SENTADO A DIREITA DE DEUS PAI TODO PODEROSO

Sei que vou comprar briga com cem por cento dos colegas, mas, como nunca escondi o que penso, acho que a discussão acerca do lugar do Promotor de Justiça ao lado direito do juiz na sala de audiência e no salão do júri não se justifica, estando no mesmo nível de desimportância que aquela nascida acerca do funcionamento das Promotorias em prédios próprios, separados do Poder Judiciário.
O afastamento físico do MP foi, talvez, em 30 anos, a melhor coisa que poderia ter nos acontecido, pois nos permitiu mostrar a sociedade a nossa cara própria, dissociada da cara do Poder Judiciário, nos obrigando a nos organizarmos quanto a materiais, pessoal, forma de atendimento.
Hoje somos reconhecidos como membros de uma Instituição com imagem própria, que assume seus méritos com orgulho, mas que não pode fugir de seus vícios, seus defeitos (parece mentira, mas os temos!) e que, por isso, tem personalidade independente do Poder Judiciário.
Nunca me senti mal em sentar ao lado do juiz, mas também não acho que isto seja fundamental. Ou nós somos bons no que fazemos e somos reconhecidos pela sociedade em função disto, ou estaremos condenados a sermos, eternamente, apêndice dos juízes, alguns muito bons e justos e outros, valha-me Deus, o que tem de pior na sociedade.
E lá estamos nós, todo orgulhosos em estarmos sentados ao lado direito de Deus Pai Todo Poderoso, a julgar os vivos e os mortos, amém!
O problema não é perder este discutível direito, que às vezes mais parece um castigo, mas o fato de alguma época o termos tido.
Com tantas coisas a serem feitas em benefício da comunidade, e nós preocupados em discutir a nossa posição física na sala de audiência.
Eu, por mim, estou renunciando a tal direito.
Pretensiosamente, temos nós, Promotores de Justiça, luz própria, não precisando da luz do juiz para sermos vistos e valorizados por quem nos paga, a sociedade.
Quem quiser pode ocupar meu assento ao lado direito de Deus Pai Todo Poderoso.
Está certo que eu sou um ingênuo, mas o meu amigo Zé Mané concorda comigo, o que já soma dois. Para uma tese suicida como esta, até que não está mal.