SERVOS OU DOMINADORES?

O apóstolo Pedro, escrevendo uma das suas epístolas falou para os lideres da igreja estas palavras tão sérias:

Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto, nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1 Pe 5.1-3).  

O que as meigas ovelhinhas de Jesus querem ver na liderança de suas vidas?

Dominadores? Caudilhos? Diretores? Chefes? Supervisores? Feitores? Mandachuvas? Comandantes? Administradores? Executivos? Capitães? Gerentes? Curadores? Maiorais? Reis? Condutores? Patrões? Senhores? Soberanos?  

Não são estes tipos de personalidades que estão á frente dos rebanhos em nossos dias?

As igrejas, em geral, têm vivido um clima de opressão, de frustração, de limitações, de embargos, de proibições, de impedimentos, de interdições, de oposições, de críticas, de oposição, de vetos, de suspensões.

A palavra de Deus é muito clara ao se referir à maneira como um filho de Deus, principalmente um líder, deve tratar seus irmãos. Paulo disse ao pastor Timóteo que fosse exemplo do rebanho. As ovelhas esperam dos seus pastores atitudes de ternos afetos de misericórdia, compaixão, ternura, afeto, amor, caridade, carinho, compreensão, paciência, tolerância, inteligência, sabedoria, orientação, direção, apoio, respaldo, tranqüilidade, paz, harmonia, diálogo, alegria, sinceridade, honestidade, fidelidade, amizade e bom humor.

É incrível como alguém entra numa igreja hoje em dia, dedica boa parte do seu tempo aos seus trabalhos, respeita e obedece aos seus líderes, contribui fielmente com suas ofertas e dízimos e, ainda assim são desprezadas, escorraçadas, humilhadas, alijadas e tratadas com indiferença.

Para onde vai o Cristianismo deste jeito?

É linda a maneira como agiam os membros da primeira igreja de Jesus Cristo:

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”. Atos 2.42,44,46,47.

Não existe qualquer justificativa para o que foi feito no famigerado Concílio de Nicéia no ano de 325 d.C., quando a Igreja se institucionalizou e criou um clero poderoso, dominador, tirano, e os membros passaram a ser considerados meros contribuintes. Como o Mestre previra, o amor de muitos esfriou.

Alguns grupos como os Albigenses, os Cátaros, os Valdenses, os Petrobrusianos, os Patarinos, os Montanistas, os Anabatistas, os Ebionitas, os Novacionistas, os Donatistas e, depois, os vários grupos de reformadores trataram de se opor a essas formas religiosas e até políticas de tirania, absolutismo e despotismo mas terminaram, muitos deles, achando mais cômodo dominar do que conviver, orientar e dialogar.

O curioso é que fizeram uma discriminação, uma tremenda diferença, um tenebroso abismo: De um lado o todo-poderoso Clero e do outro lado o insipiente Laicato.

Lendo um Novo Testamento grego antigo, fiquei surpreso ao descobrir que, no texto inicial deste artigo, quando Pedro diz “apascentai o rebanho de Deus”, ironicamente no original diz: “Apascentai o cleron de Deus. Até quem não convive com o grego observa que este cleron é Clero. Logo, o clero de Deus é o próprio rebanho de crentes.

Nós realmente precisamos de igrejas assim: 

“Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo”. Atos  9.31.