SERENITA ? UMA HISTÓRIA DE AMOR

Serenita, uma sereia dos mares do Norte, estava sentada na meia-lua, entrançando algas e conchas para uma coroa. Duas grossas lágrimas brilhavam no seu rosto.
- Porque choras, minha amiga? Que maus pensamentos tens na tua cabecinha? ? perguntou a Baleia docemente.

Serenita não respondeu.
O seu olhar perdia-se no horizonte, para lá das ondas, para lá do mar.

- O que é que ela tem? ? questionou o Cavalo Marinho intrigado.

- Se calhar tem o coraçãozinho apertado. - opinou a Lula.

- Diz-nos Serenita, - pediu o Golfinho ? porque choras tu?

Serenita olhou à sua volta.

Tantos amigos que ali estavam!
- Amanhã é o Dia dos Namorados e eu estou muito triste, porque queria oferecer uma concha e o meu amor está muito longe. ? respondeu ela soluçando.

- Serenita ? disse a Carpa muito séria ? o amor não tem distância, está para lá do espaço.

- Mas eu queria muito dar-lhe uma prenda. ? suspirou Serenita.

- Eu nado muito depressa. ? disse o Golfinho.
- Se quiseres sentas-te nas minhas costas e eu levo-te até lá. - ofereceu-se ele.

- Não pode ser. ? lamentou-se Serenita ? ele está muito, muito longe, para lá do mar, fala outra língua e pertence a outra espécie.
- A outra espécie e fala outra língua! ? surpreendeu-se o Polvo. Que espécie?!

- Bem? ele é? ele é? um Centauro ? respondeu Serenita.
- Um Centauro?! Com tantos tritões por aqui e tu vais apaixonar-te por um Centauro?! ? espantou-se a Tartaruga.

- O amor não escolhe espécies. ? disse a Carpa.
- E fala apenas uma língua. ? acrescentou a Medusa.

- Conta-nos lá Serenita, onde foste tu conhecer um Centauro. ? continuou o Polvo.

- Foi na Marcha pela Paz. Aqui no mar, nós nadavámos e ,na terra, ao mesmo tempo, muitas espécies marchavam pela Paz no mundo. Eu quis espreitar para ver como era e o meu olhar cruzou-se com o daquele centauro lindo e apaixonei-me. ? respondeu ela, a chorar de novo.

Se calhar nunca mais o volto a ver! Ele precisa da terra para viver e eu preciso do mar.

Os animais ficaram em silêncio.
Como poderiam eles ajudar Serenita?
Como podia ela oferecer uma concha ao Centauro, que tão longe estava?

O Albatroz, que até ao momento tinha estado calado, propôs:

- Eu posso voar muito rápido, até ao país dos centauros, e levar-lhe a tua concha Serenita. Assim, ele saberá que estás com ele.

- Olha Serenita, - disse a Baleia ? podias mandar-lhe também um recado pelo Albatroz, a combinar o dia em que se podem ver.

- E que dia seria esse? ? questionou Serenita. E de que serve um dia num ano tão grande, tão grande?!

- Serenita, escuta-me, - pediu a Carpa. O amor não tem dias, porque está para além do tempo.

Se, num dia do ano, puderes ver o Centauro, saberás que ele existe e é único para ti e ele saberá que tu existes e és única para ele.

Serenita ficou pensativa. Os amigos olhavam para ela à espera de uma decisão.

- Albatroz? por favor, diz ao Centauro que o visitarei todos os anos, no dia 333.

Os amigos suspiraram de alívio.
Que bom que Serenita aquietava o seu coração!

- Em todos os outros dias do ano, ? acrescentou Serenita ? eu viverei o amor à mesma, porque o amor tem muitas formas, muitos tamanhos, muitas cores? e eu poderei levar conchas a muitos, muitos corações.