SERVIÇO SOCIAL E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA:

MERCADO DE TRABALHO NA CONTEMPORÂNEIDADE[1]

Aline Leite de Figueiredo[2]

Almera Dias dos Santos2

 Manoel Araújo Roque2

 

 

Resumo: Este trabalho busca abordar de forma resumida e crítica sobre como o capitalismo está modificando a prática do Assistente Social na sociedade contemporânea e sobre as suas interferências no mercado e nas condições de trabalho. Relatando também sobre estas influências dentro de um dos Centros de Referência da Assistência Social no município de Parnaíba-PI e encerrando com as considerações finais acerca desta temática.

Palavras-Chave: Assistente Social; Capitalismo; Mercado de trabalho.

 

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre as influências do capitalismo na prática profissional do Assistente Social e no mercado de trabalho. Os resultados aqui expostos tiveram por base pesquisa bibliográfica e entrevista com profissional da rede pública. Os dados ora apresentados dizem respeito à realidade vivida pelos profissionais na fase atual do capitalismo, destacando desta forma, as influências exercidas por este sistema econômico no exercício profissional, na qualificação e na valorização dos mesmos, conforme pode ser observado nas seções seguintes.

2 O SERVIÇO SOCIAL E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DO CAPITALISMO

O sistema capitalista vem provocando na cena contemporânea diversas alterações, desde o modo de vestir das pessoas até os tipos de vínculos de trabalho das empresas e instituições contratantes. Há uma enorme tendência de crescimento das terceirizações por parte das empresas contratantes, tendo em vista que este vínculo de trabalho favorece a este sistema, garantindo-lhe o lucro e evitando despesas com os direitos assegurados por lei.

Além do mais, este processo de reestruturação produtiva vem provocando diversas alterações em todos os níveis da sociedade, através da má distribuição das riquezas produzidas, concentrando, desta forma, o poder nas mãos de poucos, causando, assim, tanto desigualdades sociais como mudanças no mundo do trabalho.

A insegurança no mercado de trabalho atual torna-se cada vez mais presente, atingindo todas as categorias profissionais, dentre elas o Serviço Social. Isso em decorrência do processo de reestruturação produtiva e das influências advindas do Toyotismo, que exigem que os profissionais estejam sempre buscando maior qualificação.

Os Assistentes Sociais mesmo sendo profissionais responsáveis pela garantia de direitos, também não estão livres da instabilidade profissional, pois no cotidiano existem conflitos entre os diferentes interesses e muitas vezes os mesmos são submetidos a trabalhos por tempo determinado ou até mesmo voluntários.

Para não perder o emprego, muitas vezes os profissionais são submetidos a cumprir funções que não são de sua competência, pois o profissional que nesta fase do capital não for multifuncional, ou seja, que não conseguir desempenhar várias funções, é tido como “inútil” e jogado para o exercito mundial de reserva.

Devido à dificuldade que existe de se encontrar emprego, muitos profissionais acabam se submetendo a contratos informais, onde são excluídos de todos os seus direitos e de condições dignas de trabalho. Isso faz com que a mão de obra destes profissionais torne-se cada vez mais desvalorizada e que as condições precárias de trabalho não sejam mudadas. Este tipo de conduta vai totalmente na contra mão do que está explicito em nossa Constituição de 1988, onde na mesma está implícito que estes deveriam dispor de todos os direitos referentes ao seu trabalho, tais como FGTS, seguro previdência, dentre outros.

Desta forma, pode-se evidenciar que as novas configurações do capitalismo estão provocando profundas transformações tanto na sociedade em que vivemos como em nós próprios. Hoje, já não se compra somente por necessidade, mas também por luxo, para mostrar ao outro o seu poder aquisitivo, ou seja, vive-se a sociedade da manutenção de status. Entretanto, como poderemos observar no item a seguir, estas transformações estão desencadeando uma série de fatores negativos, tais como as doenças contemporâneas.

3 A REESTRUTURAÇAO PRODUTIVA E A SAÚDE DOS TRABALHADORES

É inegável atualmente que os benefícios advindos do processo de globalização são enormes e que estão facilitando cada vez mais a vida das pessoas. Porém, todas estas transformações proporcionadas pelas estratégias de reestruturação produtiva vêm desencadeando diversas doenças na cena contemporânea na vida da sociedade e especialmente dos trabalhadores. Seja através de efeitos ambientais (ex: aquecimento global) causados pela superprodução de fábricas e indústrias, seja através da pressão psicológica exercida tanto pelo patrão e/ou empresa contratante para o rendimento maior de sua força de trabalho como pelo próprio trabalhador, que se cobra a cada vez mais estar realizando de maneira eficaz o seu trabalho visando satisfazer as vontades de quem o emprega.

As precárias condições de trabalho e as enormes demandas que chegam até estes profissionais são os principais fatores apontados como responsáveis pelo comprometimento de sua saúde. Uma vez que, os mesmos dedicam a maioria de seu tempo ao trabalho, restando pouquíssimo para que possam cuidar de sua saúde, não só física, mas também psicológica, pois estes com o decorrer do tempo acabam por adquirir transtornos gerados pelas constantes exigências com que os mesmos encontram em seu trabalho.

O Assistente Social, enquanto trabalhador assalariado e inserido no mercado de trabalho também sofre as consequências geradas por estes fatores, uma vez que, em sua prática profissional cotidiana o mesmo também se defronta com estas mesmas situações de precarização de seu trabalho e com um enorme número de demandas, tendo desta forma, a falta de tempo para colocar a sua saúde em dias, assim como os demais trabalhadores. Além do mais, estes fatores ainda têm fortes influências sobre o seu exercício profissional, pois o mesmo muitas acaba por não ter tempo realiza-lo de forma crítica e reflexiva, realizando muitas vezes práticas conservadoras, positivistas, superficiais e até mesmo mecânicas.

Entretanto, cabe aqui destacar que nem todos os trabalhadores sofrem com essas consequências, pois existem ambientes de trabalho que proporcionam aos mesmos totais condições para a realização de seu trabalho, além de garantir-lhes todos os seus direitos estabelecidos em lei e condições dignas para cuidar de sua saúde pessoal. Todavia, esta é uma realidade muito distante da maioria e que para ser alcançada necessitaria da força de união da classe trabalhadora, mas isso não estar acontecendo, uma vez que, na sociedade atual as consequências do capitalismo fazem com que esta classe perca o seu poder de união, resultando em um “cada um por si” quando deveriam ser “todos por todos”.

Segundo Menezes,

O que se verifica, são trabalhadores individualmente reivindicando melhoras na saúde pública, enquanto o que se necessita é de uma organização desses trabalhadores na luta pela política nacional de saúde dos trabalhadores.

A seguir será relatado, de acordo com entrevista realizada, sobre as influências da reestruturação produtiva dentro do CRAS-PI, com o intuito de mostrar como encontra-se o mercado e as condições de trabalho do assistente social dentro desta instituição. Deste modo, para melhor compreensão desta temática, abordar-se-á na próxima seção sobre o método de contratação, a valorização profissional, a remuneração, as demandas, o público alvo e a prática profissional dentro desta instituição.

4 MERCADO E CONDIÇÕES DE TRABALHO NO CRAS-PI

Conforme os dados obtidos através desta entrevista, percebe-se que o número de assistentes sociais que são contratados pela instituição é muito baixo (somente dois profissionais de Serviço Social) e que os mesmos não recebem nenhum benefício auxiliar, tais como plano de saúde, auxílio alimentação ou vale transporte. Com isso, percebe-se o enxugamento ao máximo do número de profissionais – típico da sociedade capitalista contemporânea – e avalia-se que estas condições podem ter implicações na prática profissional, no sentido de muitas vezes os mesmos acabarem realizando sua prática profissional de forma imediata, irrefletida e superficial, devido a enorme quantidade de demandas que chegam até estes profissionais.

Quanto à contratação de profissionais, constata-se que a instituição utiliza o critério de seleção pública, vinculando os mesmos formalmente, por tempo indeterminado, garantindo, desta forma, os seus direitos trabalhistas, tornando-os profissionais valorizados.

Sobre a valorização profissional, via instituição contratante, verifica-se que o profissional é estimulado a participar de cursos tanto de aperfeiçoamento na área do Serviço Social quanto na área de atuação profissional, assim como também a participar de pesquisa e formação acadêmica. Em decorrência disto, os profissionais estão qualificando-se cada vez mais, investindo em cursos de especialização.

A remuneração profissional é considerada pela entrevistada abaixo do que a mesma considera que necessitava ganhar, não ultrapassando o equivalente a três salários mínimos mensais.

Entretanto, faz-se necessário destacar aqui, que a mesma procura outros tipos de trabalho (até mesmo exercendo outras funções que não são do Serviço Social) como forma de complementação de sua renda, atuando muitas vezes em áreas diferentes da que os mesmos desempenham na instituição, com contratos informais e por tempo determinado, sem a garantia de seus direitos e recebendo salários de preços variáveis.

Segundo a entrevistada, as demandas que chegam ao profissional pelo contratante são: acompanhamento dos programas e projetos desenvolvidos e a produção de planejamentos, relatórios, entrevistas, dentre outros. Já as demandas advindas dos usuários são: a escuta, a acolhida, a orientação e a oferta de bens e serviços.

Em relação ao público alvo atendido pelos profissionais, a mesma informou que na instituição trabalham-se com crianças e adolescentes, idosos, adultos, jovens, beneficiários de programas, dentre outros. Porém, vale ressaltar neste momento, que por está inserida na política de Assistência Social, esta instituição atende a quem dela necessitar, independentemente das condições econômicas.

No que toca a prática profissional, a mesma relatou que são exigidos a dispor de habilidade para lidar com o público alvo e com as condições de trabalho e a ofertarem este trabalho de maneira eficaz, como forma de garantir uma boa atuação.

Ainda de acordo com os dados coletados, constatou-se que os profissionais de Serviço Social na atualidade, estão sendo cobrados a cada vez mais qualificarem-se e demonstrarem compromisso ético com a profissão, com os usuários e com as instituições empregadoras, principalmente após a regulamentação da política de assistência social, onde houve a necessidade destes profissionais acompanhando e/ou executando esta política nos municípios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme os dados obtidos com a pesquisa, pode-se observar que nenhum trabalhador está livre de sofrer as consequências causadas pela reestruturação produtiva e que o mercado de trabalho atual é excludente, exigindo cada vez mais qualificação dos profissionais, pois quem não consegue acompanhar os fenômenos da globalização acaba por perder espaço na sociedade.

Também está claramente implícito, que as novas configurações do capital provocam mudanças direta ou indiretamente sobre a prática profissional do assistente social, mesmo este sendo contratado por instituições públicas ou privadas, tornando sua prática muitas vezes imediata, irrefletida e superficial, devido ao grande número de demandas que são atribuídas a este profissional.

Estas configurações também tornam o mercado de trabalho cada vez mais concorrido, fazendo com que os profissionais passem a concorrer entre si, tornando suas ações cada vez mais individualizadas.

Por fim, deduz-se que na cena contemporânea, onde residem o capitalismo e suas configurações, pouco se é investido em benefícios e na qualificação do assistente social, assim como também em melhorias salariais e condições dignas de trabalho. Portanto, mesmo sendo uma profissão reconhecida e tendo evoluído bastante ao longo da história, ainda existe um enorme caminho a ser trilhado pelo serviço social. Desta forma, cabe a estes profissionais criarem estratégias e mecanismo que lhe permitam chegar até o resultado esperado, exigindo do Estado e das instituições contratantes a valorização de seu trabalho.

REFERÊNCIAS

AMADOR, Josy Ramos de Oliveira. O Exercício profissional do Serviço Social no capitalismo contemporâneo: desafios e possibilidades para a efetivação do Projeto Ético-Político. Disponível em: <http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/18_ OSQ_25_26_Amador.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2013.

BACKX, Sheila; GUERRA, Yolanda; SANTOS, Cláudia Mônica dos. A dimensão técnico-operativa no Serviço Social: desafios contemporâneos. Juiz de Fora. 2ª Ed. UFJF, 2013.

MENEZES, Paula Fernanda Menezes de. Saúde do Trabalhador: Ratificação do Capitalismo Contemporâneo e sua materialidade no Limite da Esfera Pública. Disponível em: <http://unb.revistaintercambio.net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1/111/ 117.pdf>. Acesso: 09/05/2014.

MOTA, Ana Elizabete (Org.). A NOVA FÁBRICA DE CONSENSOS: Ensaios sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e as demandas ao Serviço Social. 5. ed – São Paulo: Cortez. 2010.



[1] Artigo apresentado à Faculdade Internacional do Delta – FID, como requisito parcial para aprovação na disciplina Serviço Social e Processo de Trabalho II.

[2] Acadêmicos do 5° semestre do Curso de Bacharelado em Serviço Social.