"SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO"

Eduardo Veronese da Silva


A célebre frase alcunhada por William Shakespeare é apresentada numa peça teatral de sua autoria: "A Tragédia de Hamlet". Esse e outros questionamentos ultrapassaram a barreira temporal e, sem dúvida alguma, continuam a ecoar por todos os cantos da terra.
No transcorrer dos atos e das cenas, é apresentado ao público um conflito entre o "ser" e o "estar" do seu personagem principal. Deixando transparecer de forma clara, haver uma crise existencial vivida pelo ator. São muitas indagações sobre o ser (humano) e qual seria seu real papel na sociedade. O teor do ato encenado pode ser assim resumido: "Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas com que a fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provações. E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais. Dizer que rematamos com um sono a angústia. E as mil pelejas naturais herança do homem: Morrer para dormir... é uma consumação. Que bem merece e desejamos com fervor. Dormir... Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo: pois quando livres do tumulto da existência, no repouso da morte o sonho que tenhamos devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios. Quem sofreria os relhos (açoites) e a irrisão (escárnio) do mundo, o agravo do opressor, a afronta do orgulhoso. Toda a lancinação (aflição) do mal-prezado amor, a insolência oficial, as dilações da lei, Os doestos (acusações) que dos nulos têm de suportar. O mérito paciente, quem o sofreria, quando alcançasse a mais perfeita quitação. Com a ponta de um punhal? Quem levaria fardos, gemendo e suando sob a vida fatigante, se o receio de alguma coisa após a morte; - Essa região desconhecida cujas raias jamais viajante algum atravessou de volta; - Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos? O pensamento assim nos acovarda, e assim é que se cobre a tez normal da decisão, com o tom pálido e enfermo da melancolia. E desde que nos prendam tais cogitações, empresas de alto escopo e que bem alto planam desviam-se de rumo e cessam até mesmo de se chamar ação (...)".
Observa-se no ato, verdadeira apresentação filosófica na fala do personagem, i. é., uma busca da compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua inteireza. Será isso possível ao homem? Passado tantos anos, as mesmas dúvidas encenadas na peça, continuam permeando a mente e o comportamento do homem na sociedade atual.
Muitas vezes, essa mesma sociedade é influenciada pelo modismo da época e pela propagação de falsos ideal, principalmente massificado na mente da população, por uma mídia (de todos os tipos) descompromissada com o bem-estar social, haja vista que seu principal foco é a audiência e a lucratividade.
Isso e outros fatores têm levado esse ser, a se distanciar de sua origem natural, ou seja, do seu verdadeiro "ser" (sua vinda ao mundo). Buscando adquirir/apresentar características que em nada condizem com sua natureza biológica e física. Estima-se que pessoas que adotam essa postura, passam a viver uma crise existencial, um verdadeiro conflito entre o "ser e o estar". Na verdade, sabem o que "são", mas não querem aceitar a forma como foram concebidas ao mundo.
Por isso, recorrem às modernas intervenções cirúrgicas, mudando totalmente seu jeito de ser (estéticamente). E busca nas leis a garantia de seus direitos (mudança do nome de registro e gênero); nada mais do que plausível. Entretanto, nem uma e nem outra, terão a capacidade de mudar aquilo que é imutável. Assim, por mais que aparentem "ser" (o conflito existencial permanece), jamais o serão, mas, "estarão" no mundo.


EDUARDO VERONESE DA SILVA
Professor de Educação Física ? UFES.
Bacharel em Direito ? FABAVI/ES.
Especialista em Direito Militar ? UCB/RJ.
Subtenente da PMES