Aline Jéssica Furtado Serra*

RESUMO

Nascimentos prematuros têm ocorrido com grande freqüência, fato que estimula a presença de sentimentos ocultos nas mães devido às preocupações relacionadas à saúde do neonato. Este estudo é abordado de forma quanti-qualitativa, relatando os sentimentos expressados pelas mães nas diversas situações enfrentadas em ambiente hospitalar e os fatores precipitantes, tendo como sujeito 61 mães de bebês prematuros de uma maternidade pública de São Luís-MA. Através dessa abordagem, pretende-se refletir sobre o vínculo mãe-bebê que deve se estabelecer ainda no hospital a partir da vivência contínua instalada e da capacidade materna de adaptar-se a um bebê com complicações e instável, permitindo-lhe desenvolver-se favoravelmente, propiciando a promoção e manutenção desse vínculo. Os resultados evidenciam relatos de outros autores, ao demonstrar que as mulheres engravidam cada vez mais jovens, cerca de 49,2% delas com idade entre 14 e 20 anos, com instabilidade financeira e emocional instaladas, sendo fator contribuinte para a ocorrência de partos prematuros e problemas emocionais nas mães, os quais foram atenuados através de conversas, sentindo-se compreendida e exprimindo seus sentimentos, encarando a vida de outra forma: "colhendo pérolas nas dificuldades".

Palavras-chave: Sentimentos. Prematuridade. Enfermagem.

1 INTRODUÇÃO

O parto prematuro é definido como a interrupção da gestação depois da 20ª semana completa e antes da 37ª semana incompleta e ainda, quando a data da última menstruação não é disponível, define-se pelo aspecto ponderal como aqueles recém-nascidos cujo peso está na faixa de 500 a 2500 gramas (CUNHA; DUARTE, 1998).
Segundo Brasil (2007), anualmente há 20 milhões de nascimentos prematuros no mundo, sendo que muitos morrem nos primeiros anos de vida, o que relata uma taxa elevada e, portanto, preocupante. É fundamental que sejam tomadas medidas corretivas de prevenção e conseqüente diminuição dessas taxas.
De acordo com Cunha e Duarte (1998), o parto pré-termo, assim como o parto a termo, começa com contrações uterinas, com conseqüente dilatação do colo cervical e expulsão do feto. Os fatores freqüentemente associados ao nascimento prematuro de bebês são os demográficos, sócio-econômicos, hábitos de vida inadequados, antecedentes obstétricos, intercorrências ginecológicas e gestacionais. Portanto, para distinguir o fator que originou esse problema, é necessário conhecer a história clínica da paciente, bem como o resultado dos exames complementares solicitados.
* Graduanda de Bacharel em Enfermagem do Centro Universitário do Maranhão-UNICEUMA.
Email: [email protected]

Einloft et al (1996) discorre acerca do papel do enfermeiro em UTI neonatal, visto que a mãe tem necessidade de conversar com alguém, de desabafar; portanto, cabe ao profissional de enfermagem ? não só como profissional componente da equipe multidisciplinar, mas enquanto ser humano ? ouvi-la em suas lamentações, dificuldades, apoiá-la quando necessário, bem como ser ponte facilitadora na obtenção de informações acerca do quadro do bebê, tranqüilizando-a emocionalmente.
De acordo com Bowlby (1990), o sentimento proporciona um serviço de monitoria de estado comportamental do indivíduo, à medida que esse pode registrar e relatar, adotará naturalmente a linguagem do sentimento. [ ] (1997) Sentimentos como raiva desmedida, tristeza, choro impotente, solidão, culpa, insegurança, desespero, medo, abandono, são freqüentemente evidenciados pelas mães e essas têm necessidade de expressar tais sentimentos, para trazer alívio em seu âmago. [ ] (1998) Sugere que o profissional passe a ver as coisas do ponto de vista da paciente, respeitando seus sentimentos, por menos realistas que possam parecer. Pois, sentindo-se compreendida, haverá a possibilidade de que expresse todos os sentimentos que estão fervilhando em seu íntimo.
Conforme os relatos de Souza et al (2007) os problemas emocionais relativos as mães, também decorrem quando mãe e familiares vivenciam sobrecargas emocionais devido a sentimentos ambíguos, entre o desejo de participar e interagir com o bebê e a necessidade dos recursos terapêuticos.
Gomes (2004) discorre que a equipe deverá acompanhar qualquer alteração na dimensão subjetiva da paciente, bem como atentar às etapas do processo de aproximação e contato mãe-bebê para a constituição da relação e recuperação do bebê.
A partir do pressuposto de incidência elevada, tem-se como objetivo conhecer os fatores de risco para a prematuridade e relacioná-los, além de destacar as dificuldades enfrentadas pelas mães durante o período gestacional e relatar a vivência dessas no ambiente conflitante do hospital.

2 METODOLOGIA

Estudo prospectivo, exploratório com abordagem quanti-qualitativa, realizado no período de abril a maio de 2008, em uma Maternidade Pública situada na cidade de São Luís, considerada como centro de referência em UTI neonatal para todo o estado do Maranhão.
A amostra foi constituída de 61 mães que tiveram seus bebês prematuros, encontradas nas alas das Enfermarias, UTI neonatal e Berçário Intermediário. A seleção ocorreu de forma aleatória e foram entrevistadas apenas as mães que concordaram em fazer parte de todo o processo da pesquisa, sendo excluídas as que desistiram de participar do estudo. A inclusão dessas mães deu-se a partir da triagem através dos registros em prontuários dos partos com idade gestacional abaixo de 37 semanas e/ou feto com peso entre 500 e 2500 gramas. Na ausência desses dados, realizou-se o cálculo da idade gestacional ? IG ? através da data da última menstruação ? DUM.
Para a coleta de dados, foi aplicado um questionário semi-estruturado e simultaneamente foram realizadas entrevistas, indagando-se as seguintes variáveis: idade da mãe, estado civil, tipo de parto, escolaridade, realização de pré-natal, complicações durante a gestação, aceitação da gravidez, visitas recebidas, apoio da família e do pai da criança, bem como respostas subjetivas dadas pelas mães.
As mães foram acompanhadas durante a internação dos bebês, com o objetivo de identificar-lhes o sentimento real em todo o processo de recuperação dos recém-nascidos, sendo que foram observadas minuciosamente e analisadas a cada gesto e fala. As mães que se apresentaram emocionalmente mais frágeis e abaladas foram encaminhadas para suporte psicológico com a equipe da instituição. Essa situação foi manifestada por apenas uma mãe de forma preocupante, a qual recebeu total apoio e acompanhamento da equipe, o que propiciou uma melhora significativa do seu estado emocional.
Os aspectos éticos foram obedecidos, de forma que, ao início dos trabalhos, realizou-se a explicação do objetivo da pesquisa, bem como a garantia de que as informações seriam mantidas em sigilo, utilizadas apenas para fins científicos, momento no qual puderam decidir se desejavam fazer parte da pesquisa, assinando o termo de consentimento. Apenas uma das entrevistadas não consentiu com a continuidade da pesquisa, ficando automaticamente fora da análise estatística. O responsável pela liberação da pesquisa na instituição ficou esclarecido acerca da relevância da pesquisa, seus objetivos, o período em que a pesquisa seria realizada, a metodologia utilizada, como seriam colhidos e organizados todos os dados, assegurando-lhe que as informações seriam mantidas em sigilo e que os resultados da pesquisa seriam entregues à instituição.
Os dados foram analisados estatisticamente pelo programa SPHINX e organizados em forma de gráficos e tabelas para exposição dos resultados quantitativos. Já para a explanação de dados qualitativos, utilizou-se os depoimentos das mães, caracterizando-as com pseudônimos de pedras preciosas, com o objetivo de preservar a identidade das mesmas.




3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Através da análise minuciosa e do estudo relativo à prematuridade, obteve-se os seguintes resultados:


Idade Nº Percentual
14 I--------20 30 49,2%
21 I--------30 24 39,3%
31 I------I 40 07 11,5%
TOTAL 61 100,0 %
Estado Civil Nº Percentual
Solteira 22 36,1%
Casada 10 16,4%
Divorciada 0 0,0%
Separada 0 0,0%
Concubinato 29 47,5%
TOTAL 61 100,0%
Religião Nº Percentual
Católica
Protestante
Outra 44
10
7 72,1%
16,4%
11,5%
TOTAL 61 100,0%












De acordo com os dados obtidos demonstrados na Tabela 01, observou-se que grande parte dos partos prematuros ocorre em mulheres jovens, visto que, 49,2% das mães entrevistadas apresentaram idade entre 14 e 20 anos. Outro dado importante é que 11,5% dessas mães apresentaram idade entre 31 e 40 anos, o que coincide com estatísticas demonstradas por Cunha e Duarte (1998), evidenciando que os extremos de idade são fatores de risco gestacional e precipitante de partos.
Com relação ao estado civil das mães, Cunha e Duarte (1998) relataram que o parto prematuro apresenta-se com maior predominância nas solteiras, e este estudo demonstrou que a maioria delas apresenta vida conjugal informal, ou seja, cerca de 47,5% das puérperas vivem em concubinato, e 36,1% são mães-solteiras. Tal fato foi importante para a causa da instabilidade emocional das mães, visto que essas mães sentiram-se tristes e desamparadas, ao observar a presença de maridos de outras mães, quando a elas restava a solidão.
Quanto ao aspecto espiritual, as religiões mais seguidas foram o Catolicismo, com 72,1%, seguido do Protestantismo, com 16,4%. Observou-se que apenas 11,5% das mães relataram que não possuem nenhuma religião. Todas as mães, independente da religião, demonstraram a preocupação de salvar seus filhos, sem preocuparem-se com as condições em que seriam realizadas. Segundo Tripicchio (2007), a concepção católica acerca da prematuridade é de que a aceleração do parto só deve ser realizada se o bebê possuir condições de sobrevivência fora do útero materno e não deve ser feita apenas com o objetivo de salvar a mãe.




Área de Ocupação Nº Percentual
Comércio 04 6,6%
Indústria 0 0,0%
Serviços Gerais 07 11,5%
Educação 03 4,9%
Área Rural 07 11,5%
Saúde 0 0,0%
Não Trabalha 40 65,6%
TOTAL 61 100,0%
Escolaridade Nº Percentual
Não Alfabetizada 0 0,0%
Ensino Fundamental 18 29,5%
Ensino Médio 43 70,5%
Ensino Superior 0 0,0%
TOTAL 61 100,0%

A Tabela 02 retrata a instabilidade financeira das mães estudadas, haja vista que 65,6% relataram que não trabalham, o que, devido à situação e às profissões por elas referidas, conclui-se que essas mães têm renda muito baixa. Cunha e Duarte (1998) relatam que a partir do conhecimento da profissão das puérperas, podem-se relacionar às questões higiênicas, esforços excessivos e alimentação deficiente, fatores de risco para a prematuridade.
Segundo o nível de instrução, foi revelado que 70,5% das mães têm a escolaridade até o Ensino Médio, o que demonstra que essas têm grande acesso às informações acerca de métodos preventivos e saudáveis.















Quanto ao tipo de parto, o gráfico 01 demonstra que cerca de 55,7% das mães de bebê prematuros entrevistadas evoluíram para o parto cesáreo e 44,3% para o parto normal. A análise acerca da evolução do parto demonstra certa relação com a não-realização do pré-natal, uma vez que as complicações poderiam ser atenuadas com o acompanhamento gestacional, resultando na evolução do parto por via baixa. Cunha e Duarte (1998) acreditam que a incidência do parto cesáreo eletivo tem certa influência na ocorrência de nascimentos de bebês prematuros.














Em relação à realização de pré-natal, mais da metade delas, mais precisamente 67,2%, relataram terem realizado consultas de acompanhamento gestacional, realizando de 4 a 10 consultas, de acordo com o grau de prematuridade do bebê e 32,8% relataram que não fizeram pré-natal, ou realizaram de forma inoperante, conforme mostrou o Gráfico 02.




Complicações Nº de citações Percentual
DPP 18 29,5%
Oligoidramnia 06 9,8%
TPP 25 41,0%
DHEG 18 29,5%
Amniorrexe Prematura 27 44,3%
Infecção 10 16,4%
PP 02 3,3%
Sofrimento fetal 05 8,2%
TOTAL 61 -





Segundo a Tabela 03, a complicação mais relatada entre as mães foi a Amniorrexe Prematura, com 44,3%, e 41% das mães relataram ter tido TPP. Já DPP e DHEG tiveram o mesmo total de relatos, com 29,5%, e PP acometeu a apenas 3,3% dessas mães. Em concordância, Cunha e Duarte (1998) relatam a Amniorrexe Prematura como o fator mais acometido entre as mães, além DPP, PP e infecções maternas.
Na avaliação dos sentimentos expressos, observou-se que as mães estudadas demonstraram-se fragilizadas, devido às situações enfrentadas decorrentes da gravidez. A maioria das puérperas, cerca de 57,4%, relataram que não planejaram a gravidez e, dessas 29,5% não tiveram a aceitação da gravidez. Segundo relato, a mãe da puérpera destacou-se como a maior contrária à gravidez, 13,1%.
As puérperas exprimiram sentimentos e reações acerca da prematuridade de seus bebês, dos diversos conflitos familiares e da vivência hospitalar. Tais fatos levaram-nas a se apresentarem debilitadas emocionalmente, o que ocasionou na exposição dos seguintes sentimentos:
Rejeição, solidão, insegurança e estado depressivo
"Quando meu namorado ficou sabendo que eu estava grávida, me largou. Assumi sozinha a gravidez, até os 6 meses. Me acusaram de ter tomado remédio para abortar, pela ameaça de aborto que tive, todos brigavam comigo e eu chorava muito, minha gravidez foi muito conturbada (chora...) ." (Ametista)
" Meu pai no início não aceitava a gravidez, porque tinha medo já que os outros nasceram prematuro também, ele não queria que eu sofresse tudo que tinha sofrido com os outros. Ele ficou muito tempo sem falar comigo, me senti só, queria o apoio dele. Isso me deixou triste e insegura no início, mas depois entendi a reação dele. " (Granada)
Perfil das Mães
Safira, no primeiro contato, apresentou-se triste, chorando, tinha muito medo do que enfrentaria com o bebê. Por não ter condições de criá-lo, pensava em dá-lo em adoção, estava muito nervosa e foi encaminhada para apoio psicológico. Através de vários encontros com a psicológa e de conversas e desabafos, evoluiu com melhora considerável de seu quadro depressivo, de forma que no terceiro contato, apresentava-se mais animada e relatava que não teria mais a intenção de dar a criança.
" Eu penso em dar a criança porque não tenho condições de criar (lágrima nos olhos)[...] o pai não quer assumir (chora...)[...]sinto tristeza de não poder criar um filho meu (chora...), mas cada vez que eu olho eu me apego mais e não tenho desejo de dar ." (Safira)
Água Marinha exprimiu sentimentos de revolta em relação a equipe médica, por achar que as informações acerca do bebê não eram verdadeiras, pois elas se contradiziam; e também em relação a família do marido, com a qual teve conflitos durante toda a sua gestação, resultando em sentimento de culpa por parte da mãe.
"Há uma contradição muito grande por parte dos médicos, uns dizem uma coisa e outros dizem outra. Fico preocupada, porque não sei como está meu filho, não sei em quem confiar [...] de certa forma a culpa foi minha, porque eu fui teimosa [...] acho que meu bebê ter nascido prematuro e com hidrocefalia foi castigo de Deus." (Água Marinha)
No primeiro contato, Ônix manifestou-se calma por seu bebê está prestes a ter alta e expressava apenas gratidão por ele está evoluindo com melhora em pouco tempo.
" Ah eu sinto tanta coisa... às vezes eu sinto alegria, às vezes tristeza por ele não estar em casa comigo [....] eu agradeço muito a Deus por ter me ajudado, porque eu passei por muita coisa, eu tive vários desmaios... se não fosse Ele eu e meu bebê não estaríamos aqui." (Ônix)
Opala é muito calma e tímida. No primeiro contato, pareceu triste, mas com o acompanhamento diário, observou-se que fazia parte de seu temperamento.
"Já cometi dois abortos e perdi dois espontâneos e por isso me sinto culpada, porque acho que meu útero enfraqueceu[...] No momento achei que meu filho não fosse resistir, fiquei com medo, fiquei triste." (Opala)
Topázio sentia-se muito sozinha, estava longe de sua família e não tinha uma boa relação com as outras mães, por diversas vezes estava isolada e chorando.
"Eu fiquei muito triste porque eu não queria que tivesse sido assim, queria que tivesse nascido normal, até mesmo evitava ficar sozinha, longe da família [...]" (Topázio)
No primeiro contato, Turmalina apresentou-se confusa e sonolenta devido às medicações. Ao passar dos dias apresentou-se muito ansiosa pela alta, mas com informações médicas apresentou-se mais calma, colaborando com a terapêutica adotada a seu bebê.
"Eu pensava que meu bebê ia morrer [...], as enfermeiras diziam que ele não ia sair tão cedo da UTI, eu fiquei muito preocupada, mas os médicos me disseram que ele ia para o BI e então fiquei mais feliz."(Turmalina)
Amestista apresentou-se bem calma, relatou que se sentia muito feliz na presença de seu bebê, mas que não gostava da forma como a equipe de enfermagem a tratava, sentia-se insegura ao prestar cuidados ao bebê e tinha constantes conflitos com a família do marido.
"[...] eu não sabia como dar banho no bebê, eu disse às enfermeiras que não sabia, mas elas não me ajudaram, não me disseram como fazer [...] eu queria que agente fosse mais feliz, que fôssemos mais unidos, que houvesse união entre agente (refere-se ao marido)." (Ametista)
No primeiro encontro, Granada apresentava-se alegre, conversando com as outras mães. Com o passar dos dias, manifestou sentimentos depressivos, de tristeza, devido saudades de casa e ociosidade que acometia a vida das mães das enfermarias.
"Eu estou aqui mais a minha mente está lá nos meus filhos em casa [...], me sinto só, acho que esqueceram de mim, ninguém vem me visitar, quero muito ir pra casa (chora...)." (Granada)
Diamante apresentou-se bem comunicativa, alegre, mas ao passar dos dias exprimiu sentimentos conflitantes, por discussões entre o marido e a mãe, refletindo em seu contato com o bebê.
"Eu sinto mágoa da minha mãe, porque quando tive o acidente ela me disse: ?você está passando por isso porque você quer, porque eu te disse pra você tomar o remédio pra não ter ele?. Quando eu estava internada, ela conversou com o médico para ele tirar o meu filho, mas ele não quis... se ele tivesse tirado, eu nunca perdoaria ela (lágrima nos olhos)." (Diamante)
Pérola manifestou grande tristeza no primeiro contato, chorava muito, preocupada com o estado do seu bebê, relatava que tinha medo dele morrer.
"Sinto tristeza em olhar meu filho assim (chora...), não queria que ele tivesse nascido assim, tenho medo que ele não resista (chora...)." (Pérola)
Ao conhecer o perfil dessas mães, foi possível analisar cada sentimento e gesto expressados, como por exemplo, sentimentos demonstrados na interação e apego mãe-filho, tais como alegria, carinho, felicidade, emoções forte relacionadas ao cuidar.
"Eu estou muito feliz, porque ela está bem recuperada, quando tive ela não tinha esperança de ver como ela está agora [...] eu queria estar com ela o tempo todo pertinho de mim, me sinto tão bem quando estou com ela." (Topázio)
O que pôde ser observado também foi o grau de sensibilidade das mães. Com freqüência, relataram as mudanças que deveriam ocorrer na equipe de enfermagem, que, segundo algumas delas, por diversas vezes as tratavam mal, deixando-as incrédulas quanto ao serviço de enfermagem, ou até mesmo, ocasionar a falta de cooperação das mães com relação à terapêutica destinada ao bebê.
"No começo elas não me trataram bem, só começaram a me tratar melhor, quando meu marido foi reclamar [...] quando agente faz alguma pergunta, elas não querem nem responder e quando respondem, nos tratam mal." (Ametista)
Observou-se que a instituição dispõe de programas para essas mães que se encontram em estado de sentimento aflorado. Este projeto, "Mãe-participante", integra as mães de UTI e BI aos cuidados prestados ao filho, bem como as deixam interagidas com a equipe, através de grupos de ajuda mútua e oficinas de artesanato, proporcionando entretenimento a essas mães.



4 CONCLUSÃO

Este estudo constatou a idade precoce das mães ao engravidar, com 49,2% delas apresentando idade de 14 a 20 anos; a maioria tinha relacionamentos informais, cerca de 47,5% vivem em concubinato; grande parte relata que não trabalha, 65,6%; e as complicações mais acometidas foram aminiorrexe prematura 44,3% e TPP 41%. Constatou-se também que elas têm grande necessidade de expor sentimentos obscuros e de sentir que podem confiar em alguém para relatar situações que ocultam sua expressão efetiva com o bebê. Tais dados coadunam com os relatos de Bowlby, mencionados em seus três exemplares, acerca dos sentimentos maternos.
Vários fatores foram responsáveis pela tristeza evidenciada pelas mães, como: a não aceitação da gravidez pelos familiares, a falta de participação do pai, o grau de prematuridade do bebê, a distância da família, a forma como a equipe de enfermagem trata as mães, e, nas mães que estavam nas enfermarias, constatou-se que a falta de visitas as deprimiam. Em virtude do estado depressivo das mães das enfermarias, foi sugerido um trabalho manual, para que elas sintam-se mais úteis e menos ociosas, diminuindo-lhes a tristeza e solidão. Com o passar dos dias, as mães em questão foram acompanhadas e, através de conversas, sentiram-se mais alegres, dispostas e encorajadas.
Estatisticamente, teve-se a comprovação de que nenhuma das mães são analfabetas, o que demonstra grande progresso no processo na área de educação em saúde, visto que, as mães estudantes têm mais acesso a informações acerca de métodos preventivos e saudáveis do que mães sem instrução.
Algumas mães demonstraram tristeza pela forma como alguns componentes da equipe de enfermagem prestavam assistência, que, segundo elas, era de forma fria, não abrangente e por muitas vezes indelicada.
Este estudo não tem por finalidade acabar com os problemas das mães ou torná-las sempre sorridentes e alegres, mas sim minimizar a sua condição dentro da UTI e em outros setores do hospital. Através da análise de todos os resultados, pôde-se constatar que houve melhora significativa no humor das puérperas, que antes se encontravam abatidas, mas que puderam ver a vida de outra forma: "colhendo pérolas nas dificuldades." (grito da autora)

ABSTRACT

Premature childbirth has occurred with great frequency, such fact stimulates the presence of hidden feelings among mothers due the concerns related to health of newborns. This study is discussed in a quantitative and qualitative form, reporting the feelings expressed by mothers in diverse situations encountered in hospitals and precipitating factors, having 61 mothers of premature babies from a public maternity in São Luís-MA. Through this approach, it is pretended to consider the mother-infant bond that still must establish itself in the hospital through the experience and constantly installed capacity of maternal adaptation to a baby with complications and instability, allowing it to favorably develop, providing the cause and maintenance of this bond. The results show reports of other authors, showing that women are increasingly getting pregnant at younger ages, about 49.2% of them aged between 14 and 20 years old, with financial and emotional instability set up, being a contributing factor to the occurrence of premature births and emotional problems in mothers, which were mitigated through conversations, understanding that it is understood and expressing their feelings, seeing life differently: "reaping pearls in difficulties."

Keywords: Feelings. Prematurity. Nursing.

REFERÊNCIAS


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