É importante iniciar toda e qualquer reflexão sobre a sexualidade humana ressaltando que a mesma vai muito além da genitalidade. A sexualidade compreende a forma pela qual as pessoas reconhecem e agem na busca de prazer e do bem estar, através de seu corpo e do relacionamento com seus pares e com o mundo.

Pode-se afirmar que a sexualidade possui características diferenciadas nas diferentes etapas de vida de um ser humano, sendo que uma fase supera a outra dando continuidade na seguinte; também que não são excludentes, mas complementares.

Numa visão psicológica,  a sexualidade infantil  relaciona-se mais  ao carinho, ao afeto, às significações das pessoas e dos objetos que circundam a vida das crianças.

A fonte das excitações ou de prazer é corporal, ocorrendo predominantemente na zona oral (ou qualquer outro estímulo que se assemelhe).  Então, por exemplo, o seio e tudo aquilo que a ele se assemelhe ou substitua torna-se um objeto de prazer.  Há uma necessidade de auto-conservação (espécie) realizada através da satisfação pela incorporação do leite que produz um excesso de energia que acompanha a pulsão (sexual) oral. Há uma dependência inicial que lhe foi necessária para sobreviver e que lhe resulta também o prazer (via oral), que lhe traz conhecimento do mundo e satisfação pelas necessidades básicas saciadas.

Logo mais, quando a criança já possui instrumentos que lhe possibilitem um afastamento progressivo e relativamente autônomo de seus objetos primários mãe e pai, ela começa a engatinhar, andar, falar, e o crescente aprendizado de comer sozinho e o controle dos esfincteres.

Nessa época a atenção (libido/prazer) da criança volta-se para a região anal, isto porque o ato de defecar  ocupa lugar importante no desenvolvimento psicossexual, ultrapassando a questão fisiológica e tratando das sensações de domínio e controle sobre o mundo e alguns de seus atos.

Nessa fase, há uma mescla de “erotismo” e agressividade, manifestados na tendência de destruir o objeto exterior ou conservá-lo com a finalidade de controlá-lo (retenção). Ambas as tendências são igualmente fonte de prazer.

Mais adiante, ter-se-á uma preocupação com os órgãos genitais, sendo que esses passam a ser alvo da concentração do desejo e prazer, destacando-se  que ainda não se trata da genitalização verdadeira. Ainda não existe uma consciência da diferença sexual,  importando na maioria das vezes mais  o órgão anatômico masculino que possui um real valor de existência, pois é visível, sendo o primeiro a ser notado.

Nessa época já surge o primeiro prazer com o toque ao próprio corpo e o interesse pelos outros. Muitas vezes logo encarado pelo adulto como masturbação e na maioria dos casos vetada ou reprimida. 

Essa repressão à masturbação pelos adultos, acontece pois a criança, ao se proporcionar prazer, exclui o adulto que, com isso revive  sentimentos de exclusão e também porque ao contemplar a ação auto-erótica da criança os adultos lembram sua própria atividade masturbatória também reprimida.

Também é a fase da descoberta da diferença sexual, da desigualdade da constituição humana entre homem e mulher, das perguntas aos adultos quanto às diferenças (grande/pequeno; rico/pobre; etc.). Surgindo perguntas sobre diferenças e funções anatômicas. Surge a preocupação com o sentido da relação entre seus pais e tudo o que isso envolve, servindo de modelo para suas expectativas e construções de vida própria e relacionamentos com o sexo oposto.

Na adolescência, os indivíduos estarão voltados à conquista dos objetos de desejo no outro e no seu próprio corpo, mas primordialmente no outro. É a fase da conquista, da busca daquele que satisfará suas curiosidades sexuais não mais pelas respostas orais, mas pela prática. Há uma busca também da afetividade no outro, do carinho, da atenção e da valorização de sua posição de mulher em formação ou homem em formação. Muitas mudanças fisiológicas marcam essa etapa e também gerando inseguranças quanto a si e aos outros. O reconhecimento pelo grupo é fundamental...a necessidade de auto-afirmação também. Ainda não há planejamento quanto aos relacionamentos pessoais.

Já na vida adulta, as mudanças fisiológicas já estão estabelecidas e a preocupação em constituir uma família, um grupo estável afetivamente falando, onde haja um parceiro ou parceira em sintonia tanto sexual (genital) quanto amorosa. O prazer não está apenas no sexo, mas na possibilidade de um relacionamento com um parceiro que traga crescimento pessoal e para o casal.

Faz-se planejamento de vida pensando não mais apenas em um, mas na conciliação de interesses e desejos. Há a busca de satisfação no outro. Há a busca da felicidade, partilhada com um outro através do amor.