"Enquanto não substituirmos o poder pelo servir, viveremos a ambiguidade do progresso unicamente material. Sabemos ir a Lua, podemos ir a Marte, mas, como alerta José Saramago, não sabemos nos comunicar com nossos vizinhos." HUGO WERNECK

 

Desde a época que o homem habitava-se nas cavernas o mesmo já se dava conta que a chave para o progresso seria a interação com indivíduos da mesma espécie. Inicialmente viver em contato direto com seres da mesma espécie era um desafio, visto que existiam grandes barreiras tais como o “medo do novo”. Tais dificuldades iniciais de estabelecer contato se deviam ao instinto humano de defesa e sobrevivência uma vez que na falta de leis sociais o que os guiava era muitas vezes era a fome, podendo a necessidade de comunicação acabar levando ao indivíduo servir de alimento à seu semelhante. A raça humana tende a reagir com tudo que é de novo como sendo uma ameaça ou uma presa. Graduais avanços e descobertas se iniciaram na humanidade quando o homem deu conta de interagir e viver em grupos sociais. Toda essa tecnologia disponível hoje só foi possível porque esse homem “cavernal” já dava conta de estabelecer linguagem independente de ter ou não uma língua consolidada. Com isso, pode-se então apostar que a interação social é mais importante para sobrevivência de uma sociedade do que a tecnologia. Hoje paga-se tão caro por essa tal tecnologia, famosa por ser “a solução que o mundo precisava” para progredir. Essa idéia é pouco convincente, é suspeita e é questionável uma vez que a sociedade primitiva nunca precisou de tecnologia para desenvolver-se. Pode-se perceber que a base do progresso teve início na sociedade primitiva. A atualidade não seria “tecnológica” se não houvesse uma sociedade arcaica que contribuísse para que isso. Contudo pode-se afirmar que se cada indivíduo não lutar pela continuidade da interação com o seus pares a tecnologia será a ultima conquista da humanidade. O homem passou milhares de anos em progresso contínuo: desenvolveu uma linguagem própria, suas ferramentas de trabalho, seus meios de transporte, enfim, as mudanças sempre foram contínuas embora não existissem livros e nem mesmo “sistema operacional”. Então como a carga cultural era armazenada e mantida? Maravilhosamente de geração em geração isso foi possível por uma fórmula matemática muito eficiente: comunicação somada com a diversidade. No filme “O carteiro e o Poeta” o poeta chileno Pablo Neruda ao exilar-se em uma ilha do mediterrâneo encontra um carteiro italiano. Após um rico dialogismo ambos observam a interação pessoal como uma chave que proporcionou a ambos uma mudança de percepção de “mundo”. A tecnologia quer vender como produto até mesmo a comunicação. O dificíl nesse processo tecnológico, onde tudo é rápido e perfeito é perceber que a comunicação “via rede” é imaginária. O real e o intimo só é percebido pelo contato “olho a olho”. Pela primeira vez durante milhares de anos a humanidade experimenta esse tipo de interação mediado por meios eletrônicos. Será que isso vai dar certo? Estou em acordo com Freire (1983) o qual defende que o processo de "dialogação" é o principal fator que proporciona uma consciência verdadeiramente crítica. O dialogo permite a passagem de uma consciência transitiva ingênua para uma consciência crítica e libertadora. Deve-se analisar mais profundamente se a comunicação mediada pela tecnologia vai ser dialogicamente suficiente para a continuidade da evolução natural da espécie. Será que o futuro será de eternas crianças vivendo num mundo lúdico? Será que teremos que suprimir os nossos sentidos e buscar entender o mundo por metáforas?