda Emamanuel N. (org). O stress do Professor. 6ª Edição, Campinas, SP: Papirus, 2008.

LIPP, Marilda Emamanuel N. (org). Stress e o Turbilhão da Raiva. 1ª Edição, São Paulo, Casa do Psicólogo, 2005.

REINHOLD, H. O stress do professor, Marilda Novaes Lipp (org). 2ª ed. Campinas, SP: Papirus 2003. p 65 (2003).

VIEIRA, Isabela. Burnout na Clínica Psiquiátrica ? Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul et al. 2006.


6 OBRAS CONSULTADAS


FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas Técnicas para o Trabalho Científico: elaboração e formatação. Explicitação das normas da ABNT. 14ª ed. Porto Alegre: s.n., 2008.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1995.