Walderlene Sousa Lima**

Enquanto docentes este é um questionamento que constantemente temos que responder a nós mesmos(as). Especialmente neste 15 de outubro, quando deveríamos comemorar o DIA DO PROFESSOR, é extremamente oportuno refletirmos sobre algumas questões ligadas à nossa profissão.
Inseridos num contexto complexo e rico de incertezas, temos a cada dia que nos revestir de forças, coragem e determinação para continuarmos exercendo a docência, pois como afirma Zabalza (2003) "decididamente os dilemas fazem parte da vida cotidiana nas salas de aula e transformam-se em desafios para a profissão".
No que se refere ao Brasil, e de forma especial ao Sistema Público Estadual Maranhense, os desafios são ainda mais evidentes. Enfrentando diariamente classes superlotadas (chegando até a 68 alunos) com discentes de realidades distintas, o que obrigatoriamente exige abordagens diferenciadas ? ainda somos responsáveis por proporcionar "Educação de Qualidade" e não apenas informar, mas, sobretudo formar cidadãos críticos e aptos a exercerem a cidadania (que cidadania?) como afirmam "NOSSOS GOVERNANTES" em seus discursos eleitoreiros.
Não bastasse a superlotação das turmas, no ambiente escolar também enfrentamos problemas como sala sem ventilação e iluminação, falta de materiais básicos (papel, pincéis ou mesmo giz), péssimas condições dos quadros brancos ou negros, indisciplina de alunos, desrespeito e cobranças exacerbadas dos pais e ou dirigentes de escolas, desvaloração/desvalorização do trabalho docente, doenças ocupacionais,
dentre outros.
Diante de todo esse quadro caótico, ainda assistimos com freqüência à responsabilização da classe docente quando o estado desponta negativamente (com muita freqüência) em pesquisas que avaliam a qualidade da educação.
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* Artigo publicado em 15/10/2004 no Jornal Diário da Manhã (São Luís-MA). ** Pedagoga. Terapeuta Ocupacional. Especialista em Gerontologia. Professora da Rede Pública Municipal e Estadual. Acadêmica de Direito (7º período).

Ultimamente o descaso dos governantes (estaduais) com a categoria tornou-se ainda mais perceptível, tendo em vista o conjunto de medidas adotado: atraso no pagamento de professores (contratados e jornada ampliada), descumprimento de acordos salariais, tentativas de retirada de direitos assegurados no Estatuto do Magistério (Lei nº 6.110, DE 15 DE AGOSTO DE 1994), fechamento de escolas de Ensino Fundamental no meio do ano letivo, além de divulgação de notícias enganosas sobre os conflitos que têm emergido entre governo e professores.
Face a essa realidade nada promissora, prosseguimos...E prosseguiremos oferecendo à população o melhor trabalho possível (dentro das limitações expostas), pois sabemos que o DESCASO É INTENCIONAL ? uma tentativa de estabelecer a "pedagogia do se você finge que me paga, eu finjo que ensino", já que uma população insipiente é mais fácil de ser manipulada, condição indispensável para a manutenção do status quo no Maranhão.
Em meio a esta avalanche afirmo: AINDA VALE À PENA SER PROFESSOR (A), SIM, porque é no exercício docente ? entendido como prática política no sentido amplo da palavra que podemos romper com a ideologia dominante, com o CICLO VICIOSO DA POLITICAGEM instalado e arraigado nesse Estado e contribuir para a formação de cidadãos realmente críticos e para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática.
Ser professor valerá à pena, sim, enquanto acreditarmos (sonharmos) que logo seremos governados por políticos honestos e sérios, que entendam realmente o sentido de governar e educar, pois estes serão capazes de "formular políticas públicas de valorização efetiva da educação escolar e de seus profissionais" (VASCONCELLOS, 2003).
Embora aos céticos a afirmação acima pareça utópica, continuaremos a sonhar, pois, parafraseando Paulo Freire, "ai de nós educadores (as) se deixarmos de sonhar sonhos possíveis."
REFERÊNCIAS
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Alguns dilemas do professor no contexto de complexidade. Pátio: revista pedagógica. Ano VII, nº 27, agosto/outubro de 2003.
WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. 21 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
ZABALZA, Miguel. Os dilemas práticos dos professores. Pátio: revista pedagógica. Ano VII, nº 27, agosto/outubro de 2003