Sermão Espiritual Sacerdotal

Joacir Soares d'Abadia[1]

A vida do presbítero não é sua vida. Ela é a vida de Cristo. O presbítero é um "Alter Christi". Seu ser não é mais de si próprio é, antes, um "ter seu ser em outro": em Cristo. "O padre não é padre para si mesmo, é-o para vós", diz o Santo Cura d'Ars. O sacerdote é sacerdote por participar do único sacerdote de Cristo como reflete a leitura de Hebreus. Deste modo, veremos as três ações sacramentais que Cristo realizou: Penitência, Eucaristia e Ordem.

Para configurar sempre mais a sua vida à de Cristo o sacerdote, segundo o Papa Bento XVI, precisa seguir quatro passos:

1.

"Encarnar a presença de Cristo, testemunhando a sua ternura salvífica". Primeiramente: "encarnar a presença de Cristo". Ou seja, viver de acordo com a de Cristo sem se deixar levar por exemplos à "crísticos". O repúdio pelas vestes eclesiásticas se dá pela falta de "encarnar a presença de Cristo!" Os sacerdotes perderam-se, em certo sentido, sua identidade configurada com o Cristo seu paradigma. O que é próprio do sacerdote é aquilo que é próprio de Cristo: suas ações sacramentais com suas devidas correspondências.

Testemunhar a Cristo já não é somente um apelo da Igreja, mas seu clamor. Nas culturas onde não se deixam o cristianismo entrar, o testemunho é que ganha seu lugar. Os cristãos que ali se encontram devem antes de qualquer coisa testemunhar Cristo nas suas vidas e ser, como vários santos propõem um livro aberto. Não qualquer livro, senão a Sagrada Escritura. Possibilitando que cada homem de "boa vontade", como insiste o Vaticano II, possa encontrar ali não, claro, o exemplo para ser seguido, mas sim a sobra daquele que é testemunhado: Cristo.

Conta-se que São Francisco de Assis chamou seu irmão para evangelizarem nas ruas de Assis. Eles percorreram várias ruelas sem entrar em nenhuma cada ou falar de Deus para as pessoas. O irmão percebendo que já se tinham andado muito "sem nada ter dito às pessoas": perguntou ao santo: "como vamos evangelizar sem que até agora não falamos de Deus para ninguém?" Tem, o irmão, como resposta que desde que saíram estavam evangelizando não com palavras, mas com as próprias vidas.

Assim, encarnar a Cristo é saber testemunhá-lo nas realidades adversas, onde não se pode falar Dele. É ter os "mesmos sentimentos que Cristo teve", é ser livro aberto para se fazer uma leitura evangélica dos nossos próprios atos.

2.

O segundo ponto é a "Total identificação com o próprio ministério". Falei antes a respeito das vestes clericais, as quais podem ser, com mais força, aplicadas aqui. Por outro lado, faz-se necessário que o presbítero seja realmente um seguidor de Cristo. Não se pede mais que isso contanto que seja imitador como diz São Paulo.

Observa-se com muito pesar o exercício ministerial sendo esvaído em coisas que são próprias dos leigos. A respeito desses o Vaticano II diz "que faca tudo e somente aquilo que lhe compete". Isso para não cair na reflexão contemporânea sobre o exercício clero e fiel: "clericalização do fiel e laicização do clérigo". Pelo fato de alguns clérigos quererem se identificar com seus fiéis com a argumentação fajuta de "não afastá-los", os féis estão cada vez mais apropriando daquilo que era considerado como algo que os afastavam.

Sem receio alguns Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística se vestem como padres para mostrar seu desejo em ser um sacerdote refletindo, assim, a clericalizaçao dos leigos.

É necessário que o sacerdote se identifique com aquilo que lhe é próprio e deixe que os leigos façam também aquilo que lhes competem: construir e etc.

O Papa Bento XVI mostra como deve ser a pastoral do presbítero a partir do exemplo do Cura d'Ars, o qual: "visitava sistematicamente os doentes e as famílias". Isso tudo são as correspondências, como vos disse acima. Porém, a "total identificação com o próprio ministério" pode ser realizada com a síntese desta ação pastoral que o Papa apresenta ou que é a Penitencia, a Eucaristia e Unção dos Enfermos.

Esta tríade missão sacerdotal somente o sacerdote, validamente ordenado, pode exercer. Outras funções além destas os diáconos, que são ordenados para o serviço, e os leigos podem fazer.

3.

Um outro passo é "coincidir pessoa e missão". Como já afirmamos anteriormente pelo Santo "O padre não é padre para si mesmo, é-o para vós". E diz em outro ponto: "Oh como é grande o podre! (...) Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia".

O padre diante de Cristo é despersonificado. A pessoa do padre é abarcada pela Pessoa de Cristo fazendo do padre um "Alter Christi". Isso "é expressão do seu 'Eu filial'", como diz Bento XVI citando Monnin, o qual falava do Santo Cura.

Na celebração Eucarística o sacerdote diz "Isto é o meu corpo... isto é o meu sangue" (Mt 26, 26-29) e no Sacramento da reconciliação o padre usa as palavras "eu te absolvo". Tudo isso são ações de Cristo porque Ele mesmo disse: "Fazei isto em minha memória" (Lc 22, 19).

4.

O último passo de nossa introdução é colocar-se "diante do Pai em atitude de amorosa submissão à sua vontade". Aqui o atuar do sacerdote é sempre "diante do Pai", pois ele é filho no Filho.

Tendo um ardente desejo de estar sempre "diante" e não à frente do Pai. Porque o seu estar "diante" reflete sal "amorosa submissão à sua vontade".

Esta submissão pode ser enxergada a partir de três pontos:

1)no Sacramento da Ordem;

2)no Sacramento do Matrimônio;

3)e na submissão responsável às autoridades (fc. 1Pe 2, 13-17; Rm 13, 1-7 e Tt 3,1).

O termo "submissão" refere-se ao agir das pessoas envolvidas em cada sacramento. É, pois, um agir que se colocam os envolvidos "sobre a mesma missão".

A submissão do sacerdote à vontade do Pai se realiza no seu ser: "Alter Christi". Assim, o sacerdote se coloca sobre a mesma Missão de Cristo: perdoar pecados ( Jo 20, 23), oferecer dia após dia sacrifícios agradáveis a Deus (Hb 13, 16) em sua memória (Lc 22. 19) e Ungir os Enfermos (Tg 5, 13, 15).

No sacramento do Matrimônio os nubentes também devem ser submissos um ao outro (1Pe 3, 1-7), pois já não são doismas "uma só carne" (Mt 19, 5).

Depois de toda esta explanação, de introdução, veremos, por pormenores, as três ações sacramentais que Cristo realizou: Penitência, Eucaristia e Ordem.

I.

A Penitência: Jesus perdoa pecados

Neste ponto de nossa reflexão faremos em duas partes. Primeiramente usaremos o texto de Mt 9, 1-8, Jesus perdoa os pecados do paralítico e no segundo momento utilizaremos Lc 7, 36-50, a pecadora perdoada.

1.

São Paulo nos diz: "sede meus imitadores como sou de Cristo". Todo sacerdote tem Crsito como seu paradigma, então, deve "fazer as mesmas obras que Cristo fez e ainda maiores". No sacramento da Penitência se encontra a Missão do padre: perdoar pecados. Não ele propriamente dito, mas o próprio Cristo quem perdoa os pecados. Vejamos isto a partir do Evangelho de São Mateus 9, 1-8, onde Jesus perdoa os pecados do paralítico:

"Jesus tomou de novo a barca, passou o lago e veio para a sua cidade. Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: "Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados." Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: "Este homem blasfema." Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: "Por que pensais mal em vossos corações? Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te - disse ele ao paralítico -, toma a tua maca e volta para tua casa." Levantou-se aquele homem e foi para sua casa. Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens".

O Evangelho nos dá como textos paralelos: Mc 2, 1-12 e Lc 5, 17-26.

Jesus dirige-se ao paralítico: "tem ânimo" (v. 2). Ou em outras traduções: "Coragem". Aqui enfoca a vocação de Cristo.

O texto ensina que a cura é um sinal de que Jesus perdoa concretamente. Nos paralelos isso fica reforçado: Jr 17, 10 e Jo 2, 23ss.

2.

Lc 7, 36-50 – a pecadora perdoada:

"Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa. Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume. Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora. Então Jesus lhe disse: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Fala, Mestre, disse ele. Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais? Simão respondeu: A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou. Jesus replicou-lhe: Julgaste bem. E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés. Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama. E disse a ela: Perdoados te são os pecados. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: Quem é este homem que até perdoa pecados? Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé te salvou; vai em paz".

Ela demonstrou muito amor porque foi perdoada. E, não o contrário. Creio que estas poucas palavras bastam!

II.

Cristo e a Eucaristia

A nossa estrutura seguirá duas partes: 1) Jesus que Celebra a eucaristia (1Cor 11, 23-26- a última ceia) e Jesus explica a instituição da Eucaristia: João 6, 1-71.

1.

Nos textos bíblicos de São Mateus 26, 20 e São Marcos 22 trata da remissão dos pecados. Eles estão intimamente ligados à 1Cor 11, 23-26:

"Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha".

No texto aparece a expressão: "Fazei isto em minha memória". Pois bem! O termo "memória" em Lc e em 1Cor será que tem o mesmo sentido? Não. São diferentes. Em um texto Jesus Celebra a Missa. Ele consagra: é o Cristo que está lá. Quando a Igreja celebra é Jesus quem Celebra. Deste modo, pode perguntar: Jesus comungou na celebração da última ceia? Não. Caso Ele tenha comungado teria sentido Comungar-se a si Mesmo? A Palavra disse que ele "deu o corpo e o sangue para seus Apóstolos".

Na Missa quando o padre comunga, ele o faz enquanto exerce seu sacerdócio comum. Porque enquanto sacerdócio ministerial não se comunga, pois ele é um "Alter Christi", assim Cristo não se comunga; ele deu a Eucaristia aos outros.

Quem se oferece na Missa é Cristo que se faz presente de duas maneiras; a) na pessoa do sacerdote e b) na Eucaristia.

Existem dois sacramentos que se usam as palavras do próprio Cristo: o Batismo e a Eucaristia. Com efeito, não se pode ver no sacerdote como funcional, mas ministerial. Pois ele celebra atualizando a Eucaristia que tem como finalidade a remissão dos pecados e que é a participação da morte e paixão de Cristo.

A comunhão é, pois, participar da morte e paixão de cristo para participar de sua ressurreição no último dia.

A Eucaristia remova o Cristo atual: ele se oferece sempre (Hb 9, 23-28). O sacrifício de Cristo "foi uma vez por todas" (Hb 9, 26), porque é "único" (7, 27). Cristo está constantemente em ato de oblação. Assim, cada Missa que se celebra é um entrar no céu de forma sacramental.

1.1.

Relação Eucaristia e Penitência

1Cor 11, 26-34:

"Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação. Esta é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, sendo julgados pelo Senhor, ele nos castiga para não sermos condenados com o mundo. Portanto, irmãos meus, quando vos reunis para a ceia, esperai uns pelos outros. Se alguém tem fome, coma em casa. Assim vossas reuniões não vos atrairão a condenação. As demais coisas eu determinarei quando for ter convosco".

1.1.1.

A tríade ação ministerial

O sacerdócio existe em função da Eucaristia e dos Enfermos, seja corporal como espiritualmente. Ele tem como modelo o próprio Cristo, único e eterno sacerdote. Enquanto participa do sacerdócio de Cristo, o presbítero existe para exercitar a tríade ação ministerial: celebração de Eucaristia, ministrar a Unção dos Enfermos e dispensar o Sacramento da Penitência ou reconciliação.

As funções próprias do sacerdote é a celebração da eucaristia e a Unção dos Enfermos. A Penitencia também faz parte do seu exercício ministerial, porém olhá-la somente enquanto perdoa pecados a figura do presbítero fica um pouco ofuscada porque o sacramento do Batismo perdoa pecados e, na urgência, qualquer pessoa pode batizar. Assim, qualquer pessoa, que batiza alguém, fazendo o que a Igreja faz pode ser canal de remissão dos pecados.

Por outro lado, a Carta de São Tiago fala da confissão das faltas dizendo: "confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados" (5, 16). Aqui não se faz – como ensina a Igreja – "nenhuma precisão a respeito da confissão sacramental". Porém, na Tradição a interpretação foi outra, como por exemplo, São Loyola que em perigo de morte confessou-se com um leigo. Isso, claro, foi um fato isolado, mas foi fato, o qual não se pode ignorar.

Está contido nesta tríade ação ministerial um ponto que as envolve: todos tem um caráter de perdoar os pecados. Na Unção dos Enfermos diz: "se tiver cometido pecados, estes serão perdoados" (Tg 5, 15); a Penitência já é em si mesma a remissão dos pecados como nos atesta o Evangelho de São João: "Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (20, 23) e, por fim, a Eucaristia, a respeito da qual São Paulo orienta: "Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação" (1Cor 11, 28-29). São Mateus nos diz que a Eucaristia "porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados" (26, 28).

Finalmente, na medida em que o presbítero exerce as ações ministeriais ele o faz por Cristo, com Cristo e em Cristo a Deus Pai todo poderoso na unidade do Espírito Santo, como nos ensina a doxologia final das Orações Eucarísticas.

2.

Jesus explica a instituição da Eucaristia em São João 6, 1-71 na multiplicação dos pães (Cf. os paralelos: Mt 14,13-21; Mc 6,32 -44 e Lc 9,10-17). O texto está dividido em duas partes. A primeira parte engloba os versículos 1-21 e a segunda parte dos versículos 22-71. Vejamos:

"Depois disso, atravessou Jesus o lago da Galiléia (que é o de Tiberíades.) Seguia-o uma grande multidão, porque via os milagres que fazia em beneficio dos enfermos. Jesus subiu a um monte e ali se sentou com seus discípulos. Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus. Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com ele e disse a Filipe: Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que comer? Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer. Filipe respondeu-lhe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pedaço. Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe: Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes... mas que é isto para tanta gente? Disse Jesus: Fazei-os assentar. Ora, havia naquele lugar muita relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil. Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam. Estando eles saciados, disse aos discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca. Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos. À vista desse milagre de Jesus, aquela gente dizia: Este é verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo. Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte.

Jesus anda sobre as águas (= Mt 14,22-36 = Mc 6,47 -53)

Chegada a tarde, os seus discípulos desceram à margem do lago. Subindo a uma barca, atravessaram o lago rumo a Cafarnaum. Era já escuro, e Jesus ainda não se tinha reunido a eles. O mar, entretanto, se agitava, porque soprava um vento rijo. Tendo eles remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus que se aproximava da barca, andando sobre as águas, e ficaram atemorizados. Mas ele lhes disse: Sou eu, não temais. Quiseram recebê-lo na barca, mas pouco depois a barca chegou ao seu destino.

– Esta primeira parte pode ser comparada com 2Rs 4, 42-44: "Veio um homem de Baalsalisa, que trazia ao homem de Deus, à guisa de primícias, vinte pães de cevada e trigo novo no seu saco. Dá-os a esses homens, disse Eliseu, para que comam. Seu servo respondeu: Como poderei dar de comer a cem pessoas com isto? Dá-os a esses homens, repetiu Eliseu, para que comam. Eis o que diz o Senhor: Comerão e ainda sobrará. E deu-os ao povo. Comeram e ainda sobrou, como o Senhor tinha dito".

Discurso de Jesus sobre o pão da vida vv 22-71

No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar percebeu que Jesus não tinha subido com seus discípulos na única barca que lá estava, mas que eles tinham partido sozinhos. Nesse meio tempo, outras barcas chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. E, reparando a multidão que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entrou nas barcas e foi até Cafarnaum à sua procura. Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: Mestre, quando chegaste aqui? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois nele Deus Pai imprimiu o seu sinal. Perguntaram-lhe: Que faremos para praticar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou. Perguntaram eles: Que milagre fazes tu, para que o vejamos e creiamos em ti? Qual é a tua obra? Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: Deu-lhes de comer o pão vindo do céu (Sl 77,24). Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo. Disseram-lhe: Senhor, dá-nos sempre deste pão! Jesus replicou: Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede. Mas já vos disse: Vós me vedes e não credes... Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o lançarei fora. Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia. Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Murmuravam então dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu. E perguntavam: Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu? Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia. Está escrito nos profetas: Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai e foi por ele instruído vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus, esse é que viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne? Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente. Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir? Sabendo Jesus que os discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: Isso vos escandaliza? Que será, quando virdes subir o Filho do Homem para onde ele estava antes?.. O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida. Mas há alguns entre vós que não crêem... Pois desde o princípio Jesus sabia quais eram os que não criam e quem o havia de trair. Ele prosseguiu: Por isso vos disse: Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lho for concedido. Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele. Então Jesus perguntou aos Doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus! Jesus acrescentou: Não vos escolhi eu todos os doze? Contudo, um de vós é um demônio!... Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, porque era quem o havia de entregar não obstante ser um dos Doze".

Esta segunda parte pode ser dividida em oito pontos:

1.Encontro de Jesus na outra margem do lago: como Ele chegou lá: (vv. 22-25);

2.Motivo falso para buscar Jesus: trabalhar para comida que dura até a vida eterna (vv. 26-27);

3.Obra de Deus: fé naquele que ele enviou. Verdadeiro pão dado por Deus, seu Pai: o pão que desceu do céu (vv. 28-34). No v. 34 se lê: "Senhor, dá-nos sempre deste pão!" É um v. que nos remete ao texto da Samaritana: "Senhor dá-me dessa água..." (Jo 4, 15). Antes se tem o pão e aqui a água. Fazendo uma analogia livre, de forma que este sermão possa valer para suscitar reflexões atuais a cerca de realidades que tocam a vida de cada sacerdote, pode afirmar que nestes versículos versam sobre os temas da eucaristia, esta sem nenhum problema para afirmar, e também do Batismo. Este faz-nos participar da morte e ressurreição de Cristo. A Samaritana estava morta: vivia no pecado: "Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu. Nisto disseste a verdade" (Jo 4, 18). Ela começou a participar da Ressurreição de Cristo quando anunciou: "Vinde e vede um homem que me contou tudo o que tenho feito. Não seria ele, porventura, o Cristo?" (Jo 4, 29). O Batismo, então, exige-se vida nova entrega à imitação de Cristo;

4.Jesus é o pão do céu: crer nele fica sem fome nem sede, tem vida eterna e Jesus o ressuscitará no último dia (vv. 35-40). O v. 40 diz: "Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia";

5.Crer e vida eterna – Jesus é o pão da vida, pão vivo que desceu do céu – comer desse pão, carne sua, viverá eternamente (vv. 41-51);

6.A carne de Jesus é comida e seu sangue bebida – quem como e bebe nele permanece, tem vida eterna será ressuscitado (vv. 52-58). No v. 54 lê-se: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" – como foi dito no v. 40 do ponto 4. é preciso também olhar para os vv 56-57: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim";

7.Palavras duras. Palavras de Jeus são espírito e vida. Crer nele é dom do Pai (vv. 59-65);

8.Muitos discípulos se retiraram – pergunta de Jesus aos 12 – resposta de Pedro: só tu tens palavras de vida eterna – Judas demônio (vv. 66-71): "Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele. Então Jesus perguntou aos Doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus! Jesus acrescentou: Não vos escolhi eu todos os doze? Contudo, um de vós é um demônio!... ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, porque era quem o havia de entregar não obstante ser um dos Doze".

III.

Jesus sacerdote e vítima

Tentaremos responder a pergunta: "porque Jesus é Pastor?" Sabendo que quando Jesus celebra a Eucaristia Ele o faz sendo sacerdote. Eis o texto:

"Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Mas quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz à pastagem. Depois de conduzir todas as suas ovelhas para fora, vai adiante delas; e as ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a voz. Mas não seguem o estranho; antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. Jesus disse-lhes essa parábola, mas não entendiam do que ele queria falar. Jesus tornou a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem. O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, porém, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenário, porém, foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor. O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai. A propósito dessas palavras, originou-se nova divisão entre os judeus. Muitos deles diziam: Ele está possuído do demônio. Ele delira. Por que o escutais vós? Outros diziam: Estas palavras não são de quem está endemoninhado. Acaso pode o demônio abrir os olhos a um cego?".

Diante do texto podemos formular três perguntas: a) quem é o Porteiro? b) quem são as Ovelhas? c) quem ou o que é o aprisco? No texto Jesus acentua a figura do Pastor e da Porta. Santo Agostinho diz que o porteiro é Cristo. Nos vv. 7 e 9 nos dizem que a Porta é Cristo e o Ap 4, 1 nos reforça:? "Depois disso, tive uma visão: vi uma porta aberta no céu, e a voz que falara comigo, como uma trombeta, dizia: Sobe aqui e mostrar-te-ei o que está para acontecer depois disso". A porta é "estreita". "Entrará e sairá" (v. 9) entrar na fé pelo Batismo e sair para a vida eterna.

Jesus é o Pastor, o Porteiro e a Porta. Ele entra na Porta por si mesmo, pelas duas naturezas. Jesus diz duas vezes ser a Porta (vv. 7 e 9) e Pastor (vv. 11 e 14). Em Jesus ninguém pode ser Porta, pois só há uma Porta como também há um só caminho. Jesus nos faz participar somente do seu ser Pastor.

Neste texto de São João, o termo "conhecer" tem uma peculiaridade em relação ao conhecer das ovelhas (v. 14) e o conhecer mútuo entre o Pai e Jesus (v. 15).

Na Bíblia (Cf. Os 2, 22), segundo a análise da Bíblia de Jerusalém, o "conhecimento" não provém de uma presença (comparar Jo 10, 14-15 e 14, 20; 17, 21-22; 14, 17; 17, 3; 2Jo 1,2) ele desabrocha, necessariamente, em amor (Cf. Os 6, 6 e 1Jo 1, 3).

O conhecer as ovelhas por parte de Jesus é gerá-las e dar sua vida por elas. Isso Ele o fez com sua própria morte. Mesmo recebendo todo este cuidado de Cristo as ovelhas ainda se mostram preocupadas. Primeiramente, elas manifestam uma preocupação interna. Causada pelos "ladrões e assaltantes" (v. 1). Em outras traduções lê-se "mercenário". A segunda preocupação das ovelhas é externa: "Elas não seguiram um estranho, mas fugirão dele, porque não conhece a voz dos estranhos" (v. 4).

No geral, em síntese, o texto pode ser dividido em três partes: 1) Jesus como Porteiro (v. 1-6); 2) Jesus é a Porta (v. 7-10) e 3) Jesus é o Bom Pastor (v. 11-21).

2.

A figura de Cristo na sua vivencia sacerdotal

A vivencia sacerdotal de Cristo pode ser vislumbrada a partir de dois textos de Hebreus:

a) 5, 1-10: "Em verdade, todo pontífice é escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Sabe compadecer-se dos que estão na ignorância e no erro, porque também ele está cercado de fraqueza. Por isso, ele deve oferecer sacrifícios tanto pelos próprios pecados quanto pelos pecados do povo. Ninguém se apropria desta honra, senão somente aquele que é chamado por Deus, como Aarão. Assim também Cristo não se atribuiu a si mesmo a glória de ser pontífice. Esta lhe foi dada por aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei (Sl 2,7), como também diz em outra passagem: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec (Sl 109,4). Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem, porque Deus o proclamou sacerdote segundo a ordem de Melquisedec".

b) 10, 1-10: "A lei, por ser apenas a sombra dos bens futuros, não sua expressão real, é de todo impotente para aperfeiçoar aqueles que assistem aos sacrifícios que se renovam indefinidamente cada ano. Realmente, se os fiéis, uma vez purificados, não tivessem mais pecado algum na consciência, não teriam cessado de oferecê-los? Pelo contrário, pelos sacrifícios se renova cada ano a memória dos pecados. Pois é impossível que o sangue de touros e de carneiros tire pecados. Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade (Sl 39,7ss). Disse primeiro: Tu não quiseste, tu não recebeste com agrado os sacrifícios nem as ofertas, nem os holocaustos, nem as vítimas pelo pecado (quer dizer, as imolações legais). Em seguida, ajuntou: Eis que venho para fazer a tua vontade. Assim, aboliu o antigo regime e estabeleceu uma nova economia. Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo".

Em Hebreus é onde se encontra claramente referencia a Cristo como Sacerdote e Sumo Sacerdote. Em nenhum outro livro Bíblico isso aparece. No entanto, em outras passagens se percebe o agir sacerdotal de Cristo, porque o ser sacerdotal de Cristo está sua ação.

No Novo Testamento encontra-se a novidade do Sacerdócio de Cristo em relação com o antigo sacerdócio do Antigo Testamento. Quando se pensa no sacerdócio antigo já se imaginavam sacrifícios de animais no Templo de Jerusalém. Pensavam-se também nos sacerdotes judeus, os quais ofereciam os sacrifícios buscando a santificação tanto para si mesmo como também para as pessoas.

A "santidade" era buscada para se separar o profano do sagrado. O sacerdote antigo tinha que fazer a ponte entre os homens e Deus. Deus corresponde a fidelidade que se pauta na verdade. O homem implica fidelidade à verdade de Deus.

O sacerdote antigo á aquele que é separado das coisas profanas para oferecer sacrifícios em sinal de expiação, como ratifica Deuteronômio e Levítico. Ele entrava no santuário para fazer um rito: "para realizar o serviço cultual" (9, 6). Porém, o sacerdote não podia entrar no santuário sem que oferecesse sacrifícios tanto por suas faltas como também pelos do povo: "e isso não acontece sem antes oferecer sangue por suas falhas e pelos do povo" (Hb 9, 7). Contudo, os sacerdotes antigos "sinal de que os dons e sacrifícios que se ofereciam eram incapazes de justificar a consciência daquele que praticava o culto" (Hb 9, 9). Isso tudo não passavam de um ritualismo, porque "tudo eram ritos humanos" (Hb 9, 10).

Em Cristo, no entanto, se vê um sacrifício, o qual supera todo o derramamento de sangue dos sacerdotes judeus. Em Cristo se dá um sacerdócio que vai além de um sacrificar em forma de ritualismo. Seu ser mesmo se torna sacerdotal. Ou seja, é um ser sacerdotal que se pauta na misericórdia. Por que Ele não quer mais sacrifícios: "Tu não quiseste sacrifício e oferenda" (Hb 10, 5).

A grande originalidade do sacerdócio de Cristo é que Ele supera o ritualismo e oferece a si mesmo como sacrifício uma vez para sempre. Diferentemente dos sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes antigos que eram oferecidos várias vezes. Hebreus confirma: "Cristo, porém, veio como sumo sacerdote dos bens vindouros. Ele atravessou uma tenda maior e mais perfeita, que não é obra de mãos humanas, isto é, que não a esta criação. Ele entrou uma vez por todas no Santuário, não com o sangue de bodes e de novilhos, mas com o próprio sangue, obtendo uma redenção eterna" (Hb 9, 11-12).

A novidade é que Cristo oferece não animais, mas a si mesmo; Ele entra, para se oferecer, não em um santuário humano, antes entra na tenda "armada pelo Senhor" (Hb 8, 2).

Consideração final

Neste "sermão espiritual sacerdotal" pudemos adentrar um pouco na realidade sacerdotal. Sabendo que todo sacerdote tem como modelo o próprio Cristo Sumo, Eterno e Único Sacerdote. Todos os sacerdotes ministeriais participam, por Cristo quis ao dizer: "fazei isto em minha memória" (1Cor 11, 25), do único sacerdote de Cristo. É, pois, uma participação despersonificante. Ao participar do sacerdócio de Cristo, o "Eu" do padre é abarcado pelo "Eu filiar", como diz o Papa Bento XVI, do mesmo Cristo. O sacerdote fica despersonificado para "ansiar por esta identificação", como ensina o Pontífice. Deste modo, tudo quanto Cristo ensinou e fez deve ser imitado pelos sacerdotes, os quais O têm como paradigma.

BIBLIOGRAFIA

Bíblia de Jerusalém...

Bíblia Ave Maria (Virtiual)

BENTO XVI, Papa. CARTA DO SUMO PONTÍFICEPARA A PROCLAMAÇÃO DE UM ANO SACERDOTALPOR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO DO DIES NATALIS DO SANTO CURA D'ARS. Acessado dia 28 de dezembro de 2009 às 17h.



[1] É Diácono, estudou Filosofia e cursa Teologia no SMAB; Escreve mensalmente na coluna "filosofando" do Jornal "Alô Vicentinos!!"; participou pela terceira vez do concurso internacional de Filosofia da "Revista Virtual Antorcha Cultural" e tem vários blogs.