SIGNIFICAR AS FALAS DOS SUJEITOS É DAR VIDA AO SEU PENSAR

Muito tem se falado na qualidade de ensino, e a preocupação com a função social, da participação de todos os envolvidos com o educandário nos faz refletir sobre o compromisso da escola em formar alunos críticos.

Sabe-se que as escolas em geral, passam por conflitos, principalmente em se adequar o ensino às mudanças sociais que vem ocorrendo no meio político e econômico. E ainda qualificação do profissional da educação percebida como indispensável, para que a inclusão seja aceita naturalmente.

Sendo assim, com a indicação do movimento foi nos proposto a construção de um quadro síntese dos achados destes primeiros momentos de investigação, de forma que se visualize a totalidade dos elementos já encontrados nas idas à escola parceira. A partir dos seguintes temas abordados os mais frequentes foram: Avaliação, indisciplina, inclusão, e autonomia.

Os sujeitos envolvidos nesta síntese são:

Sujeito A- diretora

Sujeito B- Vice—diretora

Sujeito C- Supervisora

Sujeito D- Professora AEE

Sujeito E- professora do quinto ano

Sujeito F- Servente

Sujeito G-Mãe de aluno

Sujeito H- Aluno

Os sujeitos no quadro a seguir serão representados pelas respectivas letras, A-B-C-D_E_F_G-H ao representar suas falas de acordo com sua função e os temas abordados.

Sendo assim, a partir dos dados apresentados pelas pessoas que se dispuseram a contribuir até o momento com a pesquisa, dá-se a preparação do quadro abaixo:

 

TEMAS/

SUJEITOS

AVALIAÇÃO

INDISCIPLINA

INCLUSÃO

AUTONOMIA

A

“Cada professor faz de acordo com o que pensa ser a necessidade dos seus alunos”.

 “Falta responsabilidade dos pais, em educar, dar limites e isto se reflete aqui na escola”.

“Nossa escola recebe muito bem a todos os alunos sem distinção”.

“Se é para fazer alguma coisa na sala de aula, é claro que antes tenho saber, mas sempre sou a favor, desde que seja para qualificar o ensino”

B

“Temos por pareceres descritivos e por notas, nossa média é 50.Se o aluno alcançar passa.”

 

“Até que os pequenos são mais calmos, mas, à noite é de mais, temos viciados, e uns que vem para fazer bagunça mesmo e atrapalham os que querem realmente estudar.”

“Temos resistência por parte de alguns colegas professores, eles dizem que não estão prontos para terem alunos com deficiências.”

“Olha, eu acho, que temos sim, afinal cabe ao professor que está na sala com os alunos, oferecer pra eles a autonomia, participação, afinal como já havia te dito a escola tem função social.”

C

IDEM

IDEM

IDEM

“Tem algumas professora que pedem opiniões pros alunos do que querem para a próxima aula, assim eles escolhem como vai ser e ficam mais interessados.”

D

“Seria bom se o professor soubesse avaliar, de acordo com o ritmo, necessidade e avanço de cada aluno.”

“Acredito que falta interesse dos pais, uns pensam que a escola é um refúgio, e nessas horas fica aliviado por saber que o filho não está na rua e sim na escola.”

“Nossa a resistência é gritante, penso que a maioria dos professores não buscam informações e nem se capacitam, e daí empurram toda a responsabilidade para a AEE.”

“Na verdade não vejo muita, mas é por que estão acostumados a esperar, ao invés de criarem novas propostas, incentivando os alunos, e quando alguém faz logo é criticado.”

E

“Avalio nas provas e nos trabalhos, e também pelo comportamento.”

“Os alunos de hoje não tem respeito, e o professor não pode fazer nada! E quando tem reunião os pais desses que são indisciplinados nem comparecem”.

“É o governo cria as leis, e o professor que se vire! Imagina se eu mal consigo da conta da turma, como vou dar atenção diferenciada, e preparar aulas diferentes apenas para um aluno.”

“Entro na sala e fico esperando até ficarem em silêncio, imagina se eu for deixar eles darem palpites na aula, daí  a aula não rende mesmo.”

 

 

F

 

“ Sem respeito, e as menina também,mas tem os que obedecem, e tem uns guri que ouve mais que as guria”.

“São gente igual a nós, e merecem o mesmo que os outros, ninguém ta livre de precisar um dia”.

“ Eu mando pega o pano e o balde pra limpa o que sujou. Eu limpo tudo e daí vem os bagunceiro e sujam por gosto”.” Então tenho sim, voz pra cobra deles.”

G

“É ele estuda pras prova, as vez até consegue a média, ma ele perde ponto por causa que ele não sabe fica comportado” E Eu não sei mais o que faze com  esse guri.”

“Não sei por que esses guri são assim, eu já larguei de mão eu já disse pra profe dele. Mas ele anda com uma turma que só anda na rua, não querem estudar.”

 

“Como assim?Se eu participo? É quando tem que vota pra diretora eu venho. Agora de escolhe coisas pro colégio, material, ou do dinheiro que vem , Bhá isso eu não sei acho que é coisa só das profes, né?

H

“Estuda pra que? Se a professora diz que eu não consigo mesmo, e sempre passa um monte de coisa no quadro ou manda copiar do Xerox, eu acho chata essas aula.”Não consigo decora!”

“Eu nem faço nada, e ela já fica olhando pra mim, e fica falando sem para, e manda faze dever na biblioteca, ou na direção”.

Tem uns colega que são queridinhos, ficam quieto, e sabem as coisas, daí a professora já fica comparando a gente.”

 “Tive um colega de cadeira de roda, só que ele não conseguia copia do quadro e daí a gente ditava pra ele, mas a professora que nós tinha era boa.”Ela pedia pra nós ajuda ele.”

“ Nem pensa que um aluno pode muda alguma coisa na sala de aula, se agente arreda a cadera do lugar já reclamam, e nem podemos senta com us colega que a gente é amigo, ela já diz que vamo bagunça.”

 

 

 

SIGNIFICAR AS FALAS DOS SUJEITOS É DAR VIDA AO SEU PENSAR

 

 

No cotidiano escolar é frequente a carência das falas dos autores que marcam a história do ensino.

Em geral, se tornam expectadores em que o saber lhes é transferido, e na maioria das vezes não considera a realidade de seu conhecimento, de sua expectativa de vida.

Nos diálogos com os sujeitos da escola, ao analisar os processos de avaliações, a indisciplina, a inclusão e autonomia, vista por eles. Foi possível perceber na fala de alguns professores que a escola ainda se apega ao método tradicional de ensino, o aluno apenas participa quando o professor pede, e a autonomia do aluno fica comprometida pela liderança do professor em sala de aula:

”entro na sala e fico esperando até ficarem em silêncio, imagina se eu for deixar eles darem palpites na aula, daí a aula não rende mesmo”.” Temos pareceres descritivos e por notas, nossa média é 50, se o aluno alcançar passa”. “Estuda pra que? Se a professora diz que eu não consigo mesmo, e sempre passa um monte de coisa no quadro ou manda copiar do Xerox, eu acho chata essas aula.”Não consigo decora!”( SUJEITOS E,A e H

Nota-se nas falas uma predominância no desânimo, em que o ensino fica desacreditado, como se o aluno fosse avaliado apenas por um número e não pelos seus avanços reais. O diálogo para tentar entender onde está a dificuldade fica ilusório, e torna a afetividade entre aluno e professor artificial.

Surgindo então a indisciplina vista como vilã e causadora de todos os danos na aprendizagem:

 “Até que os pequenos são mais calmos, mas, à noite é de mais, temos viciados, e uns que vem para fazer bagunça mesmo e atrapalham os que querem realmente estudar.” “Acredito que falta interesse dos pais, uns pensam que a escola é um refúgio, e nessas horas fica aliviado por saber que o filho não está na rua e sim na escola.” “Os alunos de hoje não tem respeito, e o professor não pode fazer nada! E quando tem reunião os pais desses que são indisciplinados nem comparecem”. “Não sei por que esses guri são assim, eu já larguei de mão eu já disse pra profe dele. Mas ele anda com uma turma que só anda na rua, não querem estudar.” “Eu nem faço nada, e ela já fica olhando pra mim, e fica falando sem para, e manda faze dever na biblioteca, ou na direção”. Tem uns colega que são queridinhos, ficam quieto, e sabem as coisas, daí a professora já fica comparando a gente.”( SUJEITOS B,D,G e H)

Mas será que a escola busca as origens desta indisciplina? Dialoga com os alunos sobre o seu dia a dia, se interessa pelas ações, seus afazeres fora da escola?Freire afirma que

(...) “o conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em faze do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. (...) Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer”. (...) “Por que não estabelecer uma necessária intimidade entre os saberes curriculares fundamental aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Porque não discutir as implicações políticas e ideológicas de tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? Há ética de classe embutida neste descaso?Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não tem nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos” ( FREIRE, 1996-1997,p.34).

A lei ampara a democracia no âmbito escolar, no direito de prevalecer a participação dos alunos nos seus projetos, visto que Ele é o foco dos objetivos que a escola pré determina anualmente. Mesmo assim ao se falar em inclusão a oposição de alguns educadores impera, e o aluno é o principal prejudicado. Comprometendo seu desenvolvimento intelectual, cognitivo e sua autonomia pessoal.

“Temos resistência por parte de alguns colegas professores, eles dizem que não estão prontos para terem alunos com deficiências.” “Nossa a resistência é gritante, penso que a maioria dos professores não busca informações e nem se capacitam, e daí empurram toda a responsabilidade para a AEE.” “É o governo cria as leis, e o professor que se vire! Imagina se eu mal consigo da conta da turma, como vou dar atenção diferenciada, e preparar aulas diferentes apenas para um aluno.” (SUJEITOS B, D e E)

A escola enquanto espaço social deve agir com senso de democracia, visando o desenvolver de todos os sujeitos da escola sem distinção. É na concretização das intenções em caráter de transformação que prevalece a gestão democrática, que ambiciona difundir o conhecimento.

Na escola parceira vê se ao mesmo tempo uma perspectiva crescente com vista à humanização, em que o cidadão é entendido com o centro que dá razão à essência da escola e de seus profissionais.

(AVALIAÇÃO) “Cada professor faz de acordo com o que pensa ser a necessidade dos seus alunos”. “Seria bom se o professor soubesse avaliar, de acordo com o ritmo, necessidade e avanço de cada aluno.” (INCLUSÃO) “Nossa escola recebe muito bem a todos os alunos sem distinção”. “São gente igual a nós, e merecem o mesmo que os outros, ninguém ta livre de precisar um dia”. “São gente igual a nós, e merecem o mesmo que os outros, ninguém ta livre de precisar um dia”. (SUJEITOS A, F e H)

Sabe-se que a escola é um espaço de relações, de conflitos, de superações, de marcas de histórias. Em que cada um deve fazer sua parte, para que as conquistas da democracia vivam em cada segmento e em cada ação dos seus participantes.

E que a falta de recursos materiais impedem por vezes, que haja uma melhoria em determinados setores da escola, para suprir suas carências e enriquecer a qualidade do ensino e falta de qualificação profissional. Mas, sabemos que os recursos humanos apesar de escassos por motivo de não haver concursos públicos, ou por lacuna na busca pela qualificação profissional, impedem que as inovações e a consolidação do papel da escola se efetivem de fato no meio escolar.

Para Paro (2002, p.154),

(...) se a racionalidade externa da escola depende de sua articulação com os interesses da classe trabalhadora, é preciso que este interesse seja conhecido o mais rigorosamente possível. É no nível da práxis, na busca efetiva dos fins propostos e na concretização dessas intenções que seu caráter transformador se completa. Isso implica afirmar que a racionalidade externa da escola está na dependência de sua racionalidade interna.

Em fim, analisar as falas das pessoas que fazem acontecer a escola, é com certeza aclarar para desafios que podem ocorrer no cotidiano. É enriquecer as ideias sobre a prática docente, a ação discente e o núcleo gestor da escola que engloba as pessoas que por ela transitam.

 

 

 

REFERÊNCIAS

BONETI, Lindomar Wessler. Políticas Educacionais, a gestão da escola e a exclusão social. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto:

AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Org.). Gestão da Educação – Impasses,perspectivas e compromissos. 2. Ed. São Paulo: Cortez 2001. P. 213- 241.

Paro, Vitor Henrique. Administração escolar: Introdução crítica. 11. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.