SINAIS DOS TEMPOS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR Idanir Ecco Nas últimas décadas, o desenvolvimento exponencial tecnológico, de modo especial relacionado à informatização e ao acelerado crescimento dos meios de comunicação, colocou em xeque a organização escolar, pois as vias de acesso às informações a ao conhecimento não estão mais restritas ao ambiente escolar, como foi outrora. Ora, que elementos devem ser considerados a fim de prospectar uma educação/organização escolar para o nosso tempo? O modelo de escola, elitista e de massa, organizado em séries, por blocos de disciplinas, que produz passividade, repetição e ausência de crítica, isto é, seu tradicional sistema de organização didático-pedagógico-administrativo e arquitetônico, que conhecemos, é uma herança de tempos remotos. E esse protótipo de educandário não foi concebido por mero acaso. É resultado de um meticuloso planejamento orientado/sustentado por concepções epistemológicas-políticas-educacionais, que se constituíram como referência norteadora em todos os âmbitos da ação educativa escolar, sendo que sua influência, ainda é possível de ser notada, na contemporaneidade, no domínio dos liceus. Considerando que a atualidade caracteriza-se, também pela complexidade do social e do conhecimento, reiteramos com Rui Canário, em “A escola tem futuro? das promessas às incertezas”, que a educação escolar, hodiernamente pode configurar-se numa instituição obsoleta diante de, pelo menos, três situações principais: ao assumir educação e escola como sinônimos, resultado da progressiva escolarização, representa um sinal da desatualização em questão. No entanto, ambas diferenciam-se substancialmente. Conceber escolarização e educação como termos de sentido equivalente, além do equivoco, contribui para desvalorizar e subestimar as modalidades de educação não-formal, ligadas aos cotidianos de indivíduos que frequentam instituições escolares. Logo, insistir que educação e escolarização tem o mesmo sentido significa manter ligação umbilical com ideias do passado que não mais encontram ressonância com a atualidade; outro indicativo da obsolescência escolar relaciona-se à organização do sistema educacional pela lógica do ensinar. Aliás, se perguntássemos a sujeitos escolares qual é a função do professor, é bem provável que afirmariam que sua incumbência é ensinar. E isso é indicativo de que a educação escolar não valoriza, prioritariamente, o aprender e seus processos. Indubitavelmente, ser professor é cuidar da própria aprendizagem e da aprendizagem dos seus educandos; é sinal, também, de anacronismo da educação formal escolar o fato de prevalecerem, em educandários, métodos de trabalho didático-pedagógico que se configuram como um sistema de repetição de informações, ao invés de estimular a curiosidade, a descoberta, a pesquisa, a elaboração e a comunicação. É oportuno enfatizar que o processo de repetição da informação leva, inevitavelmente, à degradação da própria informação, pois a passagem da mesma de boca-a-boca dá origem a significativas distorções, tornando a mensagem inicial, praticamente, incompreensível no final, a exemplo do que ocorre com a brincadeira infantil denominada de Telefone-Sem-Fio, em que raramente a frase que foi repetida de ouvido-a-ouvido, ao final da fila, será a mesma dita pala primeira pessoa, participante do jogo. O conhecimento deve encontrar-se com a vida e, assim, superar a mera abordagem abstrata, forma didática-metodológica historicamente predominante no exercício da docência, legitimada pela crença na transmissão do conhecimento. Noutros termos, consiste em assumir a educação escolar como momento-espaço-processo do aprender, da produção do saber, em que as perguntas sejam privilegiadas em oposição às soluções/respostas. Há que se evoluir, portanto, de um sistema caracterizado pela repetição de informações para um sistema de produção do conhecimento, caracterizado pela prática educativa problematizadora, pois sem interrogação não há conhecimento. Isso exige dos educandos (e dos educadores) habilidades para análise, interpretação, sistematização e comunicação, dentre outras. A partir do exposto, um dos desafios, entre tantos, consiste em rever a escola enquanto somatório de salas de aula, assim como “romper” com grades curriculares e interligar saberes e vivências. Outrossim, se cotidianamente, é possível reconhecer indícios arcaicos na educação formal, é verdadeiro, também, que sinais de novos tempos, também, estão presentes. Basta aguçar o olhar e querer ver características de uma nova escola e/ou do futuro da educação institucionalizada presente nos contextos educacionais atuais, configurando-se em vivências contemporâneas. Considerem-se como exemplo de novos vestígios que indicam o renascer da instituição escolar necessária aos tempos atuais: o empenho em superar o entendimento que o trabalho docente consiste em transmitir conhecimento; o esforço teórico e prático na perspectiva da construção da autonomia dos educandos; a relativização do manual didático; a incorporação das novas tecnologias aos recursos didáticos; a superação da seriação dos estudos; a ampliação das possibilidades de acesso ao conhecimento culturalmente significativo; a ressignificação da própria escola como lugar de aprendizagem baseada na descoberta e dos alunos como produtores de saberes... Uma nova educação escolar é possível a partir da nossa capacidade de produzir um conhecimento novo em relação ao ser escola.