Pesquisas realizadas na década de 1970 acerca do mal estar dos profissionais, elaboraram a partir do conceito de estresse, o conceito de esgotamento profissional – denominado por alguns autores: burnout. O burnout se define, portanto, como uma síndrome do esgotamento físico e emocional, “[...] compreendendo o desenvolvimento de imagens negativas sobre si mesmo, de atitudes desfavoráveis em relação ao trabalho e uma perda de interesse em relação aos clientes” (CHANLAT, 1990, p. 120).

                     Essa síndrome foi observada originalmente, em profissões predominantemente relacionadas a um contato interpessoal mais exigente, tais como médicos, psicanalistas, assistentes sociais, professores, etc. Mas hoje, as observações já se estendem a todos profissionais que interagem de forma ativa com pessoas, que cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas e obedecem a técnicas e métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas a avaliações.

                     O termo “Burnout é uma composição de burn = queima e out = exterior” (BALLONE, 2005). Sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço (até como mecanismo de defesa emocional).

                     Entre os fatores visivelmente associados ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout, está a pouca autonomia no desenvolvimento profissional, problemas de relacionamento com as chefias, problemas de relacionamento com os colegas ou clientes, conflito entre trabalho e família e sentimento de desqualificação.

                     Cabe a cada trabalhador ‘conviver’ e dar vazão a estas tensões. Contudo, condições adversas na organização, nas relações ou no ambiente de trabalho, dificultam essas alternativas. A falta de recursos internos ou externos de enfrentamento desses problemas, levam ao cansaço e desistência simbólica como saída. Ou seja, “o Burnout passa a ser uma boa alternativa, embora traga sofrimento e gere conseqüências para a vida profissional e pessoal” (VASQUES – MENEZES, In: CODO (Org.), 2004, p. 37).

                      Julgo que esta síndrome seja a conseqüência mais depressiva do estresse desencadeado pelo trabalho.

                      Os sintomas mais comuns dessa síndrome evidenciam-se inicialmente por exaustão emocional, onde a pessoa sente que não pode mais ‘dar nada’ de si mesma. Em seguida desenvolve sentimentos e atitudes muito negativas como por exemplo, certo cinismo na relação com as pessoas e aparente insensibilidade afetiva.

                    Por exemplo, um motorista profissional que entra em burnout compromete suas relações afetivas e sociais. E enquanto as empresas de ônibus implantam canais de comunicação com os clientes e se preocupam em atender com qualidade, apenas submetendo seus profissionais a extensas horas nos cursos de “Qualidade no Atendimento”, o motorista manifesta seu sofrimento, sabotando sua própria imagem perante toda uma sociedade que assiste ao comportamento agressivo de destrato a idosos, colegas de trabalho e demais usuários de seu serviço e do trânsito. Isso sem falar em outras conseqüências como: consumo aumentado de café, álcool, incapacidade de concentração, freqüentes conflitos, sentimento de onipotência, baixo rendimento pessoal e elevadas taxas de absenteísmo ocupacional.

                     Alguns estudiosos do assunto defendem a Síndrome de Burnout como sendo diferente do estresse. Alegam que esta doença envolve atitudes e condutas negativas com relação aos clientes (usuários de seu serviço), organização e trabalho, enquanto o estresse apareceria mais como um esgotamento pessoal com interferência na sua relação com o trabalho.

                    Stress não é uma doença, é uma reação do organismo a uma ou mais sobrecargas. Enquanto que a Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, definido por Herbert J. Freudenberger como "(…) um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional".

                   Os doze estágios de Burnout mais conhecidos e evidentes são: necessidade de autoafirmação; dedicação intensificada, normalmente ‘solitária’; descaso com as necessidades pessoais básicas que ao longo do tempo perdem o sentido prazeroso como: comer, dormir, sair com os amigos;  recalque de conflitos - o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas; reinterpretação dos valores - isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da auto-estima é o trabalho; negação de problemas - nessa fase os outros são completamente desvalorizados e tidos como incapazes. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes (conforme foi ressaltado); recolhimento; mudanças evidentes de comportamento; despersonalização; vazio interior; depressão - marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido; e, finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de emergência e a ajuda médica e psicológica é um caminho urgente.

 

REFERÊNCIAS:

CHANLAT, J.F. Teorias do estresse e psicopatologia do trabalho. Revista Prevenir. São Paulo, v. 21, n. 20, jan./ fev./ mar./ abr./ mai./ jun. 1990. Semestral.

CODO, Wanderley (Org.). O trabalho enlouquece?: um encontro entre a clínica e o trabalho. Petrópolis: Vozes, 2004. 238 p.

DEJOURS, C.. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1987. 182 p.

FERREIRA, M. C.; ASSMAR, E. M. L.. Cultura, satisfação e saúde nas organizações. In: TAMAYO, Álvaro (Org.). Cultura e saúde nas organizações. São Paulo: Artmed, 2004. p. 102- 125.

Stress and Burnout in Library Service. Caputo, Janette S.Phoenix, AZ: Oryx Press, 1991.

Staff burnout. Freudenberger, H. J. (1974). Journal of Social Issues, 30(1), 159-165.