SHOW DE MILAGRES?

Como sói acontecer em todas as cidades de médio e grande portes do nosso Brasil religiosamente ignaro, também em minha cidade existem empresas-igrejas que ostentam o chamariz “SHOW DE MILAGRES”, cuja missão precípua e basilar é o completo antagonismo à Palavra de Deus. E, por serem empresas eclesiásticas, o resultado lucrativo dos trabalhos de seus líderes milagreiros pode ser conferido na REVISTA ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE, Edição 76, de 21/06/2013, Editora Globo S/A, que divulga a lista dos pastores protestantes mais ricos do Brasil, fornecida pela revista estadunidense FORBES, revelando haver entre eles um bilionário.

E, como o Brasil é o campeão mundial de crendices, a grande multidão, infelizmente, abarca esse colossal comércio religioso.

Então, venho registrar minha breve e esclarecedora análise sobre o cognominado “show de milagres” das empresas-igrejas.

Logo de início, mister se faz sabermos a significação das palavras, se quisermos lograr êxito em nossas análises, visto que o método escolástico requer a elucidação antecipada dos vocábulos importantes da tese a ser desenvolvida.

Por ser muito prático e eficiente vamos adotá-lo.

SHOW é um vocábulo inglês que significa: Espetáculo de teatro, rádio, televisão, etc., em geral de grande montagem, e que pode, também, ser realizado ao ar livre. E ESPETÁCULO, por sua vez, significa: Tudo o que chama a atenção, atrai e prende o olhar; representação teatral, ou semelhante; cena ridícula ou escandalosa.

MILAGRE é feito ou ocorrência extraordinária, não explicável pelas leis da natureza; acontecimento admirável, espantoso.

E onde está escrito que a operação de milagres deve resultar em espetáculos? Onde o imperativo do Senhor Deus para tais shows? Em que essas representações teatrais têm ajudado – mas ajudado mesmo! – a plebe ingênua?

A verdade é que, quando se apagam as luzes da ribalta e findam-se as emoções exacerbadas adrede engendradas pelos artistas religiosos, a turba sente um vazio na alma pior do que quando sentia antes do show. Com efeito, após o espetáculo o cego continua cego; o canceroso continua com suas dores lancinantes; o que tem a mão mirrada, mirrado continua tocando a vida; o surdo-mudo continua confinado em seu mundo silencioso; o leproso continua segregado; o paraplégico retorna sentado em sua cadeira de rodas; e o pastor milagreiro volta prazenteiro para o luxo de sua mansão, ávido para arrotar caviar e rir à bandeira despregada...

Certa vez, protestou contra a minha “falta de fé”; ou, “fé destituída de show”, um missionário milagreiro, desses oriundos da onda “fé espetacular” e engajados na bossa “show de milagres”, dizendo-me que lá em seu reduto religioso ele curou uma pessoa cega, iluminando-lhe os olhos...

Percebendo nele a mais descarada mentira, convidei-o então a ir comigo à casa de uma amiga minha, cega de nascença...

É óbvio que o milagreiro esquivou-se covardemente!

Ora, lá em seu Q.G. de sincretismo religioso ele “curou” uma pessoa cega, mas, alhures, não consegue curar sequer uma partícula de grau de miopia...

Por que será, hein?

É porque, consoante parágrafo anterior, em que o Dicionário define SHOW como espetáculo, EM GERAL DE GRANDE MONTAGEM, lá em seu recinto o missionário milagreiro possui os recursos necessários para MONTAR, a seu bel-prazer, o seu teatro de marionetes. Destarte, seus comparsas são cegos que enxergam, surdos-mudos que ouvem e falam, paralíticos que andam e fantoches que caem ao assopro da boca e encosto de um paletó...

Porém, se conduzirmos o milagreiro às pessoas verdadeiramente acometidas de mazelas, e vice-versa, ele fracassa, ou seja, despedaça-se com estrépito no mais pleno malogro.

Ano passado minha cidade teve a infelicidade de receber a visita de um famoso missionário milagreiro. Ele e a igreja anfitriã anelaram que fosse o evento marcado com um incomparável “show de milagres”, e então intitularam-no de “EXPLOSÃO DE MILAGRES!”.

A mídia local, contratada e devidamente paga pelos títeres, veiculou então uma estrondosa propaganda, desfechando-a com a bombástica frase: “A CIDADE VAI TREMER!”

E tremeu mesmo, tamanha a “explosão”!

Meu espírito investigativo levou-me a conferir de perto os milagres anunciados...

Fiquei com pena, mas muita pena mesmo, de um rapaz surdo que estava sentado à minha frente. Ele voltou para sua casa com os dois aparelhos auditivos fixos nas orelhas. Os deficientes físicos, igualmente, voltaram para seus lares em suas cadeiras de rodas. Não poucos coxos voltaram coxeando com suas indesejáveis muletas. Uma senhora, com cara de insatisfação, meneava a cabeça em resposta negativa à cura não ocorrida. Uma grande amiga minha, que estava com uma cirurgia marcada, visando debelar um mal crônico no intestino, teve que recorrer à intervenção cirúrgica alguns dias depois que essa intervenção milagreira lhe foi estéril...

Mas, e a decantada “EXPLOSÃO DE MILAGRES”, não aconteceu?

Sim! Para um missionário amante do vil metal, não há milagre maior do que a explosão de coleta de dízimos e ofertas! E, quanto ao jargão: “A CIDADE VAI TREMER!”, também teve o seu cumprimento, porque, na esperança de um lídimo milagre, no calor das emoções, quem deixou lá o seu suado dinheiro, certamente treme de raiva até hoje, quando se lembra de ter caído no “conto do missionário”.

Insensíveis e acomodados esses protagonistas da “fé espetacular”! Por que não visitam os doentes em seus lares e nos hospitais apinhados de moribundos, objetivando curá-los? Por que não vão ao Hospital do Câncer, por exemplo, e promovem a maior alta hospitalar da História? Como é que conseguem deixar lá crianças inocentes sob o efeito de quimioterapia? E, uma vez que são contrários à pobreza, e consequentemente propagam a desenfreada prosperidade material, por que não saem pelas favelas distribuindo suas prodigiosas fortunas?

É, mas não fiquemos tristes por causa desses vendilhões do templo (Mt.21:12,13; Mc.11:15-17; Lc.19:45,46; Jo.2:13-17) dos tempos hodiernos, porque sobre eles falou-nos o Senhor Jesus Cristo: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não PROFETIZAMOS nós em teu Nome? e em teu Nome não EXPULSAMOS demônios? e em teu Nome não FIZEMOS MUITOS MILAGRES? Então lhes direi claramente: NUNCA VOS CONHECI; APARTAI-VOS DE MIM, VÓS QUE PRATICAIS A INIQUIDADE.” (Mt.7:21-23)

Observemos que Jesus rotula de INIQUIDADE OS MUITOS MILAGRES praticados por esses curandeiros, e dir-lhes-á, naquele Solene Dia: “APARTAI-VOS de mim...”

Mas, APARTAI-VOS para onde?

Eis a resposta do Senhor: “APARTAI-VOS de mim, malditos, PARA O FOGO ETERNO, preparado para o diabo e seus anjos.” (id.25:41)

Graças a Deus, porque já existe um lugar preparado para esses mentirosos praticantes da iniquidade!

Contrariando a anatematizada cartilha dos amantes dos espetáculos públicos milagreiros, as Escrituras Sagradas mostram-nos, em 2Rs.4:33 e At.9:39,40, os verdadeiros servos de Deus se isolando das pessoas para fazerem a perfeita vontade de Deus. Até o Senhor Jesus Cristo isolou-se, como mostram-nos Mt.9:23-25; Mc.5:37-43; e Lc.8:51-56, bem como ordenou às pessoas por Ele curadas que não divulgassem os sinais (Mt.8:4; 9:30; Mc.1:44; 5:43; 7:36; Lc.5:14; 8:56). Ademais, Ele mesmo nos ensina: “E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, PARA SEREM VISTOS PELOS HOMENS. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mt.6:5,6)

Meu Deus, tanta gente religiosa por aí que, com suas orações estridentes e notórias, gostam de tapear o povo ignaro com seus mirabolantes programas de “cura e libertação” e “corrente da prosperidade”...

Concluo fazendo um humilde e inadiável pedido aos milagreiros dos espetáculos mil: Que vençam a covardia mórbida e saiam de seus proscênios milagrentos para a luz da realidade, visitando os enfermos e desvalidos nos lares, hospitais e abrigos. Este sim, é o ensino claro das Escrituras Sagradas: “Está doente algum de vós? CHAME os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em Nome do Senhor; e A ORAÇÃO DA FÉ salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.” (Tg.5:14,15)

O Texto diz claramente que devemos CHAMAR os pastores da igreja até o local onde o doente se encontra, e não levar o doente nem pedir para ele ir ao templo, ao encontro dos pastores; e que A ORAÇÃO DA FÉ, e não o “espetáculo da fé”, e não o “show de milagres” salvará, isto é, curará o doente. E esta obra deve ser feita de graça, porque, “de graça recebestes, de graça dai.” (Mt.10:8). Palavras do Senhor Jesus Cristo. Amém!

Os milagreiros prezam sobremaneira os vv.17 e 18 do capítulo 16 do Evangelho de Marcos, mas desprezam seus anteriores, os vv.15 e 16, que revelam-nos aquele que é, de todos os milagres, o mais excelente: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.”. Aleluia!

Lázaro Justo Jacinto